terça-feira, 11 de maio de 2021

Por que 24 de maio foi escolhido para ser o dia nacional dos ciganos?

Peregrinação de Santa Sara Kali em Saintes-Maries-De-La-Mer, em França, em 24 de maio de 2017. 

O dia nacional dos ciganos, a ser comemorado no Brasil em 24 de maio, foi estabelecido por meio do Decreto Presidencial 25 de maio de 2006, do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Mas você sabe porque essa data foi escolhida?

Vinte e quatro de maio foi escolhido pelo governo federal, por ser o dia de Santa Sara Kali, uma das únicas ciganas consideradas santas no mundo.

Canonizada em 1752 pela Igreja Católica, Sara Kali é muito conhecida e cultuada junto aos ciganos católicos europeus.

Todavia é pouco conhecida entre os ciganos brasileiros, especialmente, entre os Calon, tronco étnico romani mais antigo e em maior número vivendo no Brasil.

Os outros dois troncos étnicos Romani são os Rom, segundo maior número no país e os Sinti, cuja presença é minoria.

Ruas de Saintes-Maries-De-La-Mer durante a peregrinação de Santa Sara, em 24 de maio de 2017. 


Universo étnico romani

Os Calon, também pode ser escrito Kalon seguindo a definição antropológica, possuem um longo contato com a península ibérica, Portugal e Espanha.

Já os grupos Rom e seus subgrupos mantiveram um longo período de contato com países do leste europeu. Por sua vez, os Sinti com países da europa central como Alemanha e Itália.

Também há outros grupos considerados ciganos que não se encaixam nesses troncos. A exemplo dos Romanicheis no Reino Unido e outros países do norte europeu; os mercheros em Espanha, os latoeiros em Portugal; os Yenische na França; ou os Dom, do Oriente médio.

O IBGE não faz a contagem das pessoas ciganas no censo populacional. Todavia, o governo federal desde 2012 estima que existam em torno de 500 mil a um milhão de ciganos de todos os troncos étnicos vivendo no Brasil.

Santa Sara

Igreja milenar em Saintes-Maries-De-La-Mer onde é realizada a missa de Sara em 24 de maio. 

Não se sabe ao certo a origem étnica de Santa Sara. A versão mais popular diz que ela era escrava do Egito, pertencente a José de Arimatéia.

O nome "Sara" é um nome bastante comum entre as comunidades ciganas, mesmo sendo de origem judaica. Já “kali”, na língua dos ciganos de etnia calon é uma autodenominação para as mulheres. Ou seja, as mulheres da etnia Calon se chamam de “calin”.

Já na língua dos grupos de origem Rom, kali significa preta ou escura, bastante similar com o modo escrito no sânscrito e em várias línguas indianas.

Em suas representações populares, Santa Sara tem a cor negra. Assim, o nome kali poderia ser não apenas uma menção a sua cor, como também uma referência à sua origem étnica no tronco Calon.

Não se sabe ao certo, a partir de quando o culto a Santa Sara se popularizou entre os ciganos europeus.

Mas tradicionalmente, todos os anos, na semana do dia 24 de maio, milhares de ciganos de diversos países europeus e mais recentemente do mundo, se dirigem para a cidade francesa de Saintes-Maries-De-La-Mer, no sul do mediterrâneo.

No local, acontece uma grande peregrinação, onde uma vez por ano, uma imagem de Sara é retirada da igreja católica local e, acompanhada por uma multidão, é levada até o mar, onde é lavada e simbolicamente, revive o chegar mitológico na cidade.

Conta a lenda que por serem cristãs, Sara, Maria Salomé (mãe dos apóstolos Tiago e João), Maria Jacobina (irmã de Nossa Senhora) e Maria Madalena teriam sido condenadas a vagar num barquinho para morrer no mar mediterrâneo.

Grupo de música cigana nas ruas de Saintes-Maries durante a festa de Santa Sara. A festa é também um modo de reencontro familiar, casamentos, batizados etc

Graças a uma promessa feita por Sara quando estavam em auto mar, o barco teria aportado com todas as tripulantes salvas em Saintes-Maries-De-La-Mer (em português Santas Marias do Mar).

Santa Sara prometeu que se chegassem a salvo, usaria um lenço sobre seus cabelos para o resto de sua vida e cumpriu sua promessa.

Em homenagem a esta passagem, a imagem da Santa na pequena cidade francesa está sempre cheia de lenços, colocados por fiéis que também fizeram uma promessa e foi alcançada.

Algumas lendas também dizem que Sara seria serva e parteira de Maria, assim, Jesus a teria em alta estima por tê-lo trazido ao mundo.

Desde o advento da internet, o culto a Sara chegou com muita força entre os ciganos brasileiros e outros grupos espiritualistas.

Mas muitos grupos ciganos brasileiros, especialmente os de origem Calon, permanecem desconhecendo Santa Sara e têm em Nossa Senhora Aparecida, a sua padroeira.

Texto e fotos: Aluízio de Azevedo

Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

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