domingo, 30 de novembro de 2025

NOTA DE PESAR – MARÇAL ALVES PEREIRA

A Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) comunica, com pesar, o falecimento do seu integrante, Marçal Alves Pereira,  aos 55 anos, na cidade de Itaberaí (GO), nesta última sexta-feira (28/11), vítima de um infarto fulminante.

Os nossos sentimentos mais profundos à esposa Wenys Souza Pereira e seus três filhos: Marcela Souza Pereira, que está grávida, Maisa Sousa Pereira e Gabriel Souza Pereira. Que Deus conforte os corações enlutados de toda família e da comunidade cigana de Rondonópolis.

Filho de Jorvina Alves Pereira e Odilon Cabral, Marçal é uma liderança destacada da comunidade cigana de Rondonópolis. O velório ocorreu no município, onde ele nasceu e viveu a maior parte da sua vida e colaborou com a resistência e a cultura cigana na região.

Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC/MT).

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Entre fados e trovas: a cultura cigana calon e as conexões transatlânticas

 

História e cultura dos ciganos luso-brasileiros

O ciclo propõe apresentar aspectos culturais, históricos e artísticos dos ciganos de origem ibérica, chamados calon, que perfazem atualmente a maior parte dos ciganos brasileiros.

A presença dos ciganos em Portugal remonta ao século XVI, quando entraram pela fronteira da Estremadura espanhola, sendo inicialmente mal-recebidos devido à estereótipos negativos que circulavam sobre eles. Ao longo dos séculos, enfrentaram perseguições, interdições e massacres, o que incentivou seu nomadismo, embora atualmente o sedentarismo predomine. Os ciganos portugueses começaram a chegar ao Brasil no século 16, em fluxo intermitente, que se acentuou a partir dos anos 70 do século 20.

Os ciganos calon, a partir de sua vinda da Europa para o Brasil em meados do século XVI, instituíram uma nova etapa na constante diáspora ao redor do globo. A itinerância forçada pelo país trouxe consigo poucas opções de formação profissional e ascensão social.

Para espantar a tristeza, a música advinda das Trovas do Jaimpem, do dedilhar de um violão (pouco comum), ou das cantigas entoadas pelos pais para embalar o sono das crianças, faziam dos dias tristes mais alegres, e ajudavam a suportar a melancolia de suas lembranças. Essa “escola musical” calon, embora de caráter milenar, nunca foi instrumentalizada por meio de uma teoria musical sólida, sendo sua repercussão dada por meio de improvisos e adaptações de ritmos locais.

A falta de oportunidades não permitia a revelação dos talentos calon na música dita tradicional, entretanto, atualmente estão conseguindo algum destaque no meio artístico através de nomes populares de ascendência regionalizada, com alguns expoentes conhecidos nacionalmente. Seus estilos são atualizados pelas novas tendências da indústria musical e pela demanda por um ritmo e composição de letra que privilegie o cotidiano boêmio.

Atividade em rede com o Sesc São Caetano.


Com Jucelho Dantas da Cruz, cigano calon, doutor em Ciências Biológicas pela UNESP e professor titular da UEFS. Suplente na representação dos povos ciganos no Conselho Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais (Cespct), junto a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Cespct/Sepromi-BA).

Com Igor Shimura, professor, defensor de direitos humanos e presidente do Instituto PluriBrasil. Conselheiro titular no Conselho Estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e Apátridas (CERMA/PR). Doutor em Antropologia, filiado à Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e à Gypsy Lore Society (GLS).

Com Jeancarlo Fonseca, representante étnico da comunidade imigrante cigana Calon Portuguesa no sul do Brasil. Comerciante, ativista pelos direitos humanos, membro do Instituto PluriBrasil.

Com Luiz Zanata da Silva Dantas (Breno Cigano), cigano da etnia calon, compositor e intérprete.

Com Zanata Ribeiro Dantas, cigano da etnia calon, foi suplente da representação dos Povos Ciganos na Comissão Estadual para a Sustentabilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais (CESPCT), ligado à SEPROMI no Estado da Bahia. Comerciante, cantor e compositor.

Com Givanildo Custodio, tecladista e cantor. Acompanha músicos ciganos do Nordeste.

Com Zico, sanfoneiro cigano calon autodidata, morador do Estado de São Paulo.

Com Lourdes Corrêa  (Lú Ynaiah), psicóloga, ativista de direitos humanos com ênfase nos direitos dos povos ciganos. Membro Titular Representante dos Povos Ciganos no Comite Gestor do Plano de Ação para Políticas Públicas biênio 2025-2027.

Disponível em: https://www.sescsp.org.br/programacao/entre-fados-e-trovas-a-cultura-cigana-calon-e-as-conexoes-transatlanticas/  


terça-feira, 11 de novembro de 2025

Ciganas de MT marcam presença na COP30

Jéssika Leme e Rafaela Sacramento, representantes da AEEC-MT, participarão de painel no Círculo dos Povos no dia 14/11, às 18h05. Foto: Maria Clara Aquino

Duas jovens ciganas de etnia Calon de Mato Grosso, Jéssika Lorrayne Alves Cabral Lima Leme, de Rondonópolis e Rafaela Caiado Sacramento, de Cuiabá, participarão da 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá entre os dias 11 e 21, em Belém do Pará (PA).

Jéssika, que é vice-presidente da AEEC-MT e Rafaela, que atua na coordenação de juventude da instituição, fazem parte da nova geração de lideranças ciganas no Estado. As duas representarão os povos ciganos mato-grossenses na maior conferência mundial para debater as emergências climáticas e questões ambientais.

Elas viajam no dia 11 de novembro e permanecem em Belém até o dia 17. Ambas já têm participação confirmada em um painel do Círculo dos Povos na Zona Verde (Green Zone), organizado pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR).

Jéssika e Rafaela vão integrar o painel “Mobilidade, territorialidade e Justiça Climática para os povos ciganos no Brasil”, que ocorre no dia 14 de novembro, entre 18h05 e 18h55. O painel também contará com representante da Associação Ciganos Itinerantes do Rio Grande do Sul (ACIRGS).

As duas representantes da AEEC-MT na COP30 participam do evento por meio do patrocínio da chamada Mulheres Liderando Ações Climáticas do Fundo Casa Socioambiental 2024.

A Chamada do Fundo Casa patrocinou também a realização do III Encontro de Mulheres Ciganas de MT, que ocorreu entre os dias 23 e 24 de maio deste ano, no município de Tangará da Serra, reunindo em torno de 80 mulheres ciganas, das quais duas eram convidadas de outros Estados.

Segundo a vice-presidente da AEEC-MT, Jéssika Leme, a participação no evento será muito importante para colocar os povos ciganos na discussão acerca de questões que atravessam as injustiças climáticas, a exemplo do racismo contra as pessoas Calon, Rom ou Sini. 

“A minha participação na COP30, primeiramente é de aprendizado, contato com outras lideranças, organizações sociais e representantes de governos, para buscar dessas experiências conhecimento e melhorias e trazer  para minha comunidade e nosso meio em Mato Grosso. Queremos também levar nossas culturas, tradições, memórias e histórias, marcando presença e demonstrando que existimos e resistimos.”, pondera.

Vice-presidente da AEEC-MT, Jéssika Lorrayne Leme é também representante dos povos ciganos no Conselho Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais de MT (CEPCT/MT)

Jéssika acredita que uma discussão importante a se fazer é a relação dos povos ciganos de Mato Grosso e o bioma do cerrado. 

“As pessoas ciganas não são responsáveis pelo desmatamento, pelas grandes poluições ambientais. Mas inversamente, somos os que mais sofremos com os impactos causados por essa devastação. Os povos ciganos possuem identidades intimamente ligadas com o meio ambiente, que vivem e sobrevivem pela natureza, por exemplo, por meio dos artesanatos ou da medicina tradicional, atividades que boa parte da matéria prima do cerrado, como as ervas e raízes. Se o cerrado se acabar, acaba também nossa medicina tradicional”, explica a vice-presidente da AEEC-MT.

Para Rafaela Sacramento, a participação no evento vai servir para demonstrar que os povos ciganos têm uma relação intrínseca com a natureza. 

“As minhas expectativas em participar da COP30, um evento desta proporção, é entender mais sobre as relações entre meio ambiente, justiça climática e os direitos dos povos ciganos, entendendo como as mudanças ambientais afetam diretamente nossas formas de vida, nossas identidades e culturas. Também quero contribuir para ampliar a visibilidade dessas comunidades, que historicamente a gente sempre sofreu com racismo ambiental, exclusão social e a falta de acesso direitos básicos, como água, moradia e educação.

Neste contexto, de desigualdades ambientais e sociais das pessoas ciganas no Brasil e no mundo de hoje, a coordenadora de juventude da AEEC-MT acredita que pode ser uma ocasião para expressar as demandas por direitos e políticas públicas específicas. 

“Espero defender os nossos direitos ambientais, levando adiante a importância de políticas públicas que garantem não só a preservação ambiental, mas também a dignidade e reconhecimento dos saberes e tradições ciganas. Acredito que a educação ambiental é um caminho para promover esse diálogo intercultural e fortalecer a resistência romani e assim a gente construir um conhecimento mais justo, emancipador e humano”, conclui.

Rafaela Sacramento participa da coordenação de Juventude da AEEC/MT.

Pavilhão do Círculo dos Povos na COP30

Composto pelos Ministérios dos Povos Indígenas (MPI), Ministério da Igualdade Racial, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o Círculo dos Povos contará com espaço exclusivo na Zona Verde, durante a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorre em Belém-PA, de 10 a 21 de novembro.

Presidido pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, o Círculo dos Povos visa ampliar a capacidade de escuta de demandas e contribuições de povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, afrodescendentes e agricultura familiar junto à Presidência da COP30.

O espaço é formado pela Comissão Internacional Indígena, também sob a liderança da ministra Sonia Guajajara, e pela Comissão Internacional de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultura Familiar, coordenada pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

A programação conta com uma série de atividades para debater a vivência e experiências como caminhos para a busca de soluções no combate à emergência climática global.

Confira a programação no seguinte link: https://www.gov.br/mma/pt-br/noticias/confira-a-programacao-do-pavilhao-do-circulo-dos-povos-na-cop30

TEXTO: ALUÍZIO DE AZEVEDO, COM ASSESSORIA DO MIR