terça-feira, 11 de novembro de 2025

Ciganas de MT marcam presença na COP30

Jéssika Leme e Rafaela Sacramento, representantes da AEEC-MT, participarão de painel no Círculo dos Povos no dia 14/11, às 18h05. Foto: Maria Clara Aquino

Duas jovens ciganas de etnia Calon de Mato Grosso, Jéssika Lorrayne Alves Cabral Lima Leme, de Rondonópolis e Rafaela Caiado Sacramento, de Cuiabá, participarão da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá entre os dias 11 e 21, em Belém do Pará (PA).

Jéssika, que é vice-presidente da AEEC-MT e Rafaela, que atua na coordenação de juventude da instituição, fazem parte da nova geração de lideranças ciganas no Estado. As duas representarão os povos ciganos mato-grossenses na maior conferência mundial para debater as emergências climáticas e questões ambientais.

Elas viajam no dia 11 de novembro e permanecem em Belém até o dia 17. Ambas já têm participação confirmada em um painel do Círculo dos Povos na Zona Verde (Green Zone), organizado pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR).

Jéssika e Rafaela vão integrar o painel “Mobilidade, territorialidade e Justiça Climática para os povos ciganos no Brasil”, que ocorre no dia 14 de novembro, entre 18h05 e 18h55. O painel também contará com representante da Associação Ciganos Itinerantes do Rio Grande do Sul (ACIRGS).

As duas representantes da AEEC-MT na COP30 participam do evento por meio do patrocínio da chamada Mulheres Liderando Ações Climáticas do Fundo Casa Socioambiental 2024.

A Chamada do Fundo Casa patrocinou também a realização do III Encontro de Mulheres Ciganas de MT, que ocorreu entre os dias 23 e 24 de maio deste ano, no município de Tangará da Serra, reunindo em torno de 80 mulheres ciganas, das quais duas eram convidadas de outros Estados.

Segundo a vice-presidente da AEEC-MT, Jéssika Leme, a participação no evento será muito importante para colocar os povos ciganos na discussão acerca de questões que atravessam as injustiças climáticas, a exemplo do racismo contra as pessoas Calon, Rom ou Sini. 

“A minha participação na COP30, primeiramente é de aprendizado, contato com outras lideranças, organizações sociais e representantes de governos, para buscar dessas experiências conhecimento e melhorias e trazer  para minha comunidade e nosso meio em Mato Grosso. Queremos também levar nossas culturas, tradições, memórias e histórias, marcando presença e demonstrando que existimos e resistimos.”, pondera.

Vice-presidente da AEEC-MT, Jéssika Lorrayne Leme é também representante dos povos ciganos no Conselho Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais de MT (CEPCT/MT)

Jéssika acredita que uma discussão importante a se fazer é a relação dos povos ciganos de Mato Grosso e o bioma do cerrado. 

“As pessoas ciganas não são responsáveis pelo desmatamento, pelas grandes poluições ambientais. Mas inversamente, somos os que mais sofremos com os impactos causados por essa devastação. Os povos ciganos possuem identidades intimamente ligadas com o meio ambiente, que vivem e sobrevivem pela natureza, por exemplo, por meio dos artesanatos ou da medicina tradicional, atividades que boa parte da matéria prima do cerrado, como as ervas e raízes. Se o cerrado se acabar, acaba também nossa medicina tradicional”, explica a vice-presidente da AEEC-MT.

Para Rafaela Sacramento, a participação no evento vai servir para demonstrar que os povos ciganos têm uma relação intrínseca com a natureza. 

“As minhas expectativas em participar da COP30, um evento desta proporção, é entender mais sobre as relações entre meio ambiente, justiça climática e os direitos dos povos ciganos, entendendo como as mudanças ambientais afetam diretamente nossas formas de vida, nossas identidades e culturas. Também quero contribuir para ampliar a visibilidade dessas comunidades, que historicamente a gente sempre sofreu com racismo ambiental, exclusão social e a falta de acesso direitos básicos, como água, moradia e educação.

Neste contexto, de desigualdades ambientais e sociais das pessoas ciganas no Brasil e no mundo de hoje, a coordenadora de juventude da AEEC-MT acredita que pode ser uma ocasião para expressar as demandas por direitos e políticas públicas específicas. 

“Espero defender os nossos direitos ambientais, levando adiante a importância de políticas públicas que garantem não só a preservação ambiental, mas também a dignidade e reconhecimento dos saberes e tradições ciganas. Acredito que a educação ambiental é um caminho para promover esse diálogo intercultural e fortalecer a resistência romani e assim a gente construir um conhecimento mais justo, emancipador e humano”, conclui.

Rafaela Sacramento participa da coordenação de Juventude da AEEC/MT.

Pavilhão do Círculo dos Povos na COP30

Composto pelos Ministérios dos Povos Indígenas (MPI), Ministério da Igualdade Racial, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o Círculo dos Povos contará com espaço exclusivo na Zona Verde, durante a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorre em Belém-PA, de 10 a 21 de novembro.

Presidido pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, o Círculo dos Povos visa ampliar a capacidade de escuta de demandas e contribuições de povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, afrodescendentes e agricultura familiar junto à Presidência da COP30.

O espaço é formado pela Comissão Internacional Indígena, também sob a liderança da ministra Sonia Guajajara, e pela Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultura Familiar, coordenada pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

A programação conta com uma série de atividades para debater a vivência e experiências como caminhos para a busca de soluções no combate à emergência climática global.

Confira a programação no seguinte link: https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/confira-a-programacao-do-pavilhao-do-circulo-dos-povos-na-cop30

TEXTO: ALUÍZIO DE AZEVEDO, COM ASSESSORIA DO MIR

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