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terça-feira, 30 de outubro de 2018

Artigo: Comunidades ciganas: milenares, sábias e resistentes

"Estudamos, trabalhamos, pagamos impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões negativas e promover a inclusão social.

Desde o século X, quando chegamos na Europa, sofremos com sucessivas políticas persecutórias. A mais grave foi o nazismo, que assassinou mais de 500 mil ciganos. Em Portugal, onde estamos desde o século XIV, foram editadas leis que proibiam as pessoas ciganas de andarem juntas, de falarem suas línguas, de exercerem suas profissões tradicionais, enfim, de serem ciganos, sob pena de prisão, tortura, assassinato ou degredo. Hoje a população cigana é a que sofre mais preconceitos e está em situação de exclusão e desigualdade social no país.
Foi através do degredo português que chegamos ao Brasil no primeiro século da colonização. Registros históricos apontam para a presença cigana fazendo comércio em terras tupiniquins já nos anos de 1530. Até a independência do Brasil (1822), milhares de famílias ciganas foram expulsas de lá para cá. Junto com os degredados veio também o racismo contra as pessoas ciganas, que já estava arraigado na cultura portuguesa e continuou a pairar no imaginário social dos brasileiros.
Surgiram e persistem até os dias de hoje estereótipos e estigmas, negativos ou romantizados, que vão do ladrão e sequestrador de criancinhas, até ao artista e a mulher hipersexualizada, representada, por exemplo, pela personagem de Machado de Assis, a prostituta Capitu, olhos de cigana, oblíquos e dissimulados. Apesar das tentativas de genocídio cultural e físico, resistimos! Ajudamos a construir o Brasil e a identidade nacional, exercendo uma forte influência na culinária e na música popular brasileira, incluindo o Samba e a música sertaneja.
As comunidades ciganas se compõem de três grandes etnia, os Kalon, os Sinti e os Rom, que se subdividem em inúmeros grupos; as comunidades ciganas formam a maior nação sem território. Somos mais de 15 milhões de pessoas vivendo em todos os continentes e países, o que nos torna muito diversos. Temos culturas que ultrapassam os mais de mil anos de história. Com filosofias e modos de vida, que congregam saberes e narrativas, histórias e conhecimentos riquíssimos. Resistimos às opressões do colonialismo, mas fomos perseguidos pela sociedade ocidental.
Atualmente, somos aproximadamente 500 mil pessoas vivendo em todos os estados. Em Mato Grosso há uma considerável comunidade fixa e circulam vários grupos nômades. A nossa família, que tem cerca de 300 pessoas, está por aqui há mais de 80 anos, principalmente, nos municípios de Cuiabá, Rondonópolis e Tangará da Serra. Felizmente, muitos ciganos brasileiros estão integrados e são reconhecidos socialmente.
Estudamos, trabalhamos, pagamos impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões negativas e promover a inclusão social. Porém, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU, 2016), “no Brasil, as famílias de ciganos estão frequentemente em situação de extrema pobreza, sem acesso a eletricidade, água potável e saneamento básico adequado”.
Nesse documento, a ONU destaca a importância do papel da mídia no combate ao racismo contra as pessoas ciganas. Um trabalho que pode ser feito de várias maneiras: não perpetuar imagens negativas, divulgando sem preconceitos as culturas e comunidades ciganas, seus saberes e filosofias; denunciar a falta de acesso a serviços básicos educacionais, de saúde e sociais; ou ainda cobrar das autoridades competentes políticas públicas de promoção e proteção da igualdade racial.
Para conhecer mais sobre o relatório da ONU, acesse o documento da relatora especial da ONU em espanhol (aqui) e em inglês (aqui).

Por Aluízio de Azevedo e Simone Rodrigues
Assessoria de Comunicação da AEEC-MT

Texto Disponível em: http://clicknovaolimpia.com.br/slideshow/id-801697/comunidades_ciganas__milenares__sabias_e_resistentes 

domingo, 30 de setembro de 2018

Vigilância, controle e políticas públicas de saúde para ciganos: reflexões sobre desigualdade e exclusão

Estados europeus e americanos sempre exerceram vigilância e controle sobre as etnias ciganas, que foram expostas a diversas formas de violência física e simbólica

 A população mundial cigana - aproximadamente 12 milhões de pessoas - circula nos países dos cinco continentes. Durante mais de 600 anos de contato com a civilização ocidental, os povos ciganos nunca tiveram paz, a ponto de ser hoje a minoria étnica mais vulnerável de todos os países da Europa (ONU, 2015).

Estados europeus e americanos sempre exerceram vigilância e controle sobre as etnias ciganas, que foram expostas a diversas formas de violência física e simbólica, com inúmeras tentativas de apagamento de saberes e silenciamento de suas culturas e identidades.

Expulsos sem cessar de um país a outro, foram perseguidos e mortos pela igreja, queimados nas fogueiras da santa inquisição; aproximadamente 200 mil ciganos foram mortas por Hitler na II Guerra mundial; em Portugal, os degredos, expulsões e leis contra ciganos, pelo simples fato de serem ciganos; no Brasil, perseguições policiais constantes e centenas de ciganos mortos ou dizimados.

Diante desse cenário, dialogamos com o argumento de Santos (1999, 2002, 2010) de que os Estados utilizam os sistemas de exclusão e de desigualdade social como formas de controle social e manutenção de classes sociais diferenciadas e normatizadas, tomando como referente as políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal e examinando-as à luz dos conceitos de vigilância e controle.

O trabalho é parte de uma tese de doutoramento no âmbito da Informação e Comunicação em Saúde.

Texto completo: PDF

Por Aluízio de Azevedo Silva Júnior e Inesita Soares de Araujo
Do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz -Icict/Fiocruz

Referência: Edição atual - Anais do VII Colóquio Semiótica das Mídias. vol. 7, nº 1. Japaratinga, AL: UFAL, 2018.

Disponível em: http://ciseco.org.br/anaisdocoloquio/index.php/edicao-atual/187-acoes-entre-atores-analise-sobre-formas-de-interacao-online-em-uma-pagina-oficial-de-uma-instituicao-de-ensino-26?fbclid=IwAR3WAZiqVI6jtAQkWhFVZSwn3DMBhAXUHmRmTaGPWcXJ3IHZDc3KXt7okPY

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Grupo de Danças "Tradição Cigana"


Criado em 2010 pela união da comunidade cigana da etnia Calon do município de Rondonópolis, o grupo de Danças Tradição Cigana é um representante legítimo da cultura, da identidade, das tradições, da musicalidade e dança da comunidade romani no Estado.

Sem estrutura financeira, mas com muita garra e vontade, o grupo nasceu para representar a cultura cigana em um evento da Secretaria Municipal de Cultura de Rondonópolis.

Se mantém desde então com recursos próprios e vem se apresentando esporadicamente em eventos escolares e culturais no município.

Em 2020, por causa da pandemia, o grupo se viu obrigado a paralisar as suas atividades. Mas está se reorganizando para retomar as atividades em 2021.

https://www.youtube.com/watch?v=U_h4VGUyH3A

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Cigano afirma que sociedade ainda trata sua cultura com estereótipos e estigmas

Por Mirella Duarte
Para Site RDNEWS

Membros da comunidade cigana do município de Tangará da Serra (MT)

No mês em que se comemora o Dia Nacional dos Povos Ciganos, 24 de maio, o  entrevistou o comunicólogo, especialista em cinema, doutorando e cigano Kalon, Aluízio de Azevedo, de 38 anos, que falou sobre as dificuldades e preconceitos vividos na atual sociedade.

Além disso, pontuou especificidades de cada grupo cigano, como a cultura, história e origem dos que abriram mapas e atravessaram continentes em busca de uma vida melhor, após serem expulsos de suas terras de origem.

Segundo Azevedo, o primeiro registro escrito do degredo (afastamento) de ciganos com relação ao Brasil é de 1574, que ordenava a expulsão de Portugal do cigano Kalon João de Torres e sua família.

O comunicólogo diz ainda que após anos de segregação, foi em 2006, no governo do então presidente Lula, que a cultura cigana começou a ter maior reconhecimento, com a instauração da data de homenagem, o reconhecimento como minorias étnicas e tradicionais, além de estabelecer a Secretaria pela Igualdade Racial (SEPPIR) como a interlocutora oficial junto a esses povos.

O pesquisador alega que ainda faltam leis especificas para os povos ciganos no congresso nacional e defende a necessidade de aplicação, assim como, as que são efetuadas em prol dos povos indígenas e os de matrizes africanas.

O comunicólogo Aluízio de Azevedo desenvolve pesquisas que tratam do povo e cultura cigana

Como é ser cigano no Brasil?
Não é fácil responder essa pergunta, seja no Brasil, ou em outra parte do mundo. Somamos entre 12 a 15 milhões de pessoas, e é preciso compreender que não é possível definirmos com clareza uma única identidade ou uma única cultura cigana. Assim como as palavras “índios” ou “negros” esconde por traz de si uma infinidade de povos e costumes, com culturas e línguas diferentes, o mesmo ocorre com a palavra “ciganos”. Posso dizer que ser cigano, hoje, no Brasil, não é tão melhor do que no passado. Começou a melhorar, inclusive no próprio discurso e políticas públicas estatais a partir da redemocratização do País, com a publicação da nossa Carta Magna.

Os ciganos, historicamente, foram muitos perseguidos. Hoje, tal perseguição, ainda é uma realidade? 
Posso dizer que durante todo o período de convivência entre grupos ciganos e a população majoritária brasileira foi de muitos conflitos e perseguições, inclusive com o Estado brasileiro efetivando políticas higienistas de eliminação dos grupos ciganos ou sua completa assimilação. Por aproximadamente 100 anos (1850 a 1960) os grupos ciganos foram extremamente violentados, com muitas comunidades inteiras mortas pela polícia. Um período que ficou conhecido como “as correrias ciganas”. Ciganos evocam no imaginário nacional estereótipos e estigmatizações, que perpassa um discurso de ódio e racismo contra as pessoas ciganas. Quando falamos em ciganos, todo mundo lembra de um grupo nômade acampado perto de sua casa, mas que logo iam embora, as pessoas sempre abordam o tema de que ciganos roubam crianças, que são ladrões, trapaceiros ou bandidos perigosos. Há também um outro lado que romantiza, mas é também estereótipo, como a suposta liberdade da vida nômade, ou então, a sensualidade das mulheres ou homens ciganos, ou até o misticismo e os dons para as artes.

O nomadismo então é algo que não define mais os grupos de ciganos?
Muitos grupos deixaram de ser nômades e, hoje, cerca de 30% dos grupos ciganos continuam nômades. Isso no mundo todo e inclusive aqui. Um fato é certo, o nomadismo, que historicamente, foi associado aos grupos ciganos, atualmente, não é a realidade para a imensa maioria dos grupos. Aproximadamente 80% das comunidades ciganas ou fixaram residência nas periferias, ou passaram a semi-nômades, ou populações itinerantes, que circulam de tempos em tempos pelas mesmas cidades e territórios. Até porque, o mito romântico da liberdade nômade, por vezes, caí por terra, quando vemos que os grupos ciganos foram obrigados a migrar pela expulsão das populações majoritárias e não por vontade própria. Isto é, migraram para fugir das perseguições policiais e de fazendeiros, como estratégia de resistência e sobrevivência. A maioria dos ciganos não possuí trabalho formal, pois vivem das vendas e comércios informais, como objetos de segunda mão, venda de enxovais e panos de prato, veículos usados, etc. Essa situação dificulta o acesso à direitos como aposentadorias, pensões e afins. A leitura de mãos ou tarot não diz respeito a todos os grupos ciganos, ainda que esta é sim a profissão de muitas mulheres ciganas.

Atualmente, quais as maiores dificuldades de um cigano no Brasil?
São muitas as dificuldades, principalmente os mais pobres que, infelizmente, são a maioria. Mas há também pessoas ciganas de classe média e ricas. Creio que para os que estão em situação de exclusão social e pobreza a situação é pior, pois acumula uma série de opressões que não apenas a racial. Mas, de qualquer modo, assumir a identidade cigana e declará-la no Brasil é saber que vai ser olhado de lado, torto, sofrer racismo e preconceito e estar um passo atrás da população branca e majoritária.

A Comissão de Assuntos Sociais no Senado aprovou o Estatuto do Cigano. Isso melhora a vida deste grupo? 
Observando especificamente o projeto de lei do senador Paulo paim, que cria o estatuto, é possível averiguar que tem bastante mérito a iniciativa, na medida em que é uma iniciativa pioneira para tentar garantir legalmente os direitos dos povos ciganos no Brasil. Mas, ao analisarmos a proposta original, é possível notar que se trata ainda de um documento preliminar e, portanto, limitado, composto apenas por 19 artigos e que precisa urgentemente ser melhorado e debatido com o maior número de pessoas e comunidades ciganas possíveis.

Disponível em: https://www.rdnews.com.br/entrevista-especial/conteudos/99839

Pesquisa sobre ciganos busca quebrar preconceitos


TCC é um livro-reportagem. Dafne acredita que esse modelo dá mais liberdade ao autor


Por Keka Werneck, da Assessoria de Imprensa do Centro Burnier Fé e Justiça

Severiana Pereira, 76 anos, cigana, moradora do bairro CPA em Cuiabá, mineira de origem camponesa, viúva, evangélica, é a protagonista do livro-reportagem, inspirado pela cultura Kalon de Mato Grosso, Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da estudante de jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Dafne Henriques Spolti. Dafne escreve artigos para este site. Dona Severiana é cigana e tudo que ela é, conforme a pesquisadora, não corresponde a adjetivos depreciativos que costumam ser associados aos ciganos.

“Geralmente a gente ouve que os ciganos são ladrões, pessoas sem-vergonha, sequestram criancinhas. Eu mesma tinha uma imagem deturpada deles e quis fazer a pesquisa para informar à sociedade e para eu também me informar melhor”, explica Spolti.

A pesquisa “Ciganos entre nós – a caminhada de uma família Kalon de MT” vem contribuir com um limitadíssimo arsenal literário sobre os povos ciganos no Brasil. E procura desmistificar preconceitos. “A história registrada dos ciganos é marcada por narrativas preconceituosas”, afirma Dafne.

Sobre a fama de ladrões, Dafne conta um mito. Ciganos teriam roubado o quarto prego que seria usado na crucificação de Cristo. Por isso, os pés dele teriam sido presos sobrepostos. Outro mito sobre as ciganas serem sequestradoras de criancinhas: mulheres que não queriam seus filhos, durante uma época, os entregavam a elas e elas os criavam.

São muitos os povos ciganos. O livro-reportagem foca nos Kalon, como é o caso de dona Severiana. Ela, na verdade não nasceu cigana, é uma mulher gadjin, mas virou cigana kalin, quando se casou com Isidoro, uma paixão que fluiu quando ela tinha 15 anos, em uma fazenda de Minas Gerais.

Severiana ficou órfã de mãe aos 8 meses e foi criada pelo pai, um matuto severo. Quando os ciganos chegaram na roça onde ela morava foi aquele bochicho, lembra a protagonista. As amigas estava ouriçadas pela beleza dos homens, entre eles Isidoro. Ela, que nunca tinha pensado em se casar com um cigano – dizia: Deus me livre! – acabou enredada por um forte amor.

Dafne Spolti, ao apresentar o TCC ontem, dia 7 de julho, no Departamento de Comunicação Social da UFMT, procurou dar algumas informações sobre os Kalon fora do senso comum.

Segundo a pesquisadora, ciganos são pessoas comuns e complexas como todos nós, envolvidas por questões culturais que passam principalmente pelo nascimento e o casamento, pessoas que gostam de festa e roupas coloridas, primam pela virgindade e pregam intensa união familiar. Usam fortemente a oralidade para passar conhecimentos entre gerações, são ricos e pobres, de várias religiões. Dona Severiana, por exemplo, é evangélica. São nômades, mas muitos vivem fixados e mesmo os errantes durante um período se fixam também.

Os ciganos, diz Dafne, são historicamente perseguidos. Durante o nazismo de Hitler, por exemplo, 500 mil ciganos foram executados. A autora mostrou foto chocante de crianças ciganas, vítimas de experiências médicas nazistas.

Políticas públicas

Conforme Dafne pesquisou, no Brasil não há política pública voltada para os ciganos, a não ser iniciativas muito frágeis, como o Dia do Cigano, 24 de maio, dedicado à santa Sara Kali, protetora dos ciganos. Ela explicou que escolheu o modelo de livro-reportagem porque, na prática jornalística, persegue a liberdade de expressão e os meios de comunicação censuram rotineiramente conteúdos. Segundo ela, também por conta disso, os ciganos e outros povos não têm visibilidade na mídia.

O professor Aluízio Azevedo, da banca examinadora, que também é cigano, agradeceu e parabenizou a aluna pela escolha do tema. “Isso muito me emociona”, disse ele.

Sobre a preocupação da estudante com a garantia da liberdade de expressão, o professor Airton Segura, orientador do TCC, lembrou que a liberdade é um processo em construção permanente, que não tem fim. A cada conquista, novos enfrentamentos.

24 de Maio: dia Nacional dos Ciganos


Os povos ciganos são divididos em três grandes grupos: os Rom, os Kalon e os Sinti

Desde 2006, o Brasil comemora o dia nacional dos ciganos em 24 de maio. A data foi decretada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esta é uma conquista, já que reconhece oficialmente a importância que os grupos ciganos tiveram na construção da identidade e da nação brasileira, que hoje abriga em torno de 500 mil pessoas da etnia.

Consta registrado na história oficial de Brasil – hoje com população estimada de 500 mil pessoas da etnia e dos três grupos os Rom, os Kalon e os Sinti – que o primeiro cigano a desembarcar em terras tupiniquins foi João de Torres com sua família. Vieram deportados de Portugal em 1576, justamente por serem ciganos.

Inúmeros são os registros que os pesquisadores e a literatura fizeram sobre os preconceitos, perseguições e massacres que os povos ciganos sofreram desde que aportaram por volta do século X da era cristã em países europeus. Em muitos lugares como Espanha, Portugal, Inglaterra, e outros lugares, diziam-se vindos do Egito, por isso, “Gitanos” em espanhol, “ciganos” em português e “Gypsi” em inglês.

O grupo kalon é predominante nos países da península ibérica e são eles também os mais numerosos no Brasil e os que têm o maior índice de nomadismo (hoje 80% ou mais dos grupos ciganos fixaram residência ou continuam semi-nômades).  

Na Alemanha, por exemplo, Hitler dizimou aproximadamente 500 mi ciganos. Em Portugal, eram degredados, proibidos de falar sua própria língua, convertidos ao cristianismo, acusados de bruxas e hereges, supersticiosos, sujos e também muitos foram mortos em confrontos com a polícia e os moradores locias.

A política de perseguição e expulsão dos ciganos começou na Europa e se perpetuou por aqui. No Brasil a política não foi diferente. Paira ainda no imaginário popular estereótipos de que nós ciganos somos todos ladrões, que roubamos crianças, somos feiticeiros, bom comerciantes, fogosos, sensuais, e por ai vai. São visões que oscilam entre o exótico, o romântico e o sujo...

E os estudiosos cigano comprovam a situação. Na minha dissertação de mestrado também constatei junto aos entrevistados esta situação. Vários relataram que policiais entravam nos acampamentos ciganos e matavam a tribo toda, crianças, mulheres, homens inocentes, que morreram simplesmente pelo fato de serem ciganos.

Por isso é que me questiono: será que apenas uma data é o suficiente para fazer valer os direitos ciganos? Ou também é preciso oferecer políticas públicas de acolhimento da diversidade que nós representamos?

Oferecer por exemplo educação aos que ainda permanecem nômades é urgente.Outra questão seria o atendimento no SUS da etnia, já que sem endereço fixo, normalmente não possuem documentos.

Além disso, o preconceito ainda é uma ferida aberta na sociedade brasileira e precisa ser combatido com urgência, trabalhando a questão da diversidade cigana com as crianças na escola, assim como já acontece com a história e a cultura africana e a indígena.

Aluízio de Azevedo
Assessoria de Comunicação da AEEC-MT


quarta-feira, 16 de maio de 2018

MPF ouve anseios de comunidade cigana em Mato Grosso e estreita relações Imprimir

Procurador Ricardo Pael se reúne com representantes ciganos ao redor de uma uma mesa
Ascom/MT

Representantes da comunidade cigana em Mato Grosso estiveram reunidos na última sexta-feira (11) com o procurador da República, titular do Ofício de Comunidades Indígenas e Populações Tradicionais no Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT), Ricardo Pael Ardenghi. Durante a reunião, foram apresentadas as principais demandas e necessidades do povo cigano, tanto no estado, quanto no país como um todo. O encontro faz parte da ação coordenada Maio Cigano, que integra o calendário do Projeto MPF Cidadão 30 anos.

A presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Fernanda Caiado agradeceu o olhar diferenciado que está sendo dado na tratativa com o povo cigano e entregou ao procurador um documento contendo informações básicas sobre as comunidades ciganas no estado e a pauta com as demandas locais e nacionais. “Precisamos agradecer ao MPF, em nome do procurador Ricardo, por ter tomado essa decisão de olhar com outros olhos, não só a cultura, mas os ciganos hoje, que temos em Mato Grosso e no Brasil. Nós temos acompanhado o trabalho que o Ministério Público Federal tem feito em alguns pontos, como a efetivação do Dia do Cigano. Existem outras coisas que precisam melhorar e agora, com o apoio do MPF, a gente sabe que vai melhorar”, afirmou Fernanda.

Para o procurador Ricardo Pael, este é o momento de abrir um canal de diálogo com a comunidade cigana, que não tinha contato com o MPF no Estado. “Este é um processo que estamos iniciando e que daremos andamento, buscando atender as demandas que estão sendo colocadas, dando maior visibilidade às necessidades de todas as comunidades ciganas, principalmente as daqui de Mato Grosso”, enfatizou.

Situações como a falta de dados por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) sobre a população cigana no país, a falta de acesso a documentos, saúde, educação e moradia, leia-se lugares apropriados para os acampamentos das famílias que ainda permanecem nômades, foram a principais problemas apresentados pelos representantes da comunidade cigana em Mato Grosso. “Não existem áreas específicas para os acampamentos, e, quando são cedidas, não possuem nenhuma infraestrutura como água, banheiros e energia elétrica. A precariedade é muito grande. Torna-se insalubre e faz com que as pessoas engrossem o coro de que os ciganos são sujos e porcos”, enfatizou a presidente da Associação das Etnias Ciganas em Mato Grosso.

Fernanda explicou que a AEEC-MT tem conhecimento de que existem grupos ciganos nas cidades de Rondonópolis, Tangará, Cuiabá, Sinop, Alto Garças, Pedra Preta e Barra do Garças, e que a intenção é se aproximar de outras associações ciganas existentes no país, como a do Distrito Federal. E, apesar de não haver dados específicos sobre ciganos em Mato Grosso, Fernanda acredita que existem pelo menos 700 pessoas no estado que se identificam como ciganos.

Durante o encontro, tanto Fernanda, quanto a professora Irandi Rodrigues Silva, cigana de nascimento, e Marcos Gatass, cigano e professor de danças ciganas, falaram sobre a fixação do povo em Mato Grosso, e também sobre a cultura e os costumes dos ciganos como um todo, sobre as divisões por etnias, sobre o linguajar entre outros temas.

A professora Irandi falou um pouco sobre sua história. “Sou cigana de pai e mãe, nasci em uma barraca e perambulei até os 16 anos por aí em um lombo de cavalo, até meus pais fixarem moradia em Tangará da Serra. A partir de então, nós começamos a nos misturar com os não ciganos, até para que nossa cultura pudesse sobreviver”, ressaltou a cigana, formada em Pedagogia no Instituto Tangaraense de Educação, servidora pública aposentada.

Para ela, a pior situação que o cigano vive nos dias atuais ainda é o preconceito. “Cigano não se identifica como tal, até a língua está se acabando. A vida de cigano, na integração social na atualidade, é muito difícil. Antigamente era mais fácil. As pessoas ainda têm aquela visão de que cigano é enganador, e rouba crianças, e isso nos traz muitas dificuldades, principalmente para as nossas crianças”, ressaltou.

Marcio Gatass, professor de dança cigana, corrobora as palavras de Irandi ao afirmar que muitos parentes não dizem que são ciganos devido ao preconceito. “Precisamos ser bem vistos e não mal vistos. É preciso que tenhamos visibilidade para acabar com este estereótipo que existe sobre os ciganos”, completou.

Por fim, o procurador Ricardo Pael explicou que, com base nas informações repassadas a ele durante a reunião e documentalmente, serão instaurados quatro procedimentos administrativos pelo MPF/MT, sendo um sobre a questão de acesso a documentação civil; outro sobre o acesso à saúde, observando as peculiaridades do povo cigano; acesso à educação, enfatizando a questão de discriminação e possibilidade de abertura de cotas; e também para acesso a acampamentos com infraestrutura como energia e sanitários. Além disso, os documentos serão enviados às unidades do MPF no interior. “Diante de tantos problemas enfrentados pelos ciganos no Mato Grosso, é inadmissível que não haja nenhum procedimento instaurado. Essa realidade começa a mudar hoje”, concluiu.

Assessoria de Comunicação
Ministério Público Federal
Procuradoria da República em Mato Grosso
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prmt-ascom@mpf.mp.br
(65) 3612-5083
Disponível em: http://www.mpf.mp.br/mt/sala-de-imprensa/noticias-mt/mpf-ouve-anseios-de-comunidade-cigana-em-mato-grosso-e-estreita-relacoes