No próximo dia 24 de maio comemoramos no Brasil o Dia Nacional dos Povos Ciganos. Para comemorar a data, que foi estabelecida por meio do Decreto presidencial de 25 de maio de 2006, a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) lançará a minissérie “Diva e as Calins de Mato Grosso”.
O primeiro episódio traz a história de vida da Mestra da Cultura Mato-grossense, a raizeira e benzedeira de etnia Calon, Maria Divina Cabral, a Diva. A estreia está programada para ocorrer às 14h da próxima quinta-feira (14.05), no seguinte link: https://youtu.be/atq6-dEt_XY
Durante cada semana de maio lançaremos um dos cinco episódios da minissérie no canal do YouTube da AEEC-MT, que pode ser acessado no seguinte link: https://www.youtube.com/@aeecmt7993.
A série, que integra o projeto “Diva e as calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, traz a força, a beleza e a sabedoria de cinco mulheres ciganas, que tanto estruturam suas famílias e comunidades, quanto fazem a diferença na realidade social do Estado e do país.
Tradição e identidade
Cada episódio da série enfoca na
história de vida de uma mulher cigana que vive em MT. O primeiro traz a
história de Diva e os outros quatro são compostos por uma tia, Venerana
Rodrigues (Tangará da Serra, episódio 5) e três primas: Terezinha Alves (Cuiabá
– Episódio 2), Nilva Rodrigues (Rondonópolis, episódio 3) e Irandi Rodrigues
(Tangará e Cuiabá – Episódio 4).
“Assim como a raizeira, consideramos que essas outras quatro lideranças, são mestras da cultura cigana. É que os saberes femininos e elementos das identidades ciganas se ramificam em inúmeros outros elementos culturais, a exemplo da união familiar, da liderança política, da língua e da filosofia de vida”, explica o diretor e roteirista, Aluízio de Azevedo.
Segundo o codiretor e diretor de arte, Rodrigo Zaiden, “Diva e as Calins de MT”
aborda aspectos que tangem a circularidade do tempo. “A vida rural e nômade nas
barracas, mais próxima à natureza, por exemplo, no passado; os modos de
organização social nas cidades e cosmovisão que se hibridizam ou confrontam ao
estilo de vida das sociedades mato-grossense/brasileira nos dias de hoje; ou
ainda a visão que as mulheres Calins (modo como as mulheres do tronco étnico
Calon se autodenominam) almejam conquistar e/ou conservar como traços
identitários e culturais no futuro”, pondera.
Para a diretora de fotografia e codiretora, Karen Ferreira, a série busca suprir uma lacuna de representação artística no campo do audiovisual acerca dos povos ciganos, que historicamente foram ou invisibilizados e silenciados, ou sofreram inúmeras violências físicas e simbólicas, como a construção de estereótipos extremamente negativos ou exclusão social. Mas que mesmo assim, resistiram como identidade e culturas de resistência.
“Um dos maiores desafios da obra foi retratar as mulheres ciganas a partir do modo como elas queriam ser vistas. Outro desafio, em sua opinião, "foi romper com preconceitos e estereótipos existentes no imaginário social sobre as mulheres ciganas”. A diretora de fotografia lembra que "a proposta nasceu dentro da própria comunidade, buscando romper com paradigmas racistas e machistas, a partir de um material transmidiático, baseado em múltiplas linguagens, mas, sobretudo, ancorado no diálogo com as participantes e nos modos como elas queriam ser representadas”.
Realizado por meio da Lei Aldir Blanc, da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (SECEL-MT), o projeto premiou a raizeira e benzedeira Maria Divina Cabral, a Diva, como mestra da cultura mato-grossense.
Além da minissérie, o projeto contou também com o I Encontro de Mulheres Ciganas, que ocorreu em Rondonópolis em 2021; e a Exposição Multimídia Calin, que trouxe 30 mulheres ciganas residentes nas cidades de Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra e pode ser acessada no link www.galeriacalin.com.
Saberes e Re-existências
O primeiro episódio (Card abaixo) adentra ao universo romani trazendo como foco a história da Mestra Diva, que nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca, num acampamento na cidade de Mineiros (GO). Filha de Lázaro Alves Pereira e Lourdes Rodrigues Pereira, casou-se dentro da tradição cigana, com o seu primo (filho da irmã do pai), Jair Alves Cabral, construindo e mantendo um profundo conhecimento da filosofia Calon e seu sistema de ação e organização sociocultural.
A mestra viveu boa parte de sua vida nos lombos dos cavalos, trafegando pelos Estados da região Centro-oeste, até fixar residência com a família e parte de sua comunidade no município de Rondonópolis (a 210 km ao sul de Cuiabá), onde se concentra a maior comunidade cigana de MT – 150 pessoas. Atualmente, a calin mora em uma modesta residência de apenas três cômodos, na Vila Poroxo e ajuda a todos que chega com rezas, benzeções, aconselhamentos e remédios naturais. O principal deles é garrafada, composta por diversidade de raízes do cerrado, indicada para várias enfermidades.
O segundo episódio (Card acima) traz as narrativas da assistente social Terezinha Alves (Cuiabá). Prima de Diva, também nascida em uma barraca, ela foi a primeira calin em MT a cursar o ensino superior, graduando-se em serviço social na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Uma das fundadoras e diretora de mobilização da AEEC-MT, Terezinha atualmente representa os povos ciganos como conselheira do Conselho Nacional de Igualdade Racial (CNPIR), bem como no Comitê Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais de Mato Grosso (CEPCT-MT).
O terceiro episódio (Card acima) aborda a história da ativista e negociante, Nilva Rodrigues Cunha, que reside em Rondonópolis. Prima-irmã de Diva; ela é diretora de mulheres da AEEC-MT, é ativista política há mais de 30 anos e uma das principais mantenedoras da tradição cigana no aspecto dos trajes tradicionais femininos. Nilva domina a língua cigana e é uma contadora de histórias natas, transformando-se numa referência de luta e articulação política dentro e fora da comunidade cigana mato-grossense.
O quarto episódio (Card acima) enfoca nas memórias da professora aposentada, Irandi Rodrigues Silva (Cuiabá-Tangará da Serra), exemplo de superação de todas as barreiras da exclusão e dos estereótipos acerca das mulheres ciganas. Prima-irmã de Diva, Irandi aprendeu a ler e a escrever o nome aos 8 anos, com um graveto no chão, após uma moça não cigana casar-se com o seu tio acompanhar o grupo e ensiná-la. O primeiro contato com lápis e caderno foi aos 13 anos, quando o pai contratou essa tia para ensiná-la e os seis irmãos o básico da escrita em casa. Após casar-se estudou, graduou-se e trabalhou 25 anos alfabetizando numa escola estadual.
O quinto e último episódio (Card acima) traz a história de vida da agricultora Venerana Rodrigues Pereira (Tangará da Serra). Tia de Diva, Tia Nerana, como é mais conhecida, é casada com Eurípedes Alves Pereira, é uma das mais respeitadas matriarcas calin em MT. Reconhecida pela amorosidade, pela generosidade e as mãos boas para as plantas, tia Nerana fala sobre como era a vida das mulheres ciganas no passado e como elas atualmente, conseguem estudar e se empregam no mercado de trabalho formal.
Ineditismo e reconhecimento nacional pelo IPHAN
Pelo ineditismo no reconhecimento e na conservação
do patrimônio imaterial brasileiro e da diversidade cultural nacional, a
iniciativa e seus produtos transmídias, incluindo a série, foi uma das cinco
vencedoras do prêmio Rodrigo Mello Franco / 2033, concedido pelo IPHAN.
“Ter este reconhecimento de que estamos fazendo preservação do patrimônio
cultural brasileiro, no primeiro projeto que executamos com recursos
públicos, nos encheu de orgulho em sermos ciganos e ciganas e mantermos nossas
raízes e costumes”, emociona-se a presidente da AEEC-MT e produtora executiva
da série, Fernanda Alves Caiado.
Para ela, o diferencial do projeto “foi unir arte,
tecnologia e tradição para registrar e
fortalecer conhecimentos ciganos, que são transmitidos de forma oral e
centrados nas mulheres, por meio de uma interlocução com Diva e suas parentas
que vivem em três municípios: Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra”.
Ficha Técnica
Realização: Lei Aldir Blanc,
SECEL-MT
Apresentação: Associação Estadual
das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT)
Direção Geral: Aluízio de Azevedo
Codireção: Rodrigo Zaiden e Karen
Ferreira
Roteiro e Pesquisa: Aluízio de
Azevedo
Produção Executiva: Fernanda
Alves Caiado e Lucélia Márcia Pereira de Lima
Assistente de Produção Executiva:
Jéssika Lorraine
Produção: Kaiardon Produções
Produções locais: Nilva
Rodrigues, Suiany Pereira, Rosana Cristina Alves de Matos, Audelena Dias Cabral
Direção de Fotografia: Karen
Ferreira
Direção de Arte: Rodrigo Zaiden
Direção de Programação: Terezinha
Alves
Edição: Juliana Corso
Montagem: Aluízio de Azevedo e
Juliana Corso
Trilha Sonora Original: Aline
Miklos e Arian Houschmand
Finalização e Colorização:
Isabela Padilha
Assessoria de Comunicação:
Aluízio de Azevedo
Lay out e Identidade Visual:
Vicente Albuquerque de Maranhão
Assistente de arte e
caracterização: Alisson Rangel
Som Direto e Desenho de som:
Manoel Neto
Parceria musical: projeto
Kalo Chiriklo / Banda Pájaro Negro: Ramajana, Canto Del Gitano, Clavo Santo,
Fantasía e Vanushka
Contabilidade: Adriana Rodrigues
Angola
Texto: Assessoria para Ciência e Comunicação da
AEEC-MT
Fotos: Karen Ferreira
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