quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Exposição no IMS com série de acampamentos ciganos do fotógrafo Koudelka encerra domingo

 

Em cartaz desde maio, a mostra apresenta séries emblemáticas do fotógrafo tcheco, entre elas, os registros feitos em acampamentos ciganos, entre 1962 e 1970. Como parte da programação de encerramento da exposição, no domingo (15/9), às 17h15, o cinema do IMS exibe o filme Ser cigano, do diretor Peter Nestler.

A exposição Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios termina neste domingo (15 de setembro). Exibida no sétimo e no oitavo andar do IMS Paulista, a mostra apresenta três dos mais icônicos trabalhos do fotógrafo tcheco Josef Koudelka (1938), um dos grandes representantes da tradição humanista da fotografia. As fotos da série Ciganos foram tiradas entre 1962 e 1970 em acampamentos ciganos. Em Praga, 1968, Koudelka documentou a invasão soviética de seu país. As imagens de Exílios foram feitas a partir dos anos 1970, após o artista deixar a Tchecoslováquia devido às condições políticas.

Em diálogo com a mostra, no domingo (15/9), às 17h15, o cinema do centro cultural promove uma sessão gratuita do filme Ser cigano (1970), de Peter Nestler, um dos mais relevantes cineastas do pós-guerra alemão. O longa-metragem aborda o genocídio e perseguição sofridos pelos povos ciganos durante e para além do regime nazista. O documentário mostra as tentativas de destruição de qualquer documentação sobre genocídio cigano nos campos de extermínio nazistas e apresenta os restos dessas evidências queimados, enterrados e destruídos, juntamente com pinturas do artista Otto Pankok, relatos dos sobreviventes e as imagens dos quartéis.

Em Ser cigano, o diretor refuta o clichê dominante na época de que “isso nunca mais acontecerá”, e insiste que “isso acontece todos os dias”. O filme vai além do Holocausto dos ciganos e destaca a perseguição e o isolamento social desse povo ao longo dos séculos. De acordo com o cineasta, “os crimes de guerra foram dados como encerrados, e os muitos perpetradores, ex-membros da SS e policiais criminosos, bem como os ‘pesquisadores do higienismo racial’, voltaram a seus cargos e posições e continuaram a discriminar e excluir os ciganos por décadas."

Mais sobre a exposição

Com curadoria do próprio artista e organização de Samuel Titan Jr. e Miguel Del Castillo, a mostra apresenta integralmente as séries Ciganos (com 111 fotografias) e Exílios (74 obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes Decorativas de Praga, República Tcheca. Também podem ser vistas 11 fotografias da invasão da capital da então Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como Primavera de Praga.

Ciganos foi a primeira série que Koudelka dedicou a um único tema. Ele trabalhava como engenheiro aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos. Suas fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia. Nesses trabalhos, sua intenção não era criar um relato preciso e objetivo da vida dos ciganos na Europa Central da época, e sim registrar sua visão pessoal, em poderosas histórias contadas por intermédio de imagens.

As fotografias de Exílios, a outra série completa na mostra, começaram a ser produzidas a partir de 1970. Nesse ano Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas condições políticas em seu país. Para poder viajar e fotografar, vivia modestamente. Em suas viagens constantes – por Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Grã-Bretanha , retratou o povo romani, as celebrações religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana. São fotos que dão pleno testemunho da alienação e da busca pela identidade de uma vida europeia em vias de desaparecer. Registrou também espaços desabitados, animais perdidos em áreas densamente construídas, paisagens e naturezas-mortas.

Com entrada gratuita, a exposição ocupa dois andares do IMS Paulista. O percurso começa pelo 8º andar, onde estão as 111 fotos de Ciganos, e continua no 7º andar, onde, antes de se chegar às fotografias de Exílios, o visitante é apresentado a 11 fotografias num formato maior da série Praga 1968. Estão, portanto, dispostas na ordem em que foram produzidas. As imagens da invasão soviética aconteceram por impulso. Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista, mas pôs-se a documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de Varsóvia. Ao longo de sete dias dramáticos, criou uma série espetacular, considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do século XX. Para além da tragédia nacional, as imagens feitas naquela ocasião se tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade.

Fonte: Robson Figueiredo da Silva robson.silva@ims.com.br

Disponível em: https://www.anabittar.com.br/2024/09/exposicao-do-fotografo-josef-koudelka.html

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