Com enorme satisfação, a
Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) comunica a aprovação
do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: ontem, hoje e amanhã” no edital
Conexão Mestres da Cultura da Lei Aldir Blanc, que reconheceu a raizeira e membra
desta associação, Maria Divina Cabral, como uma mestra da cultura mato-grossense.
O resultado foi publicado
nesta terça-feira (08/12) na página eletrônica da Secretaria de Estado de Cultura,
Esportes e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT). Também foram aprovados outros 74
mestres e a lista pode ser acessada no link: http://www.cultura.mt.gov.br/documents/362998/15771026/Resultado+Final+Mestres+da+Cultura/e127afee-9d52-0432-a8bc-76831f79f499.
Diva, como é mais conhecida,
nasceu na cidade de Mineiros (GO) e viveu boa parte de sua vida nos lombos dos
cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-oeste, até que
no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de
sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km de Cuiabá, no sul do
Estado).
Atualmente, a Calin mora
em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e ajuda a
todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais. A
comunidade Calon de Rondonópolis é a maior comunidade cigana de MT, reunindo em
torno de 150 pessoas.
Além de premiar a mestra
Maria Divina Cabral com um prêmio no valor de R$ 20 mil, o projeto contempla
ainda a realização de um encontro de mulheres ciganas em Rondonópolis, que servirá
como dispositivo para a construção de uma websérie documental “Diva e as Calins”
e a criação de uma exposição fotográfica virtual sobre as mulheres ciganas
mato-grossenses de vários municípios.
Assista ao vídeo “Uma
Família Cigana” e conheça mais sobre Diva e sua família: https://www.youtube.com/watch?v=29EiQeQa_nc
Maria Divina Cabral –
mestra da cultura cigana Calon mato-grossense
A cigana da etnia Calon
(também pode ser escrito como Kalon ou Calom), Maria Divina Cabral, 66 anos, é
uma mestra da cultura cigana em todos os sentidos. Diva, como é mais conhecida,
nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca num acampamento na cidade de
Mineiros (Goiás). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira,
casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai),
Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia
Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.
A Calin (modo como as
mulheres ciganas se autodenominam) viveu boa parte de sua vida nos lombos dos
cavalos, trafegando pelas cidades dos Estados da região Centro-oeste, até que
no início da década de 70 fixou residência com sua mãe, pai, irmãos e parte de
sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km de Cuiabá, no sul do
Estado). Mãe de duas filhas, Selma e Cleide, avó de quatro netas (Lorraine,
Suani, Leidiane e Cristiane) e três bisnetas (Cristina, Paula e Isabela);
atualmente é a principal e mais importante raizeira e benzedeira cigana no
Estado, mantendo viva a medicicna tradicional na comunidade Calon
mato-grossense.
Integrante fixa do
conselho de anciãos da etnia Calon e membra fundadora da Associação Estadual
das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Diva é respeitada e ouvida por
todos da comunidade, por sua experiência e sabedoria na condução e salvaguarda
de diversos costumes, narrativas e saberes da filosofia kalon. A sua
participação e influência na comunidade, que reúne em torno de 300 pessoas no
Estado, não se limita a Rondonópolis, chegando a outras comunidades Calon de
municípios como Tangará da Serra, Cuiabá, Sinop, Guiratinga, Pedra Preta, Campo
Novo dos Parecis e Alto Araguaia.
Apesar de não ter sido
alfabetizada e nunca ter frequentado uma sala de aula, Diva é versada na língua
romanó-kaló, que no Brasil é também conhecida como chibe, sabe todas as
simpatias, ervas apropriadas e rituais de cura infantis, aplicando-os em
crianças ciganas e não-ciganas, produz remédios e unguentos naturais para
mulheres e homens que tem problemas de fertilidade e os mais variados tipos de
enfermidade, sendo conhecedora de uma variedade incrível de plantas medicinais
do cerrado e da floresta amazônica.
Os saberes da medicina
tradicional Calon foram aprendidos pela anciã Calin ainda na infância, quando
acompanhava sua mãe, dona Lourdes, ou as suas avós, Maria e Jordelina, ao cerrado
ou à floresta, para fazer a colheita das plantas, ervas e matérias primas
necessários para a confecção dos remédios naturais.
A raizeira começou
fazendo garrafadas para si mesma ainda muito jovem, depois para os parentes e
logo estava atendendo também aos não-ciganos, que passaram a cada vez mais
procurá-la. Há cerca de 10 anos, desde quando sua mãe, dona Lourdes, de 84 anos
se aposentou das funções de raizeira por problemas de saúde, Diva assumiu as
suas funções e entre os cuidados com a matriarca, que mora no mesmo lote, vem
mantendo viva a chama da medicina cigana no Estado.
Atualmente com 65 anos, a
Calin mora em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e
ajuda a todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais.
Já auxiliou a milhares de pessoas em Mato Grosso e até mesmo de outros lugares
do país, como Goiás e Minas Gerais. Sempre é chamada para reuniões de
aconselhamento entre os seus familiares, mesmo os mais distantes. Também é
consultada sobre questões referentes aos inúmeros aspectos culturais e
identitários Calon, como as leis do casamento, do luto e do funeral, o que a
torna, definitivamente, uma mestra da cultura popular cigana mato-grossense e
brasileira.
Em 2011, Maria Divina
participou do filme documental É Kalon – Olhares Ciganos (35’), que foi
patrocinado pelo Fundo Estadual de Cultura de Mato Grosso. E em 2015, foi
lançado o curta-metragem “Uma Família Cigana”, que conta a história de sua
família, com foco nela e em sua mãe, D. Lourdes. Entre 2014 e 2018, Diva foi
uma das principais interlocutoras da tese de doutorado “Produção Social dos
Sentidos em Processos Interculturais de Comunicação & Saúde: a apropriação
das políticas públicas de saúde para ciganos no Brasil e em Portugal”, defendida
na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, Rio de Janeiro) em agosto de 2018. O
trabalho foi vencedor do prêmio Compós – Eduardo Peñuela de teses e
dissertaçãoes 2019 como melhor tese de comunicação do país, concedido pela
Compós – Associação Nacional de Cursos de pós-graduação em comunicação; e
recebeu menção honrosa no prêmio Fiocruz de teses 2019.
Desde 2017, Diva é membro
fundadora e uma das principais representantes da Associação Estadual das Etnias
Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), uma instituição sem fins lucrativos, que foi
criada neste mesmo ano e é filiada à Associação Nacional das Etnias Ciganas
(ANEC), cuja sede é em Brasília. Também em 2017 Diva participou do
longa-metragem etnodocumental, “Calon Lachon”, que está em fase de produção e
registrou, além da comunidade mato-grossense, também uma comunidade em
Brasília, diversas comunidades Calon de nove cidades portuguesas e a
peregrinação de Santa Sara Kali, que ocorre todo ano no dia 24 de maio na
cidade francesa de Saintes-Maries-De-La-Mer. A produção está em fase de edição
e vai ser lançada em 2019, tendo a raizeira como uma das principais
personagens.
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