Arte: Danillo Kalón.
Por Sara Macedo, Coletivo Ciganagens
É preciso estar atento para que o nosso pensamento não contribua para o projeto colonial de objetificar e romantizar qualquer povo de etnia.
O ativismo que fazemos aqui é caminhado para fazer o que se pode, com as armas que fabricamos – senão a gente fica muito refém frente ao tamanho dos desafios e não há nada pior para um cigano/a/e, do que se sentir preso.
A estrada de vida ativista e articuladora de outros mundos, sempre tendo em mente o que dá para fazer agora e onde possivelmente vamos chegar, para adiante, realizar coisas maiores.
Há muita gente que se torna ativista pela força da realidade, e esse contexto não nos escapa. É a partir dos sofrimentos que temos vivenciado em nossa vida, que nos coloca aqui, reunidos para falar e reescrever.
A maioria de nós no coletivo tem qualificação formal em Ensino Superior e se esforçou bastante para ocupar tais espaços rígidos, mas nenhum de nós se formou para gritar por si mesmo e seu povo. A força da realidade nos fez estar aqui por estratégia e sobrevivência.
Acabamos virando ativistas de uma comunicação “free style”, como bem cita nosso primo Aluízio de Azevedo, para nos expressar como verdadeiramente queremos ser retratados, para construir segurança e persistir em criar prosperidade.
Uma prosperidade que não pode ser construída mantendo nós mesmos na posição de recurso, objeto e personagem de pesquisas e trabalhos diversos de pessoas não-ciganas.
Que condição é esta em que a utilização espontânea ou o trabalho não remunerado podem ser convertidos em indicadores passíveis de exploração?
Condição sempre destinada a povos racializados, essa a de ser um compartilhador de seus conhecimentos em posição gratuita, pois supostamente, nossos saberes não têm prestígio para remuneração.
Há que se refletir sobre a prática de ouvir e pegar o que se houve em comunidades e da boca de povos tradicionais, e se coloca em trabalhos, sem referência, autoria, troca, retorno, conectividade.
A luta por uma vida melhor é a luta de todos os dias, mas algumas práticas que foram naturalizadas precisam ser sempre revistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário