Acampamento cigano de Nova
Canaã*
**Por Drs. Aluízio de Azevedo Silva
Júnior and Margareta (Magda) Matache
Em todo o mundo, uma tendência
violenta e perturbadora de atos racistas anti-romani por parte da polícia,
formuladores de políticas, mídia e outros está colocando em risco as famílias e
comunidades romani durante a pandemia do COVID-19.
Também somos atacados quando nos
manifestamos contra essa injustiça. Por exemplo, um artigo sobre o racismo anticigano
publicado pelo “Libertatea”, um conhecido jornal romeno, foi rapidamente rebatido
por vozes racistas, de extrema-direita e populistas. Somente a conta do
Facebook do editor Libertatea recebeu mais de 650 mensagens em 24 horas, a
maioria delas odiosa ou ofensiva.
Uma mensagem dizia: “os únicos
líderes que conseguiram fazer uma mudança real [na Romênia] foram Antonescu [o
líder pró-nazista que ordenou a deportação de Ciganos para a Transnístria nos
anos 40, o que resultou na morte de mais de 25.000 pessoas] e Ceausescu [o
ditador]. ” Os comentários da supremacia angustiaram e inspiraram um romeno
anti-racista a criar uma nuvem de palavras intitulada "27 minutos de
racismo".
Este incidente é apenas um exemplo
da onda de ódio e racismo antiromani observada durante a pandemia do COVID-19, situação
que põe em evidência os desafios que os romani enfrentam. Durante séculos, as
desigualdades estruturais perturbaram a vida das comunidades ciganas em todos
os lugares. Excluídos historicamente, as pessoas romani foram afetadas pela
pobreza racializada, enfrentaram sérios desafios econômicos e têm acesso
limitado a água, alimentos e serviços de saúde pública imparciais.
Felizmente, um número considerável
de ativistas, organizadores da comunidade, estudiosos e aliados se mobilizaram
para apoiar comunidades ciganas pobres com comida e suprimentos durante este
período desafiador. Mas isso é apenas uma gota no oceano!
Embora esse apoio atenda às
necessidades imediatas de saúde e segurança de um pequeno número de pessoas, a
maioria das comunidades ciganas continua vivendo na exclusão, pobreza e medo. À
medida que o racismo antiromani se espalha sem controle, mais pessoas ciganas
têm medo de compartilhar seu senso de herança identitária, optando por mantê-lo
de maneira privada e segura sob os telhados de suas casas.
O mundo desconhece amplamente as
lutas que ativistas romani nas Américas e em outras partes do mundo enfrentam
hoje, durante a crise e todos os dias. Em resposta, ativistas e estudiosos têm
documentado o racismo antiromani. Da Espanha à Eslováquia, Bulgária e Romênia,
contamos, compartilhamos e arquivamos as histórias de ódio, notícias falsas e
medidas anticiganas. Outros estão tentando se manifestar usando os poucos
fóruns públicos que encontram, incluindo as mídias sociais.
Mas é preciso fazer mais para
proteger a saúde e os direitos das pessoas ciganas no momento. Por exemplo, o
racismo antiromani corre solto no Brasil, lar da maior população cigana da
América Latina.
No final de março, os municípios
de Cachoeira do Sul, Imbituva e Dois Vizinhos expulsaram grupos itinerantes do
tronco étnico Kalon de seus territórios. Além disso, em abril, a cidade de
Guarapuava também tentou expulsar outro grupo romani. Como os municípios da
Bulgária, Romênia e Eslováquia, autoridades desses municípios brasileiros
justificaram suas ações injustas culpando e retratando incorretamente as
pessoas ciganas como vetores principais da transmissão de coronavírus.
Felizmente, a expulsão foi interrompida pelo Ministério Público.
Nós não podemos ficar de braços
cruzados enquanto nossas comunidades são colocadas como bode expiatórias e
submetidas a tratamentos desumanos. A hora da ação urgente é agora. No início
deste mês, associações, grupos de pesquisa e ativistas ciganos no Brasil
denunciaram o racismo anticigano e emitiram um chamado à ação.
Durante esses tempos perigosos, os
povos ciganos - especialmente advogados e estudiosos - devem criar uma ponte
para fortalecer a solidariedade, organização e mobilização em nossa comunidade
global. Até o momento, houve apenas algumas oportunidades de colaboração em
diferentes continentes, explorando as possibilidades de um movimento romani
global sustentado, como o primeiro congresso romani mundial de 1971. Mas
precisamos nos mobilizar pela justiça e por uma participação política,
econômica e cultural justa e robusta das pessoas ciganas.
Os ciganos também precisam de mais
aliados, entusiastas para se manifestar contra o racismo antiromani. Precisamos
de anti-racistas de todas as origens para liderar pelo exemplo. Vamos todos nos
solidarizar com nossas irmãs e irmãos romani!
** Dr. Aluízio de Azevedo Silva
Júnior, é ativista Romani, doutor em Comunicação e Saúde Cigana
** Dr. Magda Matache é diretora do Programa Romani do FXB
Centro da Universidade de Harvard
*Crédito: Aluízio de Azevedo Silva Júnior.
Disponível originalmente em: https://fxb.harvard.edu/2020/04/30/standing-up-against-anti-romani-racism-covid19/
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