sábado, 14 de setembro de 2024

Dia dos Ciganos no PR: Seminário debate Direitos e cidadania

 

Podem participar do evento gestores, conselheiras e conselheiros, pessoas engajadas e/ou comprometidas com a luta pelos povos e comunidades tradicionais, estudantes, graduandos, doutorandos e sociedade em geral.

O Governo do Estado, por meio da Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), promoverá no dia 23 de setembro, das 8h às 17 horas, no Centro Universitário UniBrasil, o 1º Seminário dos Povos Ciganos e Direitos Humanos. 

O objetivo é discutir a presença e a importância de políticas de promoção da igualdade étnico-racial e os povos ciganos.

O Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT é um dos palestrantes convidados do evento.

A secretária da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte, destacou a importância em colaborar com a construção e o fortalecimento das estratégias voltadas a esses povos.

“Além disso, buscamos aumentar os esforços para a implementação do acesso aos direitos fundamentais considerando as especificidades dos povos ciganos dentro da diversidade das etnias Rom e Calon, reconhecendo a participação dos Povos Ciganos na formação da sociedade paranaense”, afirmou.

Podem participar do evento gestores, conselheiras e conselheiros, pessoas engajadas e/ou comprometidas com a luta pelos povos e comunidades tradicionais, estudantes, graduandos, doutorandos e sociedade em geral. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas neste link. Ao final do Seminário, será emitido certificado de participação.

A programação do evento conta com uma palestra de Aluízio de Azevedo sobre “Povos Ciganos e o acesso a direitos fundamentais” e rodadas de discussão. A mesa 1 discutirá a atuação histórica de órgãos na garantia de direitos aos Povos Ciganos e a mesa 2 abordará a temática “História, Cultura e Invisibilidade: Povos Ciganos e suas lutas em busca de reconhecimento”.

O Dia Estadual dos Povos Ciganos, celebrado em 23 de setembro no Paraná, tem uma profunda simbologia para a comunidade cigana. Esse dia homenageia Cláudio Domingos Iovanovitchi Júnior, uma criança que faleceu aos 10 anos em 1999.

Serviço:

Data: 23 de setembro, segunda-feira

Horário: das 8h às 17 horas

Local: UniBrasil – Rua Konrad Adenauer, 442 – Curitiba/PR

Disponível em: https://www.aen.pr.gov.br/Noticia/Parana-promove-1o-Seminario-dos-Povos-Ciganos-e-Direitos-Humanos-no-dia-23-de-setembro

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Jovens Ciganas ocupam vaga no Conselho Estadual de Juventude de MT

Rayanne (terceira da esquerda para direita) será uma das representantes da AEEC-MT no Conjuv-MT. Foto dos jovens entrevistados para o programa Avisa Lá que Eu Vou, com Paulo Vieira.

De maneira inédita, os povos ciganos mato-grossenses passarão a ocupar vaga no Conselho Estadual de Juventude de Mato Grosso (Conjuv-MT).

O órgão é vinculado à Secretaria de Estado de Trabalho, Ação Social e Cidadania de Mato Grosso e tem a responsabilidade de formular e monitorar as políticas públicas para a juventude em âmbito estadual.

As duas vagas, titular e suplente no conselho relativas aos povos ciganos, serão ocupadas, respectivamente, pelas jovens Rayanne Alves Pereira (município de Guiratinga) e Maria Clara Rodrigues Aquino (município de Tangará da Serra).

De etnia Calon, as duas jovens representam a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) no Conjuv-MT, que se habilitou nas eleições deste ano.

Elas ocuparão o mandato no período entre 2024 e 2026.

Mandato no Conjuv-MT será entre 2024 e 2026: órgão visa formular e monitorar políticas públicas para a juventude mato-grossense

Conheça Maria Clara Rodrigues

Maria Clara de Aquino é estudante de psicologia, estagiária em saúde e atualmente exerce a função de Analista de Pesquisa de Mercado com experiência em marketing e RP. Paralelamente, dedica-se à fotografia com enfoque em expressões artísticas culturais e eventos. Ela possui também experiência em direção fotográfica e cinegrafia, tendo participado de projetos significativos, como o II Encontro de Mulheres Ciganas de MT, a Mostra Calon Lachon, o minidocumentário Belina 5&15am e o documentário Joeli Siqueira. Seus projetos destacam artistas e figuras tradicionais do estado de Mato Grosso, bem como as riquíssimas expressões étnicas e plurais da região. Residente no município de Tangará da Serra (MT)

Conheça Rayanne Alves

Advogada graduada em 2019 no Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI. Tem pós-graduação em Direito Penal (2021 - Centro Universitário UniFAVENI) e pós-graduação em Docência no Ensino Superior – (2022 Centro Universitário Leonardo Da Vinci – UNIASSELVI). Atuou como advogada na Indústria e Comércio de Cereais Luciana Ltda (Produtos São Joao) – (2020/2022) / Rondonópolis-MT e na Empresa Agiliza Isenções / Rondonópolis-MT (2021). Atualmente, é advogada autônoma. Integra desde a AEEC-MT desde o início da fundação, atuando na Coordenação de Juventude da instituição. Residente no município de Guiratinga (MT).

 

 

Exposição no IMS com série de acampamentos ciganos do fotógrafo Koudelka encerra domingo

 

Em cartaz desde maio, a mostra apresenta séries emblemáticas do fotógrafo tcheco, entre elas, os registros feitos em acampamentos ciganos, entre 1962 e 1970. Como parte da programação de encerramento da exposição, no domingo (15/9), às 17h15, o cinema do IMS exibe o filme Ser cigano, do diretor Peter Nestler.

A exposição Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios termina neste domingo (15 de setembro). Exibida no sétimo e no oitavo andar do IMS Paulista, a mostra apresenta três dos mais icônicos trabalhos do fotógrafo tcheco Josef Koudelka (1938), um dos grandes representantes da tradição humanista da fotografia. As fotos da série Ciganos foram tiradas entre 1962 e 1970 em acampamentos ciganos. Em Praga, 1968, Koudelka documentou a invasão soviética de seu país. As imagens de Exílios foram feitas a partir dos anos 1970, após o artista deixar a Tchecoslováquia devido às condições políticas.

Em diálogo com a mostra, no domingo (15/9), às 17h15, o cinema do centro cultural promove uma sessão gratuita do filme Ser cigano (1970), de Peter Nestler, um dos mais relevantes cineastas do pós-guerra alemão. O longa-metragem aborda o genocídio e perseguição sofridos pelos povos ciganos durante e para além do regime nazista. O documentário mostra as tentativas de destruição de qualquer documentação sobre genocídio cigano nos campos de extermínio nazistas e apresenta os restos dessas evidências queimados, enterrados e destruídos, juntamente com pinturas do artista Otto Pankok, relatos dos sobreviventes e as imagens dos quartéis.

Em Ser cigano, o diretor refuta o clichê dominante na época de que “isso nunca mais acontecerá”, e insiste que “isso acontece todos os dias”. O filme vai além do Holocausto dos ciganos e destaca a perseguição e o isolamento social desse povo ao longo dos séculos. De acordo com o cineasta, “os crimes de guerra foram dados como encerrados, e os muitos perpetradores, ex-membros da SS e policiais criminosos, bem como os ‘pesquisadores do higienismo racial’, voltaram a seus cargos e posições e continuaram a discriminar e excluir os ciganos por décadas."

Mais sobre a exposição

Com curadoria do próprio artista e organização de Samuel Titan Jr. e Miguel Del Castillo, a mostra apresenta integralmente as séries Ciganos (com 111 fotografias) e Exílios (74 obras). Ambas tiveram suas tiragens produzidas nas décadas de 1980 e 1990, com supervisão do fotógrafo, e pertencem à Coleção Josef Koudelka no Museu de Artes Decorativas de Praga, República Tcheca. Também podem ser vistas 11 fotografias da invasão da capital da então Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968, evento que interrompeu abruptamente o período celebrado como Primavera de Praga.

Ciganos foi a primeira série que Koudelka dedicou a um único tema. Ele trabalhava como engenheiro aeronáutico e colaborava como fotógrafo para o Divadlo za branou (Teatro Além do Portão), registrando ensaios e espetáculos, quando se interessou pelos ciganos. Suas fotografias foram feitas entre 1962 e 1970, a maioria em acampamentos ciganos no leste da Eslováquia, mas também na Boêmia, na Morávia (região onde nasceu, na cidade de Boskovice, em 1938) e na Romênia. Nesses trabalhos, sua intenção não era criar um relato preciso e objetivo da vida dos ciganos na Europa Central da época, e sim registrar sua visão pessoal, em poderosas histórias contadas por intermédio de imagens.

As fotografias de Exílios, a outra série completa na mostra, começaram a ser produzidas a partir de 1970. Nesse ano Josef Koudelka saiu da Tchecoslováquia, motivado pelas condições políticas em seu país. Para poder viajar e fotografar, vivia modestamente. Em suas viagens constantes – por Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Grã-Bretanha , retratou o povo romani, as celebrações religiosas, as festas populares tradicionais e a vida cotidiana. São fotos que dão pleno testemunho da alienação e da busca pela identidade de uma vida europeia em vias de desaparecer. Registrou também espaços desabitados, animais perdidos em áreas densamente construídas, paisagens e naturezas-mortas.

Com entrada gratuita, a exposição ocupa dois andares do IMS Paulista. O percurso começa pelo 8º andar, onde estão as 111 fotos de Ciganos, e continua no 7º andar, onde, antes de se chegar às fotografias de Exílios, o visitante é apresentado a 11 fotografias num formato maior da série Praga 1968. Estão, portanto, dispostas na ordem em que foram produzidas. As imagens da invasão soviética aconteceram por impulso. Koudelka nunca havia trabalhado antes como fotojornalista, mas pôs-se a documentar o que se passava nas ruas de Praga tão logo soube, na manhã de 21 de agosto de 1968, da invasão da Tchecoslováquia por exércitos do Pacto de Varsóvia. Ao longo de sete dias dramáticos, criou uma série espetacular, considerada por muitos um dos mais importantes trabalhos de fotojornalismo do século XX. Para além da tragédia nacional, as imagens feitas naquela ocasião se tornaram simbólicas de toda opressão militar e da luta por liberdade.

Fonte: Robson Figueiredo da Silva robson.silva@ims.com.br

Disponível em: https://www.anabittar.com.br/2024/09/exposicao-do-fotografo-josef-koudelka.html

Com apoio do Estado ciganos, quilombolas e indígenas ingressam na universidade

10 estudantes de etnias ciganas Calon e Rom foram aprovados no processo seletivo, entre eles, a Calin de Rondonópolis, Andressa Rodrigues. Estudantes receberão bolsas integrais para realizar seus cursos de nível superior na instituição.

DA AEN

O Governo do Estado celebrou o ingresso no ensino superior de 60 candidatos quilombolas, indígenas e ciganos. Eles participaram, nesta quinta-feira (9), da 1ª Calourada da Diversidade, do Centro Universitário Internacional (Uninter), que oferta bolsas para este público, por meio de parceria com a Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, permitindo o ingresso na universidade.

O evento marcou, também, o início do Programa de Cotas da instituição, destinado a esses povos. Após as provas online, foram destinadas 50 bolsas para quilombolas e indígenas, e 20 bolsas, sendo 10 de graduação e 10 para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), para a comunidade cigana das etnias Rom, Calon e Sinti.

A ação é em parceria com a Semipi, com a Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), a Confederação Brasileira Cigana e Coletivo das Mulheres Ciganas do Brasil (Comcib).

REPRESENTATIVIDADE – Lideranças quilombolas, indígenas e ciganas celebraram a possibilidade de mudanças nas suas realidades. Kretã Kaingang, cacique da Terra Indígena Tupã Nhe e Kretã e um dos fundadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil/Sul, disse que presenciou um momento diferente e especial. “Essa oportunidade de acesso marca um novo modelo de educação superior no Brasil para nós, povos indígenas, que é a EaD. A expectativa é que a cada ano os nossos jovens possam buscar cursos como esse e que não desistam”, relatou.

“O acolhimento por meio dessas bolsas de estudo ofertadas vem celebrar essa e muitas outras vitórias que virão, até mesmo para que o povo cigano consiga ocupar, realmente, o seu espaço de fala”, observou Nardi Casanova, cigana Calon e secretária-executiva nacional da Confederação Brasileira Cigana.

Para Benedito Florindo de Freitas Junior, quilombola de Adrianópolis, é um marco significativo para as comunidades tradicionais do Paraná. “A iniciativa é um passo crucial para a formação e melhoria da vida dos quilombolas, permitindo que eles próprios possam contar suas histórias e desenvolver projetos, como ter professores e profissionais na comunidade”, ressaltou. “A expectativa é que facilite a integração e a evolução dentro da sociedade globalizada, possibilitando a contribuição da cultura quilombola no contexto acadêmico”, disse.

DIVERSIDADE NA UNIVERSIDADE – O ingresso no ensino superior é um importante passo para realização dos sonhos dos alunos e a vontade de mudar o ambiente que os cercam. Aline de Souza de Castro, quilombola da comunidade Varzeão, no município de Doutor Ulysses, foi aprovada em Engenharia Agronômica e falou das expectativas.

“Escolhi esse curso porque na nossa região existe muita produção de poncã, pinus, etc. A parte de agricultura é muito forte e é necessário um profissional nessa área. Estão montando uma cooperativa na nossa comunidade, que atenderá em torno de 40 famílias que vivem lá”, explicou. “Tenho certeza que com a minha formação poderei contribuir de forma significativa”.

Para Lucas Stefanovich, cigano da etnia Rom, de Curitiba, aprovado em Tecnologia em Marketing, o curso vai proporcionar as ferramentas e o conhecimento necessários para fazer a diferença tanto na vida dele quanto na comunidade. “Ter uma graduação é algo que eu sempre vi como essencial, então essa oportunidade realmente expandiu meus horizontes. Essa conquista não é só pessoal, mas é um passo importante para devolver para a comunidade o aprendizado e o sucesso que a gente tanto quer obter”, ressaltou.

A secretária da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa, Leandre Dal Ponte, celebrou o projeto. “É uma parceria pioneira entre o Governo do Estado e a Uninter, para implementar políticas públicas que visam transformar a vida das pessoas, especialmente das comunidades tradicionais do Paraná. A iniciativa cria oportunidades de acesso ao ensino superior para aqueles que historicamente tiveram menos possibilidades”, reforçou.

Leandre disse que o governador Ratinho JUnior estabeleceu uma Secretaria de Estado para apoiar essa política, e que a colaboração com a instituição de ensino é um passo crucial para potencializar e dar continuidade a esses esforços. “A expectativa é que essa parceria sirva de modelo para outras instituições e ajude a quitar uma dívida histórica com essas comunidades”, completou.

O pró-reitor da Uninter, Rodrigo Berté, destacou que esse processo seletivo é a evolução de uma parceria iniciada há dois anos entre a instituição e comunidades indígenas, que começou com um projeto de internacionalização envolvendo indígenas do Canadá e levou à identificação da necessidade de formar professores indígenas.

“A iniciativa expandiu para incluir quilombolas e ciganos, com a criação de um edital de bolsas de estudo integral para essas comunidades. A instituição enfatiza a importância de um olhar social e inclusivo, buscando democratizar o acesso ao ensino superior e apoiar a diversidade. A parceria com o Estado é positiva e está alinhada com o compromisso da Uninter com a inclusão e a socialização do conhecimento”, afirmou.

Disponível em: https://p1news.com.br/destaque/com-apoio-do-estado-ciganos-quilombolas-e-indigenas-ingressam-na-universidade/

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Pesquisa com povos ciganos analisa interseccionalidade e decolonialidade no SUS

 

Por Laboratório de Comunicação e Saúde/Icict/Fiocruz (Divulgação) (com Ascom Icict)

05/09/2024

Nos dias 15 e 16 de agosto, no campus da Fiocruz-Brasília, aconteceu o I Seminário Geral da pesquisa “Interseccionalidades e (de)colonialidades na Política Nacional de Integração em Saúde dos Povos Ciganos uma abordagem e um caminho para descolonizar o SUS”. O evento marcou o encerramento da fase de implementação da pesquisa, que tem em sua coordenação geral, Inesita Soares de Araujo, pesquisadora do Laboratório de Comunicação e Saúde (Laces)/Icict/Fiocruz e como coordenador adjunto Aluízio de Azevedo, do Ministério da Saúde.

Com o objetivo geral de identificar como se produz a prática colonial de anticiganismo nas instâncias do SUS, bem como as possíveis formas de descolonização, a investigação está sendo desenvolvida pelo Laboratório e conta com financiamento e apoio do Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão à Saúde (PMA), do Ministério da Saúde, por meio de aprovação na Chamada para submissão de propostas nº 01/2023, que privilegiou projetos que buscassem a descolonização do SUS. 

A pesquisa, que começou em março de 2024 e tem previsão de término até fevereiro de 2026, pauta sua atenção nas formas como a população cigana é percebida, acolhida e cuidada pelas instâncias do SUS. Sua principal premissa é a de que as políticas afirmativas atuais, mesmo criadas numa lógica decolonial, reparatória e de justiça social não encontram ressonância junto aos gestores e aos profissionais de saúde, além de serem em parte desconhecidas pelas próprias pessoas ciganas, o que faz com que suas condições de saúde continuem negligenciadas.  

Racismo em saúde

Em sua tese de doutorado defendida em 2018, o coordenador adjunto da pesquisa, Aluízio de Azevedo, cigano da etnia Calon, já havia denunciado práticas de racismo institucional presentes entre profissionais e serviços do SUS em várias dimensões. Há um desconhecimento generalizado de suas especificidades culturais e de gênero, diversidade étnico cultural, modos de vida e tradições. 

“Não se cumpre o princípio da equidade nos cuidados em saúde com os povos ciganos”, denuncia Aluízio, ao lembrar que “as pessoas dos três troncos étnicos ciganos (Calon, Rom e Sinti) não são contabilizadas pelo IBGE no censo populacional e não estão incluídas nos sistemas de informação do SUS, de maneira que na prática da assistência à saúde são discriminadas. A maioria está em exclusão, fora do mercado de trabalho e da educação formal, sem acesso à habitação e outros serviços cidadãos”.

Políticas Afirmativas

O registro da entrada da primeira família cigana Calon no Brasil, deportados de Portugal, justamente por serem ciganos, é de 1574. Tanto lá, quanto cá, foram aplicadas ao longo do tempo inúmeras leis colonialistas, racistas e persecutórias contra os ciganos,
como a proibição de falar a língua, praticar ofícios tradicionais, andar em grupo, viver juntos, entre outras. Também se construiu um imaginário estereotipado e preconceituoso, que permeia o senso comum, produtos artísticos e científicos. 

As primeiras políticas afirmativas para povos ciganos ocorreram a partir de 2011, com a portaria 940, que dispensa pessoas ciganas de apresentarem comprovante de endereço para serem atendidas nos serviços do SUS, devido a característica de itinerância de muitos desses grupos étnicos. Em 2006, o Decreto Presidencial de 25 de maio de 2006 criou o Dia Nacional dos Ciganos; em 2007, o Estado reconheceu os ciganos como Povos Tradicionais brasileiros, por meio da publicação do Decreto Presidencial 6.040. Finalmente, a portaria 4348, de 2018, criou a Política Nacional de Atenção Integral aos Povos Ciganos/Romani, estabelecendo objetivos e ações para os governos federal, estaduais e municipais. 

Pesquisa em outra perspectiva

Segundo Inesita Araujo, apesar de parecer simples “pesquisar com e não para e não sobre as pessoas envolvidas, pode parecer difícil por exigir desapego individual, mas também (e muito) institucional, de convicções e práticas arraigadas por tempo
demais que centralizam e conferem a poucos o monopólio da prerrogativa do fazer científico e da produção de conhecimentos. Exige coragem para desaprender e reaprender”, afirma.  

Como a perspectiva epistemológica que orienta a investigação é a do compartilhamento da produção de conhecimento entre pesquisadores, movimento social dos povos ciganos, trabalhadores e gestores da saúde, as pessoas ciganas, maiores interessadas nas políticas, participam ativamente da investigação em vários níveis: construção do projeto, escolhas metodológicas, processo analítico e produtos decorrentes, constituindo a grande maioria dos integrantes da equipe. Além de compartilharem a coordenação geral da pesquisa, coordenam a pesquisa de campo nos territórios envolvidos, atuam como interlocutores científicos e no campo das políticas públicas, também na atividade de produção e design gráfico. 

Decolonialidade na pesquisa

Participarão das atividades de campo 100 pessoas ciganas, de quatro estados – Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Paraíba – englobando assim as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, além de profissionais e gestores de saúde que atuam junto a essas populações. Também serão incluídos gestores dos ministérios envolvidos na elaboração e aplicação das políticas afirmativas.

Uma das participantes é Desirèe Matos, filósofa cigana da etnia Calon, que vai coordenar o trabalho de campo na região Sudeste. Para ela, a pesquisa é inovadora desde a sua concepção até o compartilhamento de conhecimentos e resultados.

“O caráter decolonial com que se propõe tratar do tema saúde dos povos ciganos compreendendo-o não como um ‘objeto’ ou como uma citação estanque ou meramente ilustrativa, confere além de originalidade ao projeto, uma significativa e eficiente estratégia de resistência. Me encontro motivada para iniciar a pesquisa de campo e perceber que o ‘sujeito’ vai se construindo discursivamente, aprendendo as vozes sociais que constituem a realidade em que está imerso”, explica Desirèe.

I Seminário Geral da Pesquisa que ocorreu em Brasília nos dias 15 e 16 de agosto deste ano.

O cigano de etnia Calon e professor da Universidade de Feira de Santana, Jucelho Dantas, destaca que a pesquisa é importante para mostrar a realidade dos povos ciganos, diante da total invisibilidade histórica. Para Jucelho, uma das questões muito caras abordadas na pesquisa é a colonialidade no SUS.

“A colonialidade é muito forte dentro do SUS e não é somente com os ciganos. O tratamento que é dado à população que vai ser atendida no SUS é um tratamento universal. Ou seja, é um tratamento para um povo que é visto como homogêneo, que não tem diferenças nenhuma e a gente sabe que todos os seguimentos sociais e etnias têm suas particularidades. Para nós, ciganos, a imposição dessas normas, dessas regras chocam muito e existe uma repelência”, analisa o pesquisador, concluindo que: 

“Muitos ciganos não querem ir ao posto médico e ao serviço médico porque não se sentem ali abraçados e acolhidos, muito pelo contrário. Então, uma pesquisa como esta tem uma relevância gigantesca, principalmente porque está sendo aberto este canal da decolonialidade dentro de um sistema importantíssimo para nós brasileiros, o SUS, mas que precisa ser trabalhado e adaptado as condições do seu povo”. 

Segundo a coordenadora do projeto: “toda a equipe está muito animada e esperançosa de poder contribuir, através da pesquisa, não só para compreender quais dispositivos institucionais e comunicacionais do SUS operam no sentido da produção da colonialidade junto aos povos ciganos e como eles poderiam ser descolonizados, mas também para avançar um pouco mais no necessário movimento de descolonização da prática de pesquisa no campo da saúde coletiva. 

O estudo deverá resultar, dentre outros produtos, em dois guias nos formatos impresso e digital: um dedicado a gestores, conselheiros e profissionais do SUS, com informações qualificadas sobre a população cigana, suas características, necessidades e direitos; outro, para o movimento e população cigana em geral, sobre seus direitos cidadãos em saúde, protocolos e recursos disponíveis e outras informações cuja relevância foi tenha sido evidenciada na pesquisa. Também está prevista uma proposta de monitoramento das políticas públicas voltadas para as pessoas ciganas.

Novo Plano Nacional é lançado

O Ministério da Igualdade Racial lançou na sexta-feira (2/08) o Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos, que visa “promover medidas intersetoriais para a garantia dos direitos dos povos ciganos”. Ao todo, o plano está estruturado em dez objetivos, que envolvem combate ao anticiganismo, reconhecimento da territorialidade própria dos povos ciganos, direito à cidade, educação, saúde, documentação civil básica, segurança e soberania alimentar, trabalho, emprego e renda e valorização da cultura. O lançamento contou com a presença de representantes de diversos ministérios. (saiba mais, aqui).

Disponível em: https://www.icict.fiocruz.br/content/interseccionalidade-e-decolonialidade-no-sus-em-pesquisa-do-icict-com-povos-ciganos

Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/2024/09/pesquisa-com-povos-ciganos-analisa-interseccionalidade-e-decolonialidade-no-sus

Filme Caminhos Ciganos no Encontro Internacional de Territórios e Saberes em Paraty

Evento ocorre em Paraty entre 09 e 15 de setembro 

Caminhos Ciganos será exibido no 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS), que será realizado entre os dias 9 e 15 de setembro em Paraty, no litoral Sul do Rio de Janeiro.

O filme integra a mostra do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), que marcará presença no 1º Encontro Internacional de Territórios e Saberes (EITS), realizado em Paraty (RJ).

Nos dias 11 e 12/09, serão exibidas 12 obras premiadas na 25ª edição do Fica, em uma sala de cinema montada no Trevo Clube.

Caminhos Ciganos, que recebeu menção honrosa no FICA 2024, será projetado às 10h do dia 12/09.

Os visitantes também poderão conhecer mais sobre o Fica em um stand especial. Esta iniciativa visa fortalecer conexões e parcerias para o Fica, que tem promovido debates fundamentais no campo do audiovisual e meio ambiente em todo o Brasil.


A entrada é gratuita!

Caminhos Ciganos tem patrocínio da SECEL-MT, por meio do Edital Cine Motion de Audiovisua 2022

#FicaNoEITS #SecultGoiás #CinemaAmbiental #TerritórioseSaberes #caminhosciganos #povosciganos #ciganos #paraty #RJ #EITS #territórios #saberes #gitanos #gypsy #calon #rom #sinti #arte #audiovisual #cultura #cinema #povostradicionais #tradição #tecnologia #meioambiente #natureza

 

domingo, 8 de setembro de 2024

MS lança livro abordando relação saúde e cultura no SUS: ensaio aborda povos ciganos

 
Como a Antropologia da Saúde pode ajudar a pensar o SUS hoje? já está disponível para download gratuito

Acaba de ser lançado o livro Como a Antropologia da Saúde pode ajudar a pensar o SUS hoje?, uma obra que promete transformar a maneira como entendemos o Sistema Único de Saúde (SUS).

Publicada pela Editora do Ministério da Saúde e parte do projeto Encontros de Cultura, Saúde e Humanidades, a coletânea oferece uma base sólida para novas reflexões e práticas, promovendo uma visão humanizada e inclusiva do SUS.

A obra marca o quarto livro da série, com o quinto já em desenvolvimento.

Baixe aqui o livro.

Voltado para profissionais da saúde, estudantes e demais interessados, o livro reúne textos de palestras disponíveis no canal do projeto no YouTube, disseminando conhecimentos valiosos sobre a antropologia da saúde.

Um dos capítulos do livro, “Para além da diversidade cultural, a perspectiva êmica e ética nos caminhos para humanização e pesquisa na saúde cigana”, foi escrito pelo Assessor para Ciência e Comunicação da AEEC-MT, Aluízio de Azevedo. Ele também participa do vídeo de Lançamento do livro.

Confira no vídeo de lançamento os destaques da publicação através das palavras dos próprios autores.

Confira o resumo do ensaio escrito por Aluízio:

Quais desafios e oportunidades a relação entre os campos da saúde pública e da antropologia podem proporcionar no âmbito da saúde cigana? Que camadas de diálogos interculturais se estabelecem entre pesquisadores(as) e pessoas ciganas, ou entre usuários(as) ciganos(as) e profissionais de saúde? Quais perspectivas os contextos culturais apresentam na visão das determinações sociais da saúde? Essas e outras questões são abordadas de forma ensaística neste texto, que busca reforçar a importância do foco na perspectiva êmica do campo antropológico para o campo da saúde pública (estudos e práticas) e das políticas afirmativas de saúde para os povos ciganos”.

Relação Saúde e Cultura - A publicação nasceu da iniciativa do Centro Cultural do Ministério da Saúde (CCMS/CGDI/SAA/SE) e do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Antropologia da Saúde, do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Liepas/Unirio) e conta com a parceria da Rede Conexão Inovação Pública – RJ. A curadoria é de Ildenê Loula e Rosamélia Cunha.

Composta por 11 ensaios, a obra explora diversas intersecções entre cultura, saúde e antropologia. O ensaio inicial oferece uma análise sobre como a experiência da doença e as práticas terapêuticas não convencionais são vistas através da lente da antropologia da saúde. Outros textos abordam temas como as memórias do encarceramento devido à hanseníase no Brasil, as políticas de saúde para a população cigana e as iniciativas digitais de promoção de saúde em comunidades de baixa renda.  

Destacam-se relatos de experiências significativas, como o do Centro de Convivência Antônio Diogo e do Memorial Leprosaria Canafístula no Ceará, e a criação do Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (LaISS) na Fiocruz, que combate a exclusão digital. O projeto Eu Quero Entrar na Rede, vinculado ao Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto Magal, também é retratado, mostrando a integração entre saúde mental e tecnologias de informação.

A publicação ainda discute a luta contra o câncer de colo do útero no Brasil, os desafios do Antropoceno para a saúde planetária e a democratização do SUS através de uma perspectiva decolonial.  

Os ensaios coletivos ou individuais são assinados por acadêmicos e profissionais de saúde, oferecendo uma rica diversidade de perspectivas e experiências. Os outros textos são escritos por: Ana Paula Cavalcante, Tânia Cristina Valente, André Pereira Neto, Bruna Vanessa Dantas Ribeiro, Débora Diniz, Elionária de Lima, Francisco Guedes, Milena Araújo, Rosiane Pereira, Luís Teixeira e Luís Araújo Neto, Renzo Taddei, Stélio Marras, Edilma do Nascimento Souza, Angela Donini, Valéria Wilke.

“Com uma escrita carregada por sotaques, visões de mundo e pertencimentos diversos, os 11 artigos congregam a percepção de um SUS em movimento. Esse mesmo SUS, que salva vidas ao garantir o acesso ao direito à saúde em zonas urbanas e nas distintas paisagens brasileiras fora dos grandes centros, precisa superar uma perspectiva biomédica para se humanizar e encontrar um novo sentido no acolhimento das demandas dos cidadãos”, enfatiza Ildenê.

“A publicação tem o potencial de servir como obra de referência para os debates na área de antropologia da saúde, vindo a se juntar à escassa produção acadêmica brasileira nesse campo do saber”, conta Rosamélia. “A coletânea oferta um embasamento para refletir sobre a complexidade de construir novas formas de pensar e agir no SUS. Aqui fincamos a bandeira da antropologia da saúde como uma das tantas formas possíveis de problematizar, refletir e projetar (e sonhar) esses desafios, para tornar o SUS ainda mais democrático, inclusivo e acessível aos brasileiros”, complementa Rosamélia. 

Encontros de Cultura, Saúde e Humanidades 

O projeto Encontros de Cultura e Saúde, que posteriormente passou a se chamar Encontros de Cultura, Saúde e Humanidades, foi realizado por um coletivo de trabalhadores e trabalhadoras das áreas de saúde, comunicação, educação e por pessoas com interesse pelo assunto que nele se engajaram. Seus principais objetivos são: fortalecer e defender o SUS por meio da produção de informações relevantes, viabilizando sua difusão e produzir, coletivamente, conteúdos em saúde, cultura e arte, disponibilizando-os como apoio ao fortalecimento do ensino em saúde. As lives seguem disponíveis no canal do YouTube. Confira tudo em: youtube.com/EncontrosCulturaeSaude
 

Texto: Flávia Menna Barreto 

Disponível em: http://www.ccms.saude.gov.br/noticias/lancado-livro-com-nova-perspectiva-sobre-o-sus

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Curso online O Impacto do Holocausto Cigano na atualidade

(Foto: Memorial às vítimas Romanis do Nacional-Socialismo Berlim Dietmar Rabich  CC BY-SA 4.0)

O centro de Pesquisa e Formação do SESC SP realiza no próximo dia 11 de setembro (quarta-feira) o curso online “O Impacto do Holocausto Cigano na atualidade”.

Organizado de forma conjunta entre o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o curso integra os esforços da ONU no combate ao anticiganismo e as atividades em lembrança aos 80 anos do Holocausto Romani.

O encontro visa trazer uma reflexão sobre a rota do anticiganismo e o seu impacto no presente, observado no nível de exclusão e de violência que ainda assola o povo romani/cigano em diversas partes do mundo.

Com abertura prevista para ocorrer às 10h30, o evento conta com duas mesas temáticas: Memória e Anticiganismo na Europa (11h às 13h) e A Rota do anticiganismo na América do Sul: violência e perseguição.

Entre os palestrantes estão: Jucelho Dantas, Aline Miklos, Marcos Toyansk, Claude Cahn, Elisa Costa, Matíaz Domingues, Adèle Sutre, Rafael Buhigas Jiménez, Slawomir Kapralski e Mirjam Karoly.

Programa.

Há 80 anos, entre os dias 2 e 3 de agosto de 1944, os administradores do campo de extermínio nazista Auschwitz-Birkenau decidem eliminar o "Zigeunerlager", a seção do campo onde estavam detidas as pessoas romanis. Durante esses dias, mais de 3.000 pessoas romanis, incluindo mulheres, crianças e idosos, foram assassinados. Por essa razão, o dia 2 de agosto foi escolhido para relembrar o Dia Internacional do Holocausto Romani.

No entanto, a perseguição e a exclusão do povo cigano/romani não se limitam ao período nazista e persistem até os dias atuais. Estudos recentes indicam que a comunidade romani tem enfrentado níveis significativos de discriminação e hostilidade tanto na Europa quanto nas Américas. Nos últimos anos, foram relatadas violações dos direitos humanos de pessoas ciganas/romani em praticamente todos os aspectos da vida, incluindo educação, saúde, moradia, emprego e acesso a serviços básicos. Essas violações são resultado do anticiganismo histórico que se iniciou na Europa e chegou no continente americano junto com o desembarque das primeiras famílias romanis.

O encontro visa trazer uma reflexão sobre a rota do anticiganismo e o seu impacto no presente, observado no nível de exclusão e de violência que ainda assola o povo romani/cigano em diversas partes do mundo. Para isto, contaremos com a participação de pesquisadores e ativistas romanis/ciganos e não-ciganos. Discutiremos sobre as perseguições contra o povo cigano/romani durante o Holocausto e suas repercussões em distintos países europeus, como a Alemanha, Áustria e inclusive a Espanha, cujo governo franquista manteve estreitas relações com as políticas de perseguição empreendidas pelo nazismo. Posteriormente, realizaremos um debate sobre as distintas formas de perseguição dos povos ciganos/romanis na América do Sul e o seu impacto no presente, com especial atenção ao tema da violência e da segurança pública.

Mais informações: https://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/atividade/o-impacto-do-holocausto-cigano-na-atualidade