sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Comunidade cigana de MT é tema do programa "Papo com Ela"

O Programa "Papo com Ela" do último domingo (23/02) foi todo dedicado à comunidade cigana mato-grossense. Apresentado pela jornalista Michely Figueiredo, o programa é transmitido na TV Brasil Oeste e já está disponível no youtube.

A reportagem entrevistou várias mulheres da comunidade, como Irandi Rodrigues Silva, Olga Alves de Mattos e Erlaine Rodrigues Silva. A presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Fernanda Alves Caiado também foi entrevistada.

Além disso, estiveram presentes no estúdio a diretora de mobilização da AEEC-MT, Terezinha Alves e o assessor para ciência e comunicação, Aluízio de Azevedo. Vejam abaixo o programa na íntegra, que está dividido em quatro partes.


Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4




segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

MPF recebe Associação de Etnias Ciganas para tratar eventos relativos ao Maio Cigano em MT

As ações serão realizadas em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e têm como objetivo a valorização e visibilidade das culturas e identidades romani

O Ministério Público Federal (MPF), por meio do Ofício de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais, recebeu, esta semana, representantes da Associação Estadual das Etnias Ciganas (AEEC/MT) para tratar dos eventos que serão realizados no mês de maio, alusivos ao Maio Cigano, em Mato Grosso (MT). No dia 24 é comemorado o Dia Nacional dos Ciganos. As ações serão realizadas em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e têm como objetivo a valorização e visibilidade das culturas e identidades romani. A reunião ocorreu no dia 3 de fevereiro.

O procurador da República, Ricardo Pael, titular do Ofício de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais em Mato Grosso, ressaltou que tem percebido que um das prioridades dos povos ciganos é a questão da visibilidade. “O cigano tem que conseguir ser enxergado pela população mato-grossense, até para evitar respostas afirmando que não se pode fazer nada, já que em Mato Grosso não tem cigano. Isso é fruto da ignorância e do desconhecimento. É preciso que os ciganos apareçam. O mato-grossense tem que saber que tem cigano no estado”, destacou.

A programação, prevista para maio, inclui diversas atividades de valorização, registro e divulgação das identidades e culturas romani, por meio de quatro focos principais: o científico, o político, o artístico-cultural e o comunicacional.

Além disso, no encontro com Ricardo Pael, os membros da Associação Cigana apresentaram demandas que objetivam a reparação histórica e a justiça social, por meio da construção de políticas afirmativas e defesa dos diretos humanos, além de ações de combate ao racismo e ao preconceito histórico contra as pessoas ciganas. O procurador destacou que vem dialogando com a comunidade cigana desde 2018, quando membros da AEEC/MT participaram do evento Maio Cigano promovido pelo MPF e garantiu que o órgão será correalizador do projeto.

A diretora de mobilização da AEEC/MT, Terezinha Alves, ressaltou que a parceria com o MPF representa um avanço para as comunidades ciganas, que apesar de estarem no Brasil desde as primeiras décadas da colonização, só passaram a ser reconhecidas pelo estado brasileiro como colaboradores da cultura e da identidade nacional a partir da criação do dia nacional dos ciganos, em 2006 e após a aprovação do Decreto Presidencial 6.040 de 07 de fevereiro de 2007, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.

Assessoria de Comunicação
Ministério Público Federal
Procuradoria da República em Mato Grosso
www.mpf.mp.br/mt
prmt-ascom@mpf.mp.br
(65) 3612-5083

Disponível em: http://www.mpf.mp.br/mt/sala-de-imprensa/noticias-mt/pf-recebe-associacao-de-etnias-ciganas-para-tratar-dos-eventos-relativos-ao-maio-cigano-em-mato-grosso?fbclid=IwAR1HIctHwSQeUSLmX7xJp3n0y0TeBGvvTTzy1QrN9r919VJmdEbo-o3H0S4

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Comunidade cigana em Festa: Cigana baiana, dona Budel, completa 100 anos

Denerval Maria da Costa Braga , a dona Budel, é muito respeitada 
em todas as comunidades ciganas da Bahia

Por Florisvaldo

Hoje foi um dia muito especial para a senhora Denerval Maria da Costa Braga, para seus familiares, parentes e amigos. Dona Budel, como é carinhosamente chamada comemorou um centenário de vida. 

Ao lado da grande família cigana e das muitas amizades que construiu ao longo da vida simples e nômade esse momento contou com a presença do Pe Frei Marconi Ramos, MsS que deu a bênção por tão grande dádiva.


Demerval Maria da Costa Braga, ou dona Budel como é chamada, morando atualmente na cidade de Queimadas/Ba, nasceu no dia 25 de janeiro de 1920 na localidade onde hoje atualmente é a cidade de Quijingue-Ba.

“Que Santa Sara Kali, a escolhida pelos ciganos para dedicarem toda a sua devoção interceda junto ao Pai as bênçãos necessárias a aniversariante e que possamos a cada dia mais aprender com sua sabedoria pelo centenário vivido até aqui” ressaltou o Pe Frei Marconi Ramos, MsS.

No Brasil, originários provavelmente da Índia, os ciganos chegaram na segunda metade do século XVI, vindos de Portugal. É provável que os primeiros ciganos vindos de Portugal tenham chegado ao Brasil nas décadas de 1560 e 1570.

Familiares e Convidados usando os trajes tradicionais da origem cigana

Disponível em: https://www.portaldenoticias.net/ffsantos/a-comunidade-cigana-de-queimadas-e-cidades-adjacentes-no-sertao-baiano-estao-em-festa-a-cigana-mais-idosa-da-regiao-recebe-bencao-por-completar-100-anos-de-vida/

Na mídia: Famílias de ciganos acampam nos trilhos da NOB e geram medo e fascínio aos três-lagoenses


Poder público disse que Assistência Social não pode inferir e deduzir como, 
onde e de que forma devem viver os ciganos.

Por: Deyvid Santos
Rádio Caçula FM

TRÊS LAGOAS (MS) – Dezenas de ciganos estão utilizando uma parte da estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) como lar temporário em Três Lagoas. O grupo montou acampamento na última semana e pretende continuar no município até o dia 15 de fevereiro.

Recentemente diversos três-lagoenses entraram em contato com a Rádio e TV Web Caçula para denunciar o povo cigano. Muitos apontaram para a falta de segurança que o acampamento traz ao local. Outros citaram que o grupo estava acompanhado de crianças, que não frequentam escolas. Mas, a principal queixa foi o fato de estarem utilizando antigos vagões como banheiros.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Três Lagoas para saber o que poderia ser feito no caso. Através de nota, o poder público disse que Assistência Social não pode inferir e deduzir como, onde e de que forma devem viver os ciganos, mas que no caso de solicitação ações como acolhidas, oficinas com as famílias, ações comunitárias, particularizadas e encaminhamentos poderão ser realizados.

"É importante ressaltar que as atividades não devem estereotipar a cultura cigana, devem ser pensadas para eliminar preconceitos e garantir direitos a esses povos", diz parte da nota.

O CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) São João realizou visita e orientações as famílias, que informaram estar apenas de passagem no município com pretensão de saída prevista para antes do dia 15 de fevereiro. Afirmaram ainda que no momento estão vendendo enxoval (como guardanapos e outros) na cidade e não estão em situação de insegurança alimentar e financeira.

A reportagem também falou com moradores da região da Vila dos Ferroviários. Enquanto alguns se disseram incomodados com os constantes "pedidos de favores" – como água e carregar celular - outros demonstraram ser indiferente ao acampamento.

As famílias informaram que estão recebendo doação de água advinda da antiga Citocal para manuseio nas necessidades básicas e também se utilizam das instalações sanitárias na Praça Ramez Tebet, negando fazer uso dos vagões abandonados como banheiros. A equipe da secretaria não informou se foi identificado algum vestígio de que os vagões estivessem sendo utilizados com esse propósito.

Na última semana, o Conselho Tutelar do município também esteve no local para orientações às famílias. Caso permaneçam em Três Lagoas deverão matricular as crianças e adolescentes na escola.
Medo e fascínio acompanham a vida cigana em qualquer cidade por onde passam. E o princípio norteador do atendimento às famílias ciganas desenvolvido pela Assistência Social de Três Lagoas – que seguem as diretrizes do Ministério do Desenvolvimento Social - é o respeito a identidade étnica e a autodeterminação, respeito às tradições e manifestações culturais, às formas próprias de organização social, às formas de cuidados com os filhos, respeito a religiosidade e a situação itinerante, quando for o caso.


sábado, 8 de fevereiro de 2020

SUSTENTABILIDADE: Estado realiza oficina do REM para povos e comunidades tradicionais


AEEC-MT participou do evento representando as comunidades ciganas mato-grossenses

O governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SEAF), realizou nos últimos dias 05 e 06 de fevereiro (terça e quarta) uma oficina do programa REDD+ For Early Movers (REM) para cerca de 150 representantes de povos e comunidades tradicionais de Mato Grosso. Entre eles, este que vos escreve, representando as comunidades ciganas que vivem e circulam no Estado, por meio da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT).

Financiado pelo Reino Unido e Alemanha, o REM tem como objetivo, por meio de financiamentos, incentivar práticas que reduzem o desmatamento e ajudam a manter as florestas em pé. E é realizado no Estado com as parcerias das ONGs Funbio (Fundo brasileiro para a biodiversidade) e IPAM (Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia).

Com o tema “Povos e Comunidades Tradicionais e o programa REM: Construindo Caminhos”, a oficina reuniu além de ciganos, povos de matriz africana (de terreiro, quilombolas), indígenas e outras comunidades como os retireiros do araguaia, morroquianos, pantaneiros, ribeirinhos, pescadores e seringueiros. Na ocasião, os organizadores da oficina apresentaram como funcionará a parte do programa que beneficia essas comunidades e suas cadeias produtivas, que incluem produtos da agricultura familiar e do extrativismo.

A oficina, que ocorreu no Mato Grosso Palace Hotel, teve como objetivos levantar e validar informações dos povos e comunidades tradicionais no Estado; compartilhar informações sobre o programa REM; e iniciar um canal de comunicação para a construção de uma governança inclusiva e participativa. O representante das comunidades ciganas no Comitê Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais de Mato Grosso, Marcos Gattas, do Instituto Cigano do Brasil (ICB), também participou do evento.

Durante a oficina, foram apresentados critérios para as organizações dos movimentos sociais acessarem os editais que o programa lançará no Estado. Também foram mapeadas possíveis entidades que poderiam acessar aos recursos do programa, que terá duas formas de chamadas: uma para execução direta e outra por meio de organizações aglutinadoras, que poderão beneficiar instituições que não possuem regularização cadastral.

A programação da oficina contou ainda com a participação de representantes do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR) e do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas. E com a presença de analistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), que falaram sobre questões voltadas aos povos e comunidades tradicionais, que constarão no censo 2020.

Uma das principais reclamações dos representantes dos povos e comunidades tradicionais presentes diz respeito ao diagnóstico inicial trazido pela organização do programa REM. Defasados, os dados apresentados não condizem com a realidade dos povos e comunidades tradicionais mato-grossenses. 

Por exemplo, no que diz respeito às comunidades ciganas, os números informavam apenas 28 famílias em 16 municípios.

Todavia, somente os participantes da AEEC-MT somam em torno de 100 famílias, inclusive concentradas em municípios como Tangará da Serra, que não estavam sequer listados no diagnóstico inicial apresentado. Além do que, há outros 15 acampamentos espalhados por nove municípios mato-grossenses (Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC, 2017).

A AEEC-MT ficou de realizar um diagnóstico mais apropriado sobre as comunidades ciganas no Estado, juntamente com possíveis demandas de cadeias produtivas agroextrativistas desenvolvidas por comunidades ciganas em MT.

Programa REM

O REM premia países e estados pioneiros no combate ao desmatamento na Amazônia. Por meio do programa, o Estado irá receber 22 milhões de libras e 17 milhões de euros, cerca de R$ 180 milhões na moeda atual, em um período de cinco anos. Os recursos são administrados pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a proposta de repartição dos benefícios foi definida pelo Comitê Estratégico de Gestão do Programa Global REDD Early Movers (Cegrem).

Do valor destinado ao Estado pelos governos da Alemanha e do Reino Unido, 40% será destinado ao fortalecimento institucional do governo de Mato Grosso. Os recursos serão investidos para complementar ações já realizadas pelo Estado para combater o desmatamento e valorizar a floresta em pé.  Já os outros 60% serão repartidos em quatro subprogramas, sendo, 17% para projetos de produção sustentável, 22% para povos indígenas, 41% para agricultura familiar e 20% para agricultura familiar e povos tradicionais em outros biomas.

Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Artigo: Os ciganos, o genocídio esquecido da Segunda Guerra Mundial



Barbara Warnock e Toby Simpson escrevem sobre o genocídio dos ciganos a propósito da exposição que organizam na Biblioteca Wiener sobre o Holocausto.

Asperg, deportação de Roms e Sinti. Maio de 1940. Foto de Das Bundesarchiv/wikicommons

Em comparação com o Holocausto, o assassinato em massa de meio milhão de membros das comunidades Roms e Sinti europeias permanece desconhecido e não reconhecido. Esta ausência e a perseguição de que continuam a ser alvo levantam questões às quais ainda temos dificuldades em responder.

É o “genocídio esquecido” da Segunda Guerra Mundial: à volta 500 mil ciganos da Europa foram assassinados pelos nazis e seus colaboradores durante a Segunda Guerra Mundial, no seguimento da implementação de políticas que visavam persegui-los. Porque é que o genocídio dos ciganos foi amplamente esquecido? Porque é que o reconhecimento, ainda que parcial, das suas mortes demorou tanto tempo? Que obstáculos nos impedem ainda hoje de reconhecer completamente a importância deste genocídio?

A exposição atual da Biblioteca Wiener sobre o Holocausto, em Londres, Vítimas Esquecidas: O genocídio nazi dos Sinti e Roms, é consagrada à análise da destruição da vida dos ciganos pelos nazis, ao exame das políticas que precederam o massacre e ao esclarecimento dos aspetos desta história que continuaram escondidos e amplamente desconhecidos durante décadas.

Os Roms e Sinti foram vítimas de preconceitos e de discriminações na Alemanha antes de 1933, mas a chegada ao poder dos nazis correspondeu a uma intensificação das perseguições.

Em meados dos anos 1930, os ciganos são impedidos de exercer certas profissões e muitos foram obrigados a viver em campos de internamento. No final dos 1930, a ideologia racial nazi foi ampliada para englobar a noção segundo a qual os ciganos eram de “sangue estrangeiro” e representariam uma ameaça para a força racial da “raça superior ariana”.

No quadro do desenvolvimento destas ideias, os ciganos foram submetidos a um programa massivo de investigações pseudo-científicas. Foram igualmente marcados para esterilização forçada.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os ciganos dos territórios ocupados pela Alemanha nazi foram deportados para campos e ghettos, obrigados a trabalho forçado e mortos pela fome, pelos maus tratos, pelos fuzilamentos de massa e os gaseamentos nos campos como o de Chelmno e o de Auschwitz. Regimes colaboracionistas, como os Ustashe na Croácia, perpetraram assassinatos de massa contra as suas populações judaica e cigana.

Num relato oferecido à biblioteca Wiener, o Dr Max Benjamin, um sobrevivente judeu de Auschwitz, descreveu o testemunho da “liquidação” do “campo de ciganos” em 2 e 3 de agosto de 1944: neste noite, “de um só golpe, todos os ciganos representavam a população deste campo foram enfiados nas câmaras de gás.”

Apesar dos sofrimentos e das injustiças aterradoras sofridas pela população cigana da Europa durante o período nazi, o genocídio dos ciganos foi frequentemente negligenciado ou minimizado. Uma das principais razões desta situação são as múltiplas camadas de preconceitos, de discriminação e de marginalização com as quais os sobreviventes roms e sinti continuam a ser confrontados depois da libertação. A hostilidade e os estereótipos negativos relativamente aos ciganos persistiram. Em numerosos países, a exclusão permanente dos ciganos da representação política e do poder económico impediu a sua capacidade de fazer campanha pelo seu reconhecimento.

Esta marginalização revela-se através da ausência de acusações contra os autores de crimes contra os ciganos nos primeiros processos por crimes de guerra. Na Alemanha Ocidental do pós-guerra, reinava um clima de negação da amplitude dos horrores cometidos contra as vítimas ciganas que frequentemente não recebiam as compensações atribuídas às outras vítimas das perseguições raciais nazis. Os numerosos monumentos comemorativos construídos nas décadas que se seguiram à guerra não reconheciam as vítimas ciganas.

Foi apenas em 1982 que a Alemanha reconheceu oficialmente os crimes nazis contra os ciganos como um genocídio; as primeiras desculpas da França pela sua colaboração nos crimes nazis contra os Roms e os Sinti foram apresentadas em 2016.

Na URSS e na Europa de Leste, as experiências dos ciganos durante o genocídio foram igualmente amplamente ignoradas. Os ciganos que desejavam permanecer nómadas foram obrigados a instalar-se em casas. No período pós-comunista, a discriminação face aos ciganos aumentou, enquanto que as suas condições de vida e o acesso a serviços diminuíram fortemente.

A nossa exposição tenta abordar a amnésia coletiva que envolve o genocídio dos ciganos. A Biblioteca Wiener sobre o Holocausto possui importantes coleções sobre este tema, nomeadamente os primeiros testemunhos de sobreviventes roms [https://blog.ehri-project.eu/author/cschmidt/](link is external) recolhidos no quadro de um projeto desenvolvido pela Drª Eva Reichmann a partir dos anos 1950. A Biblioteca prevê publicar alguns destes testemunhos mais tarde ainda durante este ano.

Possuímos igualmente material recolhido aquando do primeiro projeto de investigação que tentou documentar sistematicamente o genocídio, um projeto conduzido por Donald Kenrick e Grattan Puxon no final dos anos 1960. Um certo número de elementos desta coleção incluindo resumos de testemunhos de sobreviventes são apresentados na exposição.

Um outro elemento impressionante da exposição é uma fotografia do pós-guerra de Margarete Kraus. A tatuagem do número do campo no seu antebraço esquerdo é pouco visível: Margarete Kraus era uma sobrevivente rom checa de Auschwitz, onde tinha sido vítima de experiências médicas forçadas. O retrato de Kraus foi feito pelo jornalista leste-alemão Reimar Gilsenbach nos anos 1960. Gilsenbach investigou a perseguição dos ciganos durante o período nazi.

Uma peça bastante diferente é um documento intitulados “Interdições publicadas relativamente a polacos, judeus e ciganos” submetida mais tarde no processo por crimes de guerra de Nuremberga como prova dos crimes nazis. Data de 10 de março de 1944, trata-se de uma circular enviada por Heinrich Himmler a um grupo de altos funcionários do Estado, informando-os que “terminada a evacuação e o isolamento” dos judeus e ciganos isso significava que não eram necessárias novas diretivas.

“Evacuação” e “isolamento” neste contexto significavam que a vasta maioria dos judeus, Sinti e Roma da grande Alemanha tinham já sido deportados para ghettos e campos e assassinados. A terminologia usada aqui exemplifica a “pesada matéria de facto” da linguagem burocrática dos SS, memoravelmente descrita pelo historiador Mark Roseman como uma “diabólica paródia da precisão administrativa”.

Outra história contada na exposição é a de Hans Braun, um homem Sinti alemão nascido em Hannover em 1923. Braun sobreviveu aos campos de Auschwitz e Flossenbürg. A maior parte da sua família morreu em Auschwitz. Quando em 1950 reclamou uma compensação do Estado alemão, a polícia local decidiu pelo contrário abrir uma investigação contra ele – buscando provas espúrias de que Braun tinha sido preso enquanto “criminoso” - como fundamento para rejeitar a sua petição.

O facto de que a verdadeira natureza e escala do genocídio cigano tenha sido negado, minimizado ou ignorado por tantos durante tanto tempo foi doloroso e enfurecedor para as vítimas e as suas famílias.
Apesar de ser tarde demais para retificar as injustiças que eles experienciaram, não é tarde demais para lidarmos com a marginalização e discriminação que enfrentam as comunidades ciganas hoje em dia em lugares como a Hungria, nos quais a discriminação e hostilidade contra os ciganos é comum, e a Ucrânia, onde grupos fascistas levaram a cabo muitos ataques violentos contra ciganos nos últimos anos. Talvez esta exposição marque um começo, por reconhecer aquilo a que a discriminação e o preconceito podem conduzir.

Artigo publicado(link is external) no A l'encontre. Tradução de Carlos Carujo
Toby Simpson é diretor da Biblioteca Wiener sobre o Holocausto da Biblioteca de Londres.
Barbara Warnock é curadora e responsável pelo setor educativo. É a responsável pela exposição: As vítimas esquecidas: exposição sobre o genocídio nazi dos Roms e Sinti.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

UFMT recebe associação para discutir inclusão cigana


Programa de inclusão cigana buscará atender alunos na graduação e pós-graduação 

Do site da UFMT

A reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professora Myrian Serra, reuniu-se com a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), para discutir a criação de políticas afirmativas voltadas para essa comunidade. A proposta visaria realizar uma reserva de vagas remanescentes em cursos de graduação e pós-graduação.

“A UFMT tem como pauta prioritária a inclusão e o reconhecimento da diversidade; então, reconhecer a comunidade cigana, para nós também será um avanço bastante importante para a universidade. Penso que para a continuidade, já encaminhamos aqui várias questões de possíveis ações afirmativas na pós-graduação, na graduação, eventos, pesquisa, então, faço uma avaliação bastante positiva da reunião e tenho a expectativa que a UFMT será uma parceira muito importante para a comunidade cigana”, ponderou Myrian Serra.

Primeira cigana mato-grossense a cursar ensino superior na UFMT na década de 90 e atual diretora da mobilização da Associação Cigana, Terezinha Alves, que é formada em serviço social, comemorou a receptividade da direção da UFMT. 

“Estamos no Brasil há quase 500 anos e chegamos expulsos de Portugal por sermos ciganos. Aqui sofremos perseguições, com políticas anticiganas aplicadas pelo Estado brasileiro. Disseminaram-se estereótipos, racismo e discriminação, que invisibilizam as culturas e identidades ciganas. Assim, ações como essas reparam historicamente essas questões e valoriza-nos com a oportunidade de cursar graduação, mestrado e doutorado numa instituição respeitada como a UFMT”, afirmou Terezinha.

Também na oportunidade, a AEEC-MT solicitou apoio da UFMT para realização de um evento que tem como objetivo visibilizar as demandas sociais, políticas, acadêmicas e culturais das comunidades ciganas, a ocorrer no dia nacional dos ciganos, que se comemora todo dia 24 de maio, desde o ano de 2006. Entre as atividades do evento está previsto um seminário científico na instituição, que abordará temáticas importantes relacionadas aos direitos humanos dos povos ciganos e à pesquisa acadêmica.

O diálogo para o seminário, que contará com mesas redondas com especialistas, pesquisadores e militantes ciganos e de outras minorias étnicas, será realizado em parceria com o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Artes e Comunicação (GPEA), da UFMT, cuja coordenação é da professora Michèle Sato.

Também participaram da reunião a pró-reitora de Ensino de Graduação (Proeg), professora Lisiane Pereira de Jesus, a pró-reitora de Ensino de Pós-Graduação (Propg) Ozerina Victor de Oliveira e a Pró-Reitora de Assistência Estudantil (Prae), Erivã Garcia Velasco.


Do Site da UFMT
Disponível em: https://www.ufmt.br/ufmt/site/index.php/noticia/visualizar/47675/Cuiaba?fbclid=IwAR0rRxX3myMcDGFDb7YeTiD-75MBBmpAgS479oQ9KuaU_fyxiYTwa0YbAmE

UFMT prepara programa de inclusão cigana

Previsão é que sejam lançadas sobrevagas nos cursos de graduação e pós-graduação

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) iniciou neste mês de janeiro de 2020 um processo para criação de políticas afirmativas voltadas para as comunidades ciganas mato-grossenses. Trata-se de construir um programa que abarca sobrevagas na graduação e na pós-graduação, que deverá ter duração de 10 anos. No caso da graduação, deve seguir moldes semelhantes aos pioneiros Programa de Inclusão Indígena (Proind) e Programa de Inclusão Quilombola (Proinq), que beneficiam essas minorias.

A decisão foi tomada no último dia 29 de janeiro (quinta-feira) pela reitora da UFMT, Myrian Serra, após uma reunião em que foi demandada por membros da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT). Na ocasião, a reitora, informou que a partir da demanda da comunidade cigana, a instituição dará início a um processo para criação de um programa de inclusão cigana na graduação, com perspectiva para ser lançado em 2021.

A reitora explicou que de imediato a UFMT pode acolher os estudantes ciganos que possuem graduação nos editais dos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), do ano de 2020 com previsão de entrada em 2021. Isso porque, por meio da pró-reitoria de Pós-graduação (PROPG), a Universidade da Selva está desenvolvendo um processo de inclusão desta etapa do ensino que inclui outras minorias como quilombolas, indígenas e pessoas trans, por meio de programas específicos que serão lançados ainda neste ano.

“A UFMT tem como pauta prioritária a inclusão e o reconhecimento da diversidade; então, reconhecer a comunidade cigana, para nós também será um avanço bastante importante para a universidade. Penso que para a continuidade, já encaminhamos aqui várias questões de possíveis ações afirmativas na pós-graduação, na graduação, eventos, pesquisa, então, faço uma avaliação bastante positiva da reunião e tenho a expectativa que a UFMT será uma parceira muito importante para a comunidade cigana”, ponderou Myrian Serra.

Comunidade Cigana

O encontro contou com a presença dos membros da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo Silva (secretário), Terezinha Alves (diretora de mobilização), Irandi Rodrigues Silva (conselheira) e Rodrigo Zaiden (diretor de cultura). E foi acompanhada pelas pró-reitoras da UFMT, Ozenira Victor de Oliveira (pós-graduação), Erivã Garcia Velasco (assistência estudantil) e Lisiane Pereira de Jesus (ensino de graduação). A AEEC-MT representa em torno de 300 pessoas, em sua maioria do tronco étnico kalon – os outros dois troncos são os Rom e os Sinti – espalhadas por cerca de 10 municípios, mas concentrados em Tangará da Serra, Rondonópolis e Cuiabá.

Primeira cigana mato-grossense a cursar ensino superior na UFMT na década de 90 e atual diretora da mobilização da Associação Cigana, Terezinha Alves, que é formada em serviço social, comemorou a receptividade da direção da UFMT. Além disso, a comunidade já participou de outros dois trabalhos acadêmicos na instituição, a dissertação de mestrado “A Liberdade na Aprendizagem Ambiental Cigana dos Mitos e Ritos Kalon”, do também cigano Aluízio de Azevedo Silva Júnior, defendida no Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da UFMT; e o Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo da instituição, ““Ciganos entre nós – a caminhada de uma família Kalon de MT” (2012), produzido por Dafne Henriques Spolti.

“Estamos no Brasil há quase 500 anos e chegamos expulsos de Portugal por sermos ciganos. Aqui sofremos perseguições, com políticas anticiganas aplicadas pelo Estado brasileiro. Disseminaram-se estereótipos, racismo e discriminação, que invisibilizam as culturas e identidades ciganas. Assim, ações como essas reparam historicamente essas questões e valoriza-nos com a oportunidade de cursar graduação, mestrado e doutorado numa instituição respeitada como a UFMT”,  emocionou-se Terezinha.

A assistente social informou que em levantamento preliminar, cerca de 30 pessoas da comunidade cigana possuem ensino superior, em diversas áreas, como educação, odontologia, direito, jornalismo, contabilidade, administração, farmácia, engenharia, etc; e estão aptas para iniciar imediatamente a pós-graduação. “Também temos em torno de

24 de maio

Também na oportunidade, a AEEC-MT solicitou apoio da UFMT para realização de um evento que tem como objetivo visibilizar as demandas sociais, políticas, acadêmicas e culturais das comunidades ciganas, a ocorrer no dia nacional dos ciganos, que se comemora todo dia 24 de maio, desde o ano de 2006. Entre as atividades do evento está previsto um seminário científico na instituição, que abordará temáticas importantes relacionadas aos direitos humanos dos povos ciganos e à pesquisa acadêmica.

O diálogo para o seminário, que contará com mesas redondas com especialistas, pesquisadores e militantes ciganos e de outras minorias étnicas, será realizado em parceria com o Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Artes e Comunicação (GPEA), da UFMT, cuja coordenação é da professora Michèle Sato.

“Para complementar a programação, estamos buscando parceria com a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, com o objetivo de realizar uma audiência pública para debater as demandas das comunidades ciganas no Estado, bem como propor algumas possibilidades de implantação de políticas públicas afirmativas nas áreas da educação, da saúde, do trabalho e de outras pautas importantes para o movimento romani”, informa a conselheira da AEEC-MT, Irandi Rodrigues Silva e complementa:

“Também já iniciamos o diálogo junto ao governo do Estado para realização de atividades culturais, para marcar a data, como música e dança cigana; a realização de uma exposição fotográfica itinerante do universo kalon brasileiro, além de uma pequena mostra de filmes com essa temática”. A Reitora da UFMT afirmou ser parceira desta demanda no seminário, cedendo a estrutura necessária, como auditório e equipamentos, e sugeriu uma reunião com a pró-reitoria de Cultura da instituição para debater as atividades culturais.


Outras informações sobre a AEEC-MT e as comunidades ciganas no site: https://aeecmt.blogspot.com/

Texto: Aluízio de Azevedo
Assessor de Ciência e Comunicação da AEEC-MT