O Coletivo Ciganos,
Juntos Somos Mais Fortes se reuniu no último dia 11 de julho (quinta-feira) com
a Coordenação-Geral de Acesso e Equidade (Caeq) da Secretaria de Atenção
Primária à Saúde (Saps) do Ministério da Saúde (MS). A roda de diálogo com o
coletivo, que é composto por cerca de 30 associações, coletivos ou lideranças
de comunidades ciganas e famílias extensas, ocorreu de forma online, com a
participação de 20 pessoas.
Entre elas, a
coordenadora da Caeq, Lilian Gonçalves e os três técnicos que compõem a equipe
da Assessoria de Saúde Cigana da Coordenação-geral, Rafaela Barros, Aluízio de
Azevedo e Taciana Silva Negreiros.
Representando os povos
ciganos estavam presentes a conselheira do Conselho Nacional de Povos e
Comunidades Tradicionais, Maura Piemonte, do sul de Minas Gerais e o
conselheiro nacional de Igualdade Racial, Marcos Gattas, de Mato Grosso. Também
participaram da reunião, Claudio Ivanovitch, da Associação de Preservação da
Cultura Cigana no Paraná e do Estado outras quatro lideranças: Aparecida, Tati
e Hayanne Ivanovicht, do Coletivo de Mulheres Ciganas (COMCIB) e Nardi
Casanova, secretária executiva da Confederação Cigana do Brasil.
Representando a Roda
Cigana Rede Humanitária, participou da reunião sua coordenadora Lu Ynaiah e
representando o Coletivo Ciganagens estiveram presentes os integrantes Desirèe
Mattos, Sara Macedo e Danillo Kalon. José
Eudo e Janete Soares, ambos da Associação de Preservação de Cultura Cigana do
Estado do Ceará, também participaram.
De Mato Grosso,
participou Rosana Cristina Matos Cruz, presidente da Associação Estadual das
Etnias Ciganas de MT (AEEC-MT) e representando as associações de Sousa e demais
comunidades da Paraíba como Campina Grande e João Pessoa, Francisco Bozzano.
Ainda da Paraíba participaram da reunião: Suênia Soares, de Sousa, maior
comunidade cigana da América Latina e Maria Jane, essa última da Associação
Cigana de Condado (Ascocic).
Esta foi a primeira
reunião da atual gestão do MS e o movimento cigano brasileiro, com o objetivo
de aproximar o diálogo com os coletivos e lideranças ciganas, ouvir as demandas
e necessidades de saúde destas populações, bem como construir em conjunto a
implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo
Cigano/Romani (Portaria 4348 de 28/12/2018).
Aproximação - Durante
a reunião, a coordenadora da CAEQ/SAPS/MS, Lilian Gonçalves, destacou o esforço
que o Ministério vem fazendo em recompor o diálogo junto aos movimentos
sociais, especialmente para a reconstrução das políticas de equidade em saúde,
incluindo a política de saúde cigana, a mais nova política de equidade criada
no âmbito do MS, em 2018. Para tanto, o MS planeja a realização de mapeamento
social com informações sobre a saúde dos povos ciganos, a partir de
indicadores, dados e sistemas de informação disponíveis no SUS e em diálogo com
o movimento social cigano.
“Essa política foi
institucionalizada, mas nunca foi implementada. Então, a gente está com o
desafio de implementar a política e de organizar os movimentos sociais
populares dos povos ciganos para construir efetivamente a implementação dessa
política e se achar necessário até mesmo revisá-la. Mas temos uma visão no MS
que talvez revisar uma política que recentemente foi implementada, talvez
atrapalhe o processo de implementação”, ponderou Lilian.
A coordenadora-geral de
acesso e equidade, informou ainda o desejo do órgão em institucionalizar a
participação social dos povos ciganos na implementação da política, incluindo a
criação de um plano de ação. Ela pontuou que um dos objetivos da roda de diálogo
foi justamente promover um fluxo de comunicação entre o movimento e o
Ministério da Saúde.
“O que a gente está querendo é implementar o
comitê dessa política, que nunca foi instituído. Para isso, a gente precisa
mobilizar os movimentos dos povos ciganos, trazer essa representatividade para
dentro do Ministério da Saúde e implementar essa política em acordo com as
necessidades dos povos ciganos. A ideia é que hoje a gente faça uma primeira
conversa com os movimentos e acolher um pouco as angústias, as necessidades, as
intencionalidades, como é que a gente pode fazer esse alinhamento para já pensar
na institucionalização deste comitê”, informou Lilian.
Saúde Cigana – na
ocasião, representantes ciganos reforçaram algumas demandas que já haviam
encaminhado ao Ministério da Saúde em abril, por meio de um ofício à Ministra
Nísia Trindade. Entre as questões estavam a implementação das políticas
específicas de saúde, como a portaria 4348 ou a portaria 940 de 2011, que
dispensa pessoas ciganas de apresentarem comprovante de endereço nos serviços
do SUS. Também falaram sobre a composição do comitê que será criado e relativo
aos medicamentos da farmácia popular.
O representante da
comunidade Otávio Maia, de Sousa (PB), Francisco Bozzano, ressaltou que esta
foi a primeira reunião que o MS realiza com o movimento cigano para discutir a
saúde cigana.
“Se for criado for um
comitê com pessoas ciganas, que seja por região e não por etnia, porque assim
conseguiremos uma representatividade melhor. Espero e acredito neste governo,
que vai dar visibilidade para o nosso povo, luta pelos povos tradicionais e foi
para este governo que nós do sertão confiamos. Outra coisa que sinto descuidada
aqui em Sousa, é quando destinado uma receita para pessoas ciganas da farmácia
popular, que o MS pudesse fazer uma investigação nestas farmácias populares,
porque o farmacêutico para não fornecer o medicamento, diz que não tem, para a
pessoa poder comprar. Isso aconteceu comigo”, ponderou Francisco.
Por sua vez, a
representante da Roda Cigana Rede Humanitária, Lu Ynaiah, algumas questões são
prementes, como a inclusão dos povos ciganos como públicos prioritários do
Plano Nacional de Imunização (PNI). A ativista também destacou a importância do
MS realizar reuniões presenciais com os povos ciganos, para inclusive discutir
de forma setorial, a partir da interseccionalidades, questões específicas
relativas a pessoas ciganas neuro-divergentes, com autismo, saúde da mulher
cigana, das pessoas idosas, crianças, adolescentes e LGBTQIAPN+.
“O Ministério poderia
promover um plano de ação de forma transversal a partir das realidades
regionais, étnicas, sociais e culturais dos povos ciganos que são bastante
diferenciadas, pensando por eixos e áreas de atuação. Também acredito que o
diálogo presencial, com a realização de um seminário nacional para discutir a
saúde das comunidades e povos ciganos é fundamental, até para tratar de algumas
demandas pontuais, como o atendimento as pessoas ciganas de forma diferenciada,
respeitando por exemplo, os casos de familiares de uma pessoa internada que vão
sempre aos serviços de saúde juntos e as regras e protocolos de visitas não
conseguem resolver”, destaca Lu.
APS
-
Além disso, os participantes ciganos trouxeram questões quanto ao atendimento
nos serviços da Atenção Primária em Saúde (APS). A enfermeira e Calin, Suênia
Soares, pesquisadora de saúde, com mestrado pesquisando o acesso da população
Calon de Sousa à APS, por exemplo, reforçou a importância do diálogo entre a
gestão do SUS e os povos ciganos.
“Sou mulher cigana e
profissional de saúde, então, consigo me colocar nesses dois lugares e externar
meu amor pelo SUS, que é grandioso. Esse
diálogo pode subsidiar novas políticas públicas. Por isso, é tão importante que
sejamos ouvidos, externar nossas especificidades e necessidades, para que as
políticas cheguem de maneira efetiva”.
Segundo Suênia, várias
questões necessitam serem levadas em conta na APS. “Quando falamos para
preencher de acordo com a raça cor, muitas vezes, podemos sugerir, mas os
ciganos têm cautela em se apresentar como cigano, porque na maioria das vezes
sofremos preconceito no atendimento, principalmente na APS”.
Para a profissional de
saúde, “é preciso trabalhar educação em saúde para profissionais e incluir a
educação popular em saúde que traz o indivíduo como protagonistas, trabalhar
com os profissionais a busca ativa na comunidade, porque a gente sabe e
reconhece que os ciganos têm resistência em procurar os serviços de saúde, seja
por causa do preconceito, falta de acolhimento ou uma questão cultural, pois
acreditam muito na medicina tradicional”, conclui.
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