sexta-feira, 20 de junho de 2025

AEEC participa de Encontro de Gestores da Cultura e Esporte de MT

Vice-presidente da AEEC, Jéssika Lorrayne Leme, Primeira-dama Virgínia Mendes e a presidente da AEEC, Rosana Matos Cruz na feira do evento

A Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) foi uma das organizações convidadas pela Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT) para integrar o pavilhão da Feira Cultural do I Encontro de Gestores da Cultura e do Esporte de Mato Grosso.

A AEEC conta com stand na Feira cultural do evento, onde apresentará seus trabalhos principais, como a manutenção e a conservação dos saberes femininos, especialmente, a medicina tradicional Calon, a produção de eventos culturais, como os Encontros de Cultura Cigana de MT e os Encontros de Mulheres Ciganas de MT.

Além disso, a instituição foi convidada a integrar a programação artística do evento e indicamos a participação da Integrante do grupo de Danças Tradição Cigana, Amanda Cabral, que fará no dia 24 de junho, às 17h, uma apresentação de dança cigana solo.

A presidente da AEEC-MT, Rosana Cristina Alves de Matos Cruz, a tesoureira, Fernanda Caiado e o Gerente de Projetos, Aluízio de Azevedo, participam do evento representando a organização, pelo município de Cuiabá.

Já Amanda Cabral e a vice-presidente da AEEC-MT, Jéssika Lorrayne Alves Cabral Lima Leme, vêem de Rondonópolis, especialmente, para participarem do Encontro

Organizado pela Secel-MT, o encontro ocorre no período entre 23 e 25 de junho, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá e conta com a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Também estarão presentes o governador Mauro Mendes, o Secretário da Secel, David Moura, deputados estaduais, vereadores, prefeitos, trabalhadores da cultura, artistas e mestres populares de diversos segmentos.

Músicos, cineastas, artistas plásticos, artistas visuais, profissionais das artes cênicas, do circo e produtores culturais em geral, além de patrocinadores e apoiadores vindos de quase todos os municípios mato-grossenses, estarão em ebulição durante o Encontro, quue conta com programação diversificada, intensa e variada, incluindo, a participação da atriz global, Denise Fraga.

Confira mais informações sobre a programação:

23 de junho

A solenidade de abertura oficial será realizada na segunda-feira (23.6), às 17h30 (horário atualizado), no auditório. Antes, a partir das 14h, a programação já começa com reuniões da Comissão Intergestores Bipartide de Cultura, e dos Conselhos Estadual de Cultura e Estadual de Desporto.

Às 16h30, no auditório, ocorre ainda a reunião das Câmaras Setoriais de Cultura e do Esporte, com apresentação do relatório das atividades já desenvolvidas.

24 de junho

Na terça-feira (24.6), a agenda retoma logo pela manhã. No auditório, serão realizados os painéis “A legislação e os desafios para as políticas públicas”, das 9h30 às 11h; e Cultura e Esporte como vetor do desenvolvimento econômico estratégias e indicadores de impactos”, das 11h às 12h30.

Também no auditório, às 14h30, ocorre a conferência máster do evento, ministrada pela atriz e cronista Denise Fraga. Das 17h às 20h, a programação contempla nove oficinas temáticas com duração de três ou de seis horas, realizadas simultaneamente em salas diferentes.

Entre os assuntos das oficinas estão Elaboração e Prestação de Contas de Projetos, Comunicação Pública, Pesquisa e Levantamento de Dados, Representação Social, Acessibilidade em Eventos, e outros.

25 de junho

Na quarta-feira (25.6), será dada continuidade às oficinas, das 9h30 às 12h30. Durante a tarde, a partir das 14h30, no auditório, o terceiro o painel traz o tema “Cultura e Esporte como Desenvolvimento Social” para debater as desigualdades e a democratização de acesso. 

Neste último dia de Encontro, às 17h, o auditório será o palco da conferência conduzida pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. 

Ainda no auditório, às 18h, o secretário da Secel, David Moura, conduz um bate-papo (talkshow) com atletas medalhistas olímpicos. Estão confirmadas as presenças de Flávio Canto (judô), Daniel Dias (natação paralímpica), Serginho (voleibol), Erika Zoaga (judô paralímpico) e Arthur Cavalcante (judô paralímpico).

Programação cultural

Integra ainda a programação a Feira Conexão Saberes, que possibilitará a aquisição de produtos locais e conhecer projetos esportivos e culturais do Estado.

Durante todos os dias, os participantes poderão também assistir diversas apresentações de cultura e de esporte, realizadas no palco central do Centro de Eventos do Pantanal. 

Já o encerramento do evento ocorrerá na área externa da Arena Pantanal, com um grande show aberto ao público do grupo Fundo de Quintal. 

Toda a programação pode ser conferida também no arquivo disponível no site: www.secel.mt.gov.br/-/encontro-de-gestores-de-cultura-e-esporte-de-mt

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Líderes dos povos ciganos e aliados se mobilizam por direitos

Ações reivindicam garantias nas esferas política, social e jurídica

Letycia Bond - repórter da Agência Brasil, Publicado em 13/06/2025 - 07:02, São Paulo

O presidente administrativo da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec), Wanderley da Rocha, lidera um trabalho para que os direitos de seu povo tenham visibilidade no Congresso Nacional e em outras esferas de poder no Estado Brasileiro. Membro da etnia calon, um dos três grupos do povo romani no Brasil, ele tenta convencer mais parlamentares a se sensibilizarem por suas bandeiras, como a produção de dados oficiais, a aprovação do Estatuto dos Povos Ciganos e a proteção contra a violência e o ódio.https://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.png?id=1645855&o=nodehttps://agenciabrasil.ebc.com.br/ebc.gif?id=1645855&o=node

"Sabemos que, na luta dos povos ciganos, hoje, no Brasil, não estamos pedindo nada a ninguém. Nós estamos cobrando o direito de ter direitos. Como autoridade, [os políticos] eles têm que fazer o que é certo”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Rocha fundou a Anec, com o objetivo de reunir roma [como também são chamadas as pessoas do povo romani] de todo o país em uma entidade. Atualmente, a associação chega a mais de 30 grupos em 20 estados, incluindo as três etnias ─ rom, sinti e calon. O alagoano destaca que as três etnias não tinham, até pouco tempo atrás, tanto vínculo entre si, mas decidiram se unir para se proteger a partir da coesão.

"Sabemos que nós temos várias demandas, mas entendemos que a luta é só uma. Graças a Deus, tanto a etnia calon como os sinti, de uns anos para cá, fizeram um acordo, entenderam que o Estatuto [dos Povos Ciganos] valeria agora para a nossa geração presente e a vindoura", comemora.

Estatuto dos Povos Ciganos

Apresentado pelo senador Paulo Paim (PT-RS), o Projeto de Lei nº 1387/22 cria o estatuto a que Rocha se refere. A proposta já foi aprovada na Casa, mas estacionou na Câmara dos Deputados.

O debate sobre o estatuto no plenário do Senado Federal foi uma oportunidade para dar visibilidade a denúncias antigas do povo romani, como o racismo e discriminação, também chamada de romafobia ou ciganofobia. 

"Nesse dia, eles pediram a palavra. [Disseram:] 'Paim, nós somos praticamente invisíveis. Queremos o Estatuto", recordou o parlamentar à Agência Brasil. "O Estatuto é um passo importantíssimo na promoção de direitos e na valorização da cultura das comunidades ciganas no Brasil, é uma iniciativa vital para esse setor", sintetiza.

Paim concorda com a percepção de que o povo romani é, historicamente, alvo de discriminação, marginalização e violação de direitos. Outro avanço que a aprovação do texto poderia trazer, destaca o senador, diz respeito à participação das comunidades na formulação das políticas públicas.

Participação social

Para a fundadora e presidenta da Associação Internacional Maylê Sara Kalí (AMSK), Elisa Costa, o governo federal tem conduzido de forma problemática o delineamento do Plano Nacional de Política para Povos Ciganos, instituído em agosto de 2024, pois teria falhado ao não escutar seus beneficiários extensamente.

Ela questiona, por exemplo, que, entre as 20 entidades não governamentais que têm assento no Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, 18 representam vertentes do movimento negro, e apenas uma, os roma, que é a Associação Nacional das Mulheres Ciganas. A outra instituição que é membro do conselho é a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

"Nossa luta pela consulta pública [no Plano Nacional de Política para Povos Ciganos] é porque o governo não tem noção de quem somos", pontua. "A gente continuou sem dados, temos hoje microdados de análise. Se você pensar, temos uma população em situação de grande vulnerabilidade social", diz a líder da AMSK, que estima que a Bahia tem a maior população romani do Brasil.

A diretora de Políticas para Quilombolas e Ciganos, do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Paula Balduino de Melo, afirma que a representação dos ciganos se dá pelo Comitê Gestor do Plano Nacional de Política para Povos Ciganos. O comitê tomou posse no final do mês passado. Foram eleitas, por meio de votação, figuras como Wanderley da Rocha, entrevistado nesta reportagem; Rosecler Winter, porta-voz dos sinti; e a calin ─ termo para designar mulheres e meninas do povo calon ─ Nardi Terezinha Casanova. Também foi eleito o líder dos rom Cláudio Domingos Iovanovitchi, porém ele morreu em março deste ano. 

Sem dados

A falta de dados oficiais básicos, como a própria contagem populacional, é uma das críticas históricas das lideranças dos romani ao poder público. Segundo os ativistas, um dos argumentos já ouvidos é o de que a itinerância de alguns grupos dificulta a apuração dos dados. Apesar disso, a realidade é que o nomadismo não é uma característica inerente a todas as comunidades ciganas, e boa parte delas se mantém fixa em um mesmo endereço. 


"Agora, nós não temos dados sobre qual é a maior concentração no país, de uma forma geral. E não ter um levantamento oficial já é uma forma, inclusive, reproduzida e reconhecida por nós até no contexto internacional, de ampliação do anticiganismo, da romafobia", afirma Elisa Costa, que também é diretora do escritório da International Romani Union (IRU) no Brasil. 

Na falta de uma base de dados, a AMSK desagrega dados do Cadastro Único (CadÚnico) e do programa Bolsa Família para mensurar a população romani no país. A entidade verifica o total de pessoas que, mediante autodeclaração, dizem pertencer a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos (GPTE), com marcação “família cigana” em situação de vulnerabilidade social.

Também no final de maio deste ano, foi realizado em Brasília um seminário sobre o Mapeamento Inicial de Famílias Ciganas, Rotas e Redes de Acesso a Políticas Públicas, feito pelo MIR. A pesquisa também usou o CADÚnico, como a AMSK, somado a dados das pesquisas municipais/estaduais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (Munic e Estadic), da Secretaria Especial de Cultura e Artes Integradas (Secai) e do Sistema Único de Saúde (SUS), além de coletas de dados feitas em visitas a ranchos e acampamentos ciganos.

A diretora Paula Balduino de Melo diz que o IBGE participou da apuração dos dados do mapeamento. “Além disso, estamos firmando um acordo de cooperação técnica entre o MIR e o IBGE, que prevê a produção de dados relacionados aos povos ciganos”, antecipou, acrescentando que, caso exista um Censo específico, considera eventuais contribuições do instituto essenciais e que a pasta tem procurado salvaguardar as metas do PNPC, mesmo com cortes orçamentários.

Questionado sobre as críticas dos militantes roma, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não repondeu à reportagem. O problema da falta de pesquisas do instituto sobre esse tema também já foi apontado pelo Ministério Público Federal (MPF), que fez uma recomendação pedindo a inclusão do povo romani no último Censo Demográfico.

Ministério Público Federal

A atuação do Ministério Público na cobrança de maior visibilidade para o povo romani, como no caso do IBGE, é um indício de omissões do Estado nesse trabalho. Essa é a avaliação do subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, que, em sua época de procurador, foi um aliado na luta pelos direitos dessa população. 

"Não havendo uma agência oficial, não havendo uma Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas], uma Fundação Cultural Palmares para os ciganos, nós tivemos que construir informação antropológica sobre os grupos ciganos, informação sociológica também e um aprofundamento jurídico. Por isso, o MPF terminou se tornando, no Brasil, a instituição com o maior conjunto de informações antropológicas e jurídicas sobre os ciganos no país. De fato, foi uma mudança muito grande", ressalta. 

Mariz Maia começou a atuar nesse âmbito em 1991, depois de ganhar visibilidade com um projeto em favor dos indígenas potiguara, que vivem no estado em que ele atuava, a Paraíba, e também no Ceará, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte.

"Houve uma grande repercussão e isso fez com que o senador Antonio Mariz, que, há muitos anos, defendia os ciganos, identificasse a possibilidade de o Ministério Público cuidar também dos ciganos, enquanto minoria. A experiência com os indígenas vinha de muito tempo já, mas a experiência com os ciganos não existia", comenta Mariz Maia, que também leciona na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e foi recentemente eleito para integrar o Subcomitê de Prevenção à Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (SPT), da Organização das Nações Unidas (ONU).

"O senador disse assim: tem quem cuide de índio, tem quem cuide de negro, tem que cuide de homossexual, mas não tem quem cuide dos ciganos”, lembra o subprocurador-geral, que, então, perguntou o que teria de ser feito. “Ele disse: ‘vá você conhecer, que aí irá identificar’. Fui, conheci a comunidade dos ciganos em Sousa (PB), em agosto de 1991 e, desde então, temos caminhado juntos".

No sertão paraibano, a comunidade de Sousa, dos calon, é uma das maiores da América Latina e contou com o suporte do Ministério Público Federal (MPF) para a regularização fundiária. Em abril de 2021, o órgão ajuizou uma ação para que fosse declarada a usucapião coletiva de imóveis de quatro comunidades ciganas, em Sousa, distante 432 quilômetros da capital. 

De acordo com o MPF, 522 famílias ciganas tinham fixado residência lá, há 40 anos, "por questões de sobrevivência". Eram, ao todo, 1.845 pessoas, a maior comunidade cigana geograficamente fixada do Nordeste brasileiro, e a área que pleiteavam tinha 171.319,08 m² e fazia parte de um território maior reivindicado.

Ter desempenhado função semelhante em prol dos indígenas potiguaras e, seguidamente, dos ciganos demonstrou a Mariz Maia que os dois enfrentam dificuldades diferentes apesar de algumas semelhanças, pois cada minoria étnica tem suas particularidades. 

"Enquanto indígenas e quilombolas são vinculados à terra, e a terra recebe deles a identidade e também dá a eles a identidade, os ciganos são grupos étnicos que constroem suas fronteiras identitárias por outras razões. Pelo modo de se expressar, eles têm sua língua própria, pelo modo de construir seus hábitos e se organizarem coletivamente, de manterem, de maneira geral e muito intensa, os casamentos dentro da comunidade", explica.

Ao comparar os contextos, o docente paraibano qualifica como "muito mais judicializada" a atuação do MPF no caso dos ciganos. "Nossa atuação acaba sendo de articulação, de coordenação, de um empoderamento das lideranças locais, fazendo com que possamos mediar contatos com prefeituras, secretarias de estado, lideranças governamentais dos vários níveis, para que os ciganos possam localizar suas demandas. Nós damos o respaldo para apresentar a base jurídica dessas demandas e poderem se converter em políticas públicas", detalha Mariz Maia.

Diversidade e violência


Também da Paraíba, o procurador da República José Godoy dá continuidade ao trabalho de acolher as queixas e necessidades do povo romani, em especial, dos calon. Em 2017, fez uma viagem para conhecer as comunidades de Sousa e Patos, que ficam a três horas de carro uma da outra. Na oportunidade, foi apresentado por Mariz Maia e esteve em Condado, que fica entre as duas cidades.

Godoy concorda que o fato de os povos ciganos serem atendidos pelo MPF já expõe o vazio deixado pelas gestões municipais e estaduais. 

"Isso já é sintomático, porque os órgãos locais não os atendem, a não ser que a gente chame. A Defensoria Pública, nos casos em que eles são vítimas, e infelizmente, até nisso tem dificuldade de fazer a defesa deles, quando são criminalizados nas suas atuações. Então, a atuação do MPF já demonstra que não têm acesso a outros órgãos, que deveriam fazer seu papel”. 

Com uma rede de contatos que vai além de seu estado, ele se mantém atualizado sobre o que passa em comunidades de todo o país. "Acho que os povos ciganos, no Brasil, têm uma diversidade muito grande. Não só de moradia, mas diria um pouco quanto a se organizar e até as condições sociais. Aqui no Nordeste, há ciganos muito pobres. Na Bahia, nem tanto, há povos ciganos com uma condição financeira não tão vulnerável. Em São Paulo, tem alguns com condição financeira até interessante. Então, vai ter uma variação", diz ele.

"A única coisa que os une realmente é o preconceito e a violência policial contra eles. Eles sofrem muito preconceito, mais do que qualquer outro [grupo minorizado] com o qual eu tenha trabalhado. Nenhum chega ao nível de preconceito que os ciganos sofrem. E violência policial. Os ciganos da Bahia não são pobres, mas sofreram um processo de assassinato brutal pela polícia. Aqui na Paraíba, tem histórico de violências terríveis. Em todos os espaços, eles são muito violentados", assinala.

Na Bahia, os roma foram vítimas recorrentes de crimes nos últimos anos. Em 2021, uma chacina deixou oito vítimas, executadas por policiais. Em 2022, pelo menos cinco ciganos foram assassinados no estado, e, em 2023, seis pessoas foram mortas dentro de casa, das quais quatro eram do povo romani. 

Perseguição por poderes locais

Godoy acredita que essa atmosfera de perseguição e ódio fez, há algum tempo, com que muitos ciganos quisessem passar despercebidos por não ciganos. Nos últimos anos, entretanto, o procurador acredita que eles intensificaram a luta para serem atores e sujeitos de direitos e não objetos dos preconceitos e das violências.

Para Godoy, os povos ciganos estão legalmente ainda mais desamparados do que os indígenas e os quilombolas. 

"Os povos ciganos ficam à margem do Direito, à margem da cidadania. Há cidades, muitas cidades, que têm legislação contra cigano. É surreal. É inconstitucional? É, mas a força dos poderes locais atua contra eles."

Em 2023, o procurador interveio ao saber que a prefeitura de São João do Rio do Peixe (PB), de gestão de Luiz Claudino de Carvalho Florêncio (PSB) e Regilanio Geraldo de Morais (PSB), havia expulsado ciganos da cidade. Em 2024, Florêncio e Morais, mais conhecidos como Luiz Claudino e Regis Morais, foram reeleitos no primeiro turno, com 82,79% dos votos, e continuam no comando da cidade. A Agência Brasil procurou a prefeitura municipal de São João do Rio do Peixe, mas não teve retorno até o fechamento desta reportagem.

Alguns entrevistados confirmaram à reportagem a existência de leis contra os roma em certas localidades, mas tiveram receio de que a divulgação desses municípios aumentasse o número de apoiadores dessas medidas.

Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-06/lideres-romani-e-nao-ciganos-aliados-se-mobilizam-por-direitos

terça-feira, 3 de junho de 2025

III Encontro de Mulheres Ciganas de Mato grosso

Evento reuniu mulheres de cinco cidades de MT e três convidadas dos Estados de Goiás, São Paulo e Bahia

Cerca de 130 pessoas, das quais em torno de 80 mulheres ciganas, do tronco étnico Calon que vivem em diversas cidades do Estado, como Rondonópolis, Cuiabá e Várzea Grande, participaram nos  dias 23 e 24  de maio, em Tangará da Serra (a 240 km de Cuiabá) do “III Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso: medicina Calon, cerrado e (in)justiças climáticas”.

Realizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), o evento ocorre marcando o Dia Nacional dos Ciganos, comemorado desde 2006 a todo 24 de maio. A ação integra as programações paralelas realizadas pela associação durante todo o mês, denominada “ V Encontro de Cultura Cigana de Mato Grosso - Maio Cigano”, que também integra outras ações, como a Mostra de Audiovisual Calon Lachon, a Assembleia Geral da AEEC-MT 2025, que ocorrem na mesma data e mais o dia 25 de maio.

Neste ano, o Encontro de Mulheres tem financiamento do Fundo Casa Socioambiental, por meio de seleção na Chamada de projetos “Resiliência Climática e Equidade de Gênero: Fortalecendo Comunidades para Promoção da Inclusão e Diversidade” e apoio da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES/MT).

Além de contar com a participação de mulheres ciganas vindas de vários municípios mato-grossenses, a novidade é que o Encontro também terá a presença de algumas convidadas especiais do movimento cigano nacional.

Participaram do Encontro em Tangará: a Conselheira Nacional de Igualdade Racial representando os povos ciganos, Edvalda Bispo dos Santos; a integrante do Coletivo Ciganagens e advogada, Sara Macedo e a coordenadora da Roda Cigana Rede Humanitária, Lourdes Corrêa, que também é representante dos povos Rom no Comitê Nacional de Acompanhamento do Plano Nacional de Políticas Públicas para Povos Ciganos do Ministério da Igualdade Racial (MIR).

O encontro contou a presença de uma comitiva da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES-MT), composta por três técnicos: dois do Grupo Técnico de Equidade da pasta, Milton Fleury e Dr. Foguinho e a representante da Escola de Saúde Pública (ESP) da SES/MT, Rita Meurer. Também contou com a participação do presidente do Conselho Estadual de Igualdade Racial de MT (CEPIR/MT), Manoel Silva.


De acordo com a presidente da AEEC-MT, Rosana Cristina Alves de Matos Cruz, “o objetivo é promover tanto um intercâmbio intergeracional, entre mulheres ciganas de diferentes idades, mas especialmente, promovendo a conexão entre as jovens e as velhas, quanto um intercâmbio entre mulheres ciganas de diferentes cidades e Estados”.

“Também buscamos com o encontro fortalecer a formação política pela inclusão das mulheres ciganas e suas lutas e demandas, que incluem a promoção da justiça climática e ambiental. Ao final do evento queremos elaborar uma carta das mulheres ciganas em defesa do Cerrado e da manutenção das tradições ciganas”, explica Rosana.

Programação – O Encontro de Mulheres Ciganas de MT trará nesta edição duas temáticas principais: a primeira delas será as questões climáticas e ambientais, que estão diretamente ligadas à segunda, a medicina tradicional Calon e à saúde das mulheres ciganas.

Um dos pontos altos do evento, foi a oficina promovida pela Mestra da Cultura Mato-grossense, a raizeira e benzedeira, Maria Divina Cabral, a Mestra Diva, “preparando uma garrafada para a saúde da mulher".

Além disso, o evento teve uma intensa programação cultural, composta pela vivência de dança "Saia Cigana", ministrada pela Calin Sara Macedo e exclusiva para mulheres; bem como a oficina de circo e teatro para as 20 crianças que participaram do evento.

O encontro contou ainda com o lançamento de produções audiovisuais inéditas, sendo uma delas, a minissérie “Luzia e As Calins do Cerrado”, cujo foco são as mulheres ciganas que vivem no Cerrado, especialmente, nos Estados de Mato Grosso e Goiás.

Participação - Uma das produtoras locais do III Encontro de Mulheres Ciganas de MT, Aldi Rodrigues Angola, comentou que "foi bem emocionante ver a minha família chegar de outros municípios de MT, contemplar, ficar junto, comemorar a vida, duas tias estavam fazendo aniversário". 

"É bom reencontrar as pessoas que compartilham da mesma etnia que você, é muito importante, porque o preconceito é bastante, então, quando a gente vê as pessoas da nossa família, é um aconchego, me senti muito feliz. Nós teremos algumas pessoas importantes que irá nos visitar e ver o movimento dos ciganos. É também um encontro político, para buscar melhoria para nossas comunidades", destacou Aldi.

Segundo Lourdes Corrêa, uma das coisas que mais impressionou foi o respeito as pessoas mais velhas. "Achei bem interessante a reunião da família, a questão do respeito, principalmente, no que se refere a questões de religiões diversas convivendo harmonicamente, de estar se resgatando a questão cultural, como as vestimentas, as danças ciganas, a Chibe e outras manifestações. Achei muito importante também a participação dos mais velhos, das matriarcas ciganas e o respeito as histórias de vidas e conhecimentos daqueles que mais viveram e mais têm a compartilhar".

Já a estudante de enfermagem, Simone Carla Rodrigues de Oliveira, também foi uma oportunidade para trazer visibilidade aos povos ciganos. 

"Para mim foi muito bom, até porque já tinha muito tempo que eu não via alguns de meus parentes, nem me lembrava de alguns deles e nem é tão longe, porque Rondonópolis é bem ali, só cinco horas de viagem. Só que a rotina, o dia a dia da gente nunca permite que nós consigamos visitá-los ou vice-versa. E também para dar um pouco mais de visibilidade para os ciganos, porque nós somos povos esquecidos", enfatizou simone.

Assessoria para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

Fotos: Maria Clara Aquino