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quinta-feira, 2 de março de 2023

Jovens Ciganos participam de curso para combate às fake news em saúde

INTEGRAÇÃO:Exclusivo para juventude romani, encontros começaram nesta terça (28.02) e ocorrerão online até o próximo dia 23 de março

O curso de extensão Juventude Cigana: da Invisibilidade à Comunicação Popular em Saúde teve sua sessão inaugural nesta terça-feira (28.02). É a primeira sessão de uma programação que contará com oito encontros, voltados para o combate às fake news em saúde e a valorização das identidades e culturas ciganas. A formação é voltada para 30 jovens ciganos oriundos de 14 Estados brasileiros e pertencentes aos três troncos étnicos, os Calon, os Rom e os Sinti, que possuem culturas e identidades diferenciadas.

Nascida e criada no interior de Goiás e atualmente moradora de Goiânia (GO), a advogada e mestre em Direito Agrário, Sara Macedo, 26 anos, é uma das 30 jovens selecionadas para participar do curso. Pertencente ao tronco étnico Kalon, ela pondera que a relação entre a saúde dos povos ciganos, a comunicação e a saúde são pontos centrais. 

“A saúde sempre foi um debate que me atravessou de uma maneira muito grande. Toda minha família é usuária do SUS. Ninguém tem plano de saúde, no máximo aqueles planos funerários e a gente sabe que a saúde é um indicador importantíssimo das desigualdades em todas as comunidades historicamente perseguidas”, reflete Sara (foto).

Advogada popular ligada à Pastoral da Terra e atuando em Rondônia e Pará com casos de massacre no campo, Sara lembra que dados fidedignos são importantes para que os trabalhadores do SUS reconheçam os povos ciganos. “Quando a gente fala do SUS e dos profissionais destinados ao trabalho de unidades básicas de atendimento e nos postinhos do interior, a gente sabe que esse pessoal chega a partir dos dados e quando a gente fala da população cigana esses dados não existem. Então, como a gente faz?”, questiona a advogada Romani e complementa:

“A pauta da comunicação ou outra forma de comunicação para os nossos povos, que não fale de nós de maneira estereotipada e criminalizando, mas de outra forma de abordar, como a gente vai ver aqui, a partir da saúde. Este espaço do curso vai ser riquíssimo para a gente criar de fato alternativas de sobrevivência neste mundo”, conclui a participante.

Cursando o último ano do ensino médio e trabalhando como jovem aprendiz na área de direitos humanos, Renata Letícia Beserra de Matos, 16 anos, de Cuiabá, também participou da abertura do curso e está animada com a possibilidade de aprendizado. “A minha expectativa para este curso é poder adquirir mais conhecimento como jovem cigana e fazer com que a cultura da nossa etnia continue crescendo e não seja deixada de lado”, comentou.

Integração entre jovens ciganos brasileiros

Durante a abertura, a presidente da AEEC-MT, Fernanda Alves Caiado, abriu a sessão inaugural destacando a felicidade em reunir participantes ciganos e ciganas de todo o Brasil. Ela também ressaltou a importância do curso, inédito no país, que também objetiva a produção de conteúdos digitais nas áreas de saúde, a consolidação de modelos de comunicação dialógicos e comunitários, que reconheçam e dialoguem com as realidades das comunidades romanis e debatam o conceito ampliado de saúde.

“Estamos muito felizes com a presença de todos esses jovens de vários Estados, para aprendermos e refletirmos conjuntamente o que é fake news e como enfrentá-la, a ligação entre informação, comunicação e saúde e a valorização das identidades e das culturas ciganas. Agradeço a todos que se dedicaram a este momento, em especial à Fiocruz, ao governo do Canadá, à UFMT e todas as organizações parceiras.  Estamos aqui com vocês, por vocês e para vocês. Que o curso fortaleça a comunicação e integração entre os ciganos brasileiros”, ponderou Fernanda.

Também na oportunidade, esteve presente a assessora sociotécnica do projeto pela Fiocruz Brasília, Aedê Cadaxa. Em sua fala, a jornalista e servidora pública, enfatizou que o projeto Juventude Cigana integra um projeto maior, com 15 instituições não governamentais, que trabalham com a proposta da comunicação e saúde, pró direitos humanos. Aedê desejou a todos “momentos de muito aprendizado, troca, conhecimentos e fortalecimento, especialmente porque a partir deste curso poderão criar uma rede de jovens ciganos comunicadores populares”. 


Segundo Aedê (foto acima), o objetivo da chamada é “justamente trabalhar a comunicação popular, comunitária, feita por vocês, por quem vivencia as realidades e busca espaço, a garantia dos seus direitos, respeito à sua cultura e modos de viver. A partir do governo federal, não conseguiríamos potencializar ou trabalhar formadores para trabalhar desta forma. Acreditamos muito no território, nas pessoas fazendo por elas, e é isso que a gente quer que instituições como a de vocês criem redes, formem vocês, para serem as vozes dos seus povos”, ressaltou.

Por fim, Aedê Cadaxa comentou sobre a importância do debate do conceito ampliado de saúde e o envolvimento dos jovens no enfrentamento às fake news neste campo. “Vemos em vocês jovens e que trabalham com as redes sociais muita potência, para que todos posam alcançar uma saúde de forma equânime e universal e não apenas o conceito de saúde que se vincula a doença, mas também o conceito de saúde que tem o direito, à identidade, às escolhas, aos modos de viver, trabalho, transporte, moradia e ser reconhecido como é”, concluiu.

Encerrando a abertura da sessão inaugural, a Coordenadora Pedagógica do projeto pela UFMT, a professora do Departamento de História da instituição, Ana Carolina Borges Nascimento, destacou que está participando com uma ponte para garantir que ele seja registrado e institucionalizado e o certificado saia em tempo hábil. Também representante do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural e Imaterial de Seção Mato Grosso, Ana Carolina ponderou sobre a importância de cursos de extensão para trazer os povos ciganos para o ambiente acadêmico e também fortalecer as pautas da visibilidade romani e as questões de cidadania.

“Sabemos que vocês têm pautas e demandas complexas, envolvendo sobretudo as questões de cidadania e de território e também da fake news. Estou para parabenizar e mais para aprender, para escutar, fazer trocas. A discussão que venho envolvendo raça, gênero e este mundo do trabalho está mais realocado para populações indígenas e negras e agora conhecendo mais e trabalhando também com os povos romanis. Minha mãe é descendente de Boé Bororo e eu sou preta, então, espero poder partilhar e me coloco à disposição”, finaliza Ana Carolina.

Professora do Departamento de História da UFMT e coordenadora pedagógica do Projeto Juventude Cigana, Ana Carolina Borges

Juventude Cigana

Organizada pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) e o Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), a formação oferece 30 vagas para pessoas ciganas entre 15 e 35 anos. 

Online, o curso é ofertado por meio de chamada pública lançada pela Fiocruz Brasília, em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e financiamento do Governo do Canadá. Também conta com as parcerias dos coletivos ciganos “Orgulho Romani” e “Ciganagens”, bem como o projeto Mapas da Vida, da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR). A solenidade de abertura do curso, que é online, contou com a participação de representantes de todas as instituições parceiras do curso.

Texto: Assessoria para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

Fotos: Arquivos pessoais e Karen Ferreira


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