terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Projeto Diva e as Calins de MT recebe prêmio Rodrigo Mello Franco

 

Realizado pelo IPHAN desde 987, o tema deste ano do concurso foi “Sustentabilidade Socioeconômica do Patrimônio Cultural”

O projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã” que reconheceu e homenageou a raizeira e benzedeira cigana, Maria Divina Cabral, a Diva, como mestra da cultura mato-grossense, foi uma das cinco iniciativas premiadas na categoria 2 – pessoas jurídicas da 35ª edição do prêmio Rodrigo Mello Franco (2022).

O resultado foi publicado no Diário Oficial da União desta segunda-feira (05.12), condecorando 10 ações, cinco na categoria de pessoas físicas e cinco de pessoas jurídicas de todo o país.

Produzido pela Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT), “Diva e as Calins de MT: Ontem, Hoje e Amanhã” foi uma das 70 iniciativas selecionadas no edital Conexão Mestres da Cultura, da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer de Mato Grosso (Secel-MT).

O prêmio Rodrigo Mello Franco é promovido desde 1987 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), valorizando “iniciativas com foco na promoção do Patrimônio Cultural Brasileiro, que mereçam reconhecimento público devido à sua relevância social e caráter exemplar” e que abrangem “excelência na salvaguarda de práticas e domínios da vida social representativas”.

Com a iniciativa, o IPHAN também concede às cinco melhores iniciativas o "Selo do Prêmio “Rodrigo Melo Franco de Andrade-2022", que poderão utilizá-lo em peças promocionais, de marketing e publicidade, tanto impressas quanto digitais, desde que tais peças sejam vinculadas à ação premiada.

O processo de seleção dos projetos premiados foi dividido em duas etapas: a primeira regional, quando foram selecionadas cinco iniciativas de cada região brasileira, que concorreram à etapa nacional.

Pela região Centro-Oeste, além do projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso”, outras duas iniciativas mato-grossenses da categoria pessoa jurídica também foram selecionadas para a etapa nacional. Foram elas: “No Ritmo da Viola de Cocho: entre a Chapada e a Serra do Amolar, nas Águas do Pantanal” e “Quintais da Cultura Popular Cuiabana”.

A Comissão Nacional de seleção das ações foi composta por até 20 (vinte) membros e incluirá os 5 (cinco) diretores do Iphan, ou seus substitutos, assim como especialistas convidados, de reputação ilibada e reconhecido conhecimento no campo do patrimônio cultural.

Entre os critérios de seleção para a premiação de Diva e as Calins de Mato Grosso e as demais iniciativas selecionadas, estavam: contribuição ao patrimônio cultural brasileiro e sua sustentabilidade socioeconômica, abordagem transversal, pertinência, impacto da ação na sociedade, histórico, adequação, profundidade, diversidade de atores envolvidos e ineditismo.

Saberes das Mulheres ciganas de MT: patrimônio nacional e artístico brasileiro

Fernanda Alves Caiado: sentada de vestido amarelo florido, sua mãe, irmã e primas

Com o reconhecimento do IPHAN, de certa maneira, a mestra Diva passa a ser reconhecida como uma mestra da cultura brasileira e não apenas mato-grossense. Para a coordenadora geral do projeto e presidente da AEEC-MT, Fernanda Alves Caiado, esta é uma vitória que valoriza não apenas o saber da mestra Diva, que é importantíssimo, como também os saberes de todas as mulheres ciganas mato-grossenses e brasileiras.

“É uma vitória, uma benção e um reconhecimento. Quando a gente fala de mulher cigana, as memórias que vêm são de mulheres muito guerreiras, pelas histórias das nossas tias, das nossas mães. A gente sabe que no meio cigano elas são pilares. A Diva, por exemplo, é uma mestra em todos os sentidos. Ela sempre tratou tudo com muito amor, com muito carinho, com muito afeto. Sempre tratou muita gente, amou muita gente, cuidou da mãe dela, uma matriarca, até os últimos dias”, emociona-se a ativista cigana.

A presidente da AEEC-MT pondera que, pelo ineditismo do prêmio voltado para os povos ciganos, esta é uma mostra importantíssima de que o Estado reconhece que os povos ciganos contribuíram não apenas para as artes e o patrimônio cultural e imaterial, como também para a história nacional e a sustentabilidade socioeconômica da nação brasileira, quebrando assim, estereótipos e preconceitos seculares contra os povos ciganos.

“Eu estou muito emocionada, muito mesmo, muito feliz. Significa que a gente tá colhendo frutos do nosso plantio e que esse reconhecimento venha, permaneça e que fique enraizado nos corações das mulheres que participaram do projeto, no coração de todos que acompanharam e no imaginário e coração dos mato-grossenses e dos brasileiros. O sentimento é de muita gratidão, a Deus, a todo mundo que de forma direta ou indiretamente contribuiu”, conclui Fernanda.

Produtos Transmidiáticos: valorização da cultura e identidade cigana

Executado entre 2021/2022, o projeto se desdobrou em três produtos transmidiáticos que giraram em torno dos saberes da mestra da medicina tradicional e das mulheres que pertencem ao tronco étnico Calon e que se autodenominam como “Calins”. Foram eles: o “I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso”, a “Exposição Multimídia Calin” e a minissérie “Diva e as Calins de Mato Grosso.

A Exposição Multimidia Calin pode ser acessada no link: www.galeriacalin.com . o trabalho visa mostrar a diversidade das mulheres ciganas que vivem nas cidades de Rondonópolis, Tangará da Serra e Cuiabá, enriquecendo também a diversidade cultural mato-grossense. O material multimídia exposto é resultado de um encontro sutil e delicado entre nossa equipe fotográfica e o modo como as mulheres ciganas destes três municípios se veem, se mostram e, principalmente, querem ser vistas, brindando o público com novas autorrepresentações do universo romani.

O I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso ocorreu entre os dias 22, 23 e 24 de abril de 2021, em Rondonópolis (a 220 km de Cuiabá), cidade que reúne a maior comunidade cigana de MT: em torno de 150 pessoas.  O encontro contou com a participação de outras 15 mulheres ciganas e contou com duas programações: 

A roda de diálogo “Princípios Introdutórios da Medicina Tradicional Calon”, em que Diva transmitiu o conhecimento de como manipular uma garrafada; e a roda diálogo “Rememorando a Chibe”. Chibe é o modo como os ciganos brasileiros do tronco étnico calon denominam seu dialeto, que também pode ser chamado de romanon ou romanó-kaló.

Mulheres Ciganas aprendem a fazer garrafada com a Mestra Diva

Já a minissérie Diva e as Calins de Mato Grosso é um trabalho etnodocumental, composta por cinco episódios de aproximadamente cinco minutos cada, que retrata os saberes e as tradições das mulheres ciganas mato-grossenses.

O trabalho adentra ao universo romani trazendo como foco a história da Mestra Diva e de outras quatro mulheres suas parentas, consideradas pela série como mestras da cultura cigana. São elas: a professora Irandi e a assistente Social Terezinha, ambas residentes em Cuiabá; a agricultora Nerana (Tangará da Serra) e a negociante Nilva (Rondonópolis); mulheres calins que tanto estruturam suas famílias e comunidades, quanto fazem a diferença na realidade social do estado e do país.

Assista aqui ao teaser da minissérie Diva e as Calins de MT.

Texto: Aluízio de Azevedo, Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT

Fotos: Karen Ferreira

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