terça-feira, 30 de outubro de 2018

Artigo: Comunidades ciganas: milenares, sábias e resistentes

"Estudamos, trabalhamos, pagamos impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões negativas e promover a inclusão social.

Desde o século X, quando chegamos na Europa, sofremos com sucessivas políticas persecutórias. A mais grave foi o nazismo, que assassinou mais de 500 mil ciganos. Em Portugal, onde estamos desde o século XIV, foram editadas leis que proibiam as pessoas ciganas de andarem juntas, de falarem suas línguas, de exercerem suas profissões tradicionais, enfim, de serem ciganos, sob pena de prisão, tortura, assassinato ou degredo. Hoje a população cigana é a que sofre mais preconceitos e está em situação de exclusão e desigualdade social no país.
Foi através do degredo português que chegamos ao Brasil no primeiro século da colonização. Registros históricos apontam para a presença cigana fazendo comércio em terras tupiniquins já nos anos de 1530. Até a independência do Brasil (1822), milhares de famílias ciganas foram expulsas de lá para cá. Junto com os degredados veio também o racismo contra as pessoas ciganas, que já estava arraigado na cultura portuguesa e continuou a pairar no imaginário social dos brasileiros.
Surgiram e persistem até os dias de hoje estereótipos e estigmas, negativos ou romantizados, que vão do ladrão e sequestrador de criancinhas, até ao artista e a mulher hipersexualizada, representada, por exemplo, pela personagem de Machado de Assis, a prostituta Capitu, olhos de cigana, oblíquos e dissimulados. Apesar das tentativas de genocídio cultural e físico, resistimos! Ajudamos a construir o Brasil e a identidade nacional, exercendo uma forte influência na culinária e na música popular brasileira, incluindo o Samba e a música sertaneja.
As comunidades ciganas se compõem de três grandes etnia, os Kalon, os Sinti e os Rom, que se subdividem em inúmeros grupos; as comunidades ciganas formam a maior nação sem território. Somos mais de 15 milhões de pessoas vivendo em todos os continentes e países, o que nos torna muito diversos. Temos culturas que ultrapassam os mais de mil anos de história. Com filosofias e modos de vida, que congregam saberes e narrativas, histórias e conhecimentos riquíssimos. Resistimos às opressões do colonialismo, mas fomos perseguidos pela sociedade ocidental.
Atualmente, somos aproximadamente 500 mil pessoas vivendo em todos os estados. Em Mato Grosso há uma considerável comunidade fixa e circulam vários grupos nômades. A nossa família, que tem cerca de 300 pessoas, está por aqui há mais de 80 anos, principalmente, nos municípios de Cuiabá, Rondonópolis e Tangará da Serra. Felizmente, muitos ciganos brasileiros estão integrados e são reconhecidos socialmente.
Estudamos, trabalhamos, pagamos impostos, exercemos a cidadania e caminhamos para reverter essas visões negativas e promover a inclusão social. Porém, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU, 2016), “no Brasil, as famílias de ciganos estão frequentemente em situação de extrema pobreza, sem acesso a eletricidade, água potável e saneamento básico adequado”.
Nesse documento, a ONU destaca a importância do papel da mídia no combate ao racismo contra as pessoas ciganas. Um trabalho que pode ser feito de várias maneiras: não perpetuar imagens negativas, divulgando sem preconceitos as culturas e comunidades ciganas, seus saberes e filosofias; denunciar a falta de acesso a serviços básicos educacionais, de saúde e sociais; ou ainda cobrar das autoridades competentes políticas públicas de promoção e proteção da igualdade racial.
Para conhecer mais sobre o relatório da ONU, acesse o documento da relatora especial da ONU em espanhol (aqui) e em inglês (aqui).

Por Aluízio de Azevedo e Simone Rodrigues
Assessoria de Comunicação da AEEC-MT

Texto Disponível em: http://clicknovaolimpia.com.br/slideshow/id-801697/comunidades_ciganas__milenares__sabias_e_resistentes 

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