Odova Romani – Vozes Ciganas
O encontro, o diálogo e as vozes ciganas
Calon Lachon, que na língua Romanó-Caló quer dizer
"Cigano Bom", ou "Bom Cigano", é um programa que tem como
objetivo registrar (vídeos, áudio, fotos, documentos escritos), valorizar,
conservar e divulgar as narrativas, saberes, práticas e memória oral de
comunidades ciganas contadas por elas mesmas.
Ao mesmo tempo busca estabelecer pontes entre pessoas romani,
registrando e divulgando suas ricas tradições e culturas, conhecimentos e
saberes.
Trata-se de uma experiência fílmica que promove diálogos
interculturais e interpolíticos entre diferentes grupos ciganos no Brasil em
Portugal, para o fortalecimento de suas causas e lutas.
Propomos uma escuta aprofundada, que proporciona o diálogo sensível
entre pessoas ciganas de diferentes famílias e grupos. Trata-se de uma obra
dialógica, que valoriza os conhecimentos e saberes, costumes e tradições
Romani, registrando suas vozes e olhares, e potencializando suas lutas e
demandas políticas e culturais;
Para tanto, o principal objetivo do programa é a construção de um
acervo fílmico e fotográfico dos povos ciganos brasileiros e portugueses do
tronco étnico Calon, silenciados e invisibilizados na história oficial, ainda
que tenham contribuído imensamente para a economia, a cultura, a identidade e a
sociedade brasileiras.
O intuito é desconstruir estigmas, estereótipos, racismos e
preconceitos historicamente arraigados sobre as culturas e etnias Romani, seja
nas mídias, na literatura, na ciência ou até mesmo nos dicionários,
E construir coletivamente com as próprias pessoas ciganas um novo e
melhorado imaginário, tornando visível suas histórias de vida, tradições, modos
de organização sociocultural, de ver, viver, sentir e estar
Um dos principais resultados esperados, além da conservação e manutenção
de saberes e tradições ciganas, é estabelecer um diálogo intercultural e
interpolítico entre grupos no Brasil e em Portugal.
Nossas origens e lutas
Uma produção coletiva e sem fins lucrativos, Calon Lachon nasceu de uma pesquisa de doutorado realizada
pelo cigano brasileiro, Aluízio de Azevedo, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz,
Rio de Janeiro).
A pesquisa e a construção do programa ocorreram entre 2014 e 2016.
Já sua primeira etapa de campo ocorreu em 2017, conjuntamente com a própria fundação
da AEEC-MT, ambos imbricados na tese de Aluízio, que investigou a saúde cigana
em Brasil e Portugal, por meio da construção de uma metodologia fílmica (com)
partilhada, intercultural e de cunho semiológica e anticolonial.
O programa recebeu em sua idealização as contribuições dos
cineastas Rodrigo Zaiden e Karen Ferreira, que impulsionaram o início dos
trabalhos do programa Calon Lachon, ocorrido em 2017, durante seis meses no
Brasil e durante seis meses em Portugal. E da orientação teórica de Inesita
Araujo, professora da Fiocruz.
Além de serem codiretores do programa, Karen é também a diretora de
fotografia oficial e Zaiden o diretor de arte e produtor.
O registro etnográfico que propomos é feito com a participação
ativa das pessoas Romani, que ajudam a definir desde o fechamento do roteiro e
das temáticas abordadas, até as formas de linguagens, imagéticas e locais de
participação.
Neste sentido, o trabalho audiovisual se realiza na união dos
olhares de Aluízio, Karen e Zaiden e conta principalmente com a direção e
criação das pessoas ciganas, como os irmãos Stoesse e Araxides, em Tangará da
Serra (MT), ou os irmãos Wanderley e Jefferson, no acampamento Nova Canaã,
Sobradinho I (Brasília, DF).
Acervo, memórias, territórios e re-existências
Ao
longo de seus mais de cinco anos de existência, o programa Calon Lachon constituiu
um acervo com milhares de fotografias e mais de 150 horas de gravação com mais
de 50 depoimentos de pessoas ciganas brasileiras e portuguesas, de mais de 8
cidades brasileiras, como Catalão, Goiânia, Rio de Janeiro e Brasília, além de 11
cidades portuguesas, como Lisboa, Porto, Beja, Moura, Ericeira, Figueira da
Foz, Espinho, Faro, Barreiro, Coimbra e Loures.
As
comunidades ciganas dos municípios mato-grossenses de Tangará da Serra,
Rondonópolis e Cuiabá, ocupam boa parte dos registros deste acervo audiovisual.
Neste
acervo ainda está incluído ainda umas cinco horas de gravação da peregrinação de
Santa Sara Kali, que ocorre todo ano em 24 de maio, na cidade de Saintes-Maries-De-La-Mer,
no sul da França, com registro de três depoimentos: um cigano francês-Manush,
um cigano Sinti-Italiano e um cigano Rom-Romeno.
Diva
e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã
O
primeiro resultado do projeto ocorreu em 2021/2022, quando executamos o projeto
Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã, por meio do patrocínio
da Lei Aldir Blanc, da SECEL-MT, que reconheceu a raizeira e benzedeira Maria
Divina Cabral, a Diva, como mestra da cultura mato-grossense.
O
projeto se desdobrou em três produtos transmidiáticos:
-
O I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso (23 a 25 de abril de 2021, em
Rondonópolis - MT),
-
A Exposição Multimídia Calin, que alem da mestra Diva, traz outras 30 mulheres
ciganas e pode ser acessada no link www.galeriacalin.com
-
A minissérie Diva e as Calins de Mato Grosso, em cinco episodios, que podem ser
acessados no link: https://www.youtube.com/@aeecmt7993.
Pelo
ineditismo na salvaguarda do patrimônio material e imaterial brasileiro, a
iniciativa foi uma das cinco iniciativas na categoria pessoa jurídica a vencer
o prêmio Rodrigo Mello Franco 2022 (IPHAN).
Caminhos
Ciganos – filme curta-metragem
Em
setembro de 2023 também derivado do projeto Calon Lachon ocorrerá o laçamento
do Curta-metragem Caminhos Ciganos, também patrocinado pela SECEL-MT, que
mostra um diálogo e intercâmbio cultural entre ciganos brasileiros e
portugueses.
O
projeto percorrerá um circuito de lançamento nas comunidades ciganas do
município de Tangará da Serra, Rondonópolis e Cuiabá.
II
Encontro de Mulheres Ciganas
O
II Encontro Encontro de Mulheres ciganas de Mato Grosso foi aprovado no Edital
Viver Cultura da SECEL-MT e está previsto sua realização em Cuiabá em novembro
de 2023.
Todo
trabalho receberá nova cobertura fotográfica e registro em audiovisual,
ampliando o acervo já constituído e enriquecendo-o, com enfoque na culinária
cigana.
I Oficina de Chibe: reavivando a língua Calon
O projeto de conservação da língua Romanó-Kaló, mais conhecida no
Brasil como chibe pelos ciganos do tronco étnico Calon, é outro dos
desdobramentos do projeto Calon Lachon.
Aprovado no edital Viver Cultura, também da SECEL-MT, o projeto ocorrerá
no município de Tangará da Serra e está previsto a realização de um vídeo com
foco na língua cigana.
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