segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Simpósio e mesa da 33ª Reunião da ABA debate temática cigana e Antropologia

Simpósio ocorre entre 10h e 12h (horário de Brasília) e será transmitido ao vivo pela TV ABA, no You Tube, https://www.youtube.com/c/TVABA

O Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo, participa nesta terça-feira (30.08) e quarta-feira (01.09) em duas mesas da 33ª Reunião da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

A primeira delas ocorrerá no período entre 10h às 12h (horário de Brasília) do dia 30, abrindo os Simpósios Especiais do Evento, quando o assessor para ciência da AEEC-MT participa da Sessão 1  “10 Anos das Ações Afirmativas no Brasil: Impactos e Desdobramentos na Antropologia” que integra a parte 1 do simpósio “10 anos das Ações Afirmativas no Brasil: Permanência, Continuidades e Perspectivas numa prática de uma Antropologia Antirracista”.

Coordenada pelas professoras doutoras, Sônia Beatriz dos Santos (UERJ) eSuzana Cavalheiro de Jesus (UNIPAMPA), o simpósio integra a programação o Simpósio conta com a participação de Carlos Benedito Rodrigues da Silva (NEAB-UFMA) Gersem José dos Santos Luciano (UnB). O debatedor será Debatedor(a): Guillermo Vega Sanabria (UFBA).



Já no dia primeiro de setembro, entre 17h e 19h (horário de Brasília) Aluízio integrará a Mesa Redonda 46 “Povos Ciganos, contranarrativas ciganas, produção de conhecimento e perspectivas comparadas”.

Coordenada pela professora doutora Edilma Nascimento, a mesa é composta por outros três participantes, entre eles, o Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo.

As outras duas palestrantes são a calin Marcylânia Alcântara, professora da Secretaria Municipal de Educação de Sousa (Paraíba) e a professora universitária Juliana Miranda Soares Campos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Com o tema “Defender Direitos e Fazer Antropologia em Tempos Difíceis a reunião da ABA ocorrerá de forma online no período entre 28 de agosto a 03 de setembro e traz uma programação recheada de discussões antropológicas e suas interfaces.

Inscrições e outras informações no site do evento: https://www.33rba.abant.org.br/

Ascom/AEEC-MT

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

AEEC-MT é parceira de curso de extensão em patrimônio cultural lançado pela UFMT

Gratuita, a formação ocorrerá de forma online, com início em setembro e término em dezembro. Inscrições abertas entre 22 e 29 de agosto

Política, Gestão e Inovação do Patrimônio Cultural na Amazônia Legal e Pantanal

AEEC-MT colabora com a Assessoria de Comunicação do Evento, além da participação no conteúdo programático do curso

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por meio dos Departamentos de História e de Antropologia, oferece o curso de extensão “Política, Gestão e Inovação do Patrimônio Cultural na Amazônia Legal e no Pantanal”. Realizada de forma virtual, a formação conta com 50 vagas destinadas para pesquisadores e estudantes do patrimônio cultural, organizações e lideranças de movimentos sociais e povos e comunidades tradicionais, bem como trabalhadores e gestores do campo da cultura e do patrimônio.

Interessados podem fazer a inscrição entre os dias 22 e 29 de agosto, por meio de formulário online: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSf0stAFyobFrDDiHC08_EWlEJdOnDN3il0ht74bCzuNPgPPug/viewform . As aulas ocorrerão aos sábados, entre 14h e 17h e tem previsão para começar no primeiro sábado de setembro, encerrando em 18 de dezembro.

Coordenado pelas professoras doutoras Ana Carolina da Silva Borges, do departamento de História; e Flávia Carolina da Costa, do Curso de Pós-Graduação em Antropologia Social, o curso de extensão, terá 80h e conta com a parceria do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural e Imaterial – Seção Mato Grosso, da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), da Organização Operação Amazônia Nativa (Opan) e Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).

A extensão busca construir espaços colaborativos para que os diferentes sujeitos que trabalham no âmbito da cultura e do patrimônio, possam se apropriar de ferramentas legais e normativas; desenvolvendo de maneira autônoma pesquisas, documentação e inventários de suas referências culturais, bem como instrumentalizá-los das possibilidades de conquistas envolvendo o poder público perante o reconhecimento de seus bens materiais e imateriais enquanto patrimônio cultural brasileiro.

Além disso, os encontros serão voltados para compreender a nossa diversidade cultural, formas, metodologias e instrumentos de proteção e salvaguarda do nosso patrimônio cultural. “Essa demanda é fruto de mapeamento desenvolvido pelo Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural, sobre a baixa institucionalização das políticas de preservação e a ausência de cursos em níveis de extensão, pesquisa, técnicos, graduação e especialização, voltados para formação específica nas áreas diversas de política, inovação e gestão da preservação”, explica a coordenadora, Ana Carolina.

Conteúdo

De forma multidisciplinar, o curso de extensão contará com apresentação seguida por breve apanhado histórico das populações tradicionais de Mato Grosso, realizada pela Prof. Dra. Ana Carolina da Silva Borges e outros cinco módulos, que contarão com diferentes professores. O primeiro módulo “Patrimônio Imaterial e Antropologia” ficará a cargo da Profa. Dra. Patrícia Silva Osorio, do Departamento de Antropologia da UFMT.

O segundo módulo “Comunicação, Patrimônio Imaterial e Populações Tradicionais” será realizado pelo Prof. Dr. e ativista cigano de etnia Kalon, Aluízio de Azevedo Silva Junior. Já a Prof. Dra. Flávia Carolina da Costa, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFMT e a prof. Dra. Ana Carolina da Silva Borges, trabalharão o terceiro módulo, com o tema “Comunidades quilombolas na perspectiva de Patrimônio”

Já o quarto módulo “Patrimônio Cultural, Populações Tradicionais e Políticas Indigenistas” ficará a cargo do engenheiro de pesca, especialista em gestão ambiental e ativista indigenista da OPAN, Ricardo Costa Carvalho. Encerrando o curso de extensão, o quinto módulo “Sistemas de preservação do patrimônio Cultural: instrumentos, valores, assimetrias e disputas” contará com três professores: Dr. Renato Fonseca de Arruda (FEDPCB/MT); Prof. Ms. Saulo Augusto de Moraes e Prof. Ms. Luciano Pereira da Silva (UNEMAT).

Por Aluízio de Azevedo

Da Assessoria do Curso de Extensão 

sábado, 13 de agosto de 2022

PPGECCO da UFMT cria vagas afirmativas para povos ciganos

Interessados para ingressar no mestrado ou doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea têm entre os dias 19/09 e 07/10 para realizar a inscrição

O Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (PPGECCO) incluiu os povos ciganos nas políticas afirmativas dos cursos de mestrado e doutorado ofertado na instituição.

Pioneiramente, este é o primeiro curso da UFMT a incluir as comunidades Romani nas políticas de cotas e a inclusão ocorreu após uma solicitação da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), que desde 2020 iniciou o diálogo com a UFMT para a criação de vagas afirmativas destinadas aos povos ciganos mato-grossenses e brasileiros.

No total, o PPGECCO está oferecendo 35 vagas, das quais 20% (sete) serão destinadas aos distintos públicos que podem concorrer as vagas afirmativas. Apesar dos povos ciganos não constarem oficialmente na resolução do Conselho de Ensino Superior (Consepe) nº 197/2021 que indica o público que tem direito às cotas, os povos ciganos foram incluídos por uma iniciativa do colegiado do curso do ECCO por meio da criação adicional de uma vaga.

Além dos Romani, também são elegíveis à candidatura das vagas de ações afirmativas candidatos negros autodeclarados (pretos e pardos), quilombolas, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas trans. Por sua vez, na condição de sobrevaga adicional ofertará 01 (uma) vaga para o grupo minoritário cigano/a.

Linhas de Pesquisa

As vagas para discentes regulares ingressantes no primeiro semestre de 2023 são disponibilizadas nas seguintes linhas de pesquisa: Poéticas Contemporâneas, Epistemes Contemporâneas e Comunicação e Mediações Culturais. As vagas não poderão ser transferidas entre linhas de pesquisa/área de concentração, mesmo tendo candidatos classificados.

Os cursos de mestrado (24 meses) e de doutorado (48 meses) do ECCO objetivam investigar os novos modos de fazer, de pensar e de se vincular socialmente. E é oferecido para candidatos com curso de graduação na área de Estudos Interdisciplinares e áreas afins e requer dedicação integral dos alunos para o cumprimento da programação didática, que compreende aulas teóricas e práticas, seminários, trabalhos de campo e de laboratório, desenvolvimento de pesquisas, elaboração de relatórios, exame de qualificação, elaboração e defesa de dissertação e tese.

Os candidatos a vagas de ações afirmativas são responsáveis pela leitura integral da INSTRUÇÃO NORMATIVA PROPG Nº 2, de 23 de junho de 2022, Anexo IV deste edital, e, do preenchimento do Anexo I, atentando para as especificidades dos processos de heteroidentificação e/ou verificação de candidatos para o(s) grupo(s) de ações afirmativas cujas vagas pleiteiam.

Inscrições

Podem concorrer às vagas de mestrado do PPGECCO estudantes com ensino superior completo. As inscrições ocorrem entre 19 de setembro e 07 de outubro, exclusivamente por meio de processo protocolado via Sistema Eletrônico de Informação (SEI) da UFMT.

A taxa para inscrição é de R$221,50. deverá ser efetuado em favor da Fundação Uniselva, pago exclusivamente por meio de Boleto Bancário para pagamento da taxa de inscrição e ficará disponível na página da Fundação Uniselva (http://www.fundacaouniselva.org.br/novoSite/) no menu CURSOS. Há também a possibilidade de solicitar a isenção da inscrição em processo próprio, indicado no edital de abertura das vagas.

A lista com o resultado final do Exame de Seleção, em ordem decrescente, com suas respectivas notas, será publicado até 25/11/2022 nos sites divulgado no site (https://ufmt.br/publicacoes?page=1 e www.ufmt.br/ecco). O período letivo 2023/1 iniciará em 06/03/2023.

Confira todos os documentos necessários para a inscrição baixando o edital no site do programa: https://ufmt.br/ecco/editais/

Esclarecimentos e informações acerca do Processo Seletivo devem ser feitos através do contato seminarioeccoufmt@gmail.com.

Instruções no uso do SEI

Para candidatos que estão utilizando o SEI pela primeira vez, é necessário efetuar cadastro na categoria de usuário externo pela página da UFMT (https://www.ufmt.br/site/sei/pagina/acessos-1603224167/1737). Após o cadastro, o sistema SEI enviará um e-mail com orientações para ativação do cadastro ao usuário externo solicitante.

A liberação do cadastro é realizada no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. Para agilizar a liberação do acesso, enviar cópia do e-mail com as informações solicitadas para ativação do cadastro para a Secretaria do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (seminarioeccoufmt@gmail.com).

O candidato deverá efetuar a solicitação de inscrição no SEI por meio de peticionamento com anexo dos documentos, conforme instruções contidas no Anexo V. Após efetuada a inscrição, o candidato deverá acompanhar o andamento do processo pelo número de protocolo emitido pelo SEI na página oficial da UFMT (https://www.ufmt.br/site/sei/pagina/acessos-1603224167/1737).

Imediatamente após registro da inscrição no sistema SEI, o candidato deverá encaminhar e-mail para a Secretaria do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (seminarioeccoufmt@gmail.com) informando o nome completo, nome e nível do programa de pós-graduação para o qual está se candidatando e número do processo para a confirmação da inscrição.

Será considerado somente o número do processo enviado pelo candidato por email à Secretaria do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (seminarioeccoufmt@gmail.com). No processo, deverá constar a documentação completa para análise da inscrição.

Para maiores orientações, acessar o Material de Apoio para usuários do SEI (https://www.ufmt.br/site/sei/pagina/materiais-de-apoio-1603225285/1744) e/ou contatar o Suporte para Usuários Externos do SEI pelo número +55 (65) 3313-7380.

Texto: Aluízio de Azevedo, Assessoria para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

Com Informações do Edital 

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Como os povos ciganos ajudaram a construir a identidade brasileira: ouça podcast do Jornal O Estado de Minas

 

Culinária, música e festas típicas: estudos mostram influências dos povos ciganos na construção da cultura brasileira, apesar de sofrerem apagamento histórico (foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)

Por Izabella Caixeta*, 29/07/2022 10:20 - atualizado 29/07/2022 10:25

Ouça aqui o Podcast!

O Brasil é conhecido pela sua miscigenação e as influências de vários povos que migraram para o território nacional e ajudaram a construir o que hoje reconhecemos como identidade brasileira. Enquanto algumas referências culturais são exaltadas, outras sofrem apagamento, como é o caso da cultura cigana, que ajudou a moldar aspectos da música, da dança e da culinária.

Os primeiros registros de ciganos no Brasil são de 1574, quando o cigano João Torres, sua mulher e filhos foram degredados de Portugal para o Brasil. Em Minas Gerais, a presença cigana é notada a partir de 1718, vindos da Bahia, de onde chegaram deportados de Portugal.

Atualmente existem no Brasil três grupos ciganos: os Rom, os Sinti e os Calón. Cada grupo possui língua e costumes próprios. Dentro de cada grupo ainda é possível existir subgrupos. Sendo assim, o correto é denomina-los como povos ciganos.

"Há muitos pontos comuns entre os povos ciganos que nos ligam e nos levam esse nome de cigano como genérico. Assim como os povos indígenas são chamados de indígenas, um leque de etnias, os povos ciganos são da mesma forma", explica Aluízio de Azevedo, cigano da etnia Calón, jornalista e pesquisador das comunidades ciganas.

Presença cigana na cultura brasileira

Aluízio explica que muito do que se acredita ser herança portuguesa é, na verdade, herança cigana Calón, que pode ser observada em diversos aspectos da sociedade nos dias de hoje.

Comidas muito tradicionais mineiras, como o feijão tropeiro, galinhada e as carnes secas, são típicas de culturas nômades. "A própria carne de porco, que é uma especialidade de todos os povos ciganos - não só dos ciganos Calón, aí eu amplio para todos em todos os lugares do mundo -, é uma grande especialidade. E a comida mineira tem na base dela a carne de porco em todas as formas", conta Aluízio.

Na música já foram identificadas influências ciganas na moda de viola, por exemplo, mas também no sertanejo e até mesmo no ritmo mais nacional de todos: o samba. Uma tese de doutorado do professor Samuel de Araújo comprova por meio de pesquisas, fotos, textos e relatos que os ciganos ajudaram na construção do samba.

Além disso, na dança temos o exemplo da catira, uma dança que bate as botas no ritmo da música, muito típica em Minas Geris e Goiás, muito próxima do flamenco e dança espanhola, também de origem cigana.

É possível que tenham influências dos ciganos Calón também na tradicional festa junina. Aluízio observa uma semelhança entre as Festas de Santo, muito comuns em comunidades ciganas, no casamento cigano e na festa junina. Os trajes usados na festa popular, tanto por homens quanto por mulheres - cinto, bota e chapéu para os homens e vestido rodado colorido e com fitas para as mulheres-, se parecem com roupas tradicionais da etnia Calón.

Além das comidas típicas feitas de milho e a fogueira serem pontos muito presentes em casamentos ciganos, cerimônia interpretada durante as quadrilhas juninas.

"Acredito que essas coisas foram todas apagadas ao longo da história e precisam vir à tona. Precisam ser reconhecidas. Porque nós contribuímos para história do Brasil, para a identidade nacional e nós somos invisibilizados, nos livros didáticos, dos currículos, dos livros de história. E quanto somos abordados é de uma forma preconceituosa", afirma Aluízio.

O que é ser cigano?

"Ser cigano é nascer cigano. É uma origem étnica, uma descendência, se passa de pai para filho, mãe para filho, avós para netos... não é uma coisa que você possa se tornar cigano, é uma coisa hereditária, ancestral", conta Aluízio.

"Acredito que essas coisas foram todas apagadas ao longo da história e precisam vir à tona. Precisam ser reconhecidas. Porque nós contribuímos para história do Brasil, para a identidade nacional e nós somos invisibilizados": Aluízio de Azevedo, cigano da etnia Calón, jornalista e pesquisador.

Apesar das diferenças culturais entre as tinias ciganos, com seus próprios costumes, língua e vestimentas tradicionais, existem pontos em comum para que sejam considerados cigano. Aspectos com o nomadismo, morar em barracas, semelhanças na forma tradicional de viver, na organização familiar e na valorização da família e do grupo estão presentas nas três etnias. Além disso, a perseguição, o racismo e a exclusão social também é comum a todos os povos ciganos.

Origens dos povos ciganos

Não é possível traçar a origem dos povos ciganos até sua formação, os primeiros registros datam do século 10 e em Portugal há registros do século 15. "Nós não somos povos originalmente europeus, aliás, há uma dúvida quanto a essa origem. Se seria do Egito ou se seria da Índia. A memória oral cigana fala Egito, as pesquisas acadêmicas falam Índia: talvez as duas coisas. O fato é que não são povos europeus", afirma Aluízio.

Os Calón tiveram longa permanência com a Península Ibérica, de onde vieram deportados para o Brasil durante quase 300 anos. Sendo assim, a língua Caló tem muita influência do português e do espanhol. Os povos Rom tem longa convivência com países do leste europeu, como Romênia e Croácia, e os Sinti estão mais localizados na Europa Central, como Alemanha, Itália e França.

Existe um tronco ancestral comum entre as línguas, como o latim está para o português, espanhol, italiano e francês. Mas assim como ocorre com as línguas latinas, as diferenças chegam ao ponto de serem completamente diferentes e um povo não entender a língua do outro.

O ponto em comum é que todas são línguas apenas orais, não existindo na forma escrita. Costumes, histórias e conhecimentos no geral são passados oralmente para os mais novos. Nas sociedades itinerantes e sem registros escritos, como os povos ciganos, seus próprios corpos carregam as memórias através do tempo.


Os povos ciganos e o nomadismo

Um dos pontos mais relacionados aos povos ciganos, o nomadismo, está fortemente relacionado à origem desses grupos, juntamente com a origem do preconceito e do racismo. Vários países ditaram leis proibindo "ser cigano": proibindo falar as próprias línguas, de andar em bando e expulsando dos territórios.

Aluízio conta que em Portugal, até a década de 2000, existia uma lei que proibia ciganos de fixarem um acampamento por mais de 72 horas no mesmo lugar, forçando-os a seguir adiante.

"O nomadismo foi mais uma condição social política, colocada pelos estados por onde nós passamos. Mas também, ao logo do tempo, foi tanto nos dado isso que a gente acabou incorporando isso e transformando em uma questão cultural", explica Aluízio.

Atualmente, mais de 80% dos ciganos brasileiros não são mais nômades. São itinerantes. A itinerância, diferentemente do nomadismo, tem uma rota pré-estabelecida e um mesmo ponto de partida e de chegada.

Estereótipos e preconceito

Existe um imaginário social comum de quando você fala que você é cigano as pessoas sempre colocam ciganos como perigosos, ladrões ou trapaceiros. Ou então questões ligadas ao misticismo: belas mulheres, leitura de mão ou de bolas de cristal.

Esse tem imaginário preconceituoso atravessa o racismo institucional e o próprio racismo estrutural. Hoje a maioria das comunidades ciganas estão em uma situação de exclusão social devido a essas leis persecutórias e ao imaginário negativo que ainda persiste.

"O nomadismo foi mais uma condição social política, colocada pelos estados por onde nós passamos. Mas também, ao logo do tempo, foi tanto nos dado isso que a gente acabou incorporando isso e transformando em uma questão cultural": Aluízio de Azevedo, cigano da etnia Calón, jornalista e pesquisador.

"Por eu ter uma cor mais clara e não me vestir a lá cigana no dia a dia, eu tenho uma certa passibilidade. Mas quando eu digo que sou cigano, dependendo da pessoa os olhares começam a mudar, elas se tornam mais vigilantes, vem sempre as piadinhas, as brincadeiras 'ah então lê a minha mão', ou então 'cigano é tudo rico', 'dono do ouro'. Alguma coisa espiritual também aparece", diz Aluízio.

Aluízio ainda conta que quando vai a alguma loja com a mãe ou a avó, existe uma vigilância das pessoas, como se esperassem serem roubadas, e afirma que essas situações são muito desgastantes.

"Todos os produtos simbólicos e culturais acabam reproduzindo isso de alguma forma né? Daí a importância que a mídia tem para poder combater esses estereótipos, quebrar esse racismo, mostrar que nós temos culturas valorosas, super antigas, com conhecimentos e inclusive reconhecidos como povos e comunidades tradicionais", aponta Aluízio.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM

Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/diversidade/2022/07/29/noticia-diversidade,1383156/como-os-povos-ciganos-ajudaram-a-construir-a-identidade-brasileira.shtml