sábado, 16 de maio de 2020

Dia internacional da Resistência Romani: Mulheres e homens ciganos, Existimos e Resistimos



Da esquerda para direita: Anésio, Araxides, Eurípedes e Stoesse, membros da AEEC-MT. 
Foto: Karen Ferreira (2017)

Hoje, 16 de Maio, as comunidades ciganas do mundo rememoram o Dia da Resistência Cigana/Romani. A data se estabeleceu devido a bravura de seis mil e quinhentas pessoas ciganas presas no campo de concentração nazista BII de Auscwitz-Bikernau, que se revoltaram contra as tropas nazistas no momento em que os levariam à câmara de gás; mantendo uma rebelião que começou no dia 16 de maio de 1944 e durou até o dia 03 de agosto.

Também conhecido como “O Campo Cigano”, ao longo da segunda guerra mundial, o local chegou a abrigar 23 mil pessoas romani, em sua maioria das etnias Rom e Sinti. A data é importante para mostrar o quanto resistiram mesmo diante da perseguição e da morte. O motim evidenciou a garra das pessoas ciganas que, mesmo sem armas, resistiram, utilizando o que encontravam, como pedras, paus, ferramentas e até pão.

Sem romantização, esses heróis da resistência ao nazismo, são o retrato de que mesmo diante do pior inimigo ou opressão, a dignidade das pessoas ciganas e, consequentemente, da humanidade, não se dobra. Elas representam perfeitamente as comunidades e grupos étnicos romani, que continuam fortes, resistentes e lutando até o fim contra o anticiganismo, as políticas persecutórias e o racismo histórico, jamais se entregando à assimilação ou ao etnocídio.

As mulheres e homens ciganos e portugueses, país do qual, os romani foram degredados para o Brasil durante 300 anos, são exemplo desta resistência e é de lá que vem a inspiração para o título desse texto. Idealizado pela atriz Maria Gil - Calin residente na cidade do Porto – as mulheres ciganas portuguesas, lançaram um movimento denominado “Mulheres e Ciganas, Existimos e Resistimos”.
Dona Maria Amélia e os sobrinhos e netos, cidade de Beja, Portugal. Foto: Karen Ferreira (2017)

O movimento ganhou força porque, se por um lado, mostra a intersecção da dupla opressão que sofrem as mulheres e ciganas: o machismo e o racismo; por outro lado enfoca na visibilidade social (existência) e na identidade cultural (resistência) que elas e as culturas e comunidades romani vêm alcançando. Isto é, resistindo fortemente ao racismo/machismo da sociedade portuguesa e quebrando estereótipos internos das próprias comunidades.

Muitas mulheres e ciganas de Portugal ou de Brasil foram perseguidas ou mortas pela igreja católica durante a inquisição, devido aos seus conhecimentos sobre ervas, remédios naturais ou o trabalho com a leitura de mãos. Mas resistiram e hoje estudam, trabalham, cuidam de seus filhos e famílias, transmitindo e mantendo suas culturas.
O Acrobata e Cigano Manush Francês Raymond sobreviveu a nove campos de concentração nazista

Outro exemplo da resistência romani, é o sobrevivente do holocausto, Raymond Gureme, que escapou de nove campos de concentração. Ativista respeitado na comunidade internacional cigana e ex-membro da Resistência Francesa ao nazismo, Raymond viveu no circo desde que nasceu (1925) até o ano de 1941, quando com toda a família foi preso pela polícia francesa num campo de concentração, de onde fugiu utilizando suas habilidades de acrobata.

Aluízio de Azevedo, Calon, jornalista, assessor para Ciência e Comunicação da Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso.

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