O último dia 11 de maio (sábado) foi uma data muito especial para a comunidade cigana que reside no município de Tangará da Serra (localizado a 240 km de Cuiabá). Na ocasião, cerca de 50 pessoas pertencentes ao tronco étnico Calon participaram da Oficina de Chibe: Reavivando a Língua Calon.
Realizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), o evento é uma das atividades que integram a programação do IV Encontro de Cultura Cigna de Mato Grosso. Exclusiva para pessoas ciganas, a oficina foi um dos projetos selecionados na categoria Povos Ciganos do Edital Viver Cultura 2022, da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT).
Denominada “Romanon” ou “Romanó-kaló”, a Chibe, como é mais conhecida entre os ciganos do tronco étnico Calon, é um dos principais traços culturais deste tronco étnico cigano. Ela serve tanto como demarcador cultural de autoidentidade e forma de reconhecimento entre as etnias distintas (as outras duas são os Rom e os Sinti), pois cada qual tem sua língua própria; quanto como uma forma de proteção e segurança frente às pessoas não-ciganas.
De acordo com a coordenadora geral do projeto, Adriana Rodrigues, a oficina é uma iniciativa inédita no Brasil e visou promover e fortalecer as lideranças ciganas anciãs, incluídas no projeto como mestres da cultura cigana, por manterem a língua romanó-kaló, com isso fortalecendo também os saberes tradicionais Calons, garantindo a conservação desta forma única de conceber e representar o mundo.
Conceito e programação
A diretora de programação da oficina de Chibe, Aldi Rodrigues, explicou que além de uma programação diversificada, que incluiu materiais didáticos e pedagógicos criados exclusivamente para a oficina, pensando a lógica de pensamento da Chibe e da identidade cultural Calon. O encontro contou com dinâmicas, que valorizam os modos de vida ciganos, saberes, práticas, memórias, narrativas e mitologias próprias.
“Acreditamos que o retorno à ancestralidade é um componente importante para a formação humana, especialmente, para crianças, adolescentes e jovens. Conhecer o passado é importante para situar-nos no mundo de hoje e pensar um imaginário com possibilidades de futuro que incluam socialmente as pessoas ciganas, nos reconhecendo plenamente, de maneira a desconstruir as visões estereotipadas e racistas”, pondera Aldi.
A parte conceitual da oficina foi toda construída em conjunto com os participantes, respeitando o direito de autorrepresentação. A exclusividade desta ação de valorização da Chibe somente ao público cigano, por exemplo, respeita a regra e o desejo dos anciãos Calon de que não pode ser ensinada aos não ciganos.
Conforme explica a coordenadora pedagógica do projeto, Eunice Alves, a iniciativa para a realização da oficina “surgiu através da constatação que a grande maioria dos adultos e Jovens da comunidade não ter conhecimento da Chibe. Havendo assim a necessidade de preservação”.
Para Eunice, o constante ataque às identidades e culturas ciganas, que passam por estratégias como padronização cultural ou estereotipação, foram fatores que influenciaram na desvalorização do ser cigano e suas características culturais. Assim, “a oficina cumpriu uma dupla função, a valorização das lideranças anciãs e seus saberes, bem como a renovação da Chibe entre a geração mais jovem”.
Na opinião da produtora do evento, Simone Carla Rodrigues Oliveira, a realização da oficina é importante “para não deixar a nossa cultura morrer, porque com tanto preconceito que há entre os povos, que a gente meio que vai deixando de viver a nossa vida de cigano e vivendo a vida das pessoas não-ciganas e a gente esquece um pouco de falar a nossa língua. No tempo dos nossos pais, a Chibe era mais usada, já no nosso não é tão usado, então, para não deixá-la esquecida no passado, para que os meus filhos e netos possam aprender”.
“Os resultados que eu queria, é que as pessoas não ciganas nos veem com outros olhos, porque o povo cigano só é visto com olho ruim. Se a gente for pegar filmes, novelas, sempre mostram a gente como bandidos, que roubam, gostaria que a nossa oficina mostrasse para a população que nós não somos ruins, não somos ladrões, pelo contrário, que nós somos trabalhadores, temos profissões e somos honestos”, conclui Simone.
Equipe Cigana
A oficina teve uma equipe de coordenação e a maioria dos cargos de execução do projeto é composta por profissionais de origem Calon. Além de Adriana, Aldi, Eunice e Simone, integram a equipe o Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo e o Diretor de Arte e Cultura da instituição, Rodrigo Zaiden.
A oficina contou com a participação especial de 15 anciãs e anciãos ciganos que residem em Tangará da Serra, incluindo Estroécio Rodrigues Cunha, mais conhecido como os tios Anésio, Alvone, Luzia, Nerana, Maria, Leida, Toesse, Orceni, Daniel, Egídio, Irandi, Aluízio, Coraci, Cida, Olga e Terezinha que comandaram as atividades.
IV Encontro de Cultura Cigana de MT
Uma realização da AEEC-MT, o evento integra uma série de programações paralelas, tendo em vista marcar as comemorações do Dia Nacional dos Povos Ciganos, que se comemora a 24 de maio. Além da Oficina de Chibe, o II Encontro de Mulheres Ciganas de MT e o lançamento da minissérie Luzia e As Calins do Cerrado, que ocorrem em Cuiabá no dia 25 de maio, também integram o IV Encontro. Além disso, a AEEC-MT iniciou em 01 de maio uma campanha virtual de valorização dos povos ciganos e em breve lançará nas ruas de Cuiabá a Exposição Diquela, com lambes trazendo fotografias e artes envolvendo comunidades ciganas.
Aluízio de Azevedo, Assessor de Comunicação
Fotos: Ju Queiroz e Arquivos AEEC-MT
Ficha Técnica
Realização - Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de MT (Secel-MT)
Proponente - Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT)
Coordenação Geral – Adriana Rodrigues Angola e Aluízio de Azevedo
Coordenação Pedagógica – Eunice Alves
Direção de Programação – Aldi Rodrigues
Direção de Produção – Simone Carla Rodrigues Oliveira
Direção de Arte – Rodrigo Zaiden
Consultoria Pedagógica e Assessoria de Comunicação e imprensa – Aluízio de Azevedo
Produção Executiva – Adriana Rodrigues Angola, Fernanda Caiado e Rosana Cruz
Identidade Visual e layout – Tamii e Rodrigo Zaiden
Designer Gráfico – Rodrigo Zaiden e Tamii
Videomaker – João Aquino
Anciãos Ciganos em Tangará da Serra Mestres da Chibe
Adevair Rodrigues Cunha
Aluízio Azevedo Silva
Alvone Rodrigues Cunha
Anésio Divino Rodrigues Cunha
Coraci Rodrigues Cunha de Carvalho
Daniel Carlos Angola
Egídio Luiz Teston
Estroécio Rodrigues Cunha
Irandi Rodrigues Silva
Leida Alves Cunha
Luzia Laceni de Jesus, RG 550 267
Maria Aparecida Alves Rodrigues
Maria Barbosa Cunha
Orceni Rodrigues Angola
Venelci Rodrigues de Souza
Venerana Cunha Pereira
Outras Informações: (65) 99911-3473
Aluízio de Azevedo, Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT
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