Data é avanço, mas muito ainda precisa ser feito para inclusão das comunidades ciganas brasileiras
No próximo dia 24 de maio completa 15 anos de comemoração do Dia Nacional dos Ciganos. A data foi estabelecida em 2006 por meio do Decreto Presidencial de 24 de maio de 2005, assinado pelo ex-presidente Lula. Vinte e quatro de maio foi escolhido em homenagem à Santa Sara Kali, a padroeira de muitos grupos romani, especialmente do continente europeu.
Para comemorar a data e proporcionar
visibilidade aos povos e culturas ciganas e sua imensa diversidade étnica; a Assessoria
para Ciência e Comunicação da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato
Grosso (AEEC-MT) preparou uma série de reportagens, artigos e materiais
próprios e de outras fontes.
Por que a data é
importante?
O dia nacional dos
ciganos é um marco no modo como o estado brasileiro passou a tratar as
comunidades ciganas. Apesar de estarmos presentes no país desde os primórdios
da colonização (século XVI), até essa data não contávamos com qualquer política pública
específica de reconhecimento.
Pelo contrário, historicamente
sempre fomos vítimas de políticas coloniais e persecutórias tanto em Portugal,
quanto no Brasil.
Mesmo contribuindo
fortemente para as identidades e as culturas nacionais dos dois países; sofremos
processos de invisibilidade ou estereotipia nas artes, literatura, ciência e
senso comum. Tal situação deixou reflexos altamente negativos no imaginário
social português e brasileiro acerca das pessoas romani.
Uma realidade que este
nome genérico “cigano” não dá conta de representar, pois somos muito diversos.
Ao todo pertencemos a três grandes troncos étnicos: os Calon, os Rom e os Sinti,
que por sua vez, se subdividem em subgrupos, com línguas, culturas e
identidades diferentes.
Visibilidade para combater
o racismo estrutural
O resultado destes
séculos de exclusão social é um racismo estrutural latente,
também denominado de anticiganismo ou ciganofobia, que atualmente colocou a
imensa maioria das pessoas ciganas brasileiras em situação de exclusão e/ou
desigualdade social.
Neste cenário, a criação
do dia nacional dos ciganos, foi um reconhecimento importante por parte do
Estado brasileiro, que no ano seguinte, por meio de outro decreto presidencial
(6.040 de 2007), incluiu-nos como parte dos povos e comunidades tradicionais
brasileiros, com os mesmos direitos e deveres.
Mas muita gente
desconhece o universo cigano, a não ser pelo imaginário, que vacila entre dois
polos estereotipados: uma visão romântica, que apela à sensualidade, à
malandragem, à falsa liberdade do nomadismo; ou uma visão extremamente
negativa, associada a todos os tipos de bandidagens.
Daí pensarmos essa série,
de maneira a também quebrar com esses preconceitos estabelecidos, que acabam
levando ao racismo institucional em diversas áreas.
Não perca as próximas
postagens, que trarão elementos simbólicos, artísticos, culturais e científicos
sobre as comunidades ciganas brasileiras.
Acesse aqui o artigo que produzimos para a mesma data no ano passado, em conjunto com o ativista Calon Português, Pimênio Ferreira: https://aeecmt.blogspot.com/2020/05/dia-nacional-dos-ciganos-resistimos-e.html
Texto: Dr. Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e
Comunicação da AEEC-MT, cigano da etnia Calon, especialista
em cinema, mestre em educação e mitologias ciganas e doutora em informação, comunicação
e saúde das comunidades romani de Brasil e Portugal
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