A exposição Koudelka:
Ciganos, Praga 1968, Exílios termina neste domingo (15 de setembro). Exibida no
sétimo e no oitavo andar do IMS Paulista, a mostra apresenta três dos mais
icônicos trabalhos do fotógrafo tcheco Josef Koudelka (1938), um dos grandes representantes
da tradição humanista da fotografia. As fotos da série Ciganos foram tiradas
entre 1962 e 1970 em acampamentos ciganos. Em Praga, 1968, Koudelka documentou
a invasão soviética de seu país. As imagens de Exílios foram feitas a partir
dos anos 1970, após o artista deixar a Tchecoslováquia devido às condições
políticas.
Em diálogo com a mostra,
no domingo (15/9), às 17h15, o cinema do centro cultural promove uma sessão
gratuita do filme Ser cigano (1970), de Peter Nestler, um dos mais relevantes
cineastas do pós-guerra alemão. O longa-metragem aborda o genocídio e perseguição
sofridos pelos povos ciganos durante e para além do regime nazista. O
documentário mostra as tentativas de destruição de qualquer documentação sobre
genocídio cigano nos campos de extermínio nazistas e apresenta os restos dessas
evidências queimados, enterrados e destruídos, juntamente com pinturas do
artista Otto Pankok, relatos dos sobreviventes e as imagens dos quartéis.
Em Ser cigano, o diretor
refuta o clichê dominante na época de que “isso nunca mais acontecerá”, e
insiste que “isso acontece todos os dias”. O filme vai além do Holocausto dos
ciganos e destaca a perseguição e o isolamento social desse povo ao longo dos séculos.
De acordo com o cineasta, “os crimes de guerra foram dados como encerrados, e
os muitos perpetradores, ex-membros da SS e policiais criminosos, bem como os
‘pesquisadores do higienismo racial’, voltaram a seus cargos e posições e
continuaram a discriminar e excluir os ciganos por décadas."
Mais sobre a exposição
Com curadoria do próprio
artista e organização de Samuel Titan Jr. e Miguel Del Castillo, a mostra
apresenta integralmente as séries Ciganos (com 111 fotografias) e Exílios (74
obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com
supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes
Decorativas de Praga, República Tcheca. Também podem ser vistas 11 fotografias
da invasão da capital da então Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de
Varsóvia, em 1968, evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como
Primavera de Praga.
Ciganos foi a primeira
série que Koudelka dedicou a um único tema. Ele trabalhava como engenheiro
aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além
do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos.
Suas fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos
ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde
nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia. Nesses trabalhos, sua
intenção não era criar um relato preciso e objetivo da vida dos ciganos na
Europa Central da época, e sim registrar sua visão pessoal, em poderosas
histórias contadas por intermédio de imagens.
As fotografias de
Exílios, a outra série completa na mostra, começaram a ser produzidas a partir
de 1970. Nesse ano Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas
condições políticas em seu país. Para poder viajar e fotografar, vivia
modestamente. Em suas viagens constantes – por Espanha, França, Portugal,
Itália, Irlanda e Grã-Bretanha , retratou o povo romani, as celebrações
religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana. São fotos que
dão pleno testemunho da alienação e da busca pela identidade de uma vida
europeia em vias de desaparecer. Registrou também espaços desabitados, animais
perdidos em áreas densamente construídas, paisagens e naturezas-mortas.
Com entrada gratuita, a
exposição ocupa dois andares do IMS Paulista. O percurso começa pelo 8º andar,
onde estão as 111 fotos de Ciganos, e continua no 7º andar, onde, antes de se
chegar às fotografias de Exílios, o visitante é apresentado a 11 fotografias
num formato maior da série Praga 1968. Estão, portanto, dispostas na ordem em
que foram produzidas. As imagens da invasão soviética aconteceram por impulso.
Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista, mas pôs-se a
documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de
agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de
Varsóvia. Ao longo de sete dias dramáticos, criou uma série espetacular,
considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do
século XX. Para além da tragédia nacional, as imagens feitas naquela ocasião se
tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade.
Fonte:
Robson Figueiredo da Silva robson.silva@ims.com.br
Disponível em: https://www.anabittar.com.br/2024/09/exposicao-do-fotografo-josef-koudelka.html
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