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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Maria Divina Cabral: mestra da cultura cigana Calon e mato-grossense

Projeto que contempla a mestra foi aprovado no edital Conexão Mestres da Cultura da Lei Aldir Blanc

Com enorme satisfação, a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) comunica a aprovação do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: ontem, hoje e amanhã” no edital Conexão Mestres da Cultura da Lei Aldir Blanc, que reconheceu a raizeira e membra desta associação, Maria Divina Cabral, como uma mestra da cultura mato-grossense.

O resultado foi publicado nesta terça-feira (08/12) na página eletrônica da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT). Também foram aprovados outros 74 mestres e a lista pode ser acessada no link: http://www.cultura.mt.gov.br/documents/362998/15771026/Resultado+Final+Mestres+da+Cultura/e127afee-9d52-0432-a8bc-76831f79f499.

Diva, como é mais conhecida, nasceu na cidade de Mineiros (GO) e viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-oeste, até que no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km de Cuiabá, no sul do Estado).

Atualmente, a Calin mora em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e ajuda a todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais. A comunidade Calon de Rondonópolis é a maior comunidade cigana de MT, reunindo em torno de 150 pessoas.

Além de premiar a mestra Maria Divina Cabral com um prêmio no valor de R$ 20 mil, o projeto contempla ainda a realização de um encontro de mulheres ciganas em Rondonópolis, que servirá como dispositivo para a construção de uma websérie documental “Diva e as Calins” e a criação de uma exposição fotográfica virtual sobre as mulheres ciganas mato-grossenses de vários municípios.

Assista ao vídeo “Uma Família Cigana” e conheça mais sobre Diva e sua família: https://www.youtube.com/watch?v=29EiQeQa_nc

Maria Divina Cabral – mestra da cultura cigana Calon mato-grossense

A cigana da etnia Calon (também pode ser escrito como Kalon ou Calom), Maria Divina Cabral, 66 anos, é uma mestra da cultura cigana em todos os sentidos. Diva, como é mais conhecida, nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca num acampamento na cidade de Mineiros (Goiás). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira, casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai), Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.

A Calin (modo como as mulheres ciganas se autodenominam) viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-oeste, até que no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km de Cuiabá, no sul do Estado). Mãe de duas filhas, Selma e Cleide, avó de quatro netas (Lorraine, Suani, Leidiane e Cristiane) e três bisnetas (Cristina, Paula e Isabela); atualmente é a principal e mais importante raizeira e benzedeira cigana no Estado, mantendo viva a medicicna tradicional na comunidade Calon mato-grossense.

Integrante fixa do conselho de anciãos da etnia Calon e membra fundadora da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Diva é respeitada e ouvida por todos da comunidade, por sua experiência e sabedoria na condução e salvaguarda de diversos costumes, narrativas e saberes da filosofia kalon. A sua participação e influência na comunidade, que reúne em torno de 300 pessoas no Estado, não se limita a Rondonópolis, chegando a outras comunidades Calon de municípios como Tangará da Serra, Cuiabá, Sinop, Guiratinga, Pedra Preta, Campo Novo dos Parecis e Alto Araguaia.

Apesar de não ter sido alfabetizada e nunca ter frequentado uma sala de aula, Diva é versada na língua romanó-kaló, que no Brasil é também conhecida como chibe, sabe todas as simpatias, ervas apropriadas e rituais de cura infantis, aplicando-os em crianças ciganas e não-ciganas, produz remédios e unguentos naturais para mulheres e homens que tem problemas de fertilidade e os mais variados tipos de enfermidade, sendo conhecedora de uma variedade incrível de plantas medicinais do cerrado e da floresta amazônica.

Os saberes da medicina tradicional Calon foram aprendidos pela anciã Calin ainda na infância, quando acompanhava sua mãe, dona Lourdes, ou as suas avós, Maria e Jordelina, ao cerrado ou à floresta, para fazer a colheita das plantas, ervas e matérias primas necessários para a confecção dos remédios naturais.

A raizeira começou fazendo garrafadas para si mesma ainda muito jovem, depois para os parentes e logo estava atendendo também aos não-ciganos, que passaram a cada vez mais procurá-la. Há cerca de 10 anos, desde quando sua mãe, dona Lourdes, de 84 anos se aposentou das funções de raizeira por problemas de saúde, Diva assumiu as suas funções e entre os cuidados com a matriarca, que mora no mesmo lote, vem mantendo viva a chama da medicina cigana no Estado.

Atualmente com 65 anos, a Calin mora em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e ajuda a todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais. Já auxiliou a milhares de pessoas em Mato Grosso e até mesmo de outros lugares do país, como Goiás e Minas Gerais. Sempre é chamada para reuniões de aconselhamento entre os seus familiares, mesmo os mais distantes. Também é consultada sobre questões referentes aos inúmeros aspectos culturais e identitários Calon, como as leis do casamento, do luto e do funeral, o que a torna, definitivamente, uma mestra da cultura popular cigana mato-grossense e brasileira.

Em 2011, Maria Divina participou do filme documental É Kalon – Olhares Ciganos (35’), que foi patrocinado pelo Fundo Estadual de Cultura de Mato Grosso. E em 2015, foi lançado o curta-metragem “Uma Família Cigana”, que conta a história de sua família, com foco nela e em sua mãe, D. Lourdes. Entre 2014 e 2018, Diva foi uma das principais interlocutoras da tese de doutorado “Produção Social dos Sentidos em Processos Interculturais de Comunicação & Saúde: a apropriação das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal”, defendida na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, Rio de Janeiro) em agosto de 2018. O trabalho foi vencedor do prêmio Compós – Eduardo Peñuela de teses e dissertaçãoes 2019 como melhor tese de comunicação do país, concedido pela Compós – Associação Nacional de Cursos de pós-graduação em comunicação; e recebeu menção honrosa no prêmio Fiocruz de teses 2019.

Desde 2017, Diva é membro fundadora e uma das principais representantes da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), uma instituição sem fins lucrativos, que foi criada neste mesmo ano e é filiada à Associação Nacional das Etnias Ciganas (ANEC), cuja sede é em Brasília. Também em 2017 Diva participou do longa-metragem etnodocumental, “Calon Lachon”, que está em fase de produção e registrou, além da comunidade mato-grossense, também uma comunidade em Brasília, diversas comunidades Calon de nove cidades portuguesas e a peregrinação de Santa Sara Kali, que ocorre todo ano no dia 24 de maio na cidade francesa de Saintes-Maries-De-La-Mer. A produção está em fase de edição e vai ser lançada em 2019, tendo a raizeira como uma das principais personagens.

 

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