terça-feira, 27 de abril de 2021

Mestra Diva ensina mulheres ciganas a arte das garrafadas e o banho de mal de simioto

Evento reuniu 15 mulheres que puderam vivenciar experiências acerca da medicina tradicional cigana e servirá também como disparador para uma exposição fotográfica e uma web série

A mestra da cultura mato-grossense e cigana da etnia Calon, Maria Divina Cabral, mais conhecida como Diva, foi a principal protagonista do I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso, que ocorreu nos últimos dias 23, 24 e 25 de abril no município de Rondonópolis. Diva foi premiada no Edital Conexão Mestres da Cultura da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT) e o evento integra o projeto “Diva e as Calins de MT: Ontem, Hoje e Amanhã”.

Na ocasião, Maria Divina ensinou as 15 mulheres participantes do encontro alguns dos principais remédios e tratamentos da medicina tradicional Calon. São medicamentos como xaropes, garrafadas, chás e banhos a base de plantas do cerrado e produtos naturais, indicados para os mais variados tipos de enfermidades, como doenças da pele, infecções do aparelho urinário, digestivo e gastrointestinal, reumatismo, saúde da mulher, gripes e resfriados, bronquites, asma, infertilidade, picadas de cobra, pedras nos rins, perda de cabelo, anemia e até mesmo alguns tipos de câncer.

As 15 mulheres participantes, todas parentas diretas de Diva, como suas duas filhas e três netas, mãe, tia, sobrinhas e primas, aprenderam com Diva o processo de identificação e arranque das raízes e plantas, a secagem, o estoque e armazenamento, bem como a infusão para a composição das garrafadas para alguns tipos de enfermidades, como saúde da mulher, para anemia e limpeza de pele. Esta programação fez parte da roda de diálogo “Princípios Introdutórios à Medicina Tradicional Cigana”.

Mestra Diva ensinando a fazer a garrafada, 
um dos principais medicamentos da medicina tradicional Calon

“Eu sou muito feliz pela minha cultura, pela minha nação e por quem eu sou hoje. Sou alegre por ser cigana e ter esta descendência. Não tenho vergonha de ser cigana, de jeito nenhum. Tem gente que tem preconceito. Alguns acham bom, outros acham foram da linha, mas Deus sabe que nós somos honestos. A cultura cigana tem muita sabedoria. Não tenho estudo, a minha medicina vem de Deus e tudo descendência da minha origem cigana, aprendido com a minha avó e agora tenho a oportunidade de passar para minhas filhas e outras parentas”, emocionou-se Diva, ao complementar:

“Conheço todas as plantas do cerrado e sei manipular, usar para curar várias doenças. Curei tantas pessoas com essas garrafadas e outros chás, como ferida que não sara, útero de mulher com infecção e feridas. Mulheres que usam essas garrafadas não tiram útero, ovário, nada disso. Curei minha mãe, com uma garrafada, de insônia e falta de circulação. Tem um senhor que já estava há mais de 10 anos com problema de garganta. Fiz um chá de açafrão, romã, boldo e alho, ele tomou e sarou de um problema já de 10 anos. E sabe por que nós ainda não pegamos corona? Primeiro Jesus e depois nossos remédios”, pondera.

Durante a abertura do encontro, foi exibido um vídeo com uma mensagem do Secretário de Estado de Cultura, Esportes e Lazer, Alberto Machado, a Diva e as participantes do evento. “Fico muito feliz e muito orgulhoso de ver um projeto que homenageia o povo cigano ser aprovado na SECEL e acho que a nossa função aqui é esta de mostrar todos os lados da nossa cultura, todas as vertentes da nossa cultura e fico feliz em ver a cultura do povo cigano sendo prestigiada aqui. Coloco a secretaria de portas abertas a todos vocês e desejo um bom encontro”, disse o secretário em seu recado.

Assista abaixo o vídeo do Secretário da SECEL na integra: 

Mal de Simioto - A medicina cigana também cura algumas doenças que não são reconhecidas pela biomedicina científica, a exemplo do Mal de Simioto, também conhecida como a doença do macaco ou doença do verme na carne. “Essa doença os médicos não curam, porque eles não conhecem. Costuma dar em criança e jovens, mas também pode atingir adultos e idosos. Ela deixa a pessoa fraca, anêmica e vai ficando só o couro e o osso de tão magra, só tem olho e barriga, parecendo um macaco. Vai indo morre de tanta fraqueza”, explica Diva.

De acordo com a mestra da cultura mato-grossense, que também é benzedeira, o tratamento para o mal de simioto, denominado de “banho de verme na carne”, envolve toda uma ritualística. A começar pela utilização do leite materno para a confirmação do diagnóstico, que se faz também pelos sintomas de emagrecimento excessivo e aparência física de um macaco; passando por uma esfoliação na pele, por meio da aplicação de uma pasta composta por produtos como azeite, mel, trigo e fermento de pão; até chegar ao banho e à ingestão de uma infusão que se utiliza de um número variado de plantas medicinais caseiras, do cerrado e frutíferas.

“Já curei foi muita gente com esses banhos. Teve até um menino que já estava desenganado pelos médicos. O menino chegou carregado, na escadeira da mãe e no terceiro dia do banho já estava correndo na rua e jogando bola. As minhas duas filhas, as quatro netas e as três bisnetas todas passaram pelo banho de mal de simioto e hoje são mulheres fortes e sadias. Eu também já fiz esse tratamento quando era criança pelas mãos da minha mãe Lourdes e minha avó Maria”, relembra Diva.

Saiba mais sobre o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã” aqui: https://aeecmt.blogspot.com/2020/12/maria-divina-cabral-mestra-da-cultura.html

Texto: Aluízio de Azevedo

Fotos: Karen Ferreira

segunda-feira, 19 de abril de 2021

I Encontro de Mulheres Ciganas de MT

Evento integra o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, aprovado no edital Mestres da Cultura de MT, da Lei Aldir Blanc

Ocorrerá nos próximos dias 23 e 24 de abril (sábado e domingo) o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso. Organizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), o evento acontecerá na cidade de Rondonópolis (a 220 km de Cuiabá), cidade com a maior comunidade cigana de MT, em torno de 150 pessoas.

O Encontro integra as atividades do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, que homenageia a cigana da etnia Calon, Maria Divina Cabral, como mestra da cultura mato-grossense.

O projeto foi aprovado no Edital Mestres da Cultura Mato-grossense da Lei Aldir Blanc, organizada pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT) e governo federal. Contando com a participação de Diva, que vive em Rondonópolis há mais de 40 anos e de outras 14 mulheres do seu ciclo de convívio mais próximo; o encontro contará com duas programações principais.

A primeira delas será a roda de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon” em que Diva transmitirá o conhecimento de como fazer uma garrafada para suas filhas, netas e outras mulheres da comunidade cigana rondonopolitana. As garrafadas são o principal produto da medicina tradicional cigana e são compostas por plantas do cerrado, principalmente raízes e são recomendadas para curar vários tipos de doenças, como infertilidade, anemia, problemas no aparelho digestivo, entre outros.

Já a segunda programação principal do encontro será a roda de diálogo “Rememorando a Chibe”. Chibe é o modo como os ciganos brasileiros do tronco calon denominam sua língua, que também pode ser chamada de romanon ou romanó-kaló. Além de ser o principal demarcador entre as pessoas ciganas e diferenciador dos não-ciganos, a chibe, atua como uma tática de defesa, frente a população majoritária, guardando resquícios das origens e da identidade Calon.

De acordo com a coordenadora geral do projeto, a também cigana da etnia Calon Fernanda Caiado, as comunidades ciganas possuem culturas ricas e milenares e um longo histórico de migrações e conhecimentos acumulados; mas também de expulsões e perseguições, se constituindo como identidades de resistência.

Esses saberes são aprendidos na vivência, no cotidiano, nos rituais, transmitidos de geração em geração oralmente, numa configuração em que as mulheres são as principais mantenedoras e educadoras. Daí a importância de implementarmos atividades que reconheçam o importante papel das mulheres na organização sociocultural Calon”, pondera Fernanda, que também preside a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), proponente do projeto Diva e as Calins.

“Importante pontuar que estamos atentas às questões relativas a pandemia. O encontro será realizado em espaço aberto e respeitará todas as medidas de segurança e higiene relativas ao Covid-19. Todas as pessoas da equipe e as participantes do projeto serão testadas para o coronavírus”, informa a produtora do projeto, Nilva Rodrigues.

Registro  - O I Encontro de Mulheres Ciganas será todo gravado e será utilizado como disparador para a realização de dois outros produtos: a exposição virtual multimídia “Calin” e a websérie etnodocumental “Diva e as Calins”, composta por cinco episódios. Todos os produtos têm como pano de fundo o universo da cultura cigana Calon, que integra um dos três grandes troncos étnicos ciganos – os outros são os Rom e os Sinti –; com foco nos saberes das mulheres e na medicina tradicional.

“Calin é o modo como as mulheres da etnia Calon se autodenominam. Assim, “Diva e as Calins de Mato Grosso” mira na r-existência das calins de Mato Grosso, que mantém tradições, sem perder o “time” da história, lutando para ocupar espaços em todos os âmbitos da sociedade.

“Rompendo com paradigmas racistas e machistas, estamos fazendo história em Mato Grosso, que pela primeira vez tem um material tranmidiático e baseado em múltiplas linguagens com foco nas mulheres ciganas, suas narrativas e saberes. Partimos da memória e da tradição, mas também da vida atual e das possibilidades de futuro das mulheres ciganas e suas comunidades”, destaca a diretora de programação do projeto, e também Calin Terezinha Alves.

Conheça mais sobre a Mestra Diva

Diva é mestre na medicina tradicional cigana

O projeto Diva e as calins de Mato Grosso visa registrar e fortalecer a cultura cigana, por meio da realização de ações que reconhecem os saberes das mulheres da etnia Calon, especialmente representadas por Maria Divina Cabral, que pelos seus serviços prestados à conservação dos saberes ciganos e ao enriquecimento da diversidade cultural mato-grossense, recebeu a premiação de R$ 20.000,00.

Maria Divina Cabral, ou Diva, como é mais conhecida, nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca num acampamento na cidade de Mineiros (Goiás). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira, casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai), Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.

A Calin viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-oeste, até que no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km de Cuiabá, no sul do Estado).

Mãe de duas filhas, Selma e Cleide, avó de quatro netas (Lorraine, Suiani, Leidiane e Cristiane) e três bisnetas (Cristina, Paula e Isabela); atualmente é a principal raizeira e benzedeira cigana no Estado, mantendo viva a medicina tradicional Calon. Integrante do conselho de anciãos e membra fundadora da AEEC-MT, Diva é respeitada e ouvida por todos da comunidade, por sua experiência e sabedoria na condução e salvaguarda de diversos costumes, narrativas e saberes da filosofia cigana.  

Texto: Aluízio de Azevedo

Fotos: karen Ferreira

quarta-feira, 14 de abril de 2021

AEEC-MT é habilitada para eleição do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

Órgão nacional é responsável por articular políticas públicas específicas e afirmativas para estas populações

A Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) foi habilitada para participar da eleição que escolherá as entidades da sociedade civil brasileira que irão compor o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT) no biênio 2022-2023.

O CNPCT é vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), da ministra Damares Alves e responsável por articular políticas públicas específicas para os povos e comunidades tradicionais brasileiros, entre eles, os povos ciganos/romani, indígenas, os quilombolas, comunidades de terreiro, pescadores, ribeirinhos, retireiros, entre outros.

O resultado da habilitação foi publicado no Diário Oficial da União de 09 de abril, por meio do edital Nº 5/2021 do órgão, assinado pelo Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do MMFDH e presidente do CNPCT, Paulo Roberto

Também foram habilitadas outras três associações ciganas: a Associação Comunitária dos Povos Ciganos de Condado Paraíba (ASCOCIC), a Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Ceará (ASPRECEC) e a Associação Maytê Sara Kali (AMSK).

Além das associações ciganas, para a eleição do CNPCT também foram habilitadas outras 16 instituições da sociedade civil de vários outros segmentos, como do movimento negro, do movimento indígena, dos povos pantaneiros, comunidades extrativistas, costeiros e marinho, entre outros.

De acordo com o Edital Nº 6/2021 do CNPCT/MMFDH, as organizações da sociedade civil habilitadas concorrerão à vaga durante a eleição, que será realizada nos dias 07 a 21 de maio de 2021, em ambiente virtual. O resultado parcial da eleição será divulgado no sítio eletrônico do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 26/05/2021.

O resultado final será tornado público pela Comissão Eleitoral tornará público o resultado final da eleição no sítio eletrônico do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em 25/06/2021, convocando as entidades, as organizações ou os movimentos eleitos a fazerem a indicação de seus respectivos representantes, em 11 (onze) dias.

Papel - O Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais - CNPCT, órgão colegiado de caráter consultivo, integrante da estrutura básica do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, no âmbito da Secretaria Nacional de Políticas da Promoção da Igualdade Racial, instituído pelo Decreto nº. 8.750, de 9 de maio de 2016, tem por finalidade o acompanhamento e aprimoramento das políticas públicas para os Povos e Comunidades Tradicionais que se identifiquem como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, garantindo que suas tradições culturais, religiosas, econômicas e territoriais sejam preservadas.

Saiba mais sobre o CNPCT em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/orgaos-colegiados/conselho-nacional-de-povos-e-comunidades-tradicionais/conselho

Recentemente a AEEC-MT passou também a compor o Comitê Estadual dos Povos e comunidades Tradicionais de Mato Grosso (CNPCT-MT): https://aeecmt.blogspot.com/2021/02/representatividade-aeec-mt-passara.html

 Texto: Aluízio de Azevedo

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Oito de Abril: Dia internacional dos Ciganos! Saiba o que pensam quatro pessoas ciganas brasileiras

Bandeira Cigana: Saiba o que pensam quatro ativistas ciganos sobre o que temos a comemorar no dia Internacional dos povos Romanis 

Hoje, dia 08 de abril, se comemora o dia Internacional dos povos ciganos. A data foi oficializada como o dia internacional dos povos ciganos em 1990, durante o IV Congresso Internacional Romani, realizado na cidade de Serock, Polônia. E referendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), sendo desde então, comemorada pelos movimentos ciganos de vários países, incluindo o Brasil.

A data foi escolhida em homenagem ao início da realização do I Congresso Internacional Romani, que ocorreu entre 08 e 12 de abril de 1971, nos arredores de Londres, completando agora em 2021, 50 anos de sua realização.

O I Congresso Mundial Romani foi organizado pela União Romani Internacional (URI) e contou com a participação de ativistas do movimento cigano de 14 países europeus. Neste evento, foi adotada a bandeira e o hino cigano, Gelem-Gelem, como símbolos da unificação da nação internacional romani.

Pensando na realidade atual pandêmica e pensando nos últimos 50 anos, desde a realização do primeiro congresso internacional romani, será que temos de fato o que comemorar?

Diante desta questão, fomos ouvir algumas pessoas ciganas para tentar compreender o que esta data significa para nós que pertencemos a um dos três troncos étnicos romani (Calon, Rom e Sinti).

“A gente tem muito para comemorar. O nosso povo tem uma história linda”, pondera Fernanda Caiado

Para a presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Fernanda Alves Caiado, a data é muito importante, por se tratar de um reconhecimento internacional ao povo cigano. 

“Essa data significa pra gente que os ciganos não são reconhecidos só na nossa região, né, são reconhecidos internacionalmente. É muito bom ser lembrado, ter essa data que lembra a luta de um povo e não só de um grupo pequeno, mas de toda uma história de um grupo de pessoas que resolveu sair, que lutou, que luta e que acredita. É muito bom saber que nós somos mundialmente reconhecidos. Isso é muito importante!” pondera Fernanda. Leia mais: https://aeecmt.blogspot.com/2021/04/a-gente-tem-muito-para-comemorar-o.html 

“O que mais temos a comemorar é a capacidade que a gente sempre teve de transformação, de adaptação e de renascer das cinzas”, diz Aline Miklos

A cantora, compositora, ativista e pesquisa Rommi brasileira, Aline Miklos, por exemplo, ressalta que acha importante a data, “porque é o dia da institucionalização da nossa luta”. 

“Além da luta do dia a dia, do cotidiano, a gente precisa de uma institucionalização para que essa luta seja reconhecida pelo Estado e pela sociedade. A gente tem que utilizar essa data para reivindicar os nossos direitos para o Estado, para mim isso é fundamental e importante”, pondera Aline. 

Leia Mais: https://aeecmt.blogspot.com/2021/04/o-que-mais-temos-comemorar-e-capacidade.html 

O meu sonho é que esta data vá para os calendários das escolas e das pessoas em suas casas, almeja Daiane da Rocha

Por sua vez, a Secretária Geral da Associação Nacional das Etnias Ciganas (ANEC), de Brasília (DF), Daiane da Rocha Bian, considera que as datas comemorativas, como o dia Internacional dos Ciganos, ou o Dia Nacional dos Ciganos, que no Brasil ocorre em 24 de maio, “é importante para reafirmar as lutas constantes de um povo existente, que faz parte da história humana”. 

“O meu sonho é que esta data vá parar os calendários, que as pessoas tenham acesso ao calendário oficial, marcando o dia do cigano. Isso é muito importante para que a sociedade e o governo parem para pensar, que as pessoas ciganas sejam lembradas, respeitadas. Significa o reconhecimento de uma cultura, de uma luta, do povo cigano no mundo, de sua trajetória e de toda a sua participação na humanidade, no dia a dia, na construção mesmo da história do mundo”, emociona-se Daiane. Leia Mais: https://aeecmt.blogspot.com/2021/04/o-meu-sonho-e-que-essa-data-va-para-os.html 

“Foi o movimento que lançou algumas bases comuns a todos os ciganos”, reflete Toyansk

O também cigano da etnia Calon e pesquisador do movimento internacional cigano, o doutor Marcos Toyansk, destaca que o I Congresso Internacional Romani foi um marco para a criação de um movimento internacional cigano. 

“Um momento que foi possível reunir ciganos de várias partes da Europa, embora a Europa do leste não tenha participado, com exceção da Iugoslávia, o evento foi acolhido pela Inglaterra depois que uma organização cigana foi proibida de ter atividades na França. Naquele momento, os franceses não queriam melindrar os alemães, pois estavam estreitando relações e o movimento tinha a intenção de reivindicar reparações e compensações pelo extermínio na segunda guerra e confisco de bens”, pondera Toyansk. Leia Mais: https://aeecmt.blogspot.com/2021/04/foi-o-movimento-que-lancou-algumas.html 

Texto: Aluízio de Azevedo

Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

“A gente tem muito para comemorar. O nosso povo tem uma história linda”, pondera Fernanda Caiado

"Temos uma história enraizada em todos nós, em nossas veias correm sangue de pessoas nômades, que lutaram, de pessoas que batalharam para a gente estar onde nós estamos". (na foto Fernanda e sua avó Sereviana Alves Pereira)

Para a presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Fernanda Alves Caiado, a data é muito importante, por se tratar de um reconhecimento internacional ao povo cigano.

“Essa data significa pra gente que os ciganos não são reconhecidos só na nossa região, né, são reconhecidos internacionalmente. É muito bom ser lembrado, ter essa data que lembra a luta de um povo e não só de um grupo pequeno, mas de toda uma história de um grupo de pessoas que resolveu sair, que lutou, que luta e que acredita. É muito bom saber que nós somos mundialmente reconhecidos. Isso é muito importante!” pondera Fernanda.

De acordo com Fernanda, as pessoas ciganas “têm muita coisa a comemorar.” “Primeiro é um reconhecimento da história do nosso povo e também saber que hoje nós já alcançamos algumas coisas que antes não tínhamos. Por mais que ainda exista muito preconceito, por mais que ainda exista muita gente que faz distinção, hoje somos reconhecidos como um povo. Temos uma história enraizada em todos nós, em nossas veias correm sangue de pessoas nômades, que lutaram, de pessoas que batalharam para a gente estar onde nós estamos”, explica ela, ao complementar:

“De pessoas que enfrentaram por muitos momentos fome, sede, que passaram por duras penas, para que hoje possamos ser reconhecidos enquanto um povo. A gente tem muito para comemorar. Também comemorar a vida em tempos tão difíceis, a gente tem poucos casos de ciganos que perderam a vida para Covid. A gente tem que comemorar isso também, comemorar a vida, comemorar estarmos bem. O nosso povo tem uma história linda. Somos pessoas que passaram por dificuldades, que vencemos e que hoje graças a Deus estamos todos bem”.

Concluindo sua fala, a presidente da AEEC-MT reforça que ainda temos muito o que caminhar: “É claro que queremos ainda muitas outras coisas. É apenas um começo tudo isso, sermos reconhecidos como um povo já é um grande começo. Agora é plantarmos mais para colhermos mais. Que todos tenham um feliz dia internacional dos ciganos”.

Texto: Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

“O que mais temos a comemorar é a capacidade que a gente sempre teve de transformação, de adaptação e de renascer das cinzas”, diz Aline Miklos

 

A cantora, compositora, ativista e pesquisa Rommi brasileira, Aline Miklos ressalta que acha importante a data “porque é o dia da institucionalização da nossa luta”.

“Além da luta do dia a dia, do cotidiano, a gente precisa de uma institucionalização para que essa luta seja reconhecida pelo Estado e pela sociedade. A gente tem que utilizar essa data para reivindicar os nossos direitos para o Estado, para mim isso é fundamental e importante”, pondera Aline.

Para a cantora, a resiliência das comunidades e etnias romani é o ponto central que temos a comemorar: “a primeira coisa vem na cabeça é o nosso sincretismo, a nossa resiliência. Por mais que esteja hoje na moda, uma palavra chave, a mais importante hoje em dia, com a pandemia, com tudo que está acontecendo é a resiliência. O que mais temos a comemorar é a capacidade que a gente sempre teve de transformação, de adaptação e de se renascer das cinzas”.

“Muito importante ser lembrado hoje em dia no contexto que estamos vivendo, mas não só, como também, a resiliência está relacionada com os 50 anos de realização do primeiro congresso internacional romani, que estabeleceu várias coisas, mas a gente precisa também readaptar essas coisas e renovar essas discussões e psnar muito no que vamos fazer para os próximos 50 anos”, destaca.

Ouça aqui o novo CD lançado por Aline Miklos, Kalo Chiriklo: https://www.youtube.com/playlist?list=PLRjsCGDQ4xosKP9NuK7fpL720blhTUhZD

Texto: Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

"O meu sonho é que essa data vá para os calendários das escolas e das pessoas em suas casas", almeja Daiane da Rocha

As crianças precisam saber de uma história real, de um povo real, que merece ser respeitado", diz Daiane 

Fomos ouvir o relato de pessoas ciganas sobre o dia internacional dos ciganos, que se comemora a 08 de abril e Daiane da Rocha Bian, secretária geral da Associação Nacional das Etnias Ciganas (ANEC) concedeu o seu depoimento.

Residindo em Brasília (DF), onde possui importante atuação junto ao conselho de Mulheres, Daiane da Rocha Bian, considera que as datas comemorativas, como o dia Internacional dos Ciganos, ou o Dia Nacional dos Ciganos, que no Brasil ocorre em 24 de maio, “é importante para reafirmar as lutas constantes de um povo existente, que faz parte da história humana”.

“O meu sonho é que esta data vá parar os calendários, que as pessoas tenham acesso ao calendário oficial, marcando o dia do cigano. Isso é muito importante para que a sociedade e o governo parem para pensar, que as pessoas ciganas sejam lembradas, respeitadas. Significa o reconhecimento de uma cultura, de uma luta, do povo cigano no mundo, de sua trajetória e de toda a sua participação na humanidade, no dia a dia, na construção mesmo da história do mundo”, emociona-se Daiane.

Pondera a secretária geral da ANEC, que será importante a data seja conhecida e comemorada nas escolas. “Também almejo que o dia nacional e o dia internacional do povo cigano vão para dentro das escolas. Da mesma forma como comemoram o dia do índio, que elas também comemorem os nossos dias e que as professoras falem para seus alunos: ‘olha você sabe que hoje é o dia internacional dos ciganos’; fazendo um trabalho didático nas séries menores, no pré, para que as crianças saibam sobre o nosso povo, de maneira que seja construída uma história real junto as criança, de um povo real que merece ser respeitado!”

Texto: Aluízio de Azevedo

Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

“Foi o movimento que lançou algumas bases comuns a todos os ciganos”, reflete Marcos Toyansk

Marcos Toyansk defendeu a tese de doutorado sobre o Associativismo Cigano Internacional

O também cigano da etnia Calon e pesquisador do movimento internacional cigano, o doutor Marcos Toyansk, destaca que o I Congresso Internacional Romani foi um marco para a criação de um movimento internacional cigano.

Um momento que foi possível reunir ciganos de várias partes da Europa, embora a Europa do leste não tenha participado integralmente, com poucas exceções, como a Iugoslávia, o evento foi acolhido pela Inglaterra depois que uma organização cigana foi proibida de ter atividades na França. Naquele momento, há relatos de que os franceses não queriam melindrar os alemães, pois estavam estreitando relações e o movimento tinha a intenção de reivindicar reparações e compensações pela perseguição e extermínio na Segunda Guerra, além do confisco de bens”, pondera Toyansk

Informa Marcos que foi em 1971 que o “movimento que lançou algumas bases comuns a todos os ciganos, desde a importância do holocausto, como ponto central e máximo da perseguição aos ciganos. A noção de que todos os ciganos são perseguidos e discriminados em todos os lugares no mundo, mesmo que não seja em todos os lugares ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. Criou símbolos para esta unificação, termos, bandeiras, coisas que já existiam antes, mas que colocou ali de uma forma compartilhada” e complementa:

“Não foi, claro, a primeira iniciativa com o objetivo de unir os ciganos na Europa e no mundo. Temos movimentos políticos que aconteceram nos Balcãs nos anos 30, que já mantinham movimentos associativos ciganos, mas foi o primeiro internacional que reuniu também gente da Espanha, da Inglaterra e de outros lugares da Europa e com o tempo foi agregando. No início da década de 80 tem a participação dos alemães, que também participam do Congresso e da pressão de muitos outros aliados para que o governo alemão reconheça o genocídio cigano durante a segunda guerra. E depois na década de 90 o ingresso de ciganos do Leste”.

Baixe aqui a tese de doutorado de Marcos Toyansk: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-22022013-124150/pt-br.php 

Iugoslávia

Por fim, Toiansky lembra que uma particularidade interessante na realização do I Congresso Internacional Romani é a forte participação da Iugoslávia. “A história da Iugoslávia, porque fazia parte como membro fundadora do movimento dos países não alinhados, então nem Moscou e nem Washington e com relações boas, na medida do possível, com os dois e o primeiro presidente da União Romani Mundial, que veio depois do Congresso Romani Mundial foi o Slobodan Berbeski que era justamente Iugoslavo.

Slobodan Berbeski foi o primeiro presidente da União Romani Internacional

Saiba mais sobre Slobodan Berbeski aqui: https://www.romarchive.eu/en/collection/p/slobodan-berberski/

Texto: Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT