eu não sou eu, é
engano / o meu eu já se extinguio
hoje o eu que represento / é sombra do que
fugio
O dia em que não
sofro / eu penso que não sou eu
Que o meu eu se
transformou / Num outro que não é meu
De ninguém ter
compaixão, / de me ver no mal tão só,
fiz-me segunda pessoa, de mim mesmo tenho dó
Uma meta de vida era
chegar ao doutorado antes dos 35 anos. Mas foi necessário sorte para alcançá-la.
Havia sido aprovado, mas ficado na sétima colocação. Restou esperar até que uma
pessoa desistisse. Foram dois meses aguardando sem saber qual rumo tomar.
Passado o limbo, cheguei
ao paraíso e zaz: se passou um semestre! Muitas novidades. Nova cidade e
trabalho. Novas amizades e colegas. Novos professores... A redescoberta do ser aluno,
após cinco anos afastado da academia e o choque de ver como a ciência avançou
nesse período assusta.
No horizonte uma
ebulição de teorias, autores, linhas, correntes e conceitos foram povoando
pensamentos e imaginário (sonhos):
Saúde. Comunicação.
Informação. SUS. Tecnologia. Ciência. Pesquisa. Campo. Teoria. Metodologia. Métodos.
Interdisciplinaridade. Política Pública. Paradigma. Modelo-Matriz. Mercado
Simbólico. Poder. Negociação. Luta. Ator Social. Circulação. Apropriação.
Discurso. Instituições. Organizações. Polifonia. Contextos. Emissor. Receptor.
Mediador. Outro. Mensagem. Canal. Código. Movimentos Sociais. Texto. Forças
Centrífugas. Forças centrípetas. Intertextual. Visibilidade. Realidade. Midia.
Democratização. Internet. Marketing Social. Desenvolvimentismo. Redes. Produção
de Sentidos. Propaganda. Movimento Campanhista. Reforma sanitária. Direitos.
Transparência. Controle Social. Participação. Universalidade. Equidade.
Integralidade. Dados. Estatísticas. Gestão. Planejamento. Teoria Matemática. Cultura....
A lista parece
infinita... Não está sendo fácil assimilar. Neste ponto, é que a disciplina de portfólio
tem sido importante, ao proporcionar atividades que exigem um fio de organização,
em meio ao caos da vida como um todo e o mundo acadêmico.
Trabalho nevrálgico
este de me rasgar e remendar enquanto cigano e jornalista, para emergir o
pesquisador. Trajetórias dos mestres e orientações disciplinares ajudam a
reordenar fragmentos na reconstrução deste novo eu doutorando.
Impossível não
mencionar alguns aspectos, como as quatro horas que passo num ônibus entre o ir
e vir até a Fiocruz. Momentos em que descubro novos rostos e uma intimidade
invasiva. Apinhado e agarrado em corrimões e bancos, nos solavancos e sovacos,
aliviados pela beleza do litoral carioca, tento fazer conexões entre textos e
pesquisa. Elocubrando ganchos.
Entre as questões
marcantes ficou a reflexão sobre o Sistema Único de Saúde no Brasil, tema que
ainda não tinha me aprofundado. Pensar a saúde pública nas perspectivas da
comunicação e da informação (que ora convergem, ora se distanciam; por vezes
conflituosas, na disputa do poder simbólico no campo acadêmico) também foi um
fato marcante.
Outra importante
descoberta foi o modelo do mercado simbólico, uma matriz conceitual do campo da
Comunicação & Saúde, que proporcionou novos modos de ver as dimensões
práticas, teóricas e ideológicas da comunicação. Essa abordagem privilegia a
polifonia social e traz a comunicação atrelada aos princípios do SUS, o que
casou com a postura teórica metodológica a qual comungo enquanto e pesquisador
cigano.
A
sorte secou-me o pranto / os meus ais não tem sahida
minha
dor não tem pharol / para se tornar conhecida
o
meu coração é mudo / não falla, não apparece
se
o meu coração falasse / diria o quanto padece
Tantos
ais, tantos suspiros / que se dão pela calada...
meu
coração sabe tudo / minha boca não diz nada
Quanto
mais calado estou / Mais a minha pena eu digo
Porque
meu silêncio expressa / A dor que trago comigo
O
querer dissimular / é do triste a maior dor
pois
sem gostar do amargo / bebe o veneno traidor
Os
malles communicados / são sentidos por metade
mas
aqueles reprimidos / Estragam sem piedade
Aluízio de Azevedo
Assessoria de Comunicação AEEC-MT
Assessoria de Comunicação AEEC-MT
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