Um documentário feito em Elvas por 20 atores, dos
quais 17 ciganos, mostra como um conjunto de leis repressivas ao longo dos
séculos reprimiu a cultura e a língua ciganas, que praticamente não é falada em
Portugal.
"É um documentário para não ciganos, para que
fiquem a saber o que a comunidade sofreu e não para ciganos, porque iria gerar
revolta", começou por dizer com alguma ironia Luís Romão, presidente da
Associação Sílaba Dinâmica perante a plateia que hoje visionou o filme em
Torres Vedras.
O documentário feito pela associação de Elvas,
intitulado "500 anos de leis repressivas", tem a duração de 20
minutos e conta a história de uma família cigana que se pretende instalar em
Portugal na esperança de encontrar um lugar seguro.
Neste percurso, encontra a hostilidade das ordens de
expulsão, as dificuldades de comunicação entre o português e o romani ou a
proibição de utilizar os seus trajes.
O objetivo era "anular a identidade cultural
cigana visando a assimilação", conclui o narrador no filme, acrescentando
que "falar romani era um ato perigoso que resultou em punições" como
açoitamentos severos em público e "até a língua podia ser cortada" no
que era um aviso aos que pretendessem manter as tradições.
Para contornarem a lei falavam em grupo, o que
reforçava os seus laços e assumia uma forma de resistência.
O documentário mostra ainda como estas comunidades
foram empurradas para "as margens das cidades" onde, apesar disso,
puderam sobreviver e preservar algumas tradições como a música.
"O que pretendemos é fazer uma recriação das leis
repressivas com algum realismo para ajudar a perceber, sobretudo decisores
políticos, técnicos e professores o que aconteceu nos últimos 500 anos e de que
forma poderíamos criar reflexões sobre medidas reparatórias para essas leis
repressivas", explicou à Lusa Rui Salabanda Garrido, responsável da
associação e ator no filme.
Uma das medidas reparatórias que "nós
consideramos muito importante era o ensino do romani, como forma de reparação
dessa proibição que fez com que as pessoas praticamente não falem o romani,
lançamos esse repto", desafiou Rui Salabanda Garrido, o único não cigano
da associação.
O presidente Luís Romão destacou que o objetivo da
associação é mostrar "de formas diferentes" a história e cultura
ciganas.
"Trabalhamos com a Aima [Agência para a
Integração Migrações e Asilo], concorremos a fundos que nos permitem andar a
nível nacional a apresentar este documentário sobre leis repressivas, mas já
tivemos uma peça de teatro", exemplificou.
Nesse caso, a "História do ciganinho Chico"
levou, num conto, a história e a cultura cigana a crianças de todo o país
através de uma peça de teatro animada. Nessa peça mostrámos a nossa história e
tradições, esse é o nosso objetivo, de formas diferentes, através do teatro e
neste caso do documentário, mostrar a realidade das comunidades ciganas",
adiantou.
O documentário já foi apresentado no Porto, Figueira
da Foz, Portalegre, Borba, Elvas e Torres Vedras
Texto disponível em: https://www.rtp.pt/noticias/cultura/documentario-mostra-repressao-sobre-ciganos-ao-longo-dos-seculos_n1670183
Foto Disponível em: https://www.cm-tvedras.pt/artigos/detalhes/atividade-em-torres-vedras-abordou-a-historia-da-repressao-do-povo-cigano-em-portugal
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