sábado, 27 de julho de 2024

Primo perceba quando estiver sendo utilizado como objeto de pesquisa

Texto: Sara Macedo

Arte: Danillo Kalón

Coletivo Ciganagens

É preciso estar atento para que o pensamento de pessoas não-ciganas não contribua para o projeto colonial de nos objetificar, povos ciganos. Estudos nomeados de decoloniais acadêmicos têm colocado que a colonização se deu nos mesmos moldes para todo mundo.


Isso não é verdade, é uma falsa simetria racial. E se uma teoria legitima os esmagamentos e silenciamentos, ela precisa ser questionada. Pois, afinal, são essas teorias que vêm casadas com um tom decolonial, quando adentram nossos saberes e territórios, acabam por se tornarem coloniais em suas práticas. 


Aquilo que acontece com um cigano apenas, nos atinge coletivamente. Para pessoas não racializadas, isso não acontece. Então, há que se estar muito atento ao que é escrito e narrado sobre nós, sem que haja autorização livre e consciente. 


Que condição é esta em que a utilização espontânea ou o trabalho não remunerado podem ser convertidos em indicadores passíveis de objetificação?


Condição que sempre está destinada a povos racializados, essa a de ser um compartilhador de seus conhecimentos em posição gratuita, pois também, nossos saberes não teriam prestígio para remuneração ou então não poderíamos tecer análises teóricas ou conceituais, uma vez que não nos consideram como produtores de conhecimento. 


Há que se refletir sobre a prática de sempre acessar e pegar o que se houve em comunidades e da boca de povos tradicionais, e se coloca em trabalhos, para financiar projetos egocêntricos e individuais sem referência, autoria, troca, retorno, conectividade.


Pura apropriação, mas disfarçada de projeto do diverso e do decolonial. Entretanto, sem nenhum tipo de retorno às comunidades. A categoria “decolonial”, em si própria uma antítese, tem demonstrado que não existe essa história de descolonização. 


“Por que não pergunto a esses povos o que eles querem e desejam que seja pesquisado?”


“Onde nasce esse fascínio antropológico e ascético de sempre precisar retratar, representar, tutelar e “dar voz” a um povo do qual não pertenço?”


Estamos aqui, recusando a partir de agora, migalhas de reconhecimento e afeto pela colonialidade, pois é uma “máscara que cai” e não favorece e dá autonomia para nenhum de nossos primos. Estão acostumados a nos chamar de analfabetos e de pouca sabedoria. Que não entremos nessa grande cilada que criaram para nós. 


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Pessoas ciganas terão 2% da reserva de vagas no vestibular 2025 da UEMG

Universidade é uma das pioneiras no Brasil na implementação de políticas afirmativas para povos ciganos

23 de julho de 2024

BELO HORIZONTE – A Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) vai destinar 75% das vagas em cursos em 2025 por meio do vestibular, que contempla as categorias do Programa de Reserva de Vagas (Procan), de inclusão regional e da ampla concorrência. Os outros 25% serão destinados ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

De acordo com a Resolução nº 631/2024, aprovada pelo Conselho Universitário da Uemg, o Vestibular 2025 prevê 50% de vagas pelo Procan, 20% para inclusão regional e 5% para ampla concorrência.

Atualmente, o programa reserva vagas no Vestibular para candidatos com deficiência (5% das vagas) e de outras cinco categorias que devem, simultaneamente, terem cursado escola pública e comprovarem baixa renda: negros (24%), egressos de escola pública (13%), quilombolas (3%), indígenas (3%) e ciganos (2%).

A expectativa é que o edital do Vestibular 2025 seja anunciado até o final deste ano, após a escolha da empresa responsável pela organização.
A categoria será escolhida pelo candidato no momento da inscrição. Cada uma possui critérios próprios e exigem comprovações específicas, que serão detalhados no edital do Vestibular a ser publicado.

A resolução também define critérios para remanejamento das vagas eventualmente não preenchidas entre as categorias do Procan.

O Programa de Reserva de Vagas da Uemg foi instituído em 2004, atendendo à Lei Estadual nº 15.259, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino superior.

A modalidade Inclusão regional foi criada em adição ao Procan, com a proposta de fortalecer o ingresso ao ensino superior gratuito das comunidades dos municípios nos quais a Uemg possui oferta de cursos presenciais.

Para ter direito a concorrer nessa categoria, os candidatos precisarão comprovar, ao mesmo tempo, residirem no estado de Minas Gerais e terem cursado o ensino médio em instituições de ensino da rede pública municipal, estadual ou federal.

Disponível em: https://clicfolha.com.br/uemg-define-75-das-vagas-para-vestibular-e-25-pelo-sisu/

terça-feira, 23 de julho de 2024

Chibe Calon é aceita na UFBA como segunda língua estrangeira

 

De maneira inédita no Brasil, Programa de pós-graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia aprovou primeiro cigano de etnia Calon e tradição circense no Brasil, Roi Rogeres, em curso de doutorado. Foto: Barbara Jardim

O curso de Doutorado em Artes Cênicas (PPGAC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), aprovou no seu  processo seletivo de 2024.2, o primeiro cigano da etnia Calon e de tradição Circense no Brasil.

O feito foi alcançado pelo jornalista e multiartista Roi Rogeres Fernandes Filho, oriundo da Família Fernandes -  uma das maiores e mais tradicionais circenses do país. Mas não para por aí, com o inovador edital que contempla línguas tradicionais na etapa de avaliação das línguas estrangeiras, o PPG aceitou o Romanó-Kaló, do tronco étnico cigano Calon, na avaliação desta etapa.

Conhecida em Portugal como Romanon e no Brasil como Chibe, a língua Calon é uma das principais tradições ciganas e serve tanto como forma de reconhecimento entre os diferentes grupos, como também em situações de defesa.

No edital deste ano, o PPGAC/UFBA destacou no item k), que  para comprovar proficiência em língua estrangeira em nível instrumental, “candidatos/as indígenas, ou de comunidades tradicionais afrodescendentes, serão isentos/as de comprovar proficiência em uma língua estrangeira, desde que apresentem uma declaração da comunidade de origem como sendo falante da sua língua ou guardiã da memória e/ou da herança da língua ou de línguas em processos de retomada, mediante aprovação da comissão de seleção”.

O resultado final do processo seletivo do PPGAC foi divulgado no final deste semestre, e o recém mestre também pela Ufba, conquistou a vaga com o anteprojeto de pesquisa “CIGANENSES NU ESPELHO: A Tradição Circense entre os Povos Ciganos Calóns e a sua contribuição para a cultura do Circo no Brasil”.

O novo doutorando obteve nota 10 na prova oral e assegurou um lugar entre cinco primeiros colocados, de um total de 10 selecionados, sendo o primeiro doutorando de origem Cigana-Circense no Brasil. A família Fernandes conta hoje com diversos circos pelo Brasil, a exemplo do  Holiday, Miraculous, Las Vegas, Big Brother, Indianápolis, Irmãos Fernandes e Circo do Palhaço Futuca.

“Apesar de todos os meus familiares Ciganos-Circenses já serem mais do que PHDs nas artes e tradições do Circo, vou em busca desse título concedido por uma Universidade Federal não somente por mim, mas por todos os/as ancestrais encantados/as e vivos/as, que lutaram e lutam cotidianamente para manter viva e acesa a chama do Circo e das nossas tradições” comemorou Roi.

Ele acrescentou que “nesse sentido, essa vitória tem um sabor especial com a contemplação da nossa língua-mãe, a Chib, a qual tanto nos orgulhamos e segue nos salvando de tantas violências e nos unindo. Todo povo de tradição e comunidades étnicas, devem ter suas oralidades e línguas valorizadas, reconhecidas e consideradas, assim, o PPGAC dá um exemplo relevante e certamente frutífero,  de como um edital de processo seletivo deve considerar os Povos Tradicionais do Brasil. Em nosso processo de retomada, são iniciativas como essa que fortalecem as nossas lutas”.

O PPGAC-Ufba é um dos pioneiros do Brasil na área das Artes Cênicas, e avaliado com nota máxima na CAPES.

“Precisamos ser tratados como SUJEITOS e AUTORES, e não mais como meros OBJETOS de pesquisas, como até aqui têm sido feito muitos/as pesquisadores/as, e sei que no PPGAC a minha pesquisa irá florescer e dar muitos bons frutos ainda para nosso Povo Cigano e para a universidade brasileira. Sermos contemplados nas ações afirmativas do mesmo é o próximo passo em que irei reivindicar, já que as nossas contribuições para as diversas linguagens artísticas,  artes cênicas, música, artes visuais, o próprio circo, para a dramaturgia, são incomensuráveis e precisamos atuar para esse reconhecimento !”,finalizou Fernandes.

Trajetória – Roi Rogeres nasceu em Pernambuco, e é o quarto de seis filhos, tendo cada um nascido em um Estado diferente do Brasil em itinerância com os circos. Na adolescência, deixou a vida itinerante para fixar acampamento e estudar em Feira de Santana, onde cursou Jornalismo na Faculdade Anísio Teixeira (FAT), com bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni). Esteve educando em Artes Cênicas na Ufba, onde concluiu em 2023 o mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU), na linha de pesquisa Políticas Públicas, Cultura, Gestão, e Bases Históricas e Conceituais da Universidade, com um estudo autoetnográfico acerca das políticas públicas do ensino superior – ações afirmativas – para os Povos Ciganos. 


UFBA terá primeiro Cigano Calón de Tradição Circense em um curso de Doutorado no Brasil

O curso de Doutorado em Artes Cênicas (PPGAC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), terá entre seus estudantes o primeiro cigano da etnia Calón e de tradição Circense no Brasil. O feito foi alcançado pelo jornalista e multiartista Roi Rogeres Fernandes Filho, oriundo de uma das maiores e mais tradicionais famílias circenses do país, que conta hoje com diversos circos pelo Brasil, dentre esses o Holiday, Miraculous, Las Vegas, Big Brother, Indianápolis, Irmãos Fernandes e Circo do Palhaço Futuca.

O resultado final do processo seletivo do PPGAC foi divulgado nesta quarta-feira (12). Com o anteprojeto de pesquisa “CIGANENSES NU ESPELHO: A Tradição Circense entre os Povos Ciganos Calóns e a sua contribuição para a cultura do Circo no Brasil”, o estudante obteve nota 10 na prova oral e assegurou a aprovação entre os cinco primeiros colocados, de um total de 10 selecionados, se tornando o primeiro doutorando de origem Cigana-Circense no Brasil.

“Apesar de todos os meus familiares Ciganos-Circenses já serem mais do que PHDs nas artes e tradições do Circo, vou em busca desse título concedido por uma Universidade Federal não somente por mim, mas por todos os/as ancestrais encantados/as e vivos/as, que lutaram e lutam cotidianamente para manter viva e acesa a chama do Circo e das nossas tradições. Para documentar essa história linda e de superação, além de ocupar esses espaços de formação e poder, não para dar voz ou ser voz, pois as suas são mais do que suficientes, mas para ser também mais uma voz ativa em lugares que não foram pensados e criados para nós, para ecoar a riqueza da contribuição incomensurável dos nossos Povos Ciganos para o Circo, além da formação cultural, identitária, social e histórica do nosso Brasil, que é também Cigano-Circense- CIGANANENSE, tem que aceitar! ”, comemorou Roi Rogeres.

“Essa aprovação só foi possível porque os meus ancestrais permitiram e fizeram florescer em mim esse desejo pulsante de fazer retornar o que lhes pertencem, e seguir lutando de formas outras pelo reconhecimento e projeção que merecem. Para que sejamos tratados como SUJEITOS e AUTORES, e não mais como meros OBJETOS de pesquisas, como até aqui têm sido feito muitos/as pesquisadores/as. Que muitos outros Ciganos, especialmente de tradição circense, ocupem esses lugares e espaços se quiserem, pois infelizmente são raros/as os/as doutores/as ciganos/as, possíveis de serem contados nos dedos, e quando acessamos fortalecemos as diversas lutas de nosso povo!”, complementou.

Trajetória – Roi Rogeres nasceu em Pernambuco, e é o quarto de seis filhos, tendo cada um nascido em um Estado diferente do Brasil em itinerância com os circos. Na adolescência, deixou a vida itinerante para fixar acampamento e estudar em Feira de Santana, onde cursou Jornalismo na Faculdade Anísio Teixeira (FAT), com bolsa integral do Programa Universidade para Todos (Prouni). Esteve educando em Artes Cênicas na Ufba, onde concluiu em 2023 o mestrado em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade (PPGEISU), na linha de pesquisa Políticas Públicas, Cultura, Gestão, e Bases Históricas e Conceituais da Universidade, com um estudo autoetnográfico acerca das políticas públicas do ensino superior – ações afirmativas – para os Povos Ciganos.

Disponível em: https://ihac.ufba.br/pt/48870/ 

  

domingo, 21 de julho de 2024

Conferência Livre Nacional de Equidade no Trabalho e Seminário Equidade em Pauta

Eventos contaram com a participação de gestores, profissionais e conselheiros nacionais de saúde, além de movimentos sociais organizados

A AEEC-MT esteve entre as entidades sociais que participou nos dias 08 e 09 de julho, em Brasília, de dois eventos para debater a saúde: o “Seminário Equidade em Pauta” e “1ª Conferência Livre Nacional de Equidade no Trabalho, na Educação e na Comunicação na Saúde”. Os eventos objetivaram garantir que a equidade se efetive enquanto um princípio estruturador e transversal a todas as áreas, campos e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), valorizando, reconhecendo e promovendo as políticas de equidade. 

Os eventos reuniram mais de 100 pessoas de diversos segmentos como população negra, LGBTQIAPN+, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, entre outros. A participação da AEEC nos dois eventos ocorreu por intermédio do Assessor para Ciência e Comunicação, Aluízio de Azevedo. No seminário “Seminário Equidade em Pauta”, que ocorreu na Contag no dia 08, ele participou da mesa Práticas tradicionais e populares na produção do Cuidado Emancipatório”, que contou com a educadora popular e agricultora familiar, Josefa Ataíde e a integrante da Rede Nacional de religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro), Mãe Nilce.

Também no Seminário, foi exibido o Episódio Mestra Diva da Minissérie Diva e As Calins de Mato Grosso, produzida e lançada em 2023, pela AEEC-MT, em parceria com a Secel-MT. Veja aqui os cinco episódios da Minissérie.

Realizado pelo Conselho Nacional de Saúde, em parceria com o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão do trabalho e Educação em Saúde (SGTES) e da Coordenação-Geral de Acesso e Equidade da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Caeq/Saps) do órgão, o Seminário reuniu em torno de 100 pessoas, entre movimentos sociais, conselheiros nacionais, gestores e profissionais de saúde, oriundos de diversos estados e regiões brasileiras participaram do Seminário.

A programação do evento contou com mesa de abertura com a participação da secretária adjunta da SGTES/MS, Laize Rezende de Andrade, do chefe da Assessoria Para Equidade Racial em Saúde do gabinete da Ministra, Luís Eduardo Batista e da coordenadora-geral da Caeq/SAPS/MS, Lilian Gonçalves.

Conferência Livre - Já no dia 09 de julho, o Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, participou da “1ª Conferência Nacional Livre de Equidade no Trabalho, Educação e Comunicação na Saúde”, organizada também pelo CNS, a SGTES e a Caeq/Saps/MS. O evento reuniu a mesma quantidade de pessoas do seminário de forma presencial na Escola de Governo da Fiocruz-Brasília e em torno de mil pessoas de forma online.

Na ocasião, foram escolhidos delegados, diretrizes e propostas que serão levadas e participarão da Conferência Nacional de Equidade no Trabalho, Educação e Comunicação na Saúde, prevista para ocorrer em novembro de 2024.

Confira vídeo de participação de Aluízio de Azevedo na Conferência Livre 


Acesse aqui o texto do CNS sobre o evento.

Assessoria para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

terça-feira, 16 de julho de 2024

Movimento Cigano se reúne com Ministério da Saúde para discutir política nacional


Encontro ocorreu online entre Assessoria de Saúde Cigana da Caeq/Saps/MS e o Coletivo Ciganos, Juntos Somos Mais Fortes

O Coletivo Ciganos, Juntos Somos Mais Fortes se reuniu no último dia 11 de julho (quinta-feira) com a Coordenação-Geral de Acesso e Equidade (Caeq) da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps) do Ministério da Saúde (MS). A roda de diálogo com o coletivo, que é composto por cerca de 30 associações, coletivos ou lideranças de comunidades ciganas e famílias extensas, ocorreu de forma online, com a participação de 20 pessoas.

Entre elas, a coordenadora da Caeq, Lilian Gonçalves e os três técnicos que compõem a equipe da Assessoria de Saúde Cigana da Coordenação-geral, Rafaela Barros, Aluízio de Azevedo e Taciana Silva Negreiros.

Representando os povos ciganos estavam presentes a conselheira do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, Maura Piemonte, do sul de Minas Gerais e o conselheiro nacional de Igualdade Racial, Marcos Gattas, de Mato Grosso. Também participaram da reunião, Claudio Ivanovitch, da Associação de Preservação da Cultura Cigana no Paraná e do Estado outras quatro lideranças: Aparecida, Tati e Hayanne Ivanovicht, do Coletivo de Mulheres Ciganas (COMCIB) e Nardi Casanova, secretária executiva da Confederação Cigana do Brasil.

Representando a Roda Cigana Rede Humanitária, participou da reunião sua coordenadora Lu Ynaiah e representando o Coletivo Ciganagens estiveram presentes os integrantes Desirèe Mattos, Sara Macedo e Danillo Kalon.  José Eudo e Janete Soares, ambos da Associação de Preservação de Cultura Cigana do Estado do Ceará, também participaram.

De Mato Grosso, participou Rosana Cristina Matos Cruz, presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de MT (AEEC-MT) e representando as associações de Sousa e demais comunidades da Paraíba como Campina Grande e João Pessoa, Francisco Bozzano. Ainda da Paraíba participaram da reunião: Suênia Soares, de Sousa, maior comunidade cigana da América Latina e Maria Jane, essa última da Associação Cigana de Condado (Ascocic).

Esta foi a primeira reunião da atual gestão do MS e o movimento cigano brasileiro, com o objetivo de aproximar o diálogo com os coletivos e lideranças ciganas, ouvir as demandas e necessidades de saúde destas populações, bem como construir em conjunto a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Povo Cigano/Romani (Portaria 4348 de 28/12/2018).

Aproximação - Durante a reunião, a coordenadora da CAEQ/SAPS/MS, Lilian Gonçalves, destacou o esforço que o Ministério vem fazendo em recompor o diálogo junto aos movimentos sociais, especialmente para a reconstrução das políticas de equidade em saúde, incluindo a política de saúde cigana, a mais nova política de equidade criada no âmbito do MS, em 2018. Para tanto, o MS planeja a realização de mapeamento social com informações sobre a saúde dos povos ciganos, a partir de indicadores, dados e sistemas de informação disponíveis no SUS e em diálogo com o movimento social cigano.

“Essa política foi institucionalizada, mas nunca foi implementada. Então, a gente está com o desafio de implementar a política e de organizar os movimentos sociais populares dos povos ciganos para construir efetivamente a implementação dessa política e se achar necessário até mesmo revisá-la. Mas temos uma visão no MS que talvez revisar uma política que recentemente foi implementada, talvez atrapalhe o processo de implementação”, ponderou Lilian.

A coordenadora-geral de acesso e equidade, informou ainda o desejo do órgão em institucionalizar a participação social dos povos ciganos na implementação da política, incluindo a criação de um plano de ação. Ela pontuou que um dos objetivos da roda de diálogo foi justamente promover um fluxo de comunicação entre o movimento e o Ministério da Saúde.

 “O que a gente está querendo é implementar o comitê dessa política, que nunca foi instituído. Para isso, a gente precisa mobilizar os movimentos dos povos ciganos, trazer essa representatividade para dentro do Ministério da Saúde e implementar essa política em acordo com as necessidades dos povos ciganos. A ideia é que hoje a gente faça uma primeira conversa com os movimentos e acolher um pouco as angústias, as necessidades, as intencionalidades, como é que a gente pode fazer esse alinhamento para já pensar na institucionalização deste comitê”, informou Lilian.

Saúde Cigana – na ocasião, representantes ciganos reforçaram algumas demandas que já haviam encaminhado ao Ministério da Saúde em abril, por meio de um ofício à Ministra Nísia Trindade. Entre as questões estavam a implementação das políticas específicas de saúde, como a portaria 4348 ou a portaria 940 de 2011, que dispensa pessoas ciganas de apresentarem comprovante de endereço nos serviços do SUS. Também falaram sobre a composição do comitê que será criado e relativo aos medicamentos da farmácia popular.

O representante da comunidade Otávio Maia, de Sousa (PB), Francisco Bozzano, ressaltou que esta foi a primeira reunião que o MS realiza com o movimento cigano para discutir a saúde cigana.

“Se for criado for um comitê com pessoas ciganas, que seja por região e não por etnia, porque assim conseguiremos uma representatividade melhor. Espero e acredito neste governo, que vai dar visibilidade para o nosso povo, luta pelos povos tradicionais e foi para este governo que nós do sertão confiamos. Outra coisa que sinto descuidada aqui em Sousa, é quando destinado uma receita para pessoas ciganas da farmácia popular, que o MS pudesse fazer uma investigação nestas farmácias populares, porque o farmacêutico para não fornecer o medicamento, diz que não tem, para a pessoa poder comprar. Isso aconteceu comigo”, ponderou Francisco.

Por sua vez, a representante da Roda Cigana Rede Humanitária, Lu Ynaiah, algumas questões são prementes, como a inclusão dos povos ciganos como públicos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI). A ativista também destacou a importância do MS realizar reuniões presenciais com os povos ciganos, para inclusive discutir de forma setorial, a partir da interseccionalidades, questões específicas relativas a pessoas ciganas neuro-divergentes, com autismo, saúde da mulher cigana, das pessoas idosas, crianças, adolescentes e LGBTQIAPN+.

“O Ministério poderia promover um plano de ação de forma transversal a partir das realidades regionais, étnicas, sociais e culturais dos povos ciganos que são bastante diferenciadas, pensando por eixos e áreas de atuação. Também acredito que o diálogo presencial, com a realização de um seminário nacional para discutir a saúde das comunidades e povos ciganos é fundamental, até para tratar de algumas demandas pontuais, como o atendimento as pessoas ciganas de forma diferenciada, respeitando por exemplo, os casos de familiares de uma pessoa internada que vão sempre aos serviços de saúde juntos e as regras e protocolos de visitas não conseguem resolver”, destaca Lu.

APS - Além disso, os participantes ciganos trouxeram questões quanto ao atendimento nos serviços da Atenção Primária em Saúde (APS). A enfermeira e Calin, Suênia Soares, pesquisadora de saúde, com mestrado pesquisando o acesso da população Calon de Sousa à APS, por exemplo, reforçou a importância do diálogo entre a gestão do SUS e os povos ciganos.

“Sou mulher cigana e profissional de saúde, então, consigo me colocar nesses dois lugares e externar meu amor pelo SUS, que é grandioso.  Esse diálogo pode subsidiar novas políticas públicas. Por isso, é tão importante que sejamos ouvidos, externar nossas especificidades e necessidades, para que as políticas cheguem de maneira efetiva”.

Segundo Suênia, várias questões necessitam serem levadas em conta na APS. “Quando falamos para preencher de acordo com a raça cor, muitas vezes, podemos sugerir, mas os ciganos têm cautela em se apresentar como cigano, porque na maioria das vezes sofremos preconceito no atendimento, principalmente na APS”.

Para a profissional de saúde, “é preciso trabalhar educação em saúde para profissionais e incluir a educação popular em saúde que traz o indivíduo como protagonistas, trabalhar com os profissionais a busca ativa na comunidade, porque a gente sabe e reconhece que os ciganos têm resistência em procurar os serviços de saúde, seja por causa do preconceito, falta de acolhimento ou uma questão cultural, pois acreditam muito na medicina tradicional”, conclui.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

10 filmes para conhecer os povos ciganos

 

Produções apresentam tradições e combatem estereótipos vinculados a essa população tradicional

By Leonardo Valle, 15 de Julho, 2024 

Filmes podem ser uma forma de combater o racismo contra o povo cigano e os inúmeros estereótipos vinculados a ele. Entre os principais, está o erro de achar que povo tradicional é uma religião, é místico ou que está vinculado a atos ilícitos.

“Um desafio é nossa representação de forma verdadeira, já que a grande mídia, por exemplo, geralmente traz notícias de ciganos quando há crimes e brigas em família”, lembra o jornalista, cineasta calón de tradição circense, Roy Rogeres Fernandes Filho.

O Brasil possui três etnias ciganas: Calon (desde 1574), Rom e Sinti (chegadas no século XIX). “O audiovisual produzido por ciganos, por exemplo, mostra que somos povos múltiplos e distintos entre si em relação a costumes, línguas e fenótipos. Em comum, porém, está nosso pleito políticas públicas básicas voltados ao nosso povo”, destaca Filho, que é membro do coletivo Ciganagens.

“Os filmes são uma ferramenta importante para a conscientização, especialmente documentário, que é um gênero utilizado por nós para apresentar conhecimento e informações das nossas culturas e tradições; para preservar memórias; contar nossas histórias, e contribuir para que outras gerações acessem esses conhecimentos”, lista Filho.

A seguir, conheça 10 filmes, documentários, séries e curtas-metragens que ajudam a conhecer melhor o povo cigano.

Latcho Drom (1993)

Traduzido como “estrada segura”, o premiado documentário francês acompanha músicos e dançarinos ciganos itinerantes enquanto viajam. Eles saem da Índia e passam pelo Egito, Turquia, Romênia, Hungria, República Tcheca, Alemanha e França, até chegarem à Espanha. É dirigido pelo diretor franco-argelino, Tony Gatlif, de etnia cigana. Classificação indicativa: Livre. 


Pavee Lackeen: A Cigana (2005)

 

O documentário acompanha Winnie, uma garota Pavee (nome atribuído aos ciganos na Irlanda) de dez anos que vive com a sua mãe e irmãos em um trailer no distrito industrial de Dublin. Sua mãe, Rose, luta para encontrar uma melhor habitação para a sua família. Classificação indicativa: 14 anos. 

 

Apenas o vento (2012)

Baseado em fatos reais, retrata uma onda de assassinatos em agrupamentos ciganos no interior da Hungria, onde os responsáveis pelos crimes ficaram impunes. Enquanto isso, a comunidade cigana local tenta levar uma vida normal. Classificação indicativa: 16 anos.  

 

Transylvania (2006)

Outro filme do cineasta de ascendência cigana Tony Gatlif,  narra a história de Zingarina, uma mulher grávida que viaja com sua amiga Marie à Transilvânia, na Romênia. Ela está à procura do homem que ama, Milan que conheceu na França, mas que partiu sem explicação. Ao reencontrá-lo, Milan a rejeita. Sua vida começa a melhorar quando ela conhece Tchangalo, um homem solitário que, assim como ela, é livre. Classificação indicativa: 16 anos. 

 

O estrangeiro louco (1997)

Dirigido por Tony Gatlif, acompanha o músico francês Stéphane, que anda pela Roménia em busca de uma cantora cigana que apenas conhece pela voz, graças a fitas cassetes que seu pai ouvia antes de morrer.  Ele chega a uma aldeia cigana, que o hospeda. Classificação indicativa: 12 anos.

 

Swing (2002)

Max, de 10 anos, torna-se fã de jazz cigano quando ouve o virtuoso guitarrista Miraldo. Essa paixão o leva à parte cigana da cidade, onde começa a ter aulas de guitarra com seu ídolo e faz amizade com Swing, uma menina da sua idade. Também dirigido pelo cineasta cigano cigana Tony Gatlif. Classificação indicativa: sem informação.

 

“Gipsy side” (2006)

Documentário  de Gát Balázs sobre rap cigano. Mario, Luiggi, Mr. Joker e outros membros do grupo Rap-Port explicam por que o rap negro compartilha origens comuns com a música roma. Os adolescentes oferecem uma aula introdutória sobre a cultura hip-hop em Budapeste. 

 

DEBAIXO DAS LONAS tudo é mais bonito! (2022)

Dirigido por Roy Rogeres Filho, o documentário aborda história da irmã do diretor, Irismá Fernandes, conhecida como “Tati, a Cigana”. Pertencente a etnia Calón, é uma artista da terceira geração de famílias ciganas e de tradição circenses do Brasil. Viveu itinerante em mais de vinte circos até fixar acampamento na comunidade Umburaninha, na Bahia. Filha primogênita, assumiu a responsabilidade de manter e repassar as tradições ciganas e circenses após seu pai ser assassinado durante um espetáculo. Foto: Bárbara Jardim/Divulgação. Pode ser assistido no YouTube.

 

É Kalon: Olhares Ciganos (2011)

Dirigido pelo cineasta cigano Aluízio Azevedo, esse documentário apresenta o cotidiano de um grupo Kalon, formado por cerca de 200 pessoas, que vivem e percorrem o Estado de Mato Grosso há mais de 80 anos. Fé, valores, conhecimentos e maneira de viver são os fios condutores da produção. Disponível no YouTube.

 

Série Diva e as Calins de MT (2021)

Série de cinco curtas-metragens dirigidos por Aluízio Azevedo sobre cinco ciganas da etnia calón moradoras do Mato Grosso. O primeiro enfoca a história de Mestre Diva, que nasceu a 25 de setembro de 1954, em uma barraca, num acampamento na cidade de Mineiros (GO). Ela viveu boa parte de sua vida trafegando pelos Estados da região Centro-oeste, até fixar residência em Rondonópolis. Os outros episódios apresentam a história de Terezinha AlvesNilva RodriguesIrandi Rodrigues e Nerana Rodrigues Pereira.

 Disponível em: https://igualize.com/10-filmes-para-conhecer-o-povo-cigano/ 

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Oportunidade para Ciganos, Quilombolas e indígenas concorrerem a bolsas EAD na Uninter

 

Quilombolas, indígenas e ciganos das etnias Rom, Calon e Sinti vão poder concorrer a bolsas de  educação a distância (EAD) no Paraná.

As 35 vagas são ofertadas pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), 25 delas sem nenhum custo.

Também vão ser ofertadas 35 bolsas parciais para  Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Os candidatos podem se inscrever em 78 cursos tecnológicos, 50 de graduação e 44 de licenciatura.

As provas são virtuais. O processo seletivo é uma parceria da instituição com o governo do estado.

O link para as inscrições e os editais você encontra abaixo:

https://www.uninter.com/processo-seletivo-diversidade/

https://extensaocommerce.uninter.com/cursos-de-extensao/PROCESSO-SELETIVO—POVOS-CIGANOS/3703

https://www.uninter.com/processo-seletivo-diversidade/wp-content/themes/graduacao-ao-vivo/arquivos/EDITAL_PROCESSO_SELETIVO_DA_GRADUACAO_A_DISTANCIA_SETEMBRO_2024_INDIGENAS_E_QUILOMBOLAS.pdf

Informação: Paula Bulka Durães com supervisão de Francine Lopes

Disponível em: https://bandnewsfmcuritiba.com/quilombolas-indigenas-e-ciganos-concorrem-a-bolsas-ead/