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quinta-feira, 16 de maio de 2024

Nomadismo: opção cultural ou política de expulsão perpétua?

Tio Rey (foto) há mais de 45 anos fixou residência em Rondonólis-MT

Historicamente, os povos ciganos foram vinculados ao nomadismo. Todas as vezes que falamos nestes grupos étnicos, uma das primeiras características culturais que aparecem no imaginário social é o nomadismo.

De fato, as diásporas milenares nunca foram somente uma opção cultural, mas uma imposição das sociedades e nações por onde nossos antepassados foram passando.

Atualmente 80% ou mais das pessoas ciganas não são mais nômades. O próprio conceito de nomadismo é defasado. O correto é utilizar itinerantes ou viajantes.

A itinerância prevê rotas, que têm um ponto de partida e um ponto de retorno. Já o nomadismo, prevê uma migração a ermo.

A memória oral dos Calon diz que viemos do Egito. Já a ciência, por meio de uma pesquisa linguística, afirma que as primeiras migrações se originaram na Índia.

No século XIV, os Calon já estavam na Espanha e Portugal. Foi desses dois países, que chegaram ao Brasil, durante 300 anos de colonização, degredados, expulsos, pelo simples fato de serem ciganos.

Em Portugal, até muito recentemente havia leis proibindo as pessoas ciganas nômades de permanecerem no mesmo local por mais de 48 horas.

No Brasil, durante séculos, as polícias, comandada pelo Estado, trataram os ciganos como criminosos, bandidos perigosos, que precisavam ser expulsos.

Ocorreram episódios conhecidos como as Correrias Ciganas. Consistia nas polícias invadirem acampamentos e matarem crianças, velhos, mulheres, sem distinção.

As polícias provocavam a fuga em desespero das pessoas ciganas para as matas, abandonando bens e pertences, para sobreviver.

Existem inúmeros arquivos policiais e jornalísticos comprovando essas ações, especialmente, em Estados como Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Apesar dessas ações terem diminuído consideravelmente, nos dias atuais ainda continuam. Em 2021, por exemplo, ocorreu um caso envolvendo uma família cigana com 10 irmãos e a polícia militar da Bahia em 2021.

Após um conflito, a polícia baiana promoveu uma verdadeira caçada a esta família, assassinando 8 de 10 irmãos e provocando terror em comunidades ciganas do Estado.

Além do que, viver de forma nômade, em barracas, não possibilita acesso a questões como água encanada, luz elétrica, esgoto, recolha de lixo e outras questões infraestruturais.

Fotos: @Juqueiroz; Artes: @Rodrigozaiden e @apenasTamii; textos: @aluiziodeazevedo

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