"Estudamos, trabalhamos, pagamos impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões negativas e promover a inclusão social.
Desde o século X, quando chegamos na
Europa, sofremos com sucessivas políticas persecutórias. A mais grave foi o
nazismo, que assassinou mais de 500 mil ciganos. Em Portugal, onde estamos desde
o século XIV, foram editadas leis que proibiam as pessoas ciganas de andarem
juntas, de falarem suas línguas, de exercerem suas profissões tradicionais,
enfim, de serem ciganos, sob pena de prisão, tortura, assassinato ou degredo. Hoje
a população cigana é a que sofre mais preconceitos e está em situação de
exclusão e desigualdade social no país.
Foi através do degredo português que
chegamos ao Brasil no primeiro século da colonização. Registros históricos
apontam para a presença cigana fazendo comércio em terras tupiniquins já nos
anos de 1530. Até a independência do Brasil (1822), milhares de famílias
ciganas foram expulsas de lá para cá. Junto com os degredados veio também o
racismo contra as pessoas ciganas, que já estava arraigado na cultura portuguesa
e continuou a pairar no imaginário social dos brasileiros.
Surgiram e persistem até os dias de
hoje estereótipos e estigmas, negativos ou romantizados, que vão do ladrão e
sequestrador de criancinhas, até ao artista e a mulher hipersexualizada,
representada, por exemplo, pela personagem de Machado de Assis, a prostituta
Capitu, olhos de cigana, oblíquos e dissimulados. Apesar das tentativas de
genocídio cultural e físico, resistimos! Ajudamos a construir o Brasil e a
identidade nacional, exercendo uma forte influência na culinária e na música
popular brasileira, incluindo o Samba e a música sertaneja.
As comunidades ciganas se compõem de três grandes etnia, os Kalon, os Sinti e os Rom, que se subdividem em inúmeros grupos; as comunidades ciganas formam a maior nação sem território. Somos mais de 15 milhões de pessoas vivendo em todos os continentes e países, o que nos torna muito diversos. Temos culturas que ultrapassam os mais de mil anos de história. Com filosofias e modos de vida, que congregam saberes e narrativas, histórias e conhecimentos riquíssimos. Resistimos às opressões do colonialismo, mas fomos perseguidos pela sociedade ocidental.
Atualmente, somos aproximadamente 500
mil pessoas vivendo em todos os estados. Em Mato Grosso há uma considerável
comunidade fixa e circulam vários grupos nômades. A nossa família, que tem cerca
de 300 pessoas, está por aqui há mais de 80 anos, principalmente, nos
municípios de Cuiabá, Rondonópolis e Tangará da Serra. Felizmente, muitos ciganos
brasileiros estão integrados e são reconhecidos socialmente.
Estudamos, trabalhamos, pagamos
impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões
negativas e promover a inclusão social. Porém, segundo relatório da Organização
das Nações Unidas (ONU, 2016), “no Brasil, as famílias de ciganos estão
frequentemente em situação de extrema pobreza, sem acesso a eletricidade, água
potável e saneamento básico adequado”.
Nesse documento, a ONU destaca a
importância do papel da mídia no combate ao racismo contra as pessoas ciganas. Um
trabalho que pode ser feito de várias maneiras: não perpetuar imagens
negativas, divulgando sem preconceitos as culturas e comunidades ciganas, seus
saberes e filosofias; denunciar a falta de acesso a serviços básicos
educacionais, de saúde e sociais; ou ainda cobrar das autoridades competentes
políticas públicas de promoção e proteção da igualdade racial.
Para conhecer mais sobre o
relatório da ONU, acesse o documento da
relatora especial da ONU em espanhol (aqui) e em inglês (aqui).Por Aluízio de Azevedo e Simone Rodrigues
Assessoria de Comunicação da AEEC-MT
Texto Disponível em: http://clicknovaolimpia.com.br/slideshow/id-801697/comunidades_ciganas__milenares__sabias_e_resistentes
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