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sexta-feira, 8 de abril de 2022

08 de abril: dia internacional dos ciganos, o que pensam quatro ativistas romani

 

Irandi Rodrigues Silva é professora aposentada e do conselho de anciãos da AEEC-MT

Hoje, dia 08 de abril, se comemora o dia Internacional dos povos ciganos. A data foi oficializada como o dia internacional dos povos ciganos em 1990, durante o IV Congresso Internacional Romani, realizado na cidade de Serock, Polônia. E referendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo desde então, comemorada pelos movimentos ciganos de vários países, incluindo o Brasil.

O dia 09 de abril foi escolhido para homenagear o início da realização do I Congresso Internacional Romani, que ocorreu entre 08 e 12 de abril de 1971, nos arredores de Londres, completando agora em 2022.

Organizado pela União Romani Internacional (URI) e contou com a participação de ativistas do movimento cigano de 14 países europeus. Neste evento, foi adotada a bandeira e o hino cigano, Gelem-Gelem, como símbolos da unificação da nação internacional romani.

Como no ano passado, fomos ouvir pessoas ciganas, qual o significado da data. São elas: a professora Calin mato-grossense, Irandi Rodrigues Silva; a ativista e produtora cultural Rommi, Lu Inaiah, que coordena a Roda Cigana de São Paulo – Rede Humanitária, o ativista da zona da mata mineira de etnia Calon, Marcos Pantaleão, também integrante da Roda; e a ativista e professora, Marcylânia Alcântara, da comunidade Calon de Souza, na Paraíba.

Acho importante a data para lembrar que o povo cigano existe!” ressalta a professora Irandi

“Mesmo sendo um dia específico, é importante para lembrar que o povo cigano existe, que não foi exterminado e que resistiu a todas as perseguições. Somos seres humanos e queremos participar da vida na sociedade brasileira assim como todos os outros povos. Também é bom para termos nossa liberdade de expor nossas ideias, costumes, tradições, valores e falar sobre nossa realidade.

É um dia que podemos reivindicar por exemplo, cotas para pessoas ciganas nas universidades e concursos públicos municipais, estaduais e federais. Nós contribuímos muito para a cultura e a história brasileiras e continuamos a contribuir também economicamente, produzindo, consumindo, pagando impostos. Por isso, é importante que tenhamos acesso com equidade aos serviços públicos de todos os setores, como saúde, educação, trabalho, previdência social, que ainda é insuficiente”.

Lu Inaiah destaca que não há muito o que comemorar

A Rommi Lu Inaiah coordena a Roda Cigana de São Paulo - Rede Humanitária
 “Este ano e o 51 no qual se comemora o Dia Internacional dos Ciganos. Mas não há muito o que comemorar, basta observar em  nível internacional a crise dos refugiados ciganos ucranianos”, pondera Lu, que emenda:

“Em nível nacional apesar de desde 1988 iniciar se as Políticas afirmativas, observa se uma ausência de Políticas públicas voltadas aos povos ciganos e como exemplo vale ressaltar a Não Inclusão no Plano Nacional de Vacinação da Covid-19. Bem como, nenhuma ação direcionada no que se refere a promover meios de subsistência, visto que, a maioria dos ciganos são autônomos”.

Apesar disso, Lu também vê aspectos positivos na data: “apesar de tudo isso dia 8 de abril é um marco importante na luta dos povos ciganos pelo respeito às culturas e reforçar a importância na luta e visibilidade dos povos ciganos. Assim quiçá um dia teremos o que comemorar, além da luta secular”.

Marcylânia acredita que a data traz visibilidade para a causa cigana

Professora e ativista Marcylânia Alcântara de Souza (PB)

É importante comemorarmos, divulgar, porque quanto mais falamos, mais visibilidade a gente dá a causa. Toda e qualquer informação verídica é válida sim, porque nos deixa em evidência. Acredito que nós povos ciganos devemos divulgar, deve comemorar, utilizar redes sociais e todos os meios para fazer valer nossos direitos, passar as informações, nossos costumes, para ver se a gente consegue amenizar um pouco do preconceito que é tão recorrente com os povos ciganos.

É um dia utilizado para fazermos nossas reivindicações, de políticas públicas, que a gente existe e carece de muita coisa. Muitas vezes as transformações devem partir de dentro dos grupos para fora, porque já esperamos muito vir de fora para dentro das comunidades. Então, temos que ter nossa própria revolução interna. Deixar o nosso nome e o nome do nosso povo em evidência. Nós existimos, nosso costume é esse, a gente tá aqui para ser ouvido para ser assistido. Não só para romantizar a data, e mostrar a parte bonita. E importante mostrar essa parte, mas também usar a data como meio de protesto, de valorização, buscarmos meios de sermos melhor atendidos pelos governantes e pelo poder público.

Somos invisibilizados apesar de estarmos aqui há mais de 500 anos e fazemos parte da construção cultural e social do Brasil. As políticas públicas que privilegiam os povos ciganos são bem escassas. As que existem não são cumpridas, ficam só no papel e aquele direito não é assistido e assegurado”. Até mesmo nessas datas, a gente não vê nas mídias sociais e é preciso ampliar essa divulgação.

Marcos Pantaleão ressalta que dia do cigano é todo dia

O cigano da zona da mata mineira, Marcos Pantelão, tradição calon na veia

O dia do cigano é todo dia. E é preciso que o Estado reconheça as pessoas ciganas como ciganas. Temos que comemorar quando temos jovens ciganas entram em cotas para ciganos no ensino superior, como minha prima foi aprovada para medicina. Mas muito ainda precisa ser feito.

O dia do cigano é todo dia, porque matamos um leão por dia. Muita gente que não é cigana está acessando recursos que deveriam ser para famílias ciganas. O que vamos comemorar?

Comemoramos nosso envolvimento como movimento cigano. Combatemos o bom combate, ainda não cumprimos nossa missão. Melhoramos muito como ativistas, em qualidade de vida, mas tem ainda preconceitos. Estamos melhorando muito na parte cultural, ocupando mais espaços, mas tem muitos espaços ainda para serem ocupados.

Texto: Aluízio de Azevedo

Fotos: Arquivos pessoais

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