Com uma linguagem cinematográfica, que inova ao apresentar cenas e cores vibrantes e uma estética romani tão íntima, que só quem é de dentro consegue captar; o curta metragem “Caminhos Ciganos” registra a longa viagem de um cineasta de etnia Calon, Aluízio de Azevedo, que ocorreu em 2017, no intuito de reconhecer e fortalecer sua identidade e ancestralidade. Aprovado no Edital Audiovisual 2021 – Cine Motion da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT), o trabalho está em fase de finalização e deve ser lançado no início do segundo semestre deste ano.
A trajetória pelo
universo cigano inicia em seu microcosmo familiar, com seus tios-avós, os
cunhados Eurípedes e Araxides e Stoesse, em Tangará da Serra (MT). De lá, o
cineasta, percorreu milhares de quilômetros, de carro, ônibus, avião e barco, entre
Brasil, Portugal e França. Mas foi na cidade, sua terra natal, que surgiu ideia
de enviar recados de seus parentes, que pertencem ao tronco étnico Calon – os
outros dois são os Rom e os Sinti – para os ciganos que encontrasse no caminho.
Com cenas completamente inéditas do universo cigano, a produção audiovisual entrelaça as sutilezas e surpresas desses encontros, a produção reconecta pessoas separadas por séculos. A exemplo dos irmãos cantores sertanejos Jefferson e Wanderley, do Acampamento Nova Canaã, em Brasília; ou das “Marias” Rosa e Amélia, da cidade de Beja, em Portugal, que apresentam os dramas e os modos de vida romani no país.
Road movie dirigido por cineasta de etnia Calon aborda culturas e identidades ciganas numa narrativa poética e intimista
“Em 2017, percorremos
inúmeras cidades brasileiras, portuguesas e francesas, no intuito de conhecer
outras comunidades ciganas, conviver com elas e imergir em seus cotidianos. Passamos
por mais de quatro cidades no Brasil, 10 cidades em Portugal e uma cidade na
França. Cruzamos e conversamos com personagens marcantes da vida romani, que
encantam pela visão sabedoria e simplicidade e contam como acontecem suas
relações com os não-ciganos, a hibridação e/ou a manutenção das identidades
Romani”, lembra Aluízio de Azevedo.
O diretor e roteirista
explica que historicamente, os povos ciganos foram vítimas de políticas
colonialistas/racistas, processos de invisibilização e silenciamento. Filmes,
livros de literatura e estudos científicos oscilam entre representações de ódio
e romantização, ora como bandidos perigosos, ora pontuando aspectos da
sensualidade/sexualidade das mulheres, visões equivocadas.
“Essa realidade perpetuou
imaginários negativos e impede o acesso à cidadania e serviços como educação,
saúde, transporte, moradia ou trabalho formal. Assim, propomos um trabalho de
autorrepresentação em todo o processo fílmico, desde a idealização, até a
edição e circulação, aprofundando nos olhares ciganos, de maneira a transformar
imaginários preconceituosos seculares”, enfatiza.
Saintes-Maries-De-La-Mer – Tendo
por método orientador o cinema compartilhado de Jean Rouch, o filme-ensaio traz
elementos identitários, como a língua, o trabalho tradicional com as vendas ou
a leitura de mãos, a manutenção de manifestações culturais e tradições”,
pondera o codiretor Rodrigo Zaiden, ao destacar que um dos pontos altos é a
peregrinação de Santa Sara Kali.
“Acompanhamos a tradicional
lavagem da padroeira cigana no mar mediterrâneo, junto com os amigos Florance
Michel (Sinti de Itália), Rosan Mifalu (Rom de Hungria), e Monet Françoa (Manush
de França), que fazem questão de comemorar anualmente. A peregrinação não é
apenas uma manifestação de muita fé, reunindo
muita música e dança; elementos que os ciganos mantém em todos os territórios
visitados e que brindam o público com sua originalidade”, conta Zaiden, que
também atua como produtor e assistente de montagem na produção.
Como uma personagem
coletiva que vai ligando personagens e territórios romani; a peregrinação de
Santa Sara Kali aparecerá ao longo da narrativa com planos e sequências do
ritual e dos acontecimentos profanos e musicais em seu entorno. “Abordamos o universo
cigano por uma perspectiva dinâmica, cuja linha condutora são as viagens e
vozes romani, que apresentam seus mundos de dentro para fora”, pontua a também
codiretora e diretora de fotografia Karen Ferreira, ao enfatizar que:
“Um dos objetivos é o registro
fílmico como fortalecimento das culturas e identidades ciganas, visando a
quebra de estereótipos negativos. Outro é trazer novos materiais de pesquisa,
por meio do diálogo intercultural promovido entre as comunidades visitadas dos
diferentes países; para repensar questões relativas as estruturas sociais e a
forma que a sociedade ocidental vê e (re)trata os povos ciganos”, complementa
karen.
O site servirá ainda para
ancorar redes sociais no Insta e YouTube, que serão criadas, exclusivas para
divulgação do trabalho; espaço para clipagem de todo conteúdo da obra; e ao
cabo de três anos de lançamento, a própria obra.
Sinopse
Os caminhos que levam ao
universo romani em três países, Brasil, Portugal e França, são apresentados numa
narrativa poética e intimista, inspirada na estética do premiado cineasta
cigano Tony Gatlif, diretor de “Lacho Drom” (1992) e “Gadjo Dilo” (1997). Em
destaque as culturas ciganas vistas de dentro, valorizando imaginários
próprios. A viagem inicia com a família de um cineasta de etnia Calon
em Mato Grosso; que corta o Brasil e atravessa o oceano Atlântico para
reencontrar com sua ancestralidade, registrando cada comunidade, suas
personagens e cotidianos marcantes, nuances de manifestações culturais, modos
de vida e tradições romani, como também denúncias de exclusão e perseguição
históricas.
Ficha Técnica
Pesquisa, Roteiro e
Direção: Aluízio de Azevedo
Codireção: Rodrigo Zaiden
e Karen Ferreira
Produção Executiva:
Irandi Rodrigues Silva
Direção de Produção:
Rodrigo Zaiden
Produções Local Portugal:
Pimênio Ferreira
Produção Local Brasil:
Fernanda Alves Caiado
Direção de Fotografia:
Karen Ferreira
Fotografia complementar:
Rodrigo Zaiden e Aluízio de Azevedo
Montagem: Juliana Corsino
e Aluízio de Azevedo
Assistente de Montagem: Rodrigo
Zaiden
Edição: Juliana Corsino
Finalização/Colorização:
Isabela Padilha
Designer Gráfico e
Webdesigner: André Victor
Assessoria de Comunicação
e Imprensa: Aluízio de Azevedo
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