Neste dia 28 de junho, comemora-se o dia internacional do orgulho da diversidade sexual. É um mês que tradicionalmente ocorrem as maiores paradas das diversidades de gênero em todo o mundo, cuja cidade de São Paulo é a mais badalada, reunindo milhões de pessoas. Mas este dia não é apenas para manifestar o orgulho das pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneras, Queers, Intergênero, Assexuais, Pansexuais e mais... (LGBTQIAP+).
A data foi estabelecida a partir do episódio que ficou conhecido como a rebelião de Stonewall, quando a comunidade LGBTQIAP+ reagiu confrontando a polícia após uma série de repressões e violências históricas.
Desde a década de 60, com o emergir dos movimentos juvenis e no bojo das transformações sociais decorrentes do modelo democrático que defende as liberdades individuais, as questões de gênero e sexualidade surgem nos cenários nacional e internacional e vêm ganhando o centro dos debates políticos cuja pauta principal é o combate aos preconceitos inúmeros e à LGBTQIAPfobia, já que o Brasil é, infelizmente, o país com maiores índices de violência contra essa comunidade, especialmente as pessoas trans.
Um primeiro ponto a se reconhecer nesse debate é compreender a diversidade de gêneros como um fenômeno complexo que engloba condições culturais e sociais, para além das biológicas e que desembocam num espectro muito mais amplo do que o clássico binômio homem-mulher.
Cada dia surgem mais pessoas
se identificando e/ou se afirmando de formas
diferenciadas do que constam em seus registros de nascimento, buscando o
movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queers, Agêneros,
Intergêneros e Pansexuais (LGBTQIAP+), que no início eram apenas três (GLS) e
hoje está com nove caracteres, sendo oito letras e o sinal de positivo ao final,
justamente para indicar que essa diversidade não se restringe às citadas.
Super importante e
legítimo este movimento para garantir e reconhecer as manifestações de gênero em suas
inteirezas. Somando-se a esta estratégia será preciso também trazer sombras e luzes para
outras questões que atravessam o movimento, mas quase sempre estão ausentes dos
debates e merecem urgentemente ganhar novas perspectivas e
avanços. O que acontece quando a pessoa LGTQIAP+ pertence à uma comunidade
tradicional em situação de vulnerabilidade social, caso dos povos ciganos? E se
ela for uma mulher cigana trans ou lésbica?
Ser mais ou menos excluído ou sofrer mais ou menos preconceito pela condição de gênero varia quanto à idade, a cor da pele, à etnia, a sexualidade e a condição social. Homens gays brancos normativos e cristãos tendem a ser mais bem sucedidos e sofrer menos preconceito. Pessoas negras, indígenas, ciganas ou de etnias não europeias tendem a ser mais marginalizadas, assim como as mulheres e pessoas trans, que pertencem a essas etnias.
O machismo se manifesta
não apenas com as mulheres, como também no maior preconceito para com os gays
afeminados ou as mulheres e homens trans na sociedade em geral e dentro da
própria comunidade LGBTQIAP+. Há um culto ao falo no imaginário gay que, de
alguma forma, reproduz a misoginia ao ridicularizar o papel do passivo, que
ocuparia o “papel da mulher” e super/valorizar o do ativo que ocuparia o papel
do “homem”. Caso essas pessoas forem pobres, a exclusão estará completa.
No cotidiano as opressões
interseccionadas funcionam como barreiras duplas, triplas, quádruplas para o
acesso a serviços cidadãos. É um xadrez complexo, mas que precisa ser
reconhecido tanto pelo movimento LGBTQIAP+, quanto pelos outros movimentos,
pois se tangenciam e devem dar as mãos para lutar conjuntamente contra todas as
opressões. Também não há como fazer políticas públicas afirmativas e
reparatórias, sem levar em conta as especificidades da complexidade
humana, sem essa premissa.
Movimento LGBTQIAP+
Cigano
No caso dos povos
ciganos, o próprio movimento social é bastante recente no Brasil, sendo
construído nos últimos 30 a 40 anos. Há ainda muitas lacunas e faltam
representações que abarquem à diversidade de grupos, subgrupos e famílias
espalhadas por todo o território nacional. Um desses vazios é justamente o movimento
de gênero e sexualidade ou o estabelecimento de um debate mais firme quanto às
questões como a misoginia e o machismo, que pouco têm sido olhadas ou
completamente ignoradas pelo movimento cigano “clássico”.
É preciso pensarmos e
debatermos todas as questões pertinentes, incluindo as formas de resistência em
suas variadas dimensões. A libertação e a emancipação plenas só ocorrem quando
as opressões em todos os níveis cessarem: colonialismo, machismo, capitalismo,
todas as formas de discriminações, xenofobia, misoginia, racismo, Lgbtqiapfobia
etc. Essas pautas têm de necessariamente estar nas prioridades estratégicas dos
movimentos sociais como um todo, incluindo no movimento cigano.
Precisamos nos inspirar em outros países e irmãos ciganos como Espanha e Romênia, onde essa união de temas e pautas já é uma realidade. Há inclusive associações de mulheres ciganas e LGBTQIAP+ ciganes. Em Espanha, por exemplo Demetrio Gómez, ativista e defensor dos direitos ciganos, fundou o Fórum de jovens ciganos Europeus e é presidente da plataforma e associação “Ververipen, Rroms por la diversidade”, que faz um brilhante trabalho nessa temática LGBTQIAP+ Cigana. Que esses exemplos floresçam por aqui, pois os Povos ciganos não escapam de questões inerentes a condição humana.
Texto: Aluízio de Azevedo, Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, Conselheiro Nacional de Igualdade Racial representando os Povos Ciganos
Fotos: Ververipen, Rroms por la Diversidade: https://ververipendiversity.wordpress.com/
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