domingo, 30 de maio de 2021

Universidade Federal do Pernambuco terá cotas para ciganos e transexuais na pós-graduação

Campus da UFPE, que aprovou 30% das vagas dos cursos de pós-graduação para as cotas

Do Gazeta do Povo em 28/05/2021

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vai reservar 30% do total de vagas na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) pessoas negras, quilombolas, ciganas, indígenas, transexuais, transgêneros, travestis e pessoas com deficiência. A resolução que institui a medida foi aprovada nesta semana pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe).

O novo critério deve começar a valer a partir de junho. Em Pernambuco, a Universidade Federal Rural (UFRPE) já adotava sistema parecido desde 2018. No inicio de maio, outra instituição de ensino superior pública, a Universidade Federal de Pelotas, aprovou reserva de vagas na pós-graduação para travestis e transexuais. No caso da instituição gaúcha, 5% do total de vagas dos mestrados e doutorados será reservados para esse público.

Pela resolução, a UFPE estabelece diversos critérios para a concessão dos benefícios especialmente para deficientes físicos, que precisarão apresentar laudo de um “médico especialista na área da deficiência”.

Já quilombolas, indígenas e ciganos vão precisar de uma “declaração de pertencimento assinada por liderança local”. No caso de candidatos negros ou pardos, além de uma autodeclaração, eles passarão obrigatoriamente por uma “comissão de heteroidentificação”.

Em relação aos candidatos transexuais, transgêneros, travestis, o documento só prevê a apresentação da autodeclaração.

Um dos documentos usados pela UFPE para justificar a nova política de vagas na pós-graduação foi a Portaria 13/2016, do Ministério da Educação. Essa portaria previa que as universidades estudassem e criassem propostas para a inclusão de negros, indígenas e pessoas com deficiência em seus programas de pós-graduação. Entretanto, essa portaria foi revogada pelo MEC em junho de 2020.

Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/universidade-federal-ufpe-cotas-transexuais-travestis-ciganos-pos-graduacao/ 


sábado, 29 de maio de 2021

Seminário Internacional abordará comunidades ciganas de Brasil e Portugal na contemporaneidade

Realizado pela Universidade Aberta de Lisboa (UAb), evento ocorre no dia 18 de junho com a participação do membro da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo 

A Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) convida a todos os seus membros, aos ciganos brasileiros e portugueses e a todas as pessoas não ciganas interessadas no universo romani a acompanharem o Seminário Internacional “Ciganos no Brasil e em Portugal na Contemporaneidade: Desafios comunicacionais e interculturais em saúde”.

O seminário tem como conferencista o cigano de etnia Calon, pesquisador e assessor para ciência e comunicação da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo. Além disso, contará com a moderação e comentários da coordenadora científica do CEMRI/UAb, professora doutora Natália Ramos; e do professor doutor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), José Francisco Serafim.

Organizado pelo Grupo de Investigação Saúde, Cultura e Desenvolvimento do Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais (CEMRI) da Universidade Aberta de Lisboa (UAb); o evento ocorrerá entre 17h e 19h de Lisboa (13h às 15h de Brasília e 12h às 14h de Cuiabá) do dia 18 de junho de 2021 por meio da plataforma zoom, no seguinte link: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/85430202396?pwd=ZmhWcktyOVNYTWVqRnpBbG9xNjFnUT09.

Outras informações pelo endereço eletrônico cemri@uab.pt.

Serviço: Seminário Internacional Ciganos no Brasil e em Portugal na Contemporaneidade: Desafios Comunicacionais e Interculturais em Saúde.

Quando: 18 de junho de 2021

Horário: 17h às 19h de Lisboa, 13 às 15h de Brasília e 12h às 14h de Cuiabá

Onde: Universidade Aberta de Lisboa (UAb)

Plataforma Zoom: https://videoconf-colibri.zoom.us/j/85430202396?pwd=ZmhWcktyOVNYTWVqRnpBbG9xNjFnUT09

Assessoria de Comunicação da AEEC-MT




sexta-feira, 28 de maio de 2021

24 de maio: Data comemorativa deu visibilidade aos ciganos e quebra preconceito

A Calin Nilva Rodrigues Cunha (foto) reforça a importância da data para a visibilidade cigana no país

Jessica Bachega, Do Site Gazeta Digital

 “Graças a esse dia, o povo cigano ganhou mais visibilidade e a divulgação da cultura ajuda a combater o preconceito que ainda é muito grande em relação aos ciganos”, relata a cigana Nilva Rodrigues Cunha, 58, uma das homenageadas no projeto “Calin”. Dia 24 de maio é o Dia Nacional do Cigano.


O projeto é uma homenagem às mulheres ciganas e será lançado em 24 de maio. Idealizado pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), o pré-lançamento da exposição multimídia ocorre às 19h no canal da Associação.

De acordo com a Associação, o produto destaca a resistência das mulheres ciganas de etnia Calon de comunidades de 3 municípios mato-grossenses: Cuiabá, Tangará da Serra e Rondonópolis.

De linhagem cigana que se estende há várias gerações vinda de Israel, Nilva mora em Rondonópolis (215 km ao Sul de Cuiabá) e atualmente não trabalha, mas atuou por muitos anos como assistente parlamentar e como cozinheira em instituições públicas e restaurantes. Com o tempo, parte da cultura cigana foi dando espaço aos costumes locais, mas ela ainda guarda costumes aprendidos com os ascendentes, como a medicina natural e a língua cigana.

“O dia nos deu mais visibilidade. Deu voz. Antes o cigano era excluído de tudo, não tinha direito de nada. Agora tem filho de ciganos que formaram na faculdade. Mas queremos projetos que deem oportunidades à comunidade cigana. Estamos batalhando para abrir nossa sede aqui em Rondonópolis para conseguir melhorias na qualidade de vida dos ciganos. Casa popular, bolsa estudo, trabalho honrado”, destaca a mulher.

O projeto - Conforme a Associação, o projeto premiou a raizeira e benzedeira Maria Divina Cabral, a Diva, como Mestra da Cultura Mato-grossense. E se desdobrou em vários produtos culturais transmidiáticos, como o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso, que ocorreu no último mês de abril; a web série “Diva e as Calins”, em edição; e a “Exposição Multimídia “Calin”.


No pré-lançamento realizado no dia 24, serão projetadas fotos destaque da exposição, bem como será exibido um primeiro teaser de lançamento da web série “Diva e as Calins”. A plataforma digital que ancorará as fotos, textos e gifs também será lançada durante a live.

A presidente da Associação, Fernanda Caiado, destaca a importância do projeto em dar visibilidade às mulheres ciganas e seu papel na constituição da família e perpetuação da cultura.
“Nós sabemos que devido às nossas mães, tias, avós, viajarem em barracas e os ciganos não terem muitas condições financeiras, quase não temos registros fotográficos das mulheres anteriores a nós. A exposição enche a gente de orgulho. Como presidente da associação e como mulher que participei, fiquei lisonjeada, maravilhada”, afirma a presidente.


Conforme a Associação, Calin é uma palavra de autoidentificação das mulheres ciganas do tronco étnico calon e no dialeto destes grupos significa “cigana”. Assim, o trabalho busca valorizar os saberes, tradições, costumes e filosofia romani, com foco principal nas vozes, olhares e narrativas de suas mulheres. 


( Com informações da AEEC)


Disponível em: https://www.gazetadigital.com.br/editorias/cidades/data-comemorativa-deu-visibilidade-aos-ciganos-e-quebra-preconceito/654685?fbclid=IwAR2FxiTydbQEaa8d2IrY3lJfhG3NcezGK6AVE8ryQPLh7KWR3IvpcSFAhgo 

domingo, 23 de maio de 2021

Live “Protagonistas: mulheres ciganas, mil faces” ocorre nesta segunda (24 de maio)

Evento começa às 19h, marca o dia nacional dos ciganos em Mato Grosso e conta com roda de diálogo com a participação de mulheres romani 

Live será transmitida simultaneamente no Canal do You Tube do Fórum e na página do Face da AEEC-MT

Acontecerá nesta segunda-feira, dia 24 de maio, em comemoração ao dia nacional dos ciganos em Mato Grosso, a live de pré-lançamento da Exposição Multimídia “Calin”.  A exposição “Calin” integra o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, aprovado no edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso (SECEL-MT); que homenageia a raizeira e benzedeira de etnia Calon, Maria Divina Cabral, a Diva, como mestra da cultura mato-grossense.

Realizada pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), em parceria com o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Brasileiro e o Centro de Direitos Humanos, Lúcia Gonçalves, da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat); a live começará às 19h e será transmitida simultaneamente no Canal do You Tube do Fórum e na página do Facebook da AEEC-MT.

Durante a live serão exibidas 15 fotos que comporão a exposição “Calin”, que enfoca na resistência das mulheres ciganas de três municípios mato-grossenses: Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra. O evento será certificado pela Unemat e iniciará com mesa de abertura com a participação do secretário adjunto da SECEL-MT, Jan Moura, da presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado e da vice-coordenadora do Fórum (representando o ICOMOS Brasil) e professora da UFMT, Ana Carolina Borges.

Logo após a mesa de abertura ocorrerá a roda de diálogo “Protagonistas: mulheres ciganas, mil faces”. A ativista e cantora de etnia Rom, Aline Miklos, fará a mediação, conduzindo o diálogo com as outras convidadas, a Mestra Diva, a presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado, a superintendente da SECEL-MT e produtora, Keiko Okamura e a fotógrafa e cientista social, Karen Ferreira.

A roda de diálogo contará com debate, quando o público poderá fazer seus comentários. Ao final do evento será exibido o teaser de abertura da web série “Diva e as Calins”, um dos outros produtos transmídias que integram o projeto Diva e as Calins de MT. Os interessados em participar e receber certificação, devem se inscrever no seguinte link: https://forms.gle/Rz9eeyLJt75U1fwt7 .

Serviço: Live “Protagonistas: mulheres ciganas, mil faces”

Quando: Dia Nacional dos Ciganos – 24 de maio – segunda-feira 

Horário: 19h (horário de MT) e 20h (horário de BSB)

Onde: Canal do YouTube do Fórum: https://youtu.be/5zxqPhxe33g e Canal do Facebook da AEEC-MT: https://url.gratis/RibYU8

Texto: Aluízio de Azevedo, Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

Fotos: Karen Ferreira

Arte: Rodrigo Zaiden

sábado, 22 de maio de 2021

Estatuto dos Povos Ciganos: aprovação já!

Lideranças romani entregam documento a senadores e pedem celeridade na aprovação do projeto 

Neste dia 24 de maio (segunda-feira), comemora-se no Brasil o Dia Nacional dos Ciganos, comunidades tradicionais que estão no país há quase 500 anos, mas que ainda não possuem o devido reconhecimento.

Com o objetivo de comemorar a data e garantir direitos e políticas públicas específicas; lideranças ciganas de todos os estados brasileiros protocolaram junto à Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, ofício solicitando a aprovação imediata do Projeto de Lei 248 de 2015, que cria o Estatuto dos Povos Ciganos.

O PLS 248/2015 já foi aprovado nas Comissões de Educação e de Assuntos Sociais, ambas com relatoria do ex-senador Hélio José e, atualmente, está tramitando na CDH da Casa, sob relatoria do senador Telmário Motta.

Assinado pela Associação Nacional das Etnias Ciganas (ANEC) e ratificado por associações e lideranças ciganas de todo o país, o ofício solicita ao presidente do Senado que, aproveitando a semana em comemoração aos povos ciganos, coloque o projeto em votação no plenário.

Lideranças ciganas e MPF durante webreunião na última sexta-feira (21.05) em que protocolaram documento à CDH do Senado pedindo aprovação do projeto que cria o Estatuto dos Ciganos

No documento constam também sugestões e análises das lideranças ciganas quanto a proposta do Estatuto, que foram debatidas por meio de um grupo de whats up criado pela assessoria dos senadores Paulo Paim e Telmário Motta, em conjunto com a 6ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF), que acompanhou todo o trabalho e mediou a reunião entre as lideranças ciganas e os dois parlamentares.

Após aprovação no Senado, o projeto deverá ir para análise da Câmara dos Deputados, que fará suas sugestões. Depois disso, a propositura, retorna ao Senado, que finaliza o trabalho de análise e envia para a sanção do presidente da república.

De autoria do Senador Paulo Paim, o PLS 248/2015 tem como objetivo garantir políticas públicas afirmativas e reparação histórica para os povos ciganos em todos os setores, como educação, saúde, habitação e direito à terra, geração de trabalho e renda, serviços de previdência social e aposentadoria, cultura, lazer e esporte, transporte público, entre outros serviços fundamentais para a cidadania.

Os povos ciganos se compõem de três grandes troncos étnicos, os Calon, os Rom e os Sinti, que por sua vez, se subdividem em grupos e subgrupos, com culturas, identidades e histórias diferenciadas. No Brasil, temos comunidades ciganas vivendo em todas as unidades da federação, pertencentes aos três troncos, que juntas, somam em torno de 500 mil pessoas, segundo estimativas do governo federal.

Historicamente, as comunidades ciganas foram vítimas de políticas persecutórias e anticiganas, o que atualmente, as colocam, em sua maioria, em situação de exclusão, vulnerabilidade e insivibilidade social. Daí a importância de um Estatuto, que garanta reparações a esses problemas.

Texto: Aluízio de Azevedo

Arte:  Card: Rafael e Nardi Casanova da Confederação Brasileira Cigana

sexta-feira, 21 de maio de 2021

MPF recomenda inclusão de ciganos e servidores da linha de frente da Funai nos grupos prioritários de vacinação contra a covid-19

Ministério da Saúde têm prazo de dez dias para adotar as providências indicadas pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR)

O Ministério Público Federal (MPF) enviou nesta quinta-feira (20) ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recomendações para que inclua os povos ciganos e os servidores da Funai que atuam diretamente com os povos indígenas no grupo prioritário do Plano Nacional de Operacionalização Vacinação contra a Covid-19. Os documentos foram elaborados pela Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR). A pasta tem dez dias para informar ao órgão as providências adotadas.

O MPF afirma que, embora a legislação brasileira e o próprio plano nacional de imunização contra a covid-19 tenham reconhecido os povos e comunidades tradicionais como grupo de risco, o Ministério da Saúde restringiu a prioridade de vacinação a povos indígenas aldeados, comunidades ribeirinhas e quilombolas.

A recomendação ressalta que a Lei 14.021/20, aprovada em julho do ano passado, estabelece os povos e comunidades tradicionais como grupos em situação de extrema vulnerabilidade e alto risco, sendo, portanto, destinatários de ações emergenciais para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Segundo a norma, as medidas visam mitigar os efeitos do coronavírus “entre os quilombolas, os pescadores artesanais e os demais povos e comunidades tradicionais do país”.

O MPF esclarece que os ciganos são reconhecidos como “povos e comunidades tradicionais”, nos termos do art. 3º, inciso I, do Decreto 6.040/2007, e , inclusive, compõem o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), instituído pelo Decreto 8.750/2016. A recomendação menciona ainda os relatos que o MPF tem recebido sobre as dificuldades enfrentadas pelos ciganos na pandemia. “Muitos vivem em acampamentos com barracas, sem acesso a saneamento básico, a banheiros e à água, fundamental para que sigam as recomendações de higiene tão necessárias para o combate ao coronavírus”, alerta o documento.

Proteção aos indígenas – Em relação ao pedido de vacinação prioritária dos servidores da Funai que desempenham suas atividades nas unidades descentralizadas, atuando diretamente com os povos indígenas ou nos territórios tradicionais, o MPF argumenta que a medida auxilia na proteção sanitária das próprias comunidades.

A recomendação esclarece que o grupo realiza atividades de segurança alimentar, territorial e sanitária imprescindíveis no contexto da pandemia, como distribuição de alimentos e implementação e suporte a barreiras e postos de controle de acesso às terras indígenas. “A manutenção dessas atividades demanda o trabalho presencial contínuo de servidores da Funai, incluindo aqueles terceirizados e contratados, que atuam nas unidades descentralizadas e entram em contato diariamente com populações indígenas e poderiam servir de vetores de transmissão”, pondera o documento.

O MPF fixou prazo de dez dias para manifestação do Ministério da Saúde. Em caso de descumprimento ou omissão na adoção das providências recomendadas, os agentes públicos ficam sujeitos às medidas administrativas e ações judiciais cabíveis.

Ofício ao ministro da Saúde
Recomendação - Ciganos
Recomendação - Servidores da Funai

Secretaria de Comunicação Social

Procuradoria-Geral da República

Disponível em: http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/mpf-recomenda-inclusao-de-ciganos-e-servidores-da-linha-de-frente-da-funai-nos-grupos-prioritarios-de-vacinacao-contra-a-covid-19

terça-feira, 18 de maio de 2021

Exposição multimídia “Calin” retrata protagonismo das mulheres ciganas

A ativista e negociante, Calin Nilva Rodrigues Cunha, de Rondonópolis-MT é um dos destaques da exposição. Crédito: Karen Ferreira

Na próxima segunda-feira, 24 de maio, comemora-se no Brasil o Dia Nacional dos Ciganos. Para marcar a data, a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) fará um pré-lançamento da exposição multimídia “Calin”. O trabalho enfoca na força e na resistência das mulheres ciganas de etnia Calon de comunidades de três municípios mato-grossenses: Cuiabá, Tangará da Serra e Rondonópolis.

A exposição integra o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, aprovado no edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT).

O projeto premiou, a raizeira e benzedeira, Maria Divina Cabral, a Diva, como Mestra da Cultura Mato-grossense. E se desdobrou em vários produtos culturais transmidiáticos, como o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso, que ocorreu no último mês de abril; a web série “Diva e as Calins”, em edição; e a “Exposição Multimídia “Calin”.

Diva é um dos destaques da exposição, que reúne fotografias de mulheres do seu círculo de convívio, como a mãe, filhas, netas, bisnetas, primas e tias. O pré-lançamento ocorrerá às 19h, durante uma live, que contará com a roda de conversa “Protagonistas: Mulheres Ciganas, mil faces”. 

“A cultura é plural e essa homenagem à Diva e às ciganas ajuda a dar visibilidade a uma tradição que está presente Mato Grosso. Somos honrados pelo projeto ter sido contemplado. Que seja um importante movimento para o respeito e acolhimento à diversidade do estado”, expressa o titular da Secel, Alberto Machado.

A roda terá como convidadas com a Mestra Diva, a presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado; a ativista e cantora cigana Rom-Kalderash, Aline Miklos, a fotógrafa Karen Ferreira e a superintendente da SECEL-MT, Keiko Okamura.


Aprovado na Lei Aldir Blanc, o trabalho integra o projeto Diva e as

 calins de MT, que brinda o público com produtos transmidiáticos


O evento de pré-lançamento conta com a parceria do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro em MT, do Coletivo Internacional Orgulho Romani e do Centro de Direitos Humanos da Unemat, que o certificará. Durante a abertura estará também presente a coordenadora adjunta do Fórum de Entidades MT pelo ICOMOS Brasil, a professora Ana Carolina Borges.

Na ocasião, serão projetadas fotos destaque da exposição, bem como será exibido um primeiro teaser de lançamento da web série “Diva e as Calins”. A plataforma digital que ancorará as fotos, textos e gifs também será lançada durante a live.

A transmissão da live acontecerá simultaneamente no Canal do Fórum e na página do face da AEEC-MT. Para ter direito ao certificado basta se inscrever no seguinte link: https://forms.gle/Rz9eeyLJt75U1fwt7 .

Ineditismo - de acordo com a presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado, “o registro fotográfico é um marco na história das mulheres ciganas”. “Nós sabemos que devido as nossas mães, tias, avós, viajarem em barracas e os ciganos não terem muitas condições financeiras, quase não temos registros fotográficos das mulheres anteriores a nós. A exposição enche a gente de orgulho. Como presidente da associação e como mulher que participei, fiquei lisonjeada, maravilhada”, emociona-se.

Para Fernanda, a exposição é um movimento que coloca as Calins se apropriando das representações de seus corpos, vidas, memórias e narrativas. “No Encontro (de Mulheres Ciganas, em Rondonópolis) a Jéssika, neta da Diva, disse que a vó nunca tinha recebido uma homenagem tão importante, com fotos, filmagem, dela se sentir empoderada como mulher e cigana”, relembra.

Já a ativista feminista e fotógrafa Karen Ferreira avalia o processo como enriquecedor. “Uma das coisas mais importantes de criar representações é a contribuição que damos para construir novos imaginários da mulher e dos povos ciganos, que historicamente tem tido representações estigmatizadas. O projeto nos possibilita apropriar das artes e dos meios de comunicação para nos transformarmos em criadoras das próprias histórias”.

Segundo Karen, “foi muito impactante ver a força geradora que se criou ao unir tantas mulheres ciganas em um espaço”. “Foi visível a transformação que todas nós passamos. Uma se fortalecendo no reflexo da outra. Não por acaso, se separa as mulheres há tantos séculos, pois quando estamos juntas movemos as estruturas”.

Calin – é uma palavra de autoidentificação das mulheres ciganas do tronco étnico calon e no dialeto destes grupos significa “cigana”. Assim, o trabalho busca valorizar os saberes, tradições, costumes e filosofia romani, com foco principal nas vozes, olhares e narrativas de suas mulheres.

“A exposição coroa todo um trabalho realizado durante meses com as mulheres ciganas de MT. Vamos mostrar a importância delas nas nossas vidas e na vida de todos ao seu redor. São mulheres guerreiras, vencedoras, empoderadíssimas! Mulheres que tomam as decisões, que tomam a frente”, enfatiza a presidente da AEEC.

Explica o diretor de Arte Rodrigo Zaiden, que a exposição segue uma linha conceitual que considera todas as mulheres ciganas da geração de Diva, 66 anos, como também mestras da cultura cigana. O trabalho se delineou a partir de Diva e outras quatro de suas parentas: Venerana Rodrigues Cunha (tia); Irandi Rodrigues Silva (prima-irmã), Nilva Rodrigues Cunha (prima-irmã) e Terezinha Alves (prima-primeira).

Além de fotos e citações textuais dessas cinco mestras da cultura Calon, a exposição apresenta, em fotos e gifs (e num segundo momento vídeos), suas filhas e netas, reunindo outras 20 “Calins” mato-grossenses de várias idades. “Construímos um material rico em simbologias e elementos culturais e identitários das mulheres Calins, com o principal objetivo de quebrar os estereótipos sobre este universo e mostrar a diversidade dentro da própria comunidade”, pondera, Rodrigo Zaiden.

“Quando elas se verem, vão sentir orgulho de si mesmas: eu cheguei até aqui, eu consegui! Saber que essa é a nossa história e estamos conseguindo mostrar para as pessoas, deixa o meu coração cheio de amor e felicidade. A exposição nos fortalece, porque através das fotos, não apenas conseguiremos nos ver, como também outras mulheres ciganas poderão se reconhecer em nós”, conclui Fernanda Caiado.

Serviço

O que: Pré-Lançamento da exposição multimídia Calin

Quando: 24 de maio – dia nacional dos ciganos

Onde: Canal do You Tube do Fórum de Entidades e Página do Face da AEEC-MT

Horário: 19h às 20h (horário de Mato Grosso)

Transmissão simultânea

Canal do YouTube do Fórum: https://youtu.be/5zxqPhxe33g  

Canal do Facebook da AEEC-MT: https://url.gratis/RibYU8

Link para se inscrever e obter o certificado: https://forms.gle/Rz9eeyLJt75U1fwt7

Ficha Técnica

Mestra Maria Divina Cabral

Direção de Fotografia – Karen Ferreira

Concepção, Pesquisa e Direção de produção – Aluízio de Azevedo e Rodrigo Zaiden

Curadoria – Karen Ferreira, Aluízio de Azevedo e Rodrigo Zaiden

Assessoria para Ciência e Comunicação – Aluízio de Azevedo

Direção de Programação – Terezinha Alves

Direção de Arte – Rodrigo Zaiden

Produção Executiva – Fernanda Caiado e Lucélia Márcia Alves Pereira

Produções Locais – Nilva Rodrigues, Jéssika Lorraine, Audelena Cabral, Rosana Mattos, Suiani Pereira

Projeto Expográfico virtual – Rodrigo Zaiden e Aluízio de Azevedo

Designer Gráfico e Webdesigner – Vicente Ferreira

Maquiagem e Cabelo – Alisson Rangel

terça-feira, 11 de maio de 2021

Por que 24 de maio foi escolhido para ser o dia nacional dos ciganos?

Peregrinação de Santa Sara Kali em Saintes-Maries-De-La-Mer, em França, em 24 de maio de 2017. 

O dia nacional dos ciganos, a ser comemorado no Brasil em 24 de maio, foi estabelecido por meio do Decreto Presidencial 25 de maio de 2006, do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Mas você sabe porque essa data foi escolhida?

Vinte e quatro de maio foi escolhido pelo governo federal, por ser o dia de Santa Sara Kali, uma das únicas ciganas consideradas santas no mundo.

Canonizada em 1752 pela Igreja Católica, Sara Kali é muito conhecida e cultuada junto aos ciganos católicos europeus.

Todavia é pouco conhecida entre os ciganos brasileiros, especialmente, entre os Calon, tronco étnico romani mais antigo e em maior número vivendo no Brasil.

Os outros dois troncos étnicos Romani são os Rom, segundo maior número no país e os Sinti, cuja presença é minoria.

Ruas de Saintes-Maries-De-La-Mer durante a peregrinação de Santa Sara, em 24 de maio de 2017. 


Universo étnico romani

Os Calon, também pode ser escrito Kalon seguindo a definição antropológica, possuem um longo contato com a península ibérica, Portugal e Espanha.

Já os grupos Rom e seus subgrupos mantiveram um longo período de contato com países do leste europeu. Por sua vez, os Sinti com países da europa central como Alemanha e Itália.

Também há outros grupos considerados ciganos que não se encaixam nesses troncos. A exemplo dos Romanicheis no Reino Unido e outros países do norte europeu; os mercheros em Espanha, os latoeiros em Portugal; os Yenische na França; ou os Dom, do Oriente médio.

O IBGE não faz a contagem das pessoas ciganas no censo populacional. Todavia, o governo federal desde 2012 estima que existam em torno de 500 mil a um milhão de ciganos de todos os troncos étnicos vivendo no Brasil.

Santa Sara

Igreja milenar em Saintes-Maries-De-La-Mer onde é realizada a missa de Sara em 24 de maio. 

Não se sabe ao certo a origem étnica de Santa Sara. A versão mais popular diz que ela era escrava do Egito, pertencente a José de Arimatéia.

O nome "Sara" é um nome bastante comum entre as comunidades ciganas, mesmo sendo de origem judaica. Já “kali”, na língua dos ciganos de etnia calon é uma autodenominação para as mulheres. Ou seja, as mulheres da etnia Calon se chamam de “calin”.

Já na língua dos grupos de origem Rom, kali significa preta ou escura, bastante similar com o modo escrito no sânscrito e em várias línguas indianas.

Em suas representações populares, Santa Sara tem a cor negra. Assim, o nome kali poderia ser não apenas uma menção a sua cor, como também uma referência à sua origem étnica no tronco Calon.

Não se sabe ao certo, a partir de quando o culto a Santa Sara se popularizou entre os ciganos europeus.

Mas tradicionalmente, todos os anos, na semana do dia 24 de maio, milhares de ciganos de diversos países europeus e mais recentemente do mundo, se dirigem para a cidade francesa de Saintes-Maries-De-La-Mer, no sul do mediterrâneo.

No local, acontece uma grande peregrinação, onde uma vez por ano, uma imagem de Sara é retirada da igreja católica local e, acompanhada por uma multidão, é levada até o mar, onde é lavada e simbolicamente, revive o chegar mitológico na cidade.

Conta a lenda que por serem cristãs, Sara, Maria Salomé (mãe dos apóstolos Tiago e João), Maria Jacobina (irmã de Nossa Senhora) e Maria Madalena teriam sido condenadas a vagar num barquinho para morrer no mar mediterrâneo.

Grupo de música cigana nas ruas de Saintes-Maries durante a festa de Santa Sara. A festa é também um modo de reencontro familiar, casamentos, batizados etc

Graças a uma promessa feita por Sara quando estavam em auto mar, o barco teria aportado com todas as tripulantes salvas em Saintes-Maries-De-La-Mer (em português Santas Marias do Mar).

Santa Sara prometeu que se chegassem a salvo, usaria um lenço sobre seus cabelos para o resto de sua vida e cumpriu sua promessa.

Em homenagem a esta passagem, a imagem da Santa na pequena cidade francesa está sempre cheia de lenços, colocados por fiéis que também fizeram uma promessa e foi alcançada.

Algumas lendas também dizem que Sara seria serva e parteira de Maria, assim, Jesus a teria em alta estima por tê-lo trazido ao mundo.

Desde o advento da internet, o culto a Sara chegou com muita força entre os ciganos brasileiros e outros grupos espiritualistas.

Mas muitos grupos ciganos brasileiros, especialmente os de origem Calon, permanecem desconhecendo Santa Sara e têm em Nossa Senhora Aparecida, a sua padroeira.

Texto e fotos: Aluízio de Azevedo

Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

segunda-feira, 10 de maio de 2021

NA MÍDIA: Comunidades ciganas de MT tentam manter tradições e geração jovem ainda enfrenta preconceito

Associação estima que são 130 famílias que moram em Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra. Os mais velhos tentam ajudar os mais jovens a vencerem o medo de se identificarem como ciganos.

Por Denise Soares, G1 MT

10/05/2021 13h36  Atualizado há 2 horas

Presentes em Mato Grosso desde a década de 60, as comunidades ciganas tentam manter as tradições nos dias atuais, mas a geração jovem ainda enfrenta preconceito no estado.

O último levantamento da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) apontou que em Mato Grosso existem 130 famílias ciganas (cerca de 300 pessoas), espalhadas por Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra.

A presidente da associação, Fernanda Alves Caiado, de 34 anos, recorda as histórias dos avós, que andavam em tropas a cavalo, dormiam em barracas e vendiam mercadorias de cidade em cidade, até viajarem de Minas Gerais a Mato Grosso.

"Meu avô era goiano e andava em tropas. Conheceu minha avó em Minas Gerais, que não era cigana. Eles faziam negociações de produtos e animais", contou.

Segundo ela, os ciganos possuem algumas características marcantes: gostam de se reunir em família, são unidos e têm o dom da negociação. Não é à toa que a maior parte dessa etnia trabalha como comerciante, inclusive a própria Fernanda.

O casamento entre primos também é algo comum na comunidade cigana. Com a pandemia, as grandes reuniões em família foram suspensas para evitar aglomerações. Grande parte dos ciganos em Mato Grosso tem residência fixa.

“A principal característica dos ciganos é a união. Temos a necessidade de estarmos perto um do outro e nessa pandemia temos sofrido muito. Outra coisa que mantemos na nossa cultura é a negociação. A gente vive de negociar, às vezes sem perceber, mas temos o dom de negociar”, disse a presidente.

A figura de maior destaque da cultura cigana em Mato Grosso é Maria Divina Cabral, ou Diva como é mais conhecida, que foi recentemente referenciada como mestre da cultura mato-grossense.

Diva nasceu na cidade de Mineiros (GO) e viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando por várias cidades da região Centro-oeste.

No início da década de 70 fixou residência com sua família e parte da comunidade em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, que se tornou a maior comunidade cigana de Mato Grosso.

A cigana rezadeira é respeitada e ouvida por todos devido à sua experiência e sabedoria na condução e guardiã de diversos costumes, narrativas e saberes da filosofia kalon, nome do grupo que ela pertence.

“Diva vive da garrafada, da raizada e xaropes. É uma cultura que ela passou para as filhas e elas tentam passar para as netas”, comentou a presidente.

Conhecedora de uma variedade de plantas medicinais do cerrado e da floresta amazônica, Diva usa os saberes da medicina tradicional Calon para atender também aos não-ciganos.

“A terceira geração sabe menos da cultura cigana porque existe, infelizmente, um certo preconceito da sociedade com os ciganos. As pessoas têm uma visão de que somos ladrões e mentirosos. Então, às vezes, temos pessoas mais jovens na família que nem citam que são ciganos por medo de serem tratado mal ou por vergonha”, lamentou Caiado.

A presidente lembrou que no ano passado um primo dela morreu com Covid-19. Em postagens nas redes sociais, a família do paciente recebeu uma enxurrada de críticas pelo fato do rapaz ser cigano.

“A nova geração tem que se orgulhar e não se envergonhar. Quando escuto as histórias dos meus avós e vejo o quanto eles sofreram e foram perseguidos, hoje vejo os ciganos que podem viver, estudar e eu posso falar que sou cigana”, disse.

A presidente diz que ainda existem ciganos nômades no país e em Mato Grosso, no entanto, a falta de documentação deles dificulta a associação a ter um levantamento específico desses povos.

O Dia Nacional dos Ciganos é comemorado no dia 24 de maio. A data foi escolhida em homenagem à Santa Sara Kali, padroeira de muitos grupos romani, especialmente do continente europeu. 

Disponível: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2021/05/10/comunidades-ciganas-de-mt-tentam-manter-tradicoes-e-geracao-jovem-ainda-enfrenta-preconceito.ghtml 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Ederlezi: Time of the Gypsies - Goran Bregović, Emir Kusturica

Música símbolo dos povos ciganos dos Balcãs, Ederlezi é também o nome do festival da primavera quando comemoram a festa para São Jorge

A dica cultural de hoje da AEEC-MT é a música-clipe Ederlezi, do filme “Tempo dos Ciganos” (1988), do premiado diretor de origem Romani, Emir Kusturica.

Executada pelo também cigano e multiartista Gojan Bregovick, Ederlezi é uma música popular dos grupos romani dos Balcãs e é a canção popular símbolo do festival “Ederlezi”, em comemoração à primavera.

Já o filme é uma preciosidade, que mostra a vida do jovem “Perhan”, que vive numa comunidade cigana periférica com sua avó, o tio e a irmã, por uma ótica completamente lírica, mas sem deixar de mostrar as exclusões.

Um trabalho que oscila entre a miséria e o sonho, o drama e a simplicidade e que merece ser visto pelas pessoas ciganas que ainda não tiveram oportunidade e pelos não ciganos, que podem conhecer um pouco mais de nós!


quinta-feira, 6 de maio de 2021

Maio: o mês dos povos ciganos no Brasil

Matriarcas da comunidade cigana mato-grossense da família Alves Pereira. Da direita para esquerda: Lídia, Elza, Alda, Jandica, Luzia e Tita ciganas Calin. Foto: Arquivo AEEC-MT

Data é avanço, mas muito ainda precisa ser feito para inclusão das comunidades ciganas brasileiras

No próximo dia 24 de maio completa 15 anos de comemoração do Dia Nacional dos Ciganos. A data foi estabelecida em 2006 por meio do Decreto Presidencial de 24 de maio de 2005, assinado pelo ex-presidente Lula.  Vinte e quatro de maio foi escolhido em homenagem à Santa Sara Kali, a padroeira de muitos grupos romani, especialmente do continente europeu.

Para comemorar a data e proporcionar visibilidade aos povos e culturas ciganas e sua imensa diversidade étnica; a Assessoria para Ciência e Comunicação da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) preparou uma série de reportagens, artigos e materiais próprios e de outras fontes.

Por que a data é importante?

O dia nacional dos ciganos é um marco no modo como o estado brasileiro passou a tratar as comunidades ciganas. Apesar de estarmos presentes no país desde os primórdios da colonização (século XVI), até essa data não contávamos com qualquer política pública específica de reconhecimento.

Pelo contrário, historicamente sempre fomos vítimas de políticas coloniais e persecutórias tanto em Portugal, quanto no Brasil.

Mesmo contribuindo fortemente para as identidades e as culturas nacionais dos dois países; sofremos processos de invisibilidade ou estereotipia nas artes, literatura, ciência e senso comum. Tal situação deixou reflexos altamente negativos no imaginário social português e brasileiro acerca das pessoas romani.

Uma realidade que este nome genérico “cigano” não dá conta de representar, pois somos muito diversos. Ao todo pertencemos a três grandes troncos étnicos: os Calon, os Rom e os Sinti, que por sua vez, se subdividem em subgrupos, com línguas, culturas e identidades diferentes.

Patriarcas da comunidade cigana mato-grossense, os irmãos Rodrigues Cunha: Da direita para esquerda, Ranulfo, Jove, Albano, Araxide, Alvone, Stoesse, Lourival e Anésio. Foto: Arquivo AEEC


Visibilidade para combater o racismo estrutural

O resultado destes séculos de exclusão social é um racismo estrutural latente, também denominado de anticiganismo ou ciganofobia, que atualmente colocou a imensa maioria das pessoas ciganas brasileiras em situação de exclusão e/ou desigualdade social.

Neste cenário, a criação do dia nacional dos ciganos, foi um reconhecimento importante por parte do Estado brasileiro, que no ano seguinte, por meio de outro decreto presidencial (6.040 de 2007), incluiu-nos como parte dos povos e comunidades tradicionais brasileiros, com os mesmos direitos e deveres.

Mas muita gente desconhece o universo cigano, a não ser pelo imaginário, que vacila entre dois polos estereotipados: uma visão romântica, que apela à sensualidade, à malandragem, à falsa liberdade do nomadismo; ou uma visão extremamente negativa, associada a todos os tipos de bandidagens.

Daí pensarmos essa série, de maneira a também quebrar com esses preconceitos estabelecidos, que acabam levando ao racismo institucional em diversas áreas.

Não perca as próximas postagens, que trarão elementos simbólicos, artísticos, culturais e científicos sobre as comunidades ciganas brasileiras.

Acesse aqui o artigo que produzimos para a mesma data no ano passado, em conjunto com o ativista Calon Português, Pimênio Ferreira: https://aeecmt.blogspot.com/2020/05/dia-nacional-dos-ciganos-resistimos-e.html 

Texto: Dr. Aluízio de Azevedo

Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, cigano da etnia Calon, especialista em cinema, mestre em educação e mitologias ciganas e doutora em informação, comunicação e saúde das comunidades romani de Brasil e Portugal

 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

UFBA lança mestrado com vagas para Povos Ciganos, Indígenas e Quilombolas

As inscrições para o processo seletivo estão abertas até o dia 23 de maio e devem ser efetuadas no ambiente virtual Moodle UFBA (www.moodle.ufba.br)

O Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), lança nesta quarta-feira (05 de maio de 2021) o edital de seleção de novos ingressantes ao curso de Mestrado Acadêmico, com a oferta de 50% de vagas em ações afirmativas, destinadas a candidatos (as) autodeclarados (as) negros (as), pretos (as) e pardos (as), e sobrevagas para indígenas, quilombolas, ciganos, pessoas com deficiência e pessoas trans (transexuais, transgêneros e travestis). A novidade é que pela primeira vez os Ciganos (as) serão contemplados em vagas supranumerárias.

Serão oferecidas 15 (quinze) vagas, distribuídas da seguinte forma: 07 (sete) vagas para ampla concorrência, 07 (sete) vagas para candidatos autodeclarados negros (as), pretos (as) e pardos (as) e 1 (uma) vaga para estrangeiros, acrescidas de até́ 05 (cinco) vagas supranumerárias para estudantes, sendo uma vaga para cada uma das categorias de identificação: Indígena, Quilombola, Cigano (a), pessoa com deficiência e pessoa trans (transexuais, transgêneros e travestis), desde que tenham se autodeclarado e confirmada sua condição de optante no campo específico dessa modalidade de reserva de vagas, no formulário de inscrição. 

A iniciativa de contemplar os Ciganos (as) nas vagas supranumerárias, além de Indígenas, Quilombolas, estrangeiros, pessoas trans e com deficiência, é pioneira entre os Programas de Pós-Graduação da UFBA. De acordo com a professora Renata Veras, Coordenadora da Comissão de Seleção, e com a docente Maria Thereza Coelho, coordenadora do PPGEISU, a reivindicação partiu do aluno e representante estudantil no Colegiado do curso, Roy Rogeres Fernandes, que é Cigano da etnia Calon e de tradição circense. O PPGEISU tem a Universidade, em sua integralidade, como principal objeto de estudo, de modo que muito lhe interessa a diversidade de culturas e povos entre seus estudantes, além da contribuição ao processo de reparação pela via da educação, reconhecimento das cidadanias e justiça social para esses grupos, historicamente ausentes da Universidade.

As inscrições para o processo seletivo estão abertas até o dia 23 de maio e devem ser efetuadas no ambiente virtual Moodle UFBA (www.moodle.ufba.br). Os interessados deverão realizar cadastro nessa plataforma e seguir as instruções. Todo o processo será realizado em formato virtual e o resultado final está previsto para ser divulgado em 12 de julho. Demais informações sobre o PPGEISU, linhas de pesquisa e o processo seletivo estão disponíveis no site (http://www.ihac.ufba.br/eisu).

Texto: Da Assessoria PPGEISU

domingo, 2 de maio de 2021

Netas de Chaplin fazem documentário sobre suas origens ciganas

Filme é assinado por Carmen e Dolores Chaplin que vivem em Espanha e promete uma viagem pela herança cigana do seu avô. “Se as pessoas ficarem chocadas em saber que ele era cigano, melhor!”, diz Michael, um dos 11 filhos de Chaplin.


Dos milhões de cartas de fãs e admiradores que recebeu em vida, Charles Chaplin (1889-1977) guardou apenas uma. Curiosamente, não estava assinada por qualquer nome sonante, mas por um desconhecido: um tal Jack Hill. O que dizia de tão importante para o célebre ator a guardar como um tesouro?

A missiva foi descoberta em 2011, 34 anos após a morte de Chaplin, quando a sua filha Victoria abriu a gaveta de uma escrivaninha na mansão da família em Corsier-sur-Vevey, na Suíça. O envelope mostrava que fora remetida ao seu pai por Jack Hill, um octogenário inglês de Tamworth, no início dos anos 70. 

Hill chamava-lhe “mentirosozinho” (“little liar”) por, na sua Autobiografia, Chaplin dizer que tinha nascido em Londres. E especificava que na verdade o comediante nascera num acampamento em Black Patch Park – na altura, um grande acampamento cigano perto de Birmingham, Inglaterra.

A descobertas das origens Charles Chaplin acreditou, durante muitos anos, que havia nascido em Londres no ano de 1889, tal como escreveu na Autobiografia, publicada em 1964. Filho de artistas de music hall, uma forma de entretenimento teatral de origem britânica, muito popular entre 1850 e 1960, definido como uma mistura de música popular e comédia, Chaplin nunca conseguiu encontrar a sua certidão de nascimento, algo comum entre as famílias que muito viajavam em consequência da profissão.

E, apesar de saber que o seu pai era meio cigano, o cineasta só pouco antes da morte da mãe, em 1928, ficou a saber que também ela partilhava da mesma etnia. Hannah confessou ao filho que era 100% cigana e irmã de uma rainha desta etnia – portanto, Chaplin também era um cigano. “Ele estava muito ciente das suas origens ciganas, costumava dizer ao meu pai e aos seus outros filhos que eles tinham essa origem e que deveriam ter orgulho nesse facto”, garantiu Carmen Chaplin.

As revelações do documentário Agora, a família Chaplin quer sublinhar as origens do génio do século XX com o documentário Charles Chaplin – Um Homem do Mundo, dirigido e co-escrito, juntamente com Amaia Remírez e Isaki Lacuesta, por duas das suas netas, Carmen e Dolores Chaplin. 

O filme, que já se encontra em fase de pré- produção, levará os espectadores numa viagem por França, Suíça, Sérvia, Reino Unido, Romênia e Espanha, propondo uma nova leitura do seu cinema e música do ponto de vista da sua origem.

Ainda não se sabe quem serão os protagonistas, contudo, já foram revelados os nomes dos cineastas Emir Kusturica e Tony Gatlif. “Artistas e criadores com alma romana ou boémia vão participar neste documentário para nos ajudar a reinterpretar o trabalho do nosso avô com essa visão”, explicou Carmen. “Mas não podemos dizer mais nada, porque queremos que seja uma surpresa.

O filme, destinado aos cinemas, será finalizado no verão de 2022, possui 70% de produção espanhola (o restante vem de vários países europeus) e já tem garantida a sua distribuição nos cinemas espanhóis.

As memórias do avô “O avô revelou com grande felicidade ao nosso pai, quando este ainda era criança, toda a história dos seus antepassados ciganos e ele, por sua vez, contou-nos a mesma história quando ainda éramos pequenas”, revelaram as netas, em declarações ao El País. 

Carmen Chaplin

As duas relembram o avô: “Éramos muito jovens, mas lembramo-nos que, no Natal, reuníamos o maior número possível de filhos e netos na Suíça, e Charlie, na sua cadeira de rodas, contava-nos histórias. Infelizmente, não nos lembramos delas, mas lembramo-nos de como nos esforçávamos para estar o mais perto possível da cadeira”, confessa Dolores. 

Carmen complementa esta memória: “Também assistíamos a muitos filmes caseiros. O nosso avô filmou muitos vídeos para documentar as suas viagens e os seus momentos de felicidade familiar”.

Com uma banda sonora e composições reinterpretadas de Chaplin, no documentário, também trechos desse material, que contém entrevistas com artistas e filhos de Chaplin, serão combinados com sequências sobre a vida dos ciganos atualmente. “Esta herança cigana ressalta um sentimento de desagregação que o nosso pai sempre carregou com orgulho”, enunciaram ainda as netas ao jornal espanhol.

Chaplin faleceu no dia de Natal de 1977. O seu filho Michael declara: “Ele não entendia os nacionalismos e odiava o conceito de patriota. Gostava de enfatizar, como no discurso do filme O Grande Ditador, que era um cidadão do mundo. Enquanto se disse, por anos a fio, que ele era judeu [o próprio Chaplin encarnou esse papel inúmeras vezes], o nosso pai nunca o negou. O que importa isso? Se as pessoas ficam chocadas em saber que ele era cigano, melhor! Isso vai significar uma abertura em algumas cabeças”.

No trailer do documentário, Michael fala sobre o filme de 1923, O Peregrino, onde um polícia americano empurra Chaplin para o México. No filme, o protagonista cruza a fronteira e depara-se com um tiroteio. Do outro lado, estão as forças de segurança e, por isso, Chaplin deambula pelo deserto com um pé de cada lado. “É um bom exemplo de como os ciganos vivem em dois mundos, o deles e o marcado pelos papéis oficiais”, explica Michael. 

Certamente essa condição ajudou a moldar este artista completo. “Charles Chaplin era um músico autodidata e isso é algo muito cigano. Quando se conta aos ciganos que este partilhava dessa etnia, eles respondem que isso é óbvio, tendo em conta o seu sentido de humor, a sua maneira de contar histórias, a comédia trágica nos seus filmes e as brilhantes bandas sonoras”, conclui Carmen.

Disponível em: https://ionline.sapo.pt/artigo/732176/chaplin-o-documentario-que-nos-contara-a-historia-das-suas-origens-ciganas?seccao=Mais_i