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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Mulheres Ciganas: saberes e r-existências em minissérie que será lançada em 25 de janeiro

 TRADIÇÃO E IDENTIDADE

Em cinco capítulos, a obra enfoca na Mestra da cultura mato-grossense, Maria Divina Cabral, a Diva (cartaz) e será lançada no Cine Teatro Cuiabá, às 19h



Minissérie Diva e as Calins de MT aborda a medicina romani, manifestações culturais e memórias de cinco ciganas que vivem em MT

 

Em dezembro de 2020, a raizeira e benzedeira cigana, Maria Divina Cabral, a Diva, 67 anos, foi premiada pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT), como mestra da cultura mato-grossense. A calin, modo como as mulheres ciganas do tronco étnico Calon se autodenominam, foi uma das 70 vencedoras do Edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc, com o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”.

 

Treze meses depois, o projeto, proposto pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), encerra com chave de ouro lançando no próximo dia 25 de janeiro, às 19h, no Cine Teatro Cuiabá, o seu quarto e último produto: a minissérie para a web, Diva e as Calins de Mato Grosso. Em cinco episódios, a série traz a força, a beleza e a sabedoria das mulheres calins, que tanto estruturam suas famílias e comunidades, quanto fazem a diferença na realidade social do Estado e do país.

 

Cada episódio enfoca na história de vida de uma mulher cigana: Diva, sua tia e três primas. Mulheres, que como a raizeira, também são mestras da cultura cigana, que se ramifica em inúmeros outros elementos culturais, a exemplo da união familiar, da liderança política, da língua e da filosofia de vida.


“Em seu conjunto, “Diva e as Calins de MT” aborda aspectos que tange ao passado, como a vida rural e nômade nas barracas, mais próxima à natureza; os modos de organização social nas cidades e filosófica que se hibridizam ou confrontam o estilo de vida das sociedades mato-grossense/brasileira nos dias de hoje; ou ainda a visão que as mulheres Calins almejam conquistar e/ou conservar como traços identitários e culturais no futuro”, explica a presidente da AEEC-MT e produtora executiva do projeto, Fernanda Caiado (de vestido amarelo florido no cartaz).

 

A Diretora de Mobilização e Assistente Social Terezinha Alves (vestido creme ao centro) é uma das cinco mulheres que tem suas histórias contadas na série

“Queremos romper com paradigmas racistas e machistas, a partir de um material transmidiático, baseado em múltiplas linguagens e ancorado no diálogo com as participantes e nos modos como elas queriam ser representadas”, explica a diretora de fotografia, Karen Ferreira. “Unindo as artes e a tecnologia, registramos e fortalecemos os conhecimentos tradicionais ciganos, que são transmitidos oralmente; por meio de uma interlocução com Diva e suas parentas - mãe, filhas, netas, bisnetas e primas, que vivem em três municípios: Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra”, complementa, o diretor e roteirista, Aluízio de Azevedo.

 

Episódios - O primeiro episódio adentra ao universo romani trazendo como foco a história de Diva, que nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca, num acampamento na cidade de Mineiros (GO). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira, casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai), Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.

 

A mestra viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelos Estados da região Centro-oeste, até fixar residência com a família e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km ao sul de Cuiabá), onde se concentra a maior comunidade cigana de MT – 150 pessoas. Atualmente, a calin mora em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e ajuda a todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais. O principal deles é garrafada, composta por diversidade de raízes do cerrado, indicada para várias enfermidades.

 

O segundo episódio traz as narrativas da assistente social Terezinha Alves (Cuiabá). Prima de Diva, também nascida em uma barraca, ela foi a primeira calin em MT a cursar o ensino superior, graduando-se em serviço social na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Uma das fundadoras e diretora de mobilização da AEEC-MT, Terezinha atualmente representa os povos ciganos como conselheira do Conselho Nacional de Igualdade Racial (CNPIR), bem como no Comitê Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais de Mato Grosso (CEPCT-MT).



O terceiro episódio aborda a história da ativista e negociante, Nilva Rodrigues Cunha (cartaz acima), que reside em Rondonópolis. Prima-irmã de Diva; ela é diretora de mulheres da AEEC-MT, é ativista política há mais de 30 anos e uma das principais mantenedoras da tradição cigana no aspecto dos trajes tradicionais femininos. Nilva domina a língua cigana e é uma contadora de histórias natas, transformando-se numa referência de luta e articulação política dentro e fora da comunidade cigana mato-grossense.

 

O quarto episódio enfoca nas memórias da professora aposentada, Irandi Rodrigues Silva, de Cuiabá-Tangará da Serra (Cartaz abaixo), exemplo de superação de todas as barreiras da exclusão e dos estereótipos acerca das mulheres ciganas. Prima-irmã de Diva, Irandi aprendeu a ler e a escrever o nome aos 8 anos, com um graveto no chão, após uma moça não cigana casar-se com o seu tio acompanhar o grupo e ensiná-la. O primeiro contato com lápis e caderno foi aos 13 anos, quando o pai contratou essa tia para ensiná-la e os seis irmãos o básico da escrita em casa. Após casar-se estudou, graduou-se e trabalhou 25 anos alfabetizando numa escola estadual.



O quinto e último episódio traz a história de vida da agricultora Venerana Rodrigues Pereira (Tangará da Serra). Tia de Diva, Tia Nerana, como é mais conhecida, é casada com Eurípedes Alves Pereira, é uma das mais respeitadas matriarcas calin em MT. Reconhecida pela amorosidade, pela generosidade e as mãos boas para as plantas, tia Nerana fala sobre como era a vida das mulheres ciganas no passado e como elas atualmente, conseguem estudar e se empregam no mercado de trabalho formal.


A Agricultora Venerana Rodrigues Cunha estrela um dos cinco episódios da minissérie, que será disponibilizada na plataforma do projeto: www.galeriacalin.com 

Produtos e o projeto – “Diva e as calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã” visa fortalecer a cultura cigana mato-grossense, por meio da realização de atividades que reconhecem os saberes das mulheres da etnia Calon, Assim, além de condecorar Diva como mestra da cultura e um prêmio de R$ 20.000,00 e realizar a websérie, o projeto em torno da raizeira cigana realizou também outros três produtos.

O segundo produto cultural foi o “I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso”. Realizado em abril, o evento contou com a participação de Diva e outras 14 mulheres do seu ciclo de convívio, que vivem na cidade de Rondonópolis-MT, local de realização do evento. O encontro contou com duas oficinas que giraram em torno dos saberes da Mestra Diva, que ensinou às outras mulheres participantes os princípios da medicina cigana, incluindo fazer uma garrafada à base de ervas do cerrado.

O Encontro foi utilizado como disparador para auxiliar tanto na realização da série, quanto no terceiro produto: a exposição virtual multimídia “Calin”, que pode ser acessada no link www.galeriagalin.com. Todos estes produtos são ancorados nesta plataforma virtual, que é o quarto produto, agregando também ao sítio eletrônico da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), garantindo a continuação e a divulgação do projeto.

Texto: Aluízio de Azevedo

Fotos: Karen Ferreira

Assessoria para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

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