sábado, 5 de abril de 2025

08 de Abril Dia Internacional dos Povos Ciganos

Foto: Acervo AEEC-MT. Etnia Calon. Minas Gerais (MG). 

Em 8 de abril, o mundo celebra (ou ao menos deveria celebrar!) os ritmos ancestrais e o sangue que pulsam em nossas veias: celebramos, não com palavras fáceis, mas com a força indomável dos nossos antigos, o Dia Internacional dos Povos Ciganos. A data foi criada no Primeiro Congresso Mundial Romani, em Londres, ocorrido no ano de 1971, ocasião em que se reuniram representantes ciganas e ciganos de vários países europeus.

A data chegou ao Brasil a partir da década de 1990, mas ganhou projeção somente nos últimos 15 a 20 anos, após uma organização maior do próprio movimento social brasileiro. Movimento este, que em 2006, alcançou inclusive a criação de um Dia Nacional dos Povos Cignos, celebrado a todo dia 24 de maio. Sabemos que as datas comemorativas por si só não resolvem os problemas e as exclusões.

Contudo, são momentos importantes, que marcam não apenas o reconhecimento às contribuições das culturas e povos ciganos ao mundo e ao Brasil, no caso do Dia Nacional. São uma oportunidade para reforçar as lutas, mas também para Celebração!

Uma celebração da resiliência e re-existência dos nossos mais velhos e velhas, que esculpiram nossas histórias e culturas vibrantes, colorindo as jornadas diaspóricas e nos impulsionando a desbravar horizontes, sempre caminhando e seguindo em frente, mesmo diante das maiores adversidades e opressões, sem deixar nos perder enquanto povos.

Saudamos as Calin e os Calon, com a música que brota da alma, incendiando paixões e libertando o corpo em danças que desafiam as leis da gravidade. Aclamamos nossas mulheres e homens, jovens e crianças, velhos e velhas, que pintam o ar com a paleta de suas emoções. Em cada giro, uma memória e em cada acorde um valor ancestral, que modelam nossas vidas e sentimentos e são a base das lutas que travamos em prol dos nossos direitos e cidadania.

Reverenciamos os Rom, com a força silenciosa que molda o metal em poesia, transformando a matéria bruta em obras que transcendem o tempo. Suas mãos, ferramenta de criação, constroem um legado de beleza e utilidade, mas também de alegria e sensibilidade, nos circos e espetáculos teatrais.

Honramos os Sinti, que guardam ensinamentos e sabedorias milenares, ecoando através dos séculos, sussurrada ao vento em histórias que encantam e ensinam. Seus costumes florescem como uma mandala viva de cores e formas, revelando a beleza e o sorriso que reside em cada detalhe da vida.

Arte de Aluízio de Azevedo. Título: Bandeira Cigana Revisitada.

Neste dia, celebramos a diversidade que nos enriquece, a miríade de etnias que compõem as nações ciganas. Celebramos a unidade que nos fortalece, a chama das identidades Romanis que ardem em cada coração, alimentadas pelas músicas que nos unem, pelas danças que nos libertam, pelas línguas que nos conectam, pelas artes que nos expressam. Celebramos a beleza e honramos as dores dos nossos antigos, que moldaram nossas histórias, a resiliência que nos permitiu sobreviver e florescer.

Celebramos este dia com a força da verdade, lembrando a importância em reconhecermos, respeitarmos e valorizarmos as culturas ciganas em sua totalidade. Que os espíritos itinerantes dos nossos ancestrais continuem a nos inspirar e impulsionar, como um chamado para a luta e o orgulho em sermos ciganas e ciganos, conservando nossas tradições, costumes e manifestações culturais próprias.

Que neste 08 dia Abril possamos gritar contra os estereótipos e desfiramos um golpe certeiro contra o preconceito e o racismo. Que este dia seja um convite para construir um mundo onde a diversidade não seja somente tolerada, mas, principalmente, celebrada, reconhecida e incentivada. Um mundo novo de paz e em que a liberdade não seja um privilégio, mas um direito inalienável de todos os seres vivos.

Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT)

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Curitiba ganha museu virtual que resgata a memória dos povos ciganos

Acervo Museu: 

Redação Bem Paraná com assessoria 01/04/2025 às 09:51

Curitiba ganha um novo museu no dia 8 de abril, o Dia Internacional dos Povos Ciganos. Nesta data será inaugurado o primeiro Museu Virtual de Memórias da Imigração Cigana na capital, o Museu Romanô Curitiba. O projeto, pioneiro no Brasil quando o assunto é registro dessa cultura, foi idealizado pela cigana Hayanne Iovanovitchi, neta de Cláudio Iovanovitchi, que faleceu na última semana, no dia 28 de março. Cláudio era um grande nome na luta pela preservação dos povos ciganos, representante da Associação de Preservação da Cultura Cigana (APRECI) e o Museu era um grande sonho. 

“Esse museu foi construído pelas mãos do meu avô, em cada detalhe, cada história e cada lembrança. Dois dias antes de ele falecer inesperadamente, ele fez a aprovação final do projeto, e ele estava animado com o lançamento. Agora, estamos lutando para que ainda mais a cultura cigana e, sobretudo a trajetória dele, seja valorizada”, lamenta a neta e executora do Museu, Hayanne.

O projeto, que vinha sendo pensado há mais de um ano, foi viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e tem curadoria de Neiva Camargo Iovanovitchi e conta com o patrocínio da PESA-Cat – Paraná Equipamentos S.A.

O Museu Virtual de Memórias da Imigração Cigana em Curitiba, que teve um investimento de cerca de R$ 80 mil, surge como uma iniciativa inovadora para registrar e preservar a história da comunidade cigana no estado, que tradicionalmente se baseia na oralidade e que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil chega a quase 1 milhão de pessoas.

“A nossa história, quando registrada, foi muitas vezes contada por não ciganos, carregada de estereótipos e fantasias. Com o Museu, finalmente temos a chance de narrar nossa trajetória com nossa própria voz, sem distorções. Era esse o desejo do meu avô, trazer protagonismo para os povos ciganos e, sobretudo, entender que o povo de Curitiba também é formado por essas culturas”, afirma Hayanne.

O acervo, disponibilizado de forma 100% online, é estimado em cerca de 180 peças e reúne documentos históricos, fotografias, vídeos e relatos exclusivos, incluindo materiais inéditos sobre a chegada dos ciganos da etnia Rom ao Paraná. A curadoria foi conduzida com base na pesquisa de Cláudio, neto de Duchan Iovanovitch – cigano que chegou da Iugoslávia em terras paranaenses em 1926.

Por muitos anos, Cláudio conservou e resgatou a história da família a partir de documentos herdados de seus avós. “A vida do meu avô foi dedicada em valorizar o nosso povo, e apesar da tristeza, temos certeza que será um momento inclusive, de celebrar a sua vida”, diz Hayanne. O Museu Virtual contará com recursos de acessibilidade e registros audiovisuais para proporcionar uma experiência inclusiva e interativa.

A inauguração oficial acontecerá no dia 08 de abril no Museu Paranaense, a partir das 19h, em um evento aberto ao público e que contará com uma roda de conversa sobre o processo de criação do museu e exposição de algumas peças físicas do acervo. A cerimônia, que seria conduzida por Cláudio, terá a participação da antropóloga do Museu Paranaense Josi Spenassatto, da proponente do projeto Hay Iovanovitchi, além de autoridades convidadas do governo estadual e federal. “Para nós, povos ciganos, vai ser um momento de homenagear meu avô e o legado que ele deixou. Ainda, vai ser um momento de fortalecer ainda mais a necessidade de valorizar a cultura cigana”, celebra Hayanne. 

O projeto busca ampliar o conhecimento sobre a cultura cigana e combater preconceitos por meio da preservação da memória e do acesso à informação verídica. Além do público em geral, o museu pretende engajar pesquisadores, estudantes, professores e agentes públicos que trabalham com os direitos dos povos ciganos. “Nossa ideia é mostrar ao público uma nova perspectiva dos povos ciganos e das nossas histórias. Tenho certeza que o Museu Romanô trará uma contribuição significativa para a cultura do estado”, finaliza a idealizadora do projeto.

Sobre Hayanne Iovanovitchi
Cigana de etnia Rom, Hayanne Iovanovitchi é trineta de Duchan Iovanovitch e pertence à quinta geração da Família Iovanovitchi em Curitiba. Bacharel em Direito, atriz e produtora cultural, é idealizadora do Coletivo de Mulheres Ciganas do Brasil e membro do Coletivo Ciganagens.

Sobre Cláudio Iovanovitchi (in memoriam)

Cláudio Iovanovitchi era importante liderança cigana Rom, fundador da Associação de Preservação da Cultura Cigana no Paraná (APRECI/PR) e defensor incansável da valorização das tradições ciganas. Cláudio também integrava o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e atuava como vice-presidente do Sindicato dos Produtores Culturais do Estado do Paraná. Natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba desde a década de 1970, Cláudio desenvolveu uma forte relação com o teatro e a pesquisa histórica. Deixa um legado importante para a preservação e difusão da cultura cigana no Brasil.

Serviço:
Evento de lançamento do Museu Romanô de Curitiba
Data: 08/04/2025
Horário: 19h
Local: Museu Paranaense – R. Kellers, 289 – São Francisco, Curitiba – PR

https://www.museuromanocuritiba.com/

Disponível em: https://www.bemparana.com.br/noticias/parana/curitiba-ganha-museu-virtual-que-resgata-a-memoria-do-povo-cigano/