quarta-feira, 16 de maio de 2018

MPF ouve anseios de comunidade cigana em Mato Grosso e estreita relações Imprimir

Procurador Ricardo Pael se reúne com representantes ciganos ao redor de uma uma mesa
Ascom/MT

Representantes da comunidade cigana em Mato Grosso estiveram reunidos na última sexta-feira (11) com o procurador da República, titular do Ofício de Comunidades Indígenas e Populações Tradicionais no Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT), Ricardo Pael Ardenghi. Durante a reunião, foram apresentadas as principais demandas e necessidades do povo cigano, tanto no estado, quanto no país como um todo. O encontro faz parte da ação coordenada Maio Cigano, que integra o calendário do Projeto MPF Cidadão 30 anos.

A presidente da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), Fernanda Caiado agradeceu o olhar diferenciado que está sendo dado na tratativa com o povo cigano e entregou ao procurador um documento contendo informações básicas sobre as comunidades ciganas no estado e a pauta com as demandas locais e nacionais. “Precisamos agradecer ao MPF, em nome do procurador Ricardo, por ter tomado essa decisão de olhar com outros olhos, não só a cultura, mas os ciganos hoje, que temos em Mato Grosso e no Brasil. Nós temos acompanhado o trabalho que o Ministério Público Federal tem feito em alguns pontos, como a efetivação do Dia do Cigano. Existem outras coisas que precisam melhorar e agora, com o apoio do MPF, a gente sabe que vai melhorar”, afirmou Fernanda.

Para o procurador Ricardo Pael, este é o momento de abrir um canal de diálogo com a comunidade cigana, que não tinha contato com o MPF no Estado. “Este é um processo que estamos iniciando e que daremos andamento, buscando atender as demandas que estão sendo colocadas, dando maior visibilidade às necessidades de todas as comunidades ciganas, principalmente as daqui de Mato Grosso”, enfatizou.

Situações como a falta de dados por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) sobre a população cigana no país, a falta de acesso a documentos, saúde, educação e moradia, leia-se lugares apropriados para os acampamentos das famílias que ainda permanecem nômades, foram a principais problemas apresentados pelos representantes da comunidade cigana em Mato Grosso. “Não existem áreas específicas para os acampamentos, e, quando são cedidas, não possuem nenhuma infraestrutura como água, banheiros e energia elétrica. A precariedade é muito grande. Torna-se insalubre e faz com que as pessoas engrossem o coro de que os ciganos são sujos e porcos”, enfatizou a presidente da Associação das Etnias Ciganas em Mato Grosso.

Fernanda explicou que a AEEC-MT tem conhecimento de que existem grupos ciganos nas cidades de Rondonópolis, Tangará, Cuiabá, Sinop, Alto Garças, Pedra Preta e Barra do Garças, e que a intenção é se aproximar de outras associações ciganas existentes no país, como a do Distrito Federal. E, apesar de não haver dados específicos sobre ciganos em Mato Grosso, Fernanda acredita que existem pelo menos 700 pessoas no estado que se identificam como ciganos.

Durante o encontro, tanto Fernanda, quanto a professora Irandi Rodrigues Silva, cigana de nascimento, e Marcos Gatass, cigano e professor de danças ciganas, falaram sobre a fixação do povo em Mato Grosso, e também sobre a cultura e os costumes dos ciganos como um todo, sobre as divisões por etnias, sobre o linguajar entre outros temas.

A professora Irandi falou um pouco sobre sua história. “Sou cigana de pai e mãe, nasci em uma barraca e perambulei até os 16 anos por aí em um lombo de cavalo, até meus pais fixarem moradia em Tangará da Serra. A partir de então, nós começamos a nos misturar com os não ciganos, até para que nossa cultura pudesse sobreviver”, ressaltou a cigana, formada em Pedagogia no Instituto Tangaraense de Educação, servidora pública aposentada.

Para ela, a pior situação que o cigano vive nos dias atuais ainda é o preconceito. “Cigano não se identifica como tal, até a língua está se acabando. A vida de cigano, na integração social na atualidade, é muito difícil. Antigamente era mais fácil. As pessoas ainda têm aquela visão de que cigano é enganador, e rouba crianças, e isso nos traz muitas dificuldades, principalmente para as nossas crianças”, ressaltou.

Marcio Gatass, professor de dança cigana, corrobora as palavras de Irandi ao afirmar que muitos parentes não dizem que são ciganos devido ao preconceito. “Precisamos ser bem vistos e não mal vistos. É preciso que tenhamos visibilidade para acabar com este estereótipo que existe sobre os ciganos”, completou.

Por fim, o procurador Ricardo Pael explicou que, com base nas informações repassadas a ele durante a reunião e documentalmente, serão instaurados quatro procedimentos administrativos pelo MPF/MT, sendo um sobre a questão de acesso a documentação civil; outro sobre o acesso à saúde, observando as peculiaridades do povo cigano; acesso à educação, enfatizando a questão de discriminação e possibilidade de abertura de cotas; e também para acesso a acampamentos com infraestrutura como energia e sanitários. Além disso, os documentos serão enviados às unidades do MPF no interior. “Diante de tantos problemas enfrentados pelos ciganos no Mato Grosso, é inadmissível que não haja nenhum procedimento instaurado. Essa realidade começa a mudar hoje”, concluiu.

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