terça-feira, 23 de setembro de 2025

Ciganos acampam na Galeria Lava Pés

 
Exposição MT Solo Cigano inaugura nesta sexta (26.09) em Cuiabá e estará aberta à visitação pública de 2ª a 6ª, em horário comercial, pelos próximos 30 dias

A partir desta sexta-feira (26.09) os povos ciganos acampam na Galeria Lava Pés, em Cuiabá, de onde só levantarão acampamento no dia 25 de outubro. Mantido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT) e localizado na sede da pasta, o espaço cultural recebe a Exposição “MT Solo Cigano”.

Prevista para ocorrer às 19h, a cerimônia de lançamento prevê a participação de 100 convidados ciganos e não-ciganos. Realizada pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), a exposição teve como proponente sua Secretária, Irandi Rodrigues Silva e foi idealizada pelos diretores de arte e cultura da instituição, Aluízio de Azevedo e Rodrigo Zaiden, com produção executiva de Rosana Cristina Alves de Matos Cruz e Fernanda Caiado.

Em exibição pública de 2ª a 6ª feira no horário comercial durante 30 dias, a exposição é financiada com recursos do edital Viver Cultura Identidades – Edição Paulo Gustavo, da Secel/MT (2023).

Por meio de múltiplos suportes e linguagens, como fotografia, audiovisual, artes plásticas (pintura e instalações) e literatura, MT é Solo Cigano apresenta o universo cigano ancorada no movimento ciganofuturista.  “O conceito pensa o futuro dos povos ciganos olhando para os modos como vivemos hoje, no presente, mas, fundamentalmente, valorizando o passado de nossas próprias ancestralidades, raizes e rizomas culturais, para projetar futuros de inclusão social e fim do anticiganismo, isto é, o racismo estrutural contra pessoas das etnias Calon, Rom e Sinti”, explica Aluízio de Azevedo.

De acordo com o diretor de Cultura da AEEC, Rodrigo Zaiden, a exposição transporta o futuro cigano imaginado nas palmas e nas mãos dos/as artistas ciganos/as convidados/as, que traduzem vivências, sonhos e sentimentos em telas, fotografias, videoartes e poemas. “A proposta é mostrar que o céu do Brasil tem mais estrelas que as 27 expressas no azul da bandeira nacional – os povos ciganos são nações dentro de uma nação brasileira”, enfatiza Zaiden, que assina o projeto expográfico e realiza curadoria da MT Solo Cigano.

Sob produção da Kaiardon Produções, MT Solo Cigano conta com o apoio do grupo Rosa do Infinito, do Comitê de Cultura do Ministério da Cultura em MT, da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES/MT), da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc/MT), da Artes & Vidro e do deputado estadual Valdir Barranco.

A matriarca Venerana Rodrigues Cunha Pereira e sua neta Lara, em Tangará da Serra - MT. Foto: Karen Ferreira

Fim do Anticiganismo - Conforme a professora aposentada, curadora e proponente da exposição, Irandi Rodrigues Silva, o trabalho visa divulgar as culturas e tradições ciganas, aproximando o universo “gajon” (não-cigano) das pessoas ciganas.

“Pensamos e concretizamos a existência do futuro cigano sem estereótipos, preconceitos, discriminações e racismo, com todos os direitos reconhecidos, inclusive os de reparação histórica e cidadania plena. Trazer esse universo de forma tão íntima ao público não-cigano, reforça a antiguidade da nossa presença em território mato-grossense, que começou no início do século passado e floresceu ao longo do tempo”, reforça Irandi.

“Entre as mil famílias que moravam em Tangará da Serra e que votaram para a emancipação do então distrito de Barra do Bugres, no ano de 1976, estavam 10 famílias Calons, liderados à época pelo meu avô Anésio Rodrigues Cunha e o meu pai Ranulfo Rodrigues Cunha”, revela a proponente do projeto. Quase 50 anos depois da emancipação de Tangará, a comunidade Calon na cidade conta com mais de 100 pessoas.

A professora e pedagoga Irandi Rodrigues Silva é proponente da exposição e secretária da AEEC-MT. Foto: Karen Ferreira

Segunda mulher cigana a cursar ensino superior em Mato Grosso, a produtora de etnia Calon lembra que o pai contribuiu financeiramente para a construção de estruturas importantes na cidade, como a Igreja Matriz e a primeira antena de televisão, além de ter implantado a primeira empresa de transporte coletivo dentro do município.

“Há mais de 100 anos contribuímos para o enriquecimento da sociedade, da cultura e da economia do estado. Contudo, essas contribuições foram invisibilizadas na história oficial e silenciadas pelo poder público, que aplicou um racismo estrutural violento contra as pessoas ciganas. Assim, a exposição é mais uma ação da AEEC para superar esse silenciamento para mostrar que estamos vivos e fazemos parte da cultura mato-grossense e da nação brasileira”, finaliza Irandi.

Para a presidente da AEEC-MT e produtora executiva da exposição, Rosana Cristina Alves de Matos Cruz, outro objetivo do projeto é valorizar e conservar as tradições e manifestações culturais ciganas, bem como fortalecer aos mestres e artistas ciganos.

“Explicitamos muito fortemente que o solo mato-grossense é formado pelos territórios simbólicos da ancestralidade cigana, por nossas tradições, saberes, histórias, narrativas, memórias e manifestações, que além de riquíssimas, são diversas entre os três troncos étnicos ciganos brasileiros, os Calon, os Rom e os Sinti. Valorizar e conservar o patrimônio cultural dos povos ciganos é também valorizar e conservar a diversidade cultural brasileira”, reforça Rosana.

Mulheres ciganas durante o III Encontro de Mulheres Ciganas de MT, em Tangará da Serra (2025). Foto: Maria Clara Aquino

Ciganos em MT – Não é possível afirmar com precisão o número de pessoas e comunidades ciganas em MT ou no país, pois o IBGE não contabiliza pessoas Calon, Rom e Sinti no censo populacional. Entretanto, levantamento realizado pela AEEC/MT, em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), evidenciou a presença de aproximadamente 1,5 mil pessoas ciganas vivendo por cerca de 15 municípios.

O Estado também é rota de várias famílias itinerantes vindas de outros Estados das regiões centro-oeste, sul, sudeste e nordeste. A presença dos ciganos em Mato Grosso se deu primeiro com as itinerâncias históricas, advindos de rotas que tinham início em Minas Gerais, passando por Goiás até chegar no Estado.

As primeiras viagens se deram provavelmente no final do século XIX e início do século XX, quando abasteciam o mercado das cidades históricas de MT, trazendo produtos diversos como os cavalos e equinos, no caso dos Calon, ou panelas e utensílios de cobre, no caso dos Rom-Kalderash, mas também outros produtos, como artesanatos, enxovais, cosméticos, remédios naturais etc. Ou então, com os circos, parques e teatros mambembes, que em boa parte, são formados por famílias ciganas.

A partir do final década de 1960, início de 70, houve a fixação de famílias de etnia Calon em cidades como Rondonópolis, Cuiabá e Tangará da Serra, municípios hoje com as maiores comunidades ciganas do Estado.

Os primeiros ciganos a chegarem em MT vieram de Minas Gerais. Foto: Arquivo AEEC-MT

SERVIÇO

- O que: Lançamento da Exposição MT Solo Cigano

- Quando: 26/09 (Sexta-feira)

- Horário: 19h

- Local: Galeria Lava Pés – Sede da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel/MT), localizada à Av. Jose Monteiro de Figueiredo, 510 - Duque de Caxias, Cuiabá – MT.

- Período de Visitação Pública: 29/09 a 25/10, em horário comercial (08h às 17h)

A Tela Vaso de Serpente, do multiartista Aluízio de Azevedo, é uma das peças a compor a exposição.

Ficha Técnica

- Realização: Associação Estadual das Etnias Ciganas (AEEC/MT) e Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel/MT), por meio do Edital Viver Cultura – Identidades – Edição LPG.

- Proponente: Irandi Rodrigues Silva

- Idealização: Aluízio de Azevedo e Rodrigo Zaiden

- Pesquisa e Escrita do projeto: Aluízio de Azevedo

- Projeto Expográfico: Rodrigo Zaiden

- Assistência de Projeto Expográfico: Tamii Gondo Lage

- Produção Executiva: Fernanda Alves Caiado e Rosana Cristina Alves de Matos Cruz

- Curadoria: Irandi Rodrigues Silva, Aluízio de Azevedo, Rodrigo Zaiden e Rosana Cristina Alves de Matos Cruz

- Identidade Visual, Artes e Designer Gráfico: Danillo Kalón

- Fotógrafas na Exposição: Maria Clara Aquino, Karen Ferreira e Ju Queiroz

- Poesias: Jéssika Lorrayne Alves Cabral Lima Leme

- Direção de Produção – Kaiardon Produções

- Cenografia – Tamii Gondo Lage

- Produção – Kamilly Amorim e Tamii Gondo Lage

- Assessoria de Comunicação e Imprensa – Aluízio de Azevedo

- Fotógrafa Still: Maria Clara Aquino

- Direção e Roteiro dos videoartes: Aluízio de Azevedo e Rodrigo Zaiden

- Edição e Montagem dos videoartes da Exposição: Maria Clara Aquino

- Iluminação: Vitor Falcão

- Equipe de Montagem: Alisson Rangel, Kauan Cruz, Luiza Gondo e apoio Grupo Kintá Parede

- Recepção: Rosana Cristina Alves de Matos Cruz

- Sonoplastia: Lívia Freire

- Apoio: Grupo Rosa do Infinito, Comitê de Cultura do MINC, Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES/MT), Secretaria de Estado de Educação de MT (Seduc/MT), Grupo Rosa do Infinito, Artes & Vidros, Kintá Parede, Deputado Estadual Valdir Barranco

Mirian Alves, da comunidade cigana de Rondonópolis. Foto: Ju Queiroz

Nenhum comentário:

Postar um comentário