Vinte e quatro de maio foi escolhido pelo governo
federal, por ser o dia de Santa Sara Kali, uma das únicas ciganas consideradas
santas no mundo.
Canonizada em 1752 pela Igreja Católica, Sara Kali é
muito conhecida e cultuada junto aos ciganos católicos europeus.
Todavia é pouco conhecida entre os ciganos
brasileiros, especialmente, entre os Calon, tronco étnico romani mais antigo e
em maior número vivendo no Brasil.
Os outros dois troncos étnicos Romani são os Rom,
segundo maior número no país e os Sinti, cuja presença é minoria.
Universo étnico romani
Os Calon, também pode ser escrito Kalon seguindo a definição
antropológica, possuem um longo contato com a península ibérica, Portugal e
Espanha.
Já os grupos Rom e seus subgrupos mantiveram um longo
período de contato com países do leste europeu. Por sua vez, os Sinti com países
da europa central como Alemanha e Itália.
Também há outros grupos considerados ciganos que não
se encaixam nesses troncos. A exemplo dos Romanicheis no Reino Unido e outros
países do norte europeu; os mercheros em Espanha, os latoeiros em Portugal; os
Yenische na França; ou os Dom, do Oriente médio.
O IBGE não faz a contagem das pessoas ciganas no censo
populacional. Todavia, o governo federal desde 2012 estima que existam em torno
de 500 mil a um milhão de ciganos de todos os troncos étnicos vivendo no
Brasil.
Santa Sara
Não se sabe ao certo a origem étnica de Santa Sara. A versão mais popular diz que ela era escrava do Egito, pertencente a José de Arimatéia.
O nome "Sara" é um nome bastante comum entre as comunidades
ciganas, mesmo sendo de origem judaica. Já “kali”, na língua dos ciganos de
etnia calon é uma autodenominação para as mulheres. Ou seja, as mulheres da
etnia Calon se chamam de “calin”.
Já na língua dos grupos de origem Rom, kali significa
preta ou escura, bastante similar com o modo escrito no sânscrito e em várias
línguas indianas.
Em suas representações populares, Santa Sara tem a cor
negra. Assim, o nome kali poderia ser não apenas uma menção a sua cor, como também uma referência à sua origem
étnica no tronco Calon.
Não se sabe ao certo, a partir de quando o culto a
Santa Sara se popularizou entre os ciganos europeus.
Mas tradicionalmente, todos os anos, na semana do dia
24 de maio, milhares de ciganos de diversos países europeus e mais recentemente
do mundo, se dirigem para a cidade francesa de Saintes-Maries-De-La-Mer, no sul
do mediterrâneo.
No local, acontece uma grande peregrinação, onde uma
vez por ano, uma imagem de Sara é retirada da igreja católica local e,
acompanhada por uma multidão, é levada até o mar, onde é lavada e
simbolicamente, revive o chegar mitológico na cidade.
Conta a lenda que por serem cristãs, Sara, Maria Salomé
(mãe dos apóstolos Tiago e João), Maria Jacobina (irmã de Nossa Senhora) e
Maria Madalena teriam sido condenadas a vagar num barquinho para morrer no mar
mediterrâneo.
Graças a uma promessa feita por Sara quando estavam em
auto mar, o barco teria aportado com todas as tripulantes salvas em
Saintes-Maries-De-La-Mer (em português Santas Marias do Mar).
Santa Sara prometeu que se chegassem a salvo, usaria
um lenço sobre seus cabelos para o resto de sua vida e cumpriu sua promessa.
Em homenagem a esta passagem, a imagem da Santa na
pequena cidade francesa está sempre cheia de lenços, colocados por fiéis que
também fizeram uma promessa e foi alcançada.
Algumas lendas também dizem que Sara seria serva e
parteira de Maria, assim, Jesus a teria em alta estima por tê-lo trazido ao
mundo.
Desde o advento da internet, o culto a Sara chegou com
muita força entre os ciganos brasileiros e outros grupos espiritualistas.
Mas muitos grupos ciganos brasileiros, especialmente
os de origem Calon, permanecem desconhecendo Santa Sara e têm em Nossa Senhora
Aparecida, a sua padroeira.
Texto e fotos: Aluízio de Azevedo
Assessor para Ciência e Comunicação da
AEEC-MT
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