Irandi Rodrigues Silva é professora aposentada e do conselho de anciãos da AEEC-MT
Hoje, dia 08 de abril, se comemora o dia
Internacional dos povos ciganos. A data foi oficializada como o dia
internacional dos povos ciganos em 1990, durante o IV Congresso Internacional
Romani, realizado na cidade de Serock, Polônia. E referendada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), sendo desde então, comemorada pelos movimentos ciganos
de vários países, incluindo o Brasil.
O dia 09 de abril foi escolhido para
homenagear o início da realização do I Congresso Internacional Romani, que
ocorreu entre 08 e 12 de abril de 1971, nos arredores de Londres, completando
agora em 2022.
Organizado pela União Romani
Internacional (URI) e contou com a participação de ativistas do movimento
cigano de 14 países europeus. Neste evento, foi adotada a bandeira e o hino cigano, Gelem-Gelem, como símbolos da
unificação da nação internacional romani.
Como no ano passado, fomos ouvir
pessoas ciganas, qual o significado da data. São elas: a professora Calin
mato-grossense, Irandi Rodrigues Silva; a ativista e produtora cultural Rommi,
Lu Inaiah, que coordena a Roda Cigana de São Paulo – Rede Humanitária, o ativista
da zona da mata mineira de etnia Calon, Marcos Pantaleão, também integrante da
Roda; e a ativista e professora, Marcylânia Alcântara, da comunidade Calon de
Souza, na Paraíba.
Acho importante a
data para lembrar que o povo cigano existe!” ressalta a professora Irandi
“Mesmo sendo um dia específico, é
importante para lembrar que o povo cigano existe, que não foi exterminado e que
resistiu a todas as perseguições. Somos seres humanos e queremos participar da
vida na sociedade brasileira assim como todos os outros povos. Também é bom
para termos nossa liberdade de expor nossas ideias, costumes, tradições,
valores e falar sobre nossa realidade.
É um dia que podemos reivindicar por
exemplo, cotas para pessoas ciganas nas universidades e concursos públicos
municipais, estaduais e federais. Nós contribuímos muito para a cultura e a
história brasileiras e continuamos a contribuir também economicamente,
produzindo, consumindo, pagando impostos. Por isso, é importante que tenhamos
acesso com equidade aos serviços públicos de todos os setores, como saúde,
educação, trabalho, previdência social, que ainda é insuficiente”.
Lu Inaiah destaca
que não há muito o que comemorar
A Rommi Lu Inaiah coordena a Roda Cigana de São Paulo - Rede Humanitária
“Este
ano e o 51 no qual se comemora o Dia Internacional dos Ciganos. Mas não há
muito o que comemorar, basta observar em
nível internacional a crise dos refugiados ciganos ucranianos”, pondera
Lu, que emenda:
“Em nível nacional apesar de desde 1988 iniciar se as
Políticas afirmativas, observa se uma ausência de Políticas públicas voltadas
aos povos ciganos e como exemplo vale ressaltar a Não Inclusão no Plano
Nacional de Vacinação da Covid-19. Bem como, nenhuma ação direcionada no que se
refere a promover meios de subsistência, visto que, a maioria dos ciganos são
autônomos”.
Apesar disso, Lu também vê aspectos positivos na data:
“apesar de tudo isso dia 8 de abril é um marco importante na luta dos povos
ciganos pelo respeito às culturas e reforçar a importância na luta e
visibilidade dos povos ciganos. Assim quiçá um dia teremos o que comemorar,
além da luta secular”.
Marcylânia acredita que a data traz
visibilidade para a causa cigana
Professora e ativista Marcylânia Alcântara de Souza (PB)
É importante comemorarmos, divulgar, porque quanto
mais falamos, mais visibilidade a gente dá a causa. Toda e qualquer informação
verídica é válida sim, porque nos deixa em evidência. Acredito que nós povos
ciganos devemos divulgar, deve comemorar, utilizar redes sociais e todos os
meios para fazer valer nossos direitos, passar as informações, nossos costumes,
para ver se a gente consegue amenizar um pouco do preconceito que é tão
recorrente com os povos ciganos.
É um dia utilizado para fazermos nossas
reivindicações, de políticas públicas, que a gente existe e carece de muita
coisa. Muitas vezes as transformações devem partir de dentro dos grupos para
fora, porque já esperamos muito vir de fora para dentro das comunidades. Então,
temos que ter nossa própria revolução interna. Deixar o nosso nome e o nome do
nosso povo em evidência. Nós existimos, nosso costume é esse, a gente tá aqui
para ser ouvido para ser assistido. Não só para romantizar a data, e mostrar a
parte bonita. E importante mostrar essa parte, mas também usar a data como meio
de protesto, de valorização, buscarmos meios de sermos melhor atendidos pelos
governantes e pelo poder público.
Somos invisibilizados apesar de estarmos aqui há mais
de 500 anos e fazemos parte da construção cultural e social do Brasil. As
políticas públicas que privilegiam os povos ciganos são bem escassas. As que
existem não são cumpridas, ficam só no papel e aquele direito não é assistido e
assegurado”. Até mesmo nessas datas, a gente não vê nas mídias sociais e é
preciso ampliar essa divulgação.
Marcos Pantaleão ressalta que dia do
cigano é todo dia
O cigano da zona da mata mineira, Marcos Pantelão, tradição calon na veia
O dia do cigano é todo dia. E é preciso que o Estado
reconheça as pessoas ciganas como ciganas. Temos que comemorar quando temos
jovens ciganas entram em cotas para ciganos no ensino superior, como minha
prima foi aprovada para medicina. Mas muito ainda precisa ser feito.
O dia do cigano é todo dia, porque matamos um leão por
dia. Muita gente que não é cigana está acessando recursos que deveriam ser para
famílias ciganas. O que vamos comemorar?
Comemoramos nosso envolvimento como movimento cigano.
Combatemos o bom combate, ainda não cumprimos nossa missão. Melhoramos muito
como ativistas, em qualidade de vida, mas tem ainda preconceitos. Estamos
melhorando muito na parte cultural, ocupando mais espaços, mas tem muitos
espaços ainda para serem ocupados.
Texto: Aluízio de Azevedo
Fotos: Arquivos pessoais