Da esquerda para direita: Anésio, Araxides, Eurípedes e Stoesse, membros da AEEC-MT.
Foto: Karen Ferreira (2017)
Hoje, 16 de Maio, as comunidades ciganas do mundo rememoram
o Dia da Resistência Cigana/Romani. A data se estabeleceu devido a bravura de
seis mil e quinhentas pessoas ciganas presas no campo de concentração nazista
BII de Auscwitz-Bikernau, que se revoltaram contra as tropas nazistas no
momento em que os levariam à câmara de gás; mantendo uma rebelião que começou
no dia 16 de maio de 1944 e durou até o dia 03 de agosto.
Também conhecido como “O Campo Cigano”, ao longo da
segunda guerra mundial, o local chegou a abrigar 23 mil pessoas romani, em sua maioria
das etnias Rom e Sinti. A data é importante para mostrar o quanto resistiram mesmo
diante da perseguição e da morte. O motim evidenciou a garra das pessoas
ciganas que, mesmo sem armas, resistiram, utilizando o que encontravam, como
pedras, paus, ferramentas e até pão.
Sem romantização, esses heróis da resistência ao
nazismo, são o retrato de que mesmo diante do pior inimigo ou opressão, a
dignidade das pessoas ciganas e, consequentemente, da humanidade, não se dobra.
Elas representam perfeitamente as comunidades e grupos étnicos romani, que
continuam fortes, resistentes e lutando até o fim contra o anticiganismo, as
políticas persecutórias e o racismo histórico, jamais se entregando à assimilação
ou ao etnocídio.
As mulheres e homens ciganos e portugueses, país do
qual, os romani foram degredados para o Brasil durante 300 anos, são exemplo
desta resistência e é de lá que vem a inspiração para o título desse texto. Idealizado
pela atriz Maria Gil - Calin residente na cidade do Porto – as mulheres ciganas
portuguesas, lançaram um movimento denominado “Mulheres e Ciganas, Existimos e Resistimos”.
O movimento ganhou força porque, se por um lado,
mostra a intersecção da dupla opressão que sofrem as mulheres e ciganas: o
machismo e o racismo; por outro lado enfoca na visibilidade social (existência)
e na identidade cultural (resistência) que elas e as culturas e comunidades
romani vêm alcançando. Isto é, resistindo fortemente ao racismo/machismo da
sociedade portuguesa e quebrando estereótipos internos das próprias comunidades.
Muitas mulheres e ciganas de Portugal ou de Brasil
foram perseguidas ou mortas pela igreja católica durante a inquisição, devido
aos seus conhecimentos sobre ervas, remédios naturais ou o trabalho com a
leitura de mãos. Mas resistiram e hoje estudam, trabalham, cuidam de seus
filhos e famílias, transmitindo e mantendo suas culturas.
O Acrobata e Cigano Manush Francês Raymond sobreviveu a nove campos de concentração nazista
Outro exemplo da resistência romani, é o sobrevivente
do holocausto, Raymond Gureme, que escapou de nove campos de concentração. Ativista
respeitado na comunidade internacional cigana e ex-membro da Resistência
Francesa ao nazismo, Raymond viveu no circo desde que nasceu (1925) até o ano
de 1941, quando com toda a família foi preso pela polícia francesa num campo de
concentração, de onde fugiu utilizando suas habilidades de acrobata.
Aluízio de Azevedo, Calon, jornalista,
assessor para Ciência e Comunicação da Associação Estadual das Etnias Ciganas
de Mato Grosso.
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