sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Departamento de História da UFMT abre curso para comunicação popular em saúde para jovens ciganos

O curso consiste em oito sessões online, com especialistas e profissionais, sobre temas relativos à comunicação e saúde das comunidades ciganas

união entre o Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) promove as inscrições até 31 de janeiro do curso voltado para a comunicação popular em saúde. A iniciativa faz parte do projeto “Juventude Cigana: da invisibilidade à comunicação popular em saúde” está com inscrições abertas a partir de formulário eletrônico.  

A organização do curso está a cargo dos jornalistas e pesquisadores Aluízio de Azevedo e Gabriela Marques, do coletivo Orgulho Romani e a partir de chamada pública da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O financiamento do projeto acontece a partir do governo do Canadá, que selecionou projetos de comunicação popular em saúde. A professora Ana Carolina da Silva Borges, chefe de Departamento de História, conta que a ideia do curso surgiu a partir de parcerias.

“Conheci o Aluízio através do Fórum de Patrimônio Cultural de Mato Grosso, onde atualmente estou na presidência. A partir de várias ações que o fórum faz, principalmente voltada para a invisibilidade das populações tradicionais de Mato Grosso, a gente montou um cronograma de ações que vieram de várias frentes de atuação que tem funcionado desde a pandemia de forma bastante intensa”, explica a professora (foto abaixo). 


A professora conta que há várias áreas de conhecimento, como antropologia, história e organizações não governamentais presentes desenvolvendo ações como projetos de extensão e projetos de pesquisa. “A gente viu a necessidade de mapeamento e formação para as populações tradicionais em situação de vulnerabilidade e que também tem certa invisibilidade no âmbito social”, relata Ana Carolina da Silva Borges acrescentando que as atividades já tem visibilidade nacional.

Curso surgiu para superar desinformação sobre população cigana

O curso consiste em oito sessões online, com especialistas e profissionais, sobre temas relativos à comunicação e saúde das comunidades ciganas, partindo do olhar crítico às mídias e a desinformação em saúde. Entre 28 de fevereiro e 23 de março entram em discussão a informação e a comunicação no campo da saúde; o que é desinformação e fake news, identificando racismo e anticiganismo: discursos de ódio e violências simbólicas; uso seguro das redes: midiatização e juventude; e produção de conteúdo para redes sociais: desafios para a autorrepresentação.

“Vimos que há certa demanda sobre essas discussões e há uma certa má informação sobre a populações ciganas. Veio a parceria junto com o Departamento de História para desmontar as imagens pré-concebidas, estigmatizadas e distorcidas sobre as populações ciganas. É deixar de criminalizá-los pelo foco do combate às fake news. Temos esse propósito dentro do projeto com a formação em caráter informativo e de capacitação para que as pessoas possam manejar informações para quebrar os pré-conceitos com impacto social significativo”, pontua a professora Ana Carolina da Silva Borges.

A organização informa que participantes com pelo menos 70% de presença recebem certificado ao final da formação emitido pela UFMT. Após o encerramento do curso, será elaborado um guia online sobre produção de conteúdos em saúde para populações ciganas.

Outras parcerias estão em construção

A professora  Ana Carolina da Silva Borges pontua ainda que projetos estão em reposicionamento para 2023 como o Mapas da Vida, já desenvolvido com a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) e a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). “Novas parcerias estão em costura para 2023 como o projeto Mapas da Vida. É um projeto que é interinstitucional e interdisciplinar, já realizado com a UFR e Unemat, além de pessoas com engajamento político em Mato Grosso para o mapeamento das populações tradicionais em situação de vulnerabilidade”, relata.

A ideia consiste em um levantamento gráfico com dados quantitativos com quantidade de mortos e infectados recortando algumas cidades que tinham populações tradicionais de Mato Grosso. “A gente montou vários gráficos e temos produção de material audiovisual, com pessoas que estiveram na frente. Tinham algumas temática que a gente recortava com pandemias, queimadas, dengue e a zika para saber como as populações tradicionais montam estratégias de sobrevivência diante do descaso do poder público”, conta a professora.

Um site especialmente preparado para populações tradicionais foi o resultado do projeto. “A gente montou um site para disponibilizar os materiais e as populações tradicionais saberem como está o contexto deles e foi pedido que pós pandemia o projeto não se encerrasse por conta dos produtos audiovisuais construídos como podcasts, entrevistas e rodas de conversa em formas de aulas que são pedidos das comunidades tradicionais”, destaca sobre a parceria com a AEEC.

Disponível em: https://ufmt.br/noticias/departamento-de-historia-abre-curso-para-comunicacao-popular-1672922378#top_page 

Filme “Caminhos Ciganos” viaja no universo romani de Brasil, Portugal e França

Músicos ciganos tocam durante a peregrinação de Santa Sara Kali, em Saintes-Maries-De-La-Mer, França, reunindo ciganos do mundo todo, no dia 24 de maio, quando se comemora a padroeira cigana

Com uma linguagem cinematográfica, que inova ao apresentar cenas e cores vibrantes e uma estética romani tão íntima, que só quem é de dentro consegue captar; o curta metragem “Caminhos Ciganos” registra a longa viagem de um cineasta de etnia Calon, Aluízio de Azevedo, que ocorreu em 2017, no intuito de reconhecer e fortalecer sua identidade e ancestralidade. Aprovado no Edital Audiovisual 2021 – Cine Motion da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT), o trabalho está em fase de finalização e deve ser lançado no início do segundo semestre deste ano.

A trajetória pelo universo cigano inicia em seu microcosmo familiar, com seus tios-avós, os cunhados Eurípedes e Araxides e Stoesse, em Tangará da Serra (MT). De lá, o cineasta, percorreu milhares de quilômetros, de carro, ônibus, avião e barco, entre Brasil, Portugal e França. Mas foi na cidade, sua terra natal, que surgiu ideia de enviar recados de seus parentes, que pertencem ao tronco étnico Calon – os outros dois são os Rom e os Sinti – para os ciganos que encontrasse no caminho.

Trailler - barraco improvisado, sem água e luz, na cidade de Beja, Portugal

Com cenas completamente inéditas do universo cigano, a produção audiovisual entrelaça as sutilezas e surpresas desses encontros, a produção reconecta pessoas separadas por séculos. A exemplo dos irmãos cantores sertanejos Jefferson e Wanderley, do Acampamento Nova Canaã, em Brasília; ou das “Marias” Rosa e Amélia, da cidade de Beja, em Portugal, que apresentam os dramas e os modos de vida romani no país.

Road movie dirigido por cineasta de etnia Calon aborda culturas e identidades ciganas numa narrativa poética e intimista

Acompanhado por dois parceiros de viagem, os codiretores Rodrigo Zaiden e Karen Ferreira e partindo da técnica de câmera na mão, o trabalho é recheado de travellings, conversas coletivas e registros cotidianos de diferentes comunidades ciganas dos três países. Nada convencional, a narrativa traz reconhecimentos identitários mútuos, a r-existência na manutenção de valores e estilos de vida distintos das sociedades majoritárias, bem como o passado comum de perseguição e racismo.

“Em 2017, percorremos inúmeras cidades brasileiras, portuguesas e francesas, no intuito de conhecer outras comunidades ciganas, conviver com elas e imergir em seus cotidianos. Passamos por mais de quatro cidades no Brasil, 10 cidades em Portugal e uma cidade na França. Cruzamos e conversamos com personagens marcantes da vida romani, que encantam pela visão sabedoria e simplicidade e contam como acontecem suas relações com os não-ciganos, a hibridação e/ou a manutenção das identidades Romani”, lembra Aluízio de Azevedo.

Aluízio conversa com o Rom Kalderash, Rosan Mifalu, de Hungria, em frente à Catedral de Saintes-Maries-De-La-Mer, de onde sai a peregrinação de Santa Sara Kali

O diretor e roteirista explica que historicamente, os povos ciganos foram vítimas de políticas colonialistas/racistas, processos de invisibilização e silenciamento. Filmes, livros de literatura e estudos científicos oscilam entre representações de ódio e romantização, ora como bandidos perigosos, ora pontuando aspectos da sensualidade/sexualidade das mulheres, visões equivocadas.

“Essa realidade perpetuou imaginários negativos e impede o acesso à cidadania e serviços como educação, saúde, transporte, moradia ou trabalho formal. Assim, propomos um trabalho de autorrepresentação em todo o processo fílmico, desde a idealização, até a edição e circulação, aprofundando nos olhares ciganos, de maneira a transformar imaginários preconceituosos seculares”, enfatiza.

Saintes-Maries-De-La-Mer – Tendo por método orientador o cinema compartilhado de Jean Rouch, o filme-ensaio traz elementos identitários, como a língua, o trabalho tradicional com as vendas ou a leitura de mãos, a manutenção de manifestações culturais e tradições”, pondera o codiretor Rodrigo Zaiden, ao destacar que um dos pontos altos é a peregrinação de Santa Sara Kali.

Santa Sara Kali durante peregrinação na cidade de Saintes-Maries-De-La-Mer, em França, é acompanhada por multidão até o mar onde é banhada revivendo o mito de como chegou na cidade

“Acompanhamos a tradicional lavagem da padroeira cigana no mar mediterrâneo, junto com os amigos Florance Michel (Sinti de Itália), Rosan Mifalu (Rom de Hungria), e Monet Françoa (Manush de França), que fazem questão de comemorar anualmente. A peregrinação não é apenas uma manifestação de muita fé,  reunindo muita música e dança; elementos que os ciganos mantém em todos os territórios visitados e que brindam o público com sua originalidade”, conta Zaiden, que também atua como produtor e assistente de montagem na produção.

Como uma personagem coletiva que vai ligando personagens e territórios romani; a peregrinação de Santa Sara Kali aparecerá ao longo da narrativa com planos e sequências do ritual e dos acontecimentos profanos e musicais em seu entorno. “Abordamos o universo cigano por uma perspectiva dinâmica, cuja linha condutora são as viagens e vozes romani, que apresentam seus mundos de dentro para fora”, pontua a também codiretora e diretora de fotografia Karen Ferreira, ao enfatizar que:

“Um dos objetivos é o registro fílmico como fortalecimento das culturas e identidades ciganas, visando a quebra de estereótipos negativos. Outro é trazer novos materiais de pesquisa, por meio do diálogo intercultural promovido entre as comunidades visitadas dos diferentes países; para repensar questões relativas as estruturas sociais e a forma que a sociedade ocidental vê e (re)trata os povos ciganos”, complementa karen.

Tio Eurípedes Alves Pereira (in memorian), Tangará da Serra, tem presença marcante no documentário

Estratégia de distribuição – O projeto prevê a realização de circuito de lançamento com exibições presenciais específicas para as comunidades ciganas das quatro cidades/comunidades de Mato Grosso que participam: Tangará, Rondonópolis, Cuiabá. Também conta a criação de uma plataforma digital para divulgar informações como ficha técnica, trailer, teaser, making off, materiais de assessoria de imprensa e marketing (peças gráficas como cartaz, cartões, cards).

O site servirá ainda para ancorar redes sociais no Insta e YouTube, que serão criadas, exclusivas para divulgação do trabalho; espaço para clipagem de todo conteúdo da obra; e ao cabo de três anos de lançamento, a própria obra.

Barraca no Acampamento Nova Canaã, Rota do Cavalo, Sobradinho I, Brasília DF, que é uma das comunidades ciganas brasileiras que participam do filme

Sinopse

Os caminhos que levam ao universo romani em três países, Brasil, Portugal e França, são apresentados numa narrativa poética e intimista, inspirada na estética do premiado cineasta cigano Tony Gatlif, diretor de “Lacho Drom” (1992) e “Gadjo Dilo” (1997). Em destaque as culturas ciganas vistas de dentro, valorizando imaginários próprios. A viagem inicia com a família de um cineasta de etnia Calon em Mato Grosso; que corta o Brasil e atravessa o oceano Atlântico para reencontrar com sua ancestralidade, registrando cada comunidade, suas personagens e cotidianos marcantes, nuances de manifestações culturais, modos de vida e tradições romani, como também denúncias de exclusão e perseguição históricas.

Ficha Técnica

Pesquisa, Roteiro e Direção: Aluízio de Azevedo

Codireção: Rodrigo Zaiden e Karen Ferreira

Produção Executiva: Irandi Rodrigues Silva

Direção de Produção: Rodrigo Zaiden

Produções Local Portugal: Pimênio Ferreira

Produção Local Brasil: Fernanda Alves Caiado

Direção de Fotografia: Karen Ferreira

Fotografia complementar: Rodrigo Zaiden e Aluízio de Azevedo

Montagem: Juliana Corsino e Aluízio de Azevedo

Assistente de Montagem: Rodrigo Zaiden

Edição: Juliana Corsino

Finalização/Colorização: Isabela Padilha

Designer Gráfico e Webdesigner: André Victor

Assessoria de Comunicação e Imprensa: Aluízio de Azevedo